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Top 5 – DVD Boxsets de curtas-metragens de animação clássica

Toda a gente que lê estas páginas sabe que sou um acérrimo fã de animação. Hoje vivemos numa época em que a animação vive um período de prosperidade nunca antes visto, mas eu não me sinto muito à vontade em partilhar a excitação da indústria. Há ainda grandes filmes de animação claro (gostei imenso de ‘The Peanuts Movie’, ‘Zootopia’ foi o mais interessante filme da Disney dos últimos anos, e claro sempre temos o estúdio Ghibli), mas é inegável que a indústria se desvirtuou não só com a passagem em massa do modo de desenho tradicional “à mão” para o meio digital, como com a inundação do mercado de companhias e filmes.

Como um bom velho do Restelo, olho com saudosismo e paixão para outra época no tempo onde a animação era também produzida em massa: a idade dourada das curtas-metragens de animação das décadas de 1930, 1940 e 1950. A história da animação remonta aos primórdios do cinema (os famosos ‘moving comics’ de Winsor McCay dos anos 1910) mas só realmente ganhou momento quando um tal de Walt Disney entrou em cena, primeiro com ‘Oswald’ e depois, já na sua própria companhia, com as curtas de ‘Mickey’ e as famosas ‘Silly Symphonies’ na década de 1930. Não havia televisão por esta altura, e as curtas-metragens de animação destinavam-se a abrir os programas cinematográficos das salas de cinema, passando entre as notícias e o filme principal.

Rapidamente a Disney expandiu o seu leque de personagens (Donald, Pluto, Pateta) e outras companhias se juntaram à festa. Nasceram os Looney Toons (Bugs Bunny, Road Runner, Daffy Duck), Tom & Jerry, Droopy e tantos outros que viveram o seu auge nas décadas de 1940 e 1950. Por fim, a Hanna-Barbera foi crucial na passagem destas personagens do formato de curta-metragem para o formato de série televisiva, quando nos anos 1960 bateu recordes de audiências com ‘The Flinstones’ e concebeu outras séries como ‘Top Cat’, ‘Scooby Doo’ ou ‘The Jetsons’.

"Como um bom velho do Restelo, olho com saudosismo e paixão para outra época no tempo onde a animação era também produzida em massa: a idade dourada das curtas-metragens de animação das décadas de 1930, 1940 e 1950 (...) É contudo com pesar que noto a total ausência deste espólio nas nossas televisões."

É contudo com pesar que noto a total ausência deste espólio nas nossas televisões. A Cartoon Network, que me deu a conhecer todos estes desenhos animados no início dos anos 1990, há muito que deixou de passar este tipo de animação, substituindo-a por desenhos modernos cuja qualidade, em comparação, deixa muito a desejar. E o mesmo se pode dizer dos restantes canais, quer os próprios para crianças, quer todos os outros (porque não pode a televisão pública portuguesa passar isto de vez em quando?). Portanto só nos resta, para revivermos a magia de todas estas produções, duas opções. Primeiro, a internet e o Youtube, onde podemos encontrar muitas destas pérolas, infelizmente porém não com a melhor qualidade nem na íntegra. Segundo, as mega-caixas de DVDs que ainda se vendem (mais lá fora do que cá em Portugal) e que se tornam tesouros preciosos para passar esta herança, com a qual a maior parte de nós aprendeu a crescer, para as próximas gerações.

Estamos a aproximar-nos da época natalícia e todos buscamos uma grande e surpreendente prenda para oferecer aos nossos entes queridos. Deixo-vos a sugestão de cinco caixas de DVD mágicas que nos transportam de novo para a idade dourada da animação. Cinco caixas de desenhos de uma qualidade extrema feitas pelos maiores gurus que a indústria já conheceu; mestres que desenhavam com paixão e proliferavam num meio que ainda vivia a excitação da descoberta. O resultado não pode ser esquecido, não pode ser relegado para uma nota de rodapé da história do cinema, por mais desenhos animados por computador que se façam hoje. Restam-nos estas caixas, se mais nada, para nunca o esquecermos. Eu sou o orgulhoso dono de algumas delas e não tenho dúvidas em afirmar que são os bens mais preciosos da minha estante. Mal posso esperar por um dia as partilhar com o meu filho, agora bebé. Se quiser, caro leitor, elas estão aí, à sua espera, para que também possa ter este legado em casa para sempre…


5. Tex Avery Cartoon Colection

Seria redutor dizer que Tex Avery foi o primeiro grande desenhador a desafiar as convenções, porque o próprio Disney desafiou, à sua maneira, as convenções ao conceber Mickey. Mas numa indústria que começava a estabilizar, Avery, que começou a trabalhar precisamente para a Disney, voltou a dar-lhe um safanão com um humor visual ousado e surrealista. Foi uma das forças criativas por detrás dos Looney Toons, mas discrepâncias internas, precisamente causadas pelo seu estilo, levaram-no a ser afastado da série, e acabaria por trocar a Warner Brothers pela MGM no início da década de 1940. Aí, atingiria o seu pico criativo, e inspiraria futuras gerações de artistas ao esticar a corda do humor animado até ao limite. São dele personagens icónicas como o lobo que assobiava às meninas jeitosas, o Screwy Squirrel e, claro, o famoso Droopy, o cãozinho de voz arrastada que às vezes se chateava “à séria”.

É precisamente este espólio da MGM que existe numa caixa com cinco discos que circulou os mercados europeus no início da década de 2000, e que ainda hoje pode ser encontrada com alguma destreza na internet. Eu próprio tive esta caixa na mão numa loja Portuguesa quando era adolescente. Se fosse hoje não teria hesitado mas na altura não estava ao meu alcance. Infelizmente, nunca mais a vi ao vivo. Existe também uma caixa de dois discos do Droopy completo, mas ainda é mais rara de encontrar, o que se reflecte no preço… Para abrir o apetite, fica um bocadinho de ‘Red Hot Riding Hood’ (1943) a primeira curta de Avery que combina duas personagens que se tornariam lendas, o Lobo e a Red, que inspiraria Jessica Rabbit anos mais tarde…



4. Hanna-Barbera Classic Collection

William Hanna e Joseph Barbera já tinham deixado uma marca indelével na história da animação. No seio da MGM na década de 1940 haviam concebido uma das melhores parelhas animadas de sempre: ‘Tom & Jerry’. Mas quando no final da década de 1950, com o advento da televisão e a quebra de receitas das curtas de animação, a MGM se apercebeu que o lucro das reposições do seu antigo espólio era semelhante ao dos novos lançamentos, decidiu fechar as portas do seu departamento de animação. Hanna e Barbera não se fizeram rogados e criaram o seu próprio estúdio, apontado precisamente para o mercado televisivo. Aumentando o tempo de duração de cada episódio para 25 minutos, e concebendo as séries em formato de temporadas, rivalizaram com qualquer outra série televisiva de ‘imagem real’ e moldaram o conceito de animação para a televisão, originando os famosos ‘desenhos animados de sábado de manhã’.

Começando com ‘The Huckleberry Hound Show’ e ‘Yogi Bear’, o estúdio teria um gigantesco sucesso com ‘The Flinstones’, que duraria umas incríveis seis temporadas entre 1960 e 1966. Até ao final da década de 1980, o estúdio produziria séries icónicas como ‘The Jetsons’, ‘Top Cat’, ‘Wacky Races’, ‘Scooby-Doo’ ou ‘Hong Kong Phooey’. Seria impossível, claro, colocar todo este espólio numa única caixa de DVDs. Mas existe uma colecção, a Hanna-Barbera Classic Collection, que nos permite recordar na íntegra cada uma destas icónicas séries. Eu possuo duas caixas desta colecção, a de ‘Wacky Races’, e a de ‘Top Cat’, aquela que considero a melhor série da Hanna-Barbera. Deixo-vos precisamente a única cena que consegui encontrar no Youtube do meu episódio preferido de ‘Top Cat’: ‘The Maharajah of Pookajee’.



3. Looney Tunes - The Complete Golden Collection

Bugs Bunny, Elmer the Fudd, Daffy Duck, Tweety e Silvester, Pepé le Pew, Coyote e Road Runner, o Diabo da Tasmânia, Porky Pigg, Speedy Gonzales. A lista de personagens icónicas dos Looney Toons é gigantesca e cada uma nos marcou à sua maneira. De novo repito o que disse na introdução a esta lista: como é possível deixarmos as nossas crianças crescer sem a irreverência destas obras? E irreverência é precisamente a sua imagem de marca, com um humor hilariante e surrealista imbuído de uma imensa energia, mas que não deixava de ter apelo familiar (daí o despedimento de Tex Avery quando ele decidiu esticar demasiado a corda).

O contraste com a visão mais moralista das contemporâneas curtas da Disney era notório e não é por acaso que os Looney Toons surgiram na Warner Brothers precisamente como concorrentes da Disney no início da década de 1930. Graças ao incrível conjunto de talentos que moldou estas personagens e as suas peculiares personalidades; Friz Freleng, Chuck Jones, Tex Avery, Frank Tashlin; e ao extraordinário trabalho vocal de Mel Blanc (que deu voz à maior parte das personagens do estúdio), os Lonney Toons tornaram-se a mais popular série de curtas de animação, ultrapassando até as da Disney em termos de bilheteira durante as décadas de 1940, 1950 e 1960 (a série original acabaria em 1969).

Em DVD, os Looney Toons começaram a ser lançados em discos isolados de best-off, sem coerência cronológica. Eu próprio tenho uma caixa de quatro discos que comprei em Madrid no início da década de 2000, que tem um disco do ‘melhor’ do Bugs Bunny, um disco do 'melhor' do Elmer & Daffy, e dois discos de episódios avulso das outras personagens. Mais tarde, começaram a ser lançadas as edições douradas, caixas de quatro discos cujo primeiro volume corresponde precisamente à caixa que eu já tinha. E por fim (até que enfim!) foi lançada a Complete Golden Collection, uma mega-caixa constituída pelas seis edições douradas existentes (num total de 24 discos). Podemos criticar nunca terem abdicado de fazer os DVDs num formato ‘mistura inconexa de curtas’, em vez de lançarem volumes cronologicamente completos dedicados a cada personagem. Mas esta caixa, que um dia (um dia!) figurará na minha estante, é o pacote mais completo que existe hoje dos Looney Toons, portanto a cavalo dado não se olha o dente. Desfruta-se do dente! Desfrutem pois então de Bugs. Silêncio, que vai tocar a orquestra.



2. Tom & Jerry – Complete Cartoon Collection

Quando William Hanna e Joseph Barbera conceberam, em 1939, uma curta-metragem sobre um gato e um rato, então chamados Jasper e Jinx, os patrões da MGM não ficaram muito satisfeitos. A fórmula parecia ser mais que batida e o estúdio encomendou outros trabalhos aos seus criativos. Mas de repente, a curta começou a tornar-se extremamente popular e foi até nomeada para um Óscar. Então, o mítico produtor Fred Quimby deu carta branca a Hanna e Barbera para desenvolverem o duo do gato e do rato. O resultado foi ‘Tom & Jerry’, uma das mais extraordinárias séries animadas de que há memória, e uma paixão minha desde infância. Uma vez lembro-me de que assisti a oito (sim oito!) horas seguidas de 'Tom & Jerry' numa maratona da Cartoon Network (ah, estar de férias e ser criança com uma TV no quarto…). Adoro o humor, incrivelmente visual e, apesar da rivalidade entre o gato e o rato que geralmente leva a melhor, adoro o facto de haver uma intangível ternura; essa que falta aos Looney Toons e que não é moralista como a dos contos da Disney. É simplesmente aconchegadora como na mítica curta de Natal que partilho em baixo.

A incrível série original de ‘Tom & Jerry’ durou 114 episódios entre 1940 e 1958, altura em que a MGM fechou o seu departamento de animação, o que levou Hanna e Barbera a criarem o seu mítico estúdio. A partir daí a MGM concessionaria a série, que seria dirigida por Gene Deitch em 13 episódios entre 1961 e 1962 (para mim os piores, detesto a mudança no estilo dos desenhos), e depois por Chuck Jones em mais 34 episódios entre 1963 e 1967. Destes 161 episódios, 159 (por qualquer motivo faltam dois) estão numa gigantesca caixa com 14 DVDs. Tenho essa caixa? Tenho sim senhora, e com opção de áudio e legendas em português! Levei a última cópia que uma grande loja da baixa portuense tinha. Quanto custou? Bem, para um caloiro universitário, muitas mesadas. É fácil encontrar agora esta caixa? Em Portugal dificilmente, saiu totalmente de circulação há uma década. Mas na internet ainda está viva…



1. Walt Disney Treasures

Um rapaz que se recusou a crescer com um sonho de animação que queria partilhar com o mundo. Um nome que para todos, para sempre, estará associado aos sonhos de criança, que se recusam a abandonar-nos quando crescemos. Disney, Walt Disney, o cartoonista de Chicago que iria rumar a Hollywood com pouco mais de 20 anos de idade. Em 1928 aprenderia uma lição valiosíssima sobre a preservação do copyright das suas criações, quando perdeu os direitos da sua primeira grande série de sucesso, ‘Oswald, the Lucky Rabbit’, para a companhia que a estava a produzir, a Universal. Juntamente com o seu colaborador de longa data Ub Iwerks (o génio menos cantado da odisseia da Disney), formou a sua própria companhia e o resto, como dizem, é história. A história de Mickey (que se notarmos é extremamente parecido com Oswald), que se tornou um gigantesco sucesso de 1928 em diante. A história de um homem que nunca se conformou e que desafiou sempre as convenções da indústria. A história das gloriosas ‘Silly Symphonies’, da concepção da câmara multi-plano, do lançamento da primeira longa metragem animada; ‘Snow White and the Seven Dwarves’ (1937). A história da criação de inúmeras outras personagens: o Pateta, o Pluto, o Pato Donald. A história de tantos filmes eternos. A história de uma visão de um parque temático que se tornou realidade. A história de todos nós e de todas as nossas memórias...

O espólio clássico das curtas de animação da Disney entre as décadas de 1930 e 1960 começou a ser lançado avulso na era dos VHS: cassetes de 50 minutos como ‘Festival Donald’ ou ‘Contos Animados’ que me lembro de ter visto e revisto em criança. Mas quando a Disney começou a lançar a sua obra nas edições douradas em DVD, estes clássicos tiveram tratamento de luxo, com a concepção das caixas 'Walt Disney Treasures'. Em Portugal, apenas duas foram lançadas, a das ‘Silly Symphonies’ e o primeiro volume a cores do Mickey (contendo todas as curtas de 1934 a 1938). Por quatro euros cada (ridículo!) ambas foram parar à minha estante, e depois andei a namoriscar as restantes no estrangeiro. Levei para casa o Goofy (Pateta) Completo e o Chip n' Dale (Tico e Teco). Mas sinceramente não o devia ter feito. Não o devia porque uma viagem a Roma há uns anos deu-me a conhecer o verdadeiro maná dos céus.

Quem iria adivinhar que os italianos iriam juntar dez volumes inteiros dos Treasures em duas caixas com 10 discos cada uma?! Esta edição limitadíssima contém no seu Volume 1 o Donald Completo (seis discos) e o Mickey Completo a cores (quatro discos), e no seu Volume 2 as ‘Silly Symphonies’ (dois discos), o Pluto Completo (dois discos), o Pateta Completo (dois discos), o Mickey Completo a preto e branco (dois discos) e, como bónus, todas as curtas de Oswald que sobreviveram até hoje (dois discos). A minha mulher teve a ideia inspirada de me oferecer estes dois volumes num Natal passado (a minha mulher é um espectáculo!) e é sem dúvida a maior glória da minha estante. É magia pura que está ao alcance das minhas mãos. Se faz parte desta legião de apaixonados pela velha Disney, caro leitor, também não poupe esforços (e não custa assim tanto quanto possa pensar), para a ter também ao alcance das suas. Para se inspirar, deixo-o com ‘Music Land’, a minha Silly Symphony preferida.


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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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