Realizador: Eric Leighton, Ralph Zondag
Actores principais (voz): D.B. Sweeney, Alfre Woodard, Samuel E. Wright
Duração: 82 min
Crítica: Em 1995, após 4 anos de trabalho, a Pixar lançou o seu primeiro filme, ‘Toy Story’. Tal como se tinha especulado com ‘Snow White’ 60 anos antes aquando do nascimento dos filmes de animação, também muito se especulou sobre a capacidade de sucesso de um filme completamente feito através de imagens geradas por computador (CGI). Mas tal como ‘Snow White’, ‘Toy Story’ foi um estrondoso sucesso crítico e de bilheteira. Isto abriu portas para um novo ressurgimento da animação que hoje em dia, na década de 2010, detém uma importância enorme no mercado cinematográfico, com duas dezenas (ou mais) de lançamentos por ano.
Ora foi precisamente também em 1995, e com o aperceber-se das potencialidades deste novo mercado que o sucesso de ‘Toy Story’ deixou antever, que a Disney (que na altura ainda não detinha a Pixar), deu luz verde para a criação de uma unidade de animação por computador. 5 anos e 200 milhões de dólares depois, ‘Dinosaur’ foi o primeiro output desta unidade.
Oficialmente o 39º classico da Disney, ‘Dinosaur’ provou que todo este tempo e todo este dinheiro foi bem gasto, pelo menos se pensarmos na qualidade da animação digital que o filme apresenta, que é, mesmo para os padrões de agora (13 anos depois), verdadeiramente magnífica. O problema é que aparentemente os criadores do filme ficaram demasiado preocupados com a exploração da tecnologia, com a qualidade do visual, e esqueceram-se que os filmes também precisam de ter uma história. O que eu quero dizer é que a história de ‘Dinosaur’ é completamente banal e não faz jus à qualidade visual do filme, tornando-o completamente desinteressante ou, melhor dizendo, não apresentando nada de novo ou digno de registo, quando comparado com outros filmes da Disney.
É certo também que por esta altura a Disney estava num período descendente. Foi igualmente em 1995 que a Disney apresentou o último grande filme da sua segunda época de ouro, que incluiu ‘Little Mermaid’ (1989), ‘Beauty and the Beast’ (1991), ‘Aladin’ (1993), ‘Lion King’ (1994) e ‘Pocahontas’ (1995). Nos 5 anos que se seguiram, com ‘Hunchback of Notre Dame’ (1996), ‘Hercules’ (1997), ‘Mulan’ (1998) e finalmente ‘Tarzan’ (1999), a qualidade foi diminuindo e a magia foi-se perdendo. O público começava a apreciar mais os filmes do género Pixar (‘Bug’s Life’ de 1997 e ‘Toy Story 2’ de 1999), e os primeiros grandes filmes de animação por computador do Blue Sky Studious (Ice Age) e da Dreamworks (Shrek) estavam igualmente em produção por esta altura (‘AntZ’ da Dreamworks havia surgido em 1998, o primeiro filme CGI do estúdio). O tipo de animação e o modelo dos argumentos estava claramente a mudar. Estou seguro que tudo isto pesou consideravelmente no produto final de ‘Dinosaur’. A Disney provavelmente procurou, no meio da loucura do novo meio, produzir um produto diferenciador. Mas optou por o diferenciar exclusivamente a partir do visual, o que foi um erro.
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Tudo começa quando um ovo de dinossauro se perde e é encontrado por uma tribo de macacos. Aladar, o nosso herói dinossauro que dá o nome ao filme, é então criado pela tribo, desde recém-nascido até se tornar um dinossauro de proporções gigantescas. E é imediatamente aqui que as coisas começam a correr mal com o argumento do filme. Várias questões vieram-me logo à cabeça. Os dinossauros coexistiram na Terra com os macacos? Visto que o filme só mostra dinossauros e macacos, há mais espécies no Planeta? Qual é a consequência para a psicologia da personagem principal de ter sido criada por macacos? O filme não aparenta mostrar nenhuma. Depois de Aladar, já na idade adulta, finalmente encontrar outros dinossauros, e se aperceber que afinal é de outra espécie, o seu comportamento não se altera um milímetro. Não fica surpreendido, não sente necessidade de explorar a sua nova identidade, etc. Em suma, comporta-se como se tivesse tido sempre a consciência de que era um dinossauro. E isso soa muito estranho na definição de toda a sua personagem.
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Com apenas 75 minutos, o argumento de ‘Dinosaur’ é surpreendentemente pouco surpreendente. Se agora isto já é comum em filme de animação por computador, directa consequência da massificação e da necessidade de cada estúdio ter que lançar um ou mais por ano, em 2000 isto não era bem assim e a Disney já nos tinha habituado a formas muito mais inteligentes de apelar quer a crianças, quer a adultos, simultaneamente. Felizmente, esta tendência, que ainda imperou na Disney quase uma década, está a ser contrariada com os seus filmes mais recentes ‘The Princess and the Frog’ (2009), ‘Tangled’ (2010) e ‘Winnie the Pooh’ (2011), todos eles muito bons. Por outro lado, sendo este apenas o quinto filme de animação por computador a surgir (após ‘Toy Story 1 e 2’, ‘Bug’s Life’ e ‘AntZ’) é o primeiro que claramente reduz a fasquia de qualidade e de entretenimento do novo meio. Mas por outro lado, é o primeiro a tentar apelar a um público exclusivamente infantil, o que pode ‘desculpar’ algumas coisas.
As conclusões são tão simples quanto o filme. É para se ver se se for fã de fantásticos efeitos visuais. É para se mostrar a uma criança pequena porque irá desfrutar imenso das imagens e das paletes de cores. Mas os fãs da Disney mais crescidinhos (não lhes chamarei adultos!) vão encontrar muito pouco de interesse em ‘Dinosaur’. É um filme que sofre claramente do que apelido da ‘Síndrome de Avatar’. Efeitos especiais fabulosos. Uma história péssima, digna apenas de miúdos de seis anos (mas só aqueles que não viram outros filmes da Disney ou ‘The Land Before Time’).
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