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The Courtship of Andy Hardy

Ano: 1942

Realizador: George B. Seitz

Actores principais: Mickey Rooney, Lewis Stone, Cecilia Parker

Duração: 95 min

Crítica: Com ‘The Courtship of Andy Hardy’ (em português ‘O Idílio de Andy Hardy’) a saga de Andy Hardy (interpretado pelo supremo Mickey Rooney) atingiu um feito notável: alcançou a dúzia de filmes (dos dezasseis que eventualmente teria). Isto é algo ainda mais surpreendente tendo em conta que o primeiro filme da saga, ‘A Family Affair’, tinha sido lançado apenas cinco anos antes, em 1937.

Há cerca de um ano que em EU SOU CINEMA tenho estado a publicar, uma a uma, as críticas aos filmes desta mítica saga. Porquê? Porque creio que em Portugal nunca ninguém alguma vez o tenha feito e pessoalmente considero importantíssimo preservar o legado de obras como estas. Hoje a saga Hardy seria uma série de televisão, mas numa altura em que tal formato ainda não existia, esta série de filmes foi o expoente máximo do entretenimento familiar, divertido e didático. As aventuras e desventuras da família Hardy da pequena cidade americana de Carvel tiveram um enorme poder de identificação com o povo americano no período delicado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, e o seu instantâneo apelo a miúdos e graúdos (que hoje, mais de 70 aos depois, ainda se mantém) levou toda uma nação às salas de cinema uma e outra vez. Ano após ano, filme após filme, a saga Hardy encheu os cofres da MGM, tornando-se a mais bem-sucedida franchise do cinema clássico, e transformando o seu actor principal, Mickey Rooney (que tinha apenas 17 anos aquando do primeiro filme) na mais popular estrela de cinema a nível mundial (mesmo que hoje muitos cinéfilos nunca tenham ouvido falar dele).

"O filme não opta por uma abordagem tão trabalhada e incisiva como o anterior. Num mundo em colapso, não iria ser a saga Hardy, o baluarte da moral e da esperança das famílias americanas, a perder a fé. O filme existe numa espécie de realidade alternativa onde a boa vontade e a compreensão eram suficientes para resolver todos os problemas (...) Mas isso não implica que o filme seja idílico ou necessariamente mau. Pelo contrário"

Precisamente, a energia cómico-dramática de Rooney era tão forte, e o seu dinamismo tão hipnotizante, que lentamente tomou conta da saga. Se os primeiros filmes ‘A Family Affair’, ‘You're Only Young Once’ (1937); ‘Judge Hardy's Children’ (1938); ‘Out West with the Hardys’ (1938) e 'The Hardys Ride High' (1939) se centravam na família e repetiam a sua fórmula de forma cada vez mais exaustiva, foi a partir de ‘Love Finds Andy Hardy’ (1938) e principalmente a partir de 'Andy Hardy Gets Spring Fever’ (1939) que Andy passou a ser o epicentro das aventuras, e os filmes começaram a retratar, quase em exclusivo, a sua odisseia de crescimento. Em vez de esmorecer, a saga entrou no seu período mais brilhante, encontrando o perfeito balanço entre a veia cómica e a veia didática como acontece em ‘Judge Hardy and Son’ (1939). Mesmo assim, filmes como ‘Andy Hardy Meets Debutante’ (1940) ainda denotavam algum receio que Andy crescesse demasiado depressa, e portanto a saga foi adiando dar um salto definitivo para um estilo mais maduro.

Mas com a mudança de década, a iminência da Segunda Guerra Mundial e o crescimento do próprio Rooney como actor e estrela de cinema, a saga, então já no décimo filme, encontrou finalmente a sua maturidade e o seu equilíbrio emocional. Em ‘Andy Hardy's Private Secretary’ (1941), o filme em que Andy termina o liceu, a saga ganha coragem para assumir que Andy já não é um adolescente, e começa a introduzir problemáticas mais sérias, adequadas a um mundo em mudança. Mas sem contudo impedir (pormenor importante) que Rooney nos continuasse a fascinar com a sua comédia. Deste equilíbrio entre o drama e o humor, entre a entrada na idade adulta e o eterno coração de adolescente, surgiram os melhores momentos da saga.

Findo o liceu, o décimo-primeiro filme ‘Life Begins for Andy Hardy’ (1941) iniciou aquela que eu chamo a “trilogia de Verão” da saga Hardy, pois só dois filmes depois, no final de ‘Andy Hardy's Double Life’ (1942) é que Andy finalmente apanha o comboio para a faculdade. Não parece haver dúvidas que os produtores estavam receosos que a ida para a faculdade estragasse a aura da saga e portanto tentaram manter o seu enquadramento tradicional durante o máximo de tempo possível. Em ‘Life Begins for Andy Hardy’ Andy tem a sua primeira aventura laboral ‘no mundo real’ em Nova Iorque, naquele que é um dos filmes mais conscientes e mais pesados de toda a saga. Como escrevi, o filme é “um forte grito de consciência social a que Rooney responde com um incrível pathos (...) Nunca vimos Andy assim com tanta consciência, com tanto espírito de sacrifício (...) e nunca vimos um Rooney tão seguro, tão pouco infantil e a fazer tão pouco overacting nas suas cenas dramáticas”. E no final, regressado a Carvel, tudo está bem quando acaba bem, com Andy pronto (ou vá, quase) para enfrentar a vida. A fórmula perfeita.

"Há uma maturidade intangível neste filme; intangível (...) já que não está directamente relacionada com, ou pelo menos não é exclusivamente dependente do crescimento de Andy. De facto, o elemento mais fascinante é que, com extrema naturalidade, a história volta a focar-se em toda a família. (...) E apesar de não ter de todo o tom da comédia romântica, consegue encontrar ritmo suficiente no seu drama para se manter interessante."

Deste modo, 1941 deu lugar a 1942, com a enorme diferença que os Estados Unidos entraram na Guerra esse Dezembro. Talvez por isso, há algo de diferente (de uma forma relativamente interessante) que imediatamente é perceptível no décimo-segundo filme, ‘The Courtship of Andy Hardy’, o primeiro dos dois que iriam ser lançados em 1942. O filme, mais uma vez realizado por George B. Seitz (que até agora só não havia realizado o sétimo), não opta por uma abordagem tão trabalhada e incisiva como o anterior. Num mundo em colapso, não iria ser a saga Hardy, o baluarte da moral e da esperança das famílias americanas, a perder a fé. Provavelmente por esse motivo, este filme existe numa espécie de realidade alternativa, nesse Verão em Carvel onde a inocência ainda podia reinar e a boa vontade e a compreensão eram suficientes para resolver todos os problemas. 

Mas apesar da quebra com o tom que tinha pautado os filmes anteriores, e deste ser o filme de toda a saga que melhor funciona como um desgarrado “episódio semanal” (tanto que por vezes parece que o filme funcionaria de igual forma sem a família Hardy!), isto não implica que o filme seja idílico (como diz o título em português) ou necessariamente mau. Pelo contrário. Há uma maturidade intangível neste filme; intangível pois não é aquela que caracteriza os filmes anteriores já que não está directamente relacionada com, ou pelo menos não é exclusivamente dependente do crescimento de Andy. De facto, o elemento mais fascinante de ‘The Courtship of Andy Hardy’ é que, com extrema naturalidade, a história volta a focar-se em toda a família. E fá-lo, quase paradoxalmente, sem repetir a velha fórmula lamechas dos filmes iniciais (o que é óptimo). E apesar de não ter de todo o tom da comédia romântica, consegue encontrar, tal como o filme anterior, ritmo suficiente no seu drama para se manter interessante.

Aliás, este equilíbrio é obtido com mais um elemento surpreendente: é o filme mais autoconsciente da saga até este ponto. Tirando Andy, todas as outras personagens tinham já há muito estabilizado no seu próprio cliché. Mas não aqui. Doze filmes depois, estas personagens cresceram, e recordam, em mais do que uma ocasião e com uma espécie de nostalgia consciente, a folia passada das suas próprias personalidades. Já anteriormente a saga tinha evocado eventos de filmes passados. Mas nunca havia evocado emoções. Por isso quando Andy assobia descontraidamente o tema da saga e depois tem conversas de enorme cumplicidade com o pai; ou quando a sua irmã Marian (Cecilia Parker) finalmente regressa das suas “férias” (que se traduziram numa ausência dos dois filmes anteriores) não uma menina mas uma senhora, e a recordar com um sorriso as suas paixonetas passadas, estes eventos revestem-se de enorme significado. 

"É o filme mais autoconsciente da saga até este ponto. Tirando Andy, todas as outras personagens tinham já há muito estabilizado no seu próprio cliché. Mas não aqui. Doze filmes depois, estas personagens cresceram, e recordam, em mais do que uma ocasião e com uma espécie de nostalgia consciente, a folia passada das suas próprias personalidades. Já anteriormente a saga tinha evocado eventos de filmes passados. Mas nunca havia evocado emoções."

Para além do mais, os típicos problemas que cada membro da família tem de resolver para crescer mais um pouco já não são aqui bem problemas, nem têm a mesquinhez algo picuinhas nem o moralismo cliché (mesmo que extremamente familiar e apelativo) dos filmes anteriores. São antes pequenos dilemas de índole social, mais sérios, mais conscientes, mais relevantes, ajustados aos pós-adolescentes num mundo a preparar-se para a Guerra. Talvez tenha sido precisamente a Guerra a ditar esta mudança, ou simplesmente porque os jovens da altura, muitos deles prestes a alistar-se para ir para o ultramar, já não se reviam na infantilidade de muitos argumentos anteriores. E para além do mais, Mickey Rooney já não era, nem nos filmes nem aos olhos do público, uma mera criança. O primeiro dos seus oito casamentos tinha acabado de ocorrer poucos meses antes, com enorme mediatismo, com uma jovem Ava Gardner. Mas qualquer que tenha sido o motivo, a abordagem de ‘The Courtship of Andy Hardy’ resulta.

O filme passa-se todo num pequeno conjunto de dias nesse mítico Verão. Quem viu os filmes anteriores sabe que Andy aguarda o momento do início do semestre na faculdade, mas não há uma única menção a isso em todo o filme, o que mais contribui para a sua aura de “episódio” solto. Na primeira cena, regressamos ao cenário do tribunal onde a maior parte dos filmes havia começado. O Juiz Hardy (Lewis Stone) está a tentar resolver um caso de divórcio e custódia de uma filha, algo que para a altura era bastante escandaloso – mais uma vez a saga Hardy na vanguarda dos dilemas sociais.

A filha, Melodie, tímida e retraída muito devido à desavença dos pais, é interpretada Donna Reed, que mais tarde faria história em filmes como ‘It's a Wonderful Life’ (1946), ‘From Here to Eternity’ (1953) ou na imensamente bem-sucedida sitcom ‘The Donna Reed Show’ (1958-1966). Então com pouco mais de 20 anos de idade, Reed junta-se às fileiras das Hardy-girls e a nomes como Judy Garland, Lana Turner ou Kathryn Grayson; todas futuras estrelas que a MGM usava nestes filmes para dar a conhecer ao público e testar a sua popularidade. E Reed aproveita o desafio com a classe, o talento e a jovialidade que a caracterizariam como actriz, embora seja difícil de acreditar que seja um patinho (algo) feio no início. Quando desabrocha mais tarde, por intermédio de Andy, está muito mais no seu meio.

Antes disso o filme vai expor uma trama centrada em três “problemas” envolvendo três membros da família: Andy, Marian e a sua mãe (Fay Holden). A mãe tem um destaque como já não tinha há muitos filmes, mas a sua pequena aventura é marginal e a menos interessante. Basicamente, ao tentar comprar por catálogo um novo fato para o seu marido, vai-se envolver num esquema fraudulento de colectas, já que o fato custa muito mais do que aquilo que lhe havia sido dado a entender. Pressionada pelos credores, guarda segredo, mas fica cada vez mais nervosa porque supostamente no final da semana vai ter que comparecer no tribunal perante o Juiz, o seu marido, sem que este saiba que isso vai acontecer!

"Então com pouco mais de 20 anos de idade, Dona Reed junta-se às fileiras das Hardy-girls (...) com a classe, o talento e a jovialidade que a caracterizariam como actriz, embora seja difícil de acreditar que seja um patinho (algo) feio no início (...) Já ver Andy surgir de fato macaco a guiar o calhambeque a que chama reboque com o seu ar descontraído é glorioso, e simboliza na perfeição porque motivo Rooney era o rei de Hollywood aos 22 anos de idade."

Algo de semelhante acontece também a Andy. No filme anterior tínhamo-lo deixado com um novo emprego de Verão na garagem local; a sua paixão por automóveis sempre foi um traço de personalidade bem presente em toda a saga. É aí que o voltamos a encontrar, sendo que está a tentar ganhar uns trocos extra montando o seu próprio negócio como rebocador. Vê-lo surgir de fato macaco a guiar o calhambeque a que chama reboque com o seu ar descontraído é absolutamente glorioso, e simboliza na perfeição porque motivo Rooney era o rei de Hollywood aos 22 anos de idade. Mas não seria Andy se algo não corresse mal, e logo com o primeiro cliente. Na cena mais engraçada de todo o filme, Andy deixa sem querer o seu cliente para trás, no passeio, enquanto lhe reboca distraidamente o carro. O resultado desta desventura é que Andy é acusado de roubo. E o dono do carro ainda por cima é um agente do FBI! 

É engraçado ver como o filme consegue reinventar os clássicos casos de justiça que haviam caracterizado as obras iniciais da saga, com uma versão mais soft e mais íntima no seio da própria família. Mas é uma grande pena que o realizador use este enquadramento apenas para criar algum nervosismo e alguma tensãozinha ao longo do filme, e nunca o explore devidamente. No final, estes dois dilemas são secundários e não têm nenhuma consequência para as personagens, já que tudo é resolvido de forma extremamente apressada, nem sequer havendo uma ida ao tribunal que podia ser ao mesmo tempo engraçada e moralista.

Já o regresso de Marian após dois filmes é recebido com um sorriso, não só pela família que a espera na estação, mas pelo espectador. Apesar de estar muito mais autoconsciente e supostamente adulta, as suas ideias anteriores de certa forma mantêm-se. Regressa cheia de noções presunçosas sobre como uma senhora sofisticada “da alta sociedade” se deve comportar e vestir. A sua tentativa de ser elegante usando um vestido de noite como se fosse um vestido de gala gera uma valente risada por parte da família quando todos, do Juiz a Andy passando pela Tia Milly (Sara Haden), surgem ao jantar de pijama, para a provocar (a velha geração a rir-se um pouco dos novos costumes da antiga de uma forma simpática e apelativa). 

Numa nota mais séria, Marian vai ter uma nova paixão por um rapaz problemático, Jeff (William Lundigan), um jovem ladies-man que, sacrilégio, bebe em demasia. De novo a saga Hardy na vanguarda dos problemas sociais. E portanto, já sabemos o que vai resultar daqui. Quer Andy quer o Juiz tentam avisar a irmã mas esta não quer ouvir, e o Juiz, na sua infinita sagacidade, vai deixá-la aprender mais uma lição por si. E a verdade é que a aprende a mal, quando tem um acidente de automóvel conduzido por um extremamente embriagado Jeff. É Andy que os encontra e Marian logo se arrepende de não ter dado ouvidos à família. Já Jeff é alvo de uma verdadeira intervenção por parte de Andy e do Juiz, que lhe faz um enorme discurso anti-álcool. Clássico.

"Nunca uma personagem passageira da saga [Melody] foi tão bem desenvolvida (...) e é ainda mais surpreendente ouvir as conversas entre Melody e Andy em momentos de maior intimidade (...) Mas isso não implica que Andy não dê o ar da sua graça cómica. Dá e muito. Nestes meios adolescentes é onde Rooney está mais confortável e o seu Andy é de novo um dínamo cómico de one-liners e expressões impagáveis."

Enquanto tudo isto se vai passando, o filme vai seguindo a sua linha argumental principal, e aquela que gera o bastante erróneo título do filme. O Juiz pede a Andy para ajudar a integrar Melodie na sociedade jovem de Carvel, como aliás havia feito anteriormente com Kathryn em ‘Andy Hardy's Private Secretary’ (1941). Contrariado pelo seu aspecto inicial de patinho feio e pela sua reputação de tímida e pouco divertida, Andy faz esse favor ao pai, com quem agora fala praticamente de igual para igual (ou pelo menos tenta). Assim, leva Melody ao baile de Verão da escola onde tem inclusive de pagar aos seus amigos para dançarem com ela. Mas não o faz contrariado. Toma essa iniciativa por de si próprio, para a fazer feliz, o que revela a maturidade e o altruísmo que havia encontrado na aventura do filme anterior em Nova Iorque.

Mesmo assim, esta relação está longe de ser a “courtship” que o título anuncia, embora Andy, o perfeito gentleman, lhe dê um beijo no final dessa noite. Para Melody foi a noite perfeita, e chegando a casa extasiada pergunta à mãe o que ela acha de Andy. Saliento este pormenor pois a mãe dá uma das melhores descrições de Andy alguma vez pronunciadas: “I should say a bit shortish, not good looking, but a nice face. Good manners, lots of fun to be with”. Ao qual Melody responde: “No darling, he is six feet tall, a gallant knight, thoughtful, gentle, kind”. Claramente tocada pelo seu gesto, Melody apaixona-se por Andy, e por ele faz a clássica transformação, tão  típica em filmes de adolescentes até aos dias de hoje, para se tornar a bela e charmosa rapariga que supusemos desde o início que seria. Tudo o que é preciso é pentear o cabelo de uma forma diferente e um novo vestido… Isto gera o mínimo de comédia de enganos já que Andy, para muito espanto do próprio (mais um sinal de maturidade), não retribui essa paixão. Mas mais uma vez o filme retira pouco daqui pois está menos preocupado com Andy (algo surpreendente), e mais com a sua boa acção e com a viagem emocional de Melody, que usa Andy e o apadrinhamento do Juiz como catalisadores para voltar a ter um interesse pela vida e arranjar uma maneira de se reconciliar com os pais (e fazê-los reconciliarem-se um com o outro).

Nunca uma personagem passageira da saga foi tão bem desenvolvida (está mais até que a Betsy de Judy Garland) e é ainda mais surpreendente ouvir as conversas entre Melody e Andy em momentos de maior intimidade. A sua exuberante relação com Polly nunca originou momentos tão introspectivos e conscientes, e são estes momentos dão um toque de pungência que nunca tinha sido visto nesta saga. Especialmente porque Andy não quer partir o coração a Melody mas tem que o fazer porque não a quer enganar, ao mesmo tempo que faz tudo para que ela se torne feliz, incluindo estimular a clara química que esta tem como Harry Land (Todd Karns) que regressa por uns minutos à saga depois da sua aparição em ‘Andy Hardy's Private Secretary‘. Mas isso não implica que Andy não dê o ar da sua graça cómica. Dá e muito, mais do que no par de filmes anteriores. Nestes meios adolescentes é onde Rooney está mais confortável e o seu Andy é de novo um dínamo cómico de one-liners e expressões impagáveis. Nos dois bailes (onde se auto-intitula “o maestro”) Rooney está no topo da sua forma. Exemplo: o modo como no segundo, como uma transformada Melody, recupera com juros todo o dinheiro que havia perdido no primeiro baile. Querem dançar com ela, rapazes? Paguem!

"É um filme que flui bem embora não tenha sequências memoráveis (...) A sua moral não é a mais profunda, mas é a que é dada com maior classe e subtileza (...) É um dos filmes mais adultos e conscientes, mas não consegue ser fascinante nem electrizante, pois falta-lhe ritmo e dinamismo, e apesar de Rooney ter magia cómica, não é ela que conduz a história. É um conjunto de antíteses mas não se pode dizer que seja uma má entrada desta saga."

No final, todas estas soltas linhas argumentais confluem em soluções fáceis e previsíveis, e tudo está bem quando acaba bem, não só para Melody, como para Andy que termina piscando o olho a Polly (Ann Rutherford), que aparece nos minutos finais também ela transformada numa mulher. No filme anterior haviam trocado um nostálgico e sentido adeus definitivo, visto que iriam para faculdades diferentes. Mas a saga não resiste a dar-nos mais um vislumbre dela (o seu último filme seria o seguinte) antes da sua separação definitiva. Vale a pena só para ver Andy regressar por breves momentos à sua exuberância clássica, e a terminar o filme com mais uma frase memorável que deixa um sorriso em todos os fãs da saga: “I was right, woman are a habit for me!”.

Tudo somado, este décimo segundo filme é algo contraditório em si mesmo. É um filme que flui bem embora não tenha muitas sequências memoráveis. Tem uma história relativamente sólida e não tem elementos “para encher”, mesmo apesar de voltar a revisitar, conscientemente, temáticas que a saga já há muito havia esgotado. Tem uma apurada consciência social (fala-se de casamento/divórcio, da insegurança adolescente, da dependência do álcool), mas consegue suster-se sem ser excessivamente lamechas, moralista ou enfadonho. A sua moral não é a mais profunda, mas é a que é dada com maior classe e subtileza, e portanto torna-se das mais influentes da saga para jovens espectadores. Tem sólidas interpretações e dá-nos a conhecer o lado mais maduro de muitas personagens, mas é apenas uma fotografia estática que não consegue ter fortes elementos na trama que realmente prendam quer as personagens quer os espectadores. É um dos filmes mais adultos e conscientes, mas no global não consegue ser fascinante nem electrizante, pois falta-lhe ritmo e dinamismo, e apesar de Rooney ter magia cómica, não é ela que conduz a história. É um conjunto de antíteses mas não se pode dizer que seja uma má entrada desta saga.

Andy e Marian já não as inocentes crianças da idílica pequena América e os tempos não estavam para comédias. O filme assume a perspectiva séria da geração mais velha que olha com uma terna preocupação, embora esperançada, para a mais nova sem uma única vez mencionar a Guerra e os rapazes que partiram, ou estavam prestes a fazê-lo (em breve Andy seria um deles). Assim oferece-nos uma história simples de amor adolescente, com pequenos temas sociais nas margens, que no fundo tem um único objectivo: mostrar como a família Hardy, o arquétipo de todas as famílias americanas, se mantém junta face a uma panóplia de adversidades. E pelo caminho “salvam” uma jovem inocente. Talvez seja isso que torna este filme tão especial. Não é Andy que nos aconchega o coração no final, como acontecia em quase todas as obras anteriores. É a “salvação” emocional, digamos assim, de Melody, uma personagem que não voltará a aparecer na saga. Todos os miúdos anónimos da América merecem uma oportunidade, e salvando-os um a um, conseguimos salvar uma geração.

"Talvez seja isso que torna este filme tão especial. Não é Andy que nos aconchega o coração no final, como acontecia em quase todas as obras anteriores. É a “salvação” emocional, digamos assim, de Melody, uma personagem que não voltará a aparecer. Todos os miúdos anónimos da América merecem uma oportunidade, e salvando-os um a um, conseguimos salvar uma geração."

Com ‘The Courtship of Andy Hardy’, a saga Hardy mais uma vez acompanha os tempos e prova que foi a maior novela social cinematográfica do período da Segunda Grande Guerra, e quiçá de sempre. Este não é o seu melhor filme, mas é o filme mais introspectivo, auto-consciente e maduro. É talvez uma decepção para quem é fã do estilo cómico-dramático da saga, e para quem se queria deliciar exclusivamente com a pantomina de Mickey Rooney, embora ele esteja muito mais vibrante que na entrada anterior. Mas não pode ser acusado de ser um mau filme pois tem claramente outros propósitos. Rooney não domina o ecrã propositadamente porque este proverbial ‘boy next door’ é agora o ‘man next door’. E em 1942 os jovens nos EUA tiveram de crescer demasiado depressa. Resgatando a irmã do acidente de viação ou ajudando Melody a encontrar a chama da sua juventude, Andy demonstra o crescimento pelo qual todos os jovens tinham de passar e a maturidade que tinham de assumir, inspirando assim uma geração inteira. Mas o seu gritinho final depois de reencontrar Polly prova que a sua alma não foi corrompida, permanece intacta, permanece eternamente jovem. E isso ainda mais alento e esperança oferece. Talvez seja esta a grande mensagem do filme, e o motivo pelo qual ainda hoje resulta.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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