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Solo: A Star Wars Story

Ano: 2018

Realizador: Ron Howard

Actores principais: Alden Ehrenreich, Woody Harrelson, Emilia Clarke

Duração: 135 min

Crítica: ‘Solo’ é o segundo filme spin-off que a Disney produziu desde que passou a deter os direitos da saga da ‘Guerra das Estrelas’. A primeira “star wars story”, ‘Rogue One’ (2016) foi sinceramente o pior filme da saga que eu tinha visto até então (pode ler tudo na minha crítica), mas infelizmente a Disney não se ficou por aqui. No ano a seguir, o oitavo filme oficial da saga, ‘The Last Jedi’ (2017) foi pelo mesmo caminho (o pior filme da nonalogia até agora), provando a verdadeira crise de identidade que esta mítica franchise vive sem a gigantesca capacidade criativa de George Lucas por detrás. Mas não há duas sem três. Após ter visto ‘Solo’ este fim de semana (falhei-o, propositadamente, no cinema – tinha mais em que gastar o meu dinheiro) só há uma coisa que se me apraz dizer: A ‘Guerra das Estrelas’ morreu. Longa vida à (antiga) ‘Guerra das Estrelas’.

Honestamente, não sei porque é que ainda me preocupo. Mas a verdade é que me preocupo. Como milhares e milhares de pessoas pelo planeta fora, e particularmente aqueles que cresceram nos anos 1980, a ‘Guerra das Estrelas’ é algo que me diz muito, algo que está intrinsecamente ligado à forma como cresci, e como experienciei o cinema em geral e a ficção científica em particular. O mito dos Jedi faz parte da nossa cultura, mas é muito mais do que isso; faz parte da nossa vida. Todos vimos a trilogia original vezes e vezes sem conta, e fomos arrebatados, vezes e vezes sem conta, pela sua excitante sensação de aventura, pela sua bem construída mitologia, pelas suas soberbas personagens, mas também (e muitos por vezes se esquecem disso) pelo seu magistral poder cinemático. Os filmes da ‘Guerra das Estrelas’ sempre foram filmes de uma incrível mestria técnica, ao nível da realização (os planos de Irvin Kershner em ‘Empire’ são inolvidáveis), da fotografia, da montagem (comandada pelo próprio Lucas), da música (John Williams strikes back), e claro, dos então pioneiros efeitos visuais, cortesia da ILM.

"‘Rogue One’ (2016) foi sinceramente o pior filme da saga que eu tinha visto até então, mas infelizmente a Disney não se ficou por aqui. ‘The Last Jedi’ (2017) foi pelo mesmo caminho (o pior filme da nonalogia até agora) (...) Mas não há duas sem três. Após ter visto ‘Solo’ este fim de semana (falhei-o, propositadamente, no cinema) só há uma coisa que se me apraz dizer: A ‘Guerra das Estrelas’ morreu. Longa vida à (antiga) ‘Guerra das Estrelas’."

Não era propriamente uma questão do argumento. Se olharmos para as primeiras versões dos argumentos de cada um dos filmes originais, percebemos que se eles tivessem sido filmados assim pouco mais seriam do que medianos filmes de ficção científica (aconselho vivamente a leitura dos três volumes The making of… da trilogia original de J.W. Rinzler). O que fez a diferença foi a afinação constante durante o longo processo produtivo, a eficácia editorial de Lucas e a extrema dedicação da equipa de efeitos visuais. Há algo no facto de se demorar seis meses a fazer um efeito óptico que faz com que quem o faça dê tudo o que tem; há uma única hipótese de o concretizar, falhando isso, mais vale eliminar a cena do filme. O mesmo não se passa agora. A tecnologia evoluiu tanto que fazer efeitos especiais se banalizou. E porque se banalizou, já não há a mesma dedicação. O que um argumentista concebe na página pode facilmente ser criado num computador. E graças a isso, inúmeros filmes de ficção científica deixaram de ser exercícios dedicados de pura cinematografia; passaram a ser meras filmagens, enfadonhas, de um argumento – particularmente se esse argumento é mau. ‘Solo’ é um desses filmes.

Muito se disse mal da trilogia das prequelas que Lucas realizou na viragem para o novo milénio. Mas como cada uma das minhas críticas já debateu, e apesar de Lucas ter usado e abusado bluescreen, de bastante mau acting (ai Hayden, Hayden), e de argumentos não tão limados como os dos anos 1980 (porque Lucas os decidiu escrever sozinho e o seu forte sempre foi a produção e a montagem), os filmes detinham – e a meu ver continuam a deter – a essência daquilo que é verdadeiramente a ‘Guerra das Estrelas’. Mas lá está, o único que sabe esse segredo é o senhor George que, graças a uma venda milionária à Disney, está confortavelmente a desfrutar da sua reforma enquanto o seu legado está a ser totalmente dilacerado. E não nos enganemos. Está mesmo a ser dilacerado.

Eu não sei porque é que ainda me preocupo. Talvez seja por amar tanto, tanto, tanto a trilogia original que me recuso a acreditar, ano após ano, filme após filme, fiasco após fiasco, que a saga morreu mesmo. Talvez seja porque no íntimo tenho a esperança que o próximo filme seja melhor, que o próximo filme recupere, mesmo que por um bocadinho, a magia dos filmes de Lucas. E por isso queremos dar sempre mais uma oportunidade à Disney. Mas honestamente não já não há mais oportunidades a dar. ‘The Force Awakens’ não era de todo um bom filme, mas a sua necessidade de se encher de referências visuais e argumentais a ‘Star Wars’ era suficiente para nos iludir que essa magia estava de volta. Mas a partir daí os filmes caíram a pique, como comecei por referir. E eis que chegamos a ‘Solo’, um filme dedicado a contar as origens de um jovem Han Solo, a mítica personagem interpretada por Harrison Ford na trilogia original. Tinha tudo para correr bem. Mas a começar com a sua produção conturbada (a parelha de realizadores Phil Lord e Christopher Miller foi despedida e substituída por Ron Howard a meio do processo) não correu nada, nada bem.

"‘Solo’ é um filme sem ‘Star Wars’ (...) Não há qualquer referência aos Jedi ou à Força. É apenas uma aventura-missão; tal como ‘Rogue One’ era, que se passa no seio de universos desinspirados, personagens forçadas e o argumento mais frouxo e batido que se possa imaginar (...). Não é tão mau como o de ‘Rogue One’, e talvez não seja assim tão mau em papel, mas é filmado sem qualquer energia ou paixão."

Lord e Miller são realizadores mais cómicos (os seus créditos incluem ‘Cloudy with a Chance of Meatballs’, 2009; ‘21 Jump Street’, 2012; e o genial ‘The Lego Movie’, 2014) e provavelmente queriam levar o filme para um plano mais sarcástico-humorístico que, diga-se, bem assentava na personagem (daí ter sempre achado que eram uma escolha acertada). Podemos especular que as “divergências criativas” que levaram ao seu despedimento se prenderam com a imposição da Disney que o produto final tinha de ser comercial para um consumo em massa. Mas é só olhar para a prestação de ‘Solo’ na bilheteira para perceber que os espectadores, neste momento, já estão fartos e fartinhos que a Disney os trate como uns tolos. ‘The Force Awakens’ podia ser qualquer tipo de filme que seria um sucesso de bilheteira na mesma. O público mundial só queria a ‘Guerra das Estrelas’ de volta. Mas três anos e quatro filmes depois já não é bem assim. Qualquer coisa já não basta, principalmente se o “qualquer coisa” não tem qualidade, não tem chama, não tem magia, não tem… ‘Star Wars’. E ‘Solo’ é um filme sem ‘Star Wars’. 

Na realidade não há muitas diferenças entre este ‘Solo’ e o péssimo ‘Rogue One’. Não é que seja pior (dificilmente algo é pior que ‘Rogue One’) mas tem todos os seus maus tiques. Pior ainda, ao menos ‘Rogue One’ ainda tinha bastantes referências à mitologia original. ‘Solo’ tem poucas ou nenhuma. Não há qualquer referência aos Jedi ou à Força. É apenas uma aventura-missão; tal como ‘Rogue One’ era, que se passa no seio de universos desinspirados, personagens forçadas e o argumento mais frouxo e batido que se possa imaginar (escrito pelo filho de Lawrence Kasdan). Não é tão mau, mais uma vez, como o de ‘Rogue One’, e talvez não seja assim tão mau em papel, mas é filmado sem qualquer energia ou paixão. O que nos leva de novo ao despedimento de Lord e Miller, com quem a Disney/Lucasfilms estava insatisfeita por improvisar no plateau e se desviar da palavra escrita. Mais valia. Mais valia…

A história de ‘Solo’ começa num planeta distante governado por um bicharoco gangster (voz de Linda Hunt) – uma espécie de Jabba claro – que usa órfãos para fazer o seu trabalho sujo. Um desses jovens é Solo, rebelde e amante da aventura, e que acalenta o desejo de se ver livre daquele lugar. Alden Ehrenreich (anteriormente visto em ‘Blue Jasmine’, 2013 de Woody Allen; ou ‘Hail, Caesar!, 2016, dos irmãos Coen) apesar de algumas parecenças físicas com um jovem Harrison Ford, não é muito carismático e passa o filme a tentar repetir o beicinho e o balbucio de Ford. A minha esposa saiu-se com esta: “O Harrison Ford era muito Homem, por isso podia fazer beicinho à vontade. Este pateta a fazer beicinho é apenas um pateta a fazer beicinho”. Precisamente. Reza a lenda que a Luscasfilm a meio da produção até lhe contratou um “acting coach” para tentar melhorar a sua performance. Não resultou. Como peça central do filme, Ehrenreich tem muita dificuldade em sustê-lo. É como se fosse o primo afastado de série B do verdadeiro Solo, como aqueles espiões dos spy-fis de menor qualidade dos anos 1960 eram primos muito, muito afastados de James Bond; como este ‘Solo’ e ‘Rogue One’ são primos muito afastados do verdadeiro ‘Star Wars’. Ao seu lado está Qi'ra (Emilia Clarke, famosa por outra Guerra, a dos Tronos), uma rapariga que parece partilhar os seus desejos, mas é muito mais realista. Clarke está muito à vontade (bem mais que Ehrenreich), o que é bom, mas apesar das subtilezas da personagem, nunca há muito espaço de manobra, o que condiciona claramente o que ela consegue fazer.

"A minha esposa saiu-se com esta: “O Harrison Ford era muito Homem, por isso podia fazer beicinho à vontade. Este pateta a fazer beicinho é apenas um pateta a fazer beicinho”. Precisamente. (...) Como peça central do filme, Ehrenreich tem muita dificuldade em sustê-lo. É como se fosse o primo afastado de série B do verdadeiro Solo, como aqueles espiões dos spy-fis de menor qualidade dos anos 1960 eram primos muito, muito afastados de James Bond"

Após umas sequências iniciais nocturnas neste planeta (muito mal iluminadas diga-se), Solo e Qi'ra chegam à conclusão que o melhor que têm a fazer é fugir. Contudo, na hora H, Solo consegue safar-se, mas Qi'ra não. Entra o proverbial “nãaaaao” e o proverbial “eu vou voltar para te buscar” e o suposto drive que endurece Solo e guia as suas acções subsequentes. Supostamente. A verdade é que não vemos bem como é que isso o influência, a não ser pelo facto de dizer a toda a gente que quer ser um grande piloto e ganhar dinheiro para poder voltar ao seu planeta natal e resgatar a sua namorada. De resto, a sua atitude entre o fanfarrão infantil e a múmia balbuciante é exactamente a mesma. Nunca sentimos o peso dessa sua “missão” ou o seu sentido de responsabilidade. A personagem nunca pondera o que poderá ter acontecido a Qi'ra de permeio. Assume, parece, que ela está exactamente no mesmo lugar à espera que ele a vá buscar. Que banalidade.

Assim sendo, para aprender a pilotar, Solo alista-se no Império. UUUUUUUH... Não, nem por isso. Até Finn na nova trilogia sente as implicações de ser um soldado do Império. Não Solo, não neste filme. Alista-se numa cena, está numa batalha na seguinte, em que conhece Beckett (Woody Harrelson) e mais tarde Chewbacca (Joonas Suotamo, repetindo o papel de ‘The Last Jedi’), um prisioneiro de guerra. E é isto. Fim de qualquer ramificação para a personagem de pertencer ao Império. Fim, aliás, das referências ao próprio Império. De batalha nada vimos (este filme tem uma notória falta de cenas espectaculares); é um meio para um fim, que nada tem de excitante. A introdução de Chewie é frouxa, a química com Solo é no máximo mediana e se é bom não o terem feito por computador, é mau (muito mau) notar-se em todas as cenas que é um homem dentro de um fato. Mesmo! O seu movimento corporal é totalmente humano, a par (ou pior) daquelas criaturas dos filmes de ficção científica dos anos 1950 feitas com pobres fatos de borracha.

De qualquer maneira, Solo alista-se na equipa de mercenários de Beckett (que inclui uma irreconhecível Thandie Newton) e propõe-se a roubar umas valiosas células de energia para obter dinheiro suficiente para comprar uma nave e voltar ao seu planeta Natal. Na má tradição de ‘Rogue One’ a sucessão de mini-missões é introduzida de forma forçada, sem qualquer construção (“agora temos de fazer isto para chegar àquilo”), sendo descartadas imediatamente a seguir em prol de uma outra qualquer mini-missão que é introduzida de forma igualmente repentina para ser esquecida cinco minutos depois. O filme não dá qualquer tempo para sentirmos a tensão inerente aos eventos e todo o perigo é imbuído de uma enorme superficialidade. Idem para várias personagens secundárias; aquelas que, tal como em ‘Rogue One’, fazem sacrifícios ocos em prol dos nossos heróis sem qualquer gravitas. Veja-se a robô com a voz de Phoebe Waller-Bridge. No papel soa bem, uma androide feminina (e feminista), como antítese à longa lista de robôs masculinos da saga, que funciona também como escape cómico. Mas a sua importância é escassa e rapidamente esquecida. Veja-se Lando (Donald Glover), dono do Millenium Falcon, cuja aparição é pouco mais que um decepcionante, embora bem intencionado cameo, especialmente porque é o único que realmente acreditamos ser a versão mais nova da sua personagem (parabéns a Glover por isso).

"Na má tradição de ‘Rogue One’ a sucessão de mini-missões é introduzida de forma forçada, sem qualquer construção (...) O filme não dá qualquer tempo para sentirmos a tensão inerente aos eventos e todo o perigo é imbuído de uma enorme superficialidade. Idem para várias personagens secundárias; aquelas que, tal como em ‘Rogue One’, fazem sacrifícios ocos em prol dos nossos heróis sem qualquer gravitas."

O trabalho é feito para um gangster chamado Dryden Vos (Paul Bettany deturpando o seu charme inglês de forma relativamente eficaz, embora num papel sem carisma) de uma organização criminosa que dá pelo nome de Crimson Dawn. Surpresa, surpresa, Vos emprega a própria Qi'ra, que nunca se sabe bem como foi ali parar. Assim, Qi'ra irá acompanhá-los, a mando de Vos, pelas várias missões, que os levam a um ou dois planetas antes de regressarem ao ponto de partida. Conseguirão obter o que precisam para cobrir a sua dívida perante o poderoso vilão? Que traições e contra-traições espreitam no seio da equipa? Conseguirá Solo derreter a fachada fria desta mais velha Qi'ra, que apesar da sumptuosidade glamorosa da sua nova aparência, parece ter sido derrotada pela dureza da vida e ter feito escolhas inesperadas? E terão os nossos heróis ainda tempo de dar uma ajudinha à resistência? Bem, o filme dá estas respostas, mas sinceramente se não desse para mim era indiferente.

Tudo somado ‘Solo’ está longe, bem longe, de ser um filme interessante. Cinematograficamente o filme é enfadonho. Não sabemos ao certo que cenas da dupla Lord e Miller se mantiveram ou aquilo que foi filmado por Ron Howard, mas o filme tem uma enorme falta de energia. A mítica capacidade editorial de George Lucas – aquilo que dava vida às suas composições cinematográficas – é uma memória distante. Não há vida nas cenas, nos cenários, nas personagens. É simplesmente uma filmagem rotineira de um argumento, que não era muito bom para começar. De ‘Guerra das Estrelas’ isto não tem nada, e isso é talvez o maior pecado de todos.

Se as missões e as parcas cenas de acção parecem apenas um pró-forma, o filme procura assentar a sua veia dramática principalmente na linha do romance forçado entre Solo e Qi'ra. Atrevo-me a dizer que o romance entre Anakin e Padmé estava mais bem trabalhado, o que não abona muito a favor deste filme… Os actores não têm química, e o drive de Solo perde-se a partir do momento em que Qi'ra aparece miraculosamente noutro lugar, noutra posição, como se fosse uma pessoa completamente diferente. Isso supostamente geraria uma tensão entre eles, mas isso parcamente acontece. Solo – um “boneco” sem emoção – pavoneia-se de um lado para o outro, cena após cena, e atira uns pouco convictos lugares comuns a Qi'ra. Não há uma qualquer tentativa da sua parte de perceber a mudança na sua condição. Entre o beicinho supostamente sedutor e rebelde, e a tentativa de compreensão dos problemas do seu verdadeiro amor, ele escolhe o primeiro. Assim até se entende as decisões que ela acaba por tomar. Este Solo não interessa a ninguém. Nem a ela. Nem a nós.

"Tudo somado ‘Solo’ está longe, bem longe, de ser um filme interessante. Cinematograficamente o filme é enfadonho. (...) Não há vida nas cenas, nos cenários, nas personagens. É simplesmente uma filmagem rotineira de um argumento, que não era muito bom para começar. (...) Lucas susteve a magia da sua saga por mais de trinta anos. A Disney está a aniquilá-la em menos de três. (...)  Correm o sério risco de arruinar a ‘Guerra das Estrelas’ para as gerações futuras. O sério risco. Pensem nisso."

E que dizer da aparição surpresa numa das últimas cenas de uma bem conhecida personagem da saga; uma aparição diga-se, que não faz sentido absolutamente nenhum na cronologia cinematográfica. Mas aparentemente, leio na internet, faz sentido se considerarmos o universo expandido das séries de animação The Clone Wars e Star Wars Rebels. Não percebo bem o que isso quer dizer. Está a Disney/Lucasfilms a dar uma de Marvel? George Lucas sempre aceitou novelizações da Guerra das Estrelas, sempre aceitou fazer outros produtos, mas nunca atacou a integridade dos filmes. Mas o George Lucas já não está cá agora, pois não? Por isso vale tudo. Mas quanto vale valer tudo? Por uns momentos pode valer muito. Mas a médio longo prazo de nada valerá.

George Lucas conseguiu construir a mais bem-amada saga cinematográfica da história do cinema. Construiu-o com o suor do seu trabalho, uma gigantesca dedicação e uma enorme paixão pela arte de fazer cinema. O dinheiro foi um bem-vindo produto secundário, que o permitiu fazer sequelas, criar o império da Luscafilms, construir o seu rancho, produzir e ajudar a inovar o cinema até à era do digital. Mas agora após a venda à Disney, só o dinheiro parece imperar. ‘The Force Awakens’ foi um massivo sucesso de bilheteira. Outra coisa não seria de esperar porque era o universo da ‘Guerra das Estrelas’ de volta. Mas a partir daí foi sempre a descer. Lucas susteve a magia da sua saga por mais de trinta anos. A Disney está a aniquilá-la em menos de três. Com um orçamento bem acima dos 250 milhões de dólares, ‘Solo’ fez apenas cerca de 350 milhões na bilheteira mundial, ou seja, não foi nem de perto nem de longe um sucesso de bilheteira, o que é um escândalo para um filme ‘Star Wars’. E enquanto escrevia esta crítica saiu a notícia que a produção do terceiro “star wars story”, um spin-off sobre Boba Fett, foi cancelado.

Há um forte motivo para tudo isto. O público ama a ‘Guerra das Estrelas’ e está farto destes filmes de treta, está farta desta preguiça criativa, está farto destas histórias de série B, feitas atabalhoadamente, que não parecem compreender a essência dos filmes originais e que de semelhante a eles só têm o nome de algumas personagens. A ‘Guerra das Estrelas’ não está no mesmo comprimento de onda que estas distopias futuristas, ou aventuras de ficção científica que invadiram o cinema de Hollywood nos últimos dez anos. Não está nem nunca estará. Portanto para quê rebaixa-la a esse ponto? A única diferença entre ‘Solo’ ou ‘Rogue One’ e aqueles filmes foleiros de ficção científica dos anos 1950 e 1960 é que os efeitos especiais são muito melhores. Mas é só isso; algo que o dinheiro pode comprar. Em termos criativos e argumentais estão a par, porque isso é algo que o dinheiro não pode. É preciso talento. A Disney preocupou-se em lançar “qualquer coisa” para criar uma franchise da ‘Guerra das Estrelas’ como se criou da Marvel. Mas com a ‘Guerra das Estrelas’ o “qualquer coisa” não pega. A fasquia está alta desde 1977. Lançar nos cinemas uma coisa destas é um insulto para os fãs. Mais valia um straight-to-video, como aquelas sequelas dos Ewoks dos anos 1980.

Os espectadores falaram, voltando as costas a ‘Solo’. Pode ser que desta vez a Disney aprenda e não volte a repetir a gracinha. O episódio IX já espreita. Façam qualquer coisa de jeito, por favor, e se não for pedir muito, esqueçam esta parvoíce das “star wars stories”. Se for para fazer filmes destes, mais vale estar quieto. Porque correm o sério risco de arruinar a ‘Guerra das Estrelas’ para as gerações futuras. O sério risco. Pensem nisso.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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