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Curso de Cinema Americano - um curso para todos... mas não para mim!


O Cineclube do Porto vai organizar, entre Outubro e Dezembro deste ano, um curso do que eles chamam Cinema Americano entre 1930 e 2000, em oito sessões (embora, estranhamente, as duas primeiras sessões sejam de cinema mudo, pré 1930…). Li a notícia hoje e examinei com cuidado o programa. Imediatamente uma série de pensamentos chocalharam na minha cabeça:


1º pensamento, breve e directo: 

Eu poderia dar este curso. E por muito menos dinheiro.


2º pensamento, mais intrincado: 

Afinal eu não poderia dar este curso. Ou melhor não o quereria. E não o quereria porque isso iria contra os meus princípios éticos, que é como quem diz, iria contra a minha forma de ver e sentir o Cinema. Não o quereria dar porque este curso aparenta ser, pelo menos com base no seu programa, mais um que se debruça sobre os artistas da praxe, os filmes da praxe, as histórias da praxe, como se o seu autor não tivesse gostos pessoais e seguisse cegamente o dogmatismo formal estereotipado imposto por uma casta de semi-intelectuais artísticos sobre aquilo que deve ser o ‘grande cinema’ ou o ‘cinema sério’. Um curso que passa pelos trâmites rotineiros de Ford, Lubitsch, Vidor, Lang, Ray, Fuller, Copolla, Scorsese, Tarantino ou Thomas Anderson, onde os géneros intelectualmente menores como o melodrama, a comédia, a animação ou o musical não entram, e onde o cinema é só arte 'de autor', pseudo-alternativa, nunca o entretenimento e, Deus nos livre, o blockbuster.


3º Pensamento, mais pessoal:

Provavelmente o pensamento anterior revela só dor de cotovelo da minha parte. É provável. Ou o que se chama na gíria “ser convencido”. Mas não pode ser (só) esta a memória do cinema americano do século XX que se deve ter, que se deve partilhar, ou pelo menos que eu quero ter, que eu quero partilhar. Nada de errado com o cinema de Ford, Lubitsch, Vidor, Lang, Ray, Fuller, Copolla, Scorsese, Tarantino ou Thomas Anderson, muito pelo contrário (nalguns casos). Mas também quero dançar com Kelly, Fred e Ginger; quero espiar com o spy-fi; quero sorrir com a ficção científica de baixo orçamento dos anos 1950;´quero ser criança eterna com Walt Disney; quero amar Mel Brooks e Jerry Lewis (verdadeiros mestres do cinema americano); quero cantar os louvores de John Hughes e de Anthony Michael Hall; quero declarar em altos pulmões o génio de Harold Lloyd, Frank Borzage, Sam Wood, Groucho Marx, George Stevens, Billy Wilder, John Cassavetes, Hal Ashby, Don Bluth, Woody Allen ou Hitch (estranhamente sem menção, pelo menos no programa); quero bradar aos céus que gosto mais de ‘The Citadel’ que de ‘The Fountainhead’ porque o meu gosto pessoal se sobrepõe ao que vem nos livros da especialidade; quero encarar alguém olhos nos olhos e dizer que um dos melhores filmes americanos dos anos 1990 é ‘Meet Joe Black’ (sacrilégio!!!!!).


4º Pensamento, mais sério: 

Lá estou eu a ser pedante. Não posso criticar nos outros aquilo que eu próprio defendo; que o cinema é uma viagem pessoal e que cada pessoa é que trilha o seu próprio caminho. Se eu cito Frank Borzage ou Sam Wood, outro qualquer vai citar Fritz Lang ou Samuel Fuller. E nenhum de nós terá razão sobre qual é o melhor. Se para estes senhores pseudo-alternativos, pseudo-intelectuais, o grande cinema é continuamente, constantemente, cegamente, irrevogavelmente, este, sem margem de manobra, então provavelmente o “burro sou eu”. E aliás, provavelmente até vão falar de tudo o que mencionei (afinal, um programa é só um resumo, certo?). Aliás, provavelmente até vai ser um óptimo curso. Aliás, provavelmente até se vai criar um fantástico ambiente de debate. Por isso, caro leitor, se estiver pelo Porto e tiver disponibilidade temporal e financeira, não deixe escapar esta oportunidade de fazer uma enorme viagem pelo mundo que amamos: o do cinema, com gente que mais que certamente sabe do que está a falar; mais até, certamente, do que eu (mais informações neste link). Mas não é para mim.


5º Pensamento, a resignação: 

Não, não é para mim. Primeiro porque sei que não irei ouvir nada que já não saiba. É a sina do autodidacta com muita quilometragem nos olhos. Segundo porque sei certamente que me irei enervar (e eu sou um gajo muito nervoso). Mais cedo ou mais tarde vão dizer que o Coppola é um génio. E aquela vozinha que mora na minha cabeça vai dizer: “Miguel, jovem, c’um caneco. Ainda me lembro quando tínhamos 12 anos de idade e vimos brilhante cinema americano. Mel Gibson filmava o extraordinário ‘Braveheart’. ‘Muppet Treasure Island’ é ainda hoje uma obra prima da comédia. Michael Bay redefinia o blockbuster com o fabuloso ‘The Rock’. Ah, e o “génio” andava a fazer o ‘Jack’.”

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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