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Planet of the Apes

Ano: 2001

Realizador: Tim Burton

Actores principais: Mark Wahlberg, Tim Roth, Helena Bonham Carter

Duração: 119 min

Crítica: No Verão de 2001 eu tinha apenas 16 anos de idade. Já tinha visto os 5 filmes feitos entre 1968 e 1973 da saga do Planeta dos Macacos e estava um pouco ansioso por este ‘remake’. Só o primeiro destes filmes, ‘Planet of the Apes’ (1968) de Franklin J. Schaffner com Charlton Heston no papel principal, é que merece realmente ser apelidado de ‘filme’ – os outros são meros produtos de baixo orçamento para capitalizar no sucesso do original – e como o considerava, e ainda considero, um ‘grande filme’ estava dividido. Por um lado não aprecio o conceito de ‘remake’. Por outro, ao leme desta produção de 2001 estava Tim Burton. Tim Burton a fazer um filme do Planeta dos Macacos?! Para mim, na minha adolescência, aquilo tinha quase o significado que hoje associamos ao Batman de Christopher Nolan (ou ao Batman do próprio Burton relativamente aos filmes de super-heróis pré-1989). Estava seguro que, apesar da adulteração do original, iria ver um grande filme, sóbrio, profundo, gótico. Tal, infelizmente, não aconteceu.

‘Planet of the Apes’, versão de 2001, é uma grande palermice. E uso a palavra ‘palermice’ para não lhe chamar coisas piores. O filme não é mau, é péssimo. É daqueles filmes inexplicáveis, que não se entende como é que alguém num estúdio alguma vez deu luz verde a esta produção, como é que dois ou três marmelos alguma vez se sentaram numa sala a escrever uma história tão má, e como é que um senhor (um verdadeiro senhor do cinema) como Tim Burton, leu este argumento e decidiu que era uma coisa digna do seu calibre. Este filme está a par de outras grandes patetices de gigantesco orçamento mas com argumentos descerebrados como ‘Time Machine’, ‘Godzilla’, ‘Deep Impact’, ‘Captain America’, ‘Iron Man 2’, ‘Waterworld’, ‘The League of Extraordinary Gentleman’, ‘Catwoman’, ‘Batman & Robin’ e não sei quantos outros que agora não me estou a lembrar, mas que o leitor sabe de certeza. Não saí repugnado, nem desapontado da sala. O filme é tão patético que não merece nenhum desses sentimentos. Merece um sorriso condescendente e um ‘adeus, até nunca’. Bem, por acaso não foi até nunca. Ontem, 12 anos depois, voltei a ver o filme, como parte do meu rever da saga do Planeta dos Macacos. E amigo, se quando tinha 16 anos não percebia nada de cinema, agora já vou percebendo umas coisas, e por amor de Deus, aquilo é mau… é muito mau.

Senão vejamos. O filme original, com Charlton Heston, era uma metáfora existencialista e social, sobre o significado da vida, a luta de classes, a escravatura e, como se descobre no magnífico twist final, o futuro da Terra. É um filme magnífico porque é ponderado e bem trabalhado. Tem tensão, tem mistério (o primeiro macaco não aparece até Heston estar no planeta há um par de dias e meia hora de filme), e um argumento muito bem escrito. O filme de Burton não tem nenhuma destas coisas. Não há tensão nem mistério nenhum, as coisas aparecem, literalmente, caídas do céu (de quando em quando as coisas são explicadas numa frase de diálogo e toca a andar para a frente), e no final o twist não faz sentido nenhum. Absolutamente nenhum. De acordo com Burton (que até hoje não veio pedir desculpas pelo filme, como por exemplo Schumacher já fez com ‘Batman & Robin’) isto não é um remake, é uma ‘re-imaginação’. Mas é uma re-imaginação feita por quem não tem muita imaginação. E como todos sabemos que Burton tem imaginação para dar e vender, então o dedo tem que ser apontado aos senhores William Broyles Jr., Lawrence Konner e Mark Rosenthal, os argumentistas. Visto que o primeiro escreveu ‘Apollo 13’, ‘Cast Away’ e ‘Flags of Our Fathers’ e o segundo e o terceiro escreveram em parceria ‘Jewel of the Nile’, ‘Superman IV’ e ‘Mona Lisa Smile’, entre outros, acho que não há dúvidas de quem é que cometeu as asneiras…

Marky Mark… perdão, Mark Wahlberg, é um astronauta americano que, numa estação espacial orbital, treina macacos para realizar voos de risco, cobaias digamos assim, antes que os próprios humanos sejam enviados. Um belo dia, uma misteriosa tempestade eléctrica aproxima-se da estação espacial e, certo e seguro, o macaco de Wahlberg é enviado. Rapidamente a central perde o contacto com essa nave, e em vez de se conformar que se perdeu uma nave e um macaco, Walhberg, à rebeldia dos seus superiores, pilota uma segunda nave para dentro da tempestade, à procura do seu macaco. Em vez de o encontrar, em cerca de 1 minuto e meio de filme, perde-se na tempestade, a sua nave começa a deixar de responder, e tem uma aterragem de emergência numa planeta estranho.

Se esta desculpa para aterrar Walhberg no Planeta dos Macacos já é um pouco patética (não como a exploração espacial, quase existencialista e sujeita às leis da relatividade temporal do filme original), mais patético fica o filme mal ele sai da nave. Em menos de 30 segundos já vê os humanos, já vê os macacos (foi à procura de um e encontrou centenas - JACKPOT!), e sem se questionar que toda a gente ali fala inglês, que consegue respirar perfeitamente o ar, e que há macacos que estão a andar e a falar à sua volta, já está completamente embrenhado na aventura. Esta passividade das personagens perante coisas que, na sua perspectiva, seriam inexplicáveis, é uma constante do filme. A um ponto perguntam a Wahlberg ‘Quem és tu?’ e ele responde ‘Sou o Capitão Leo Davidson, da força aérea americana’ e mais tarde ‘Vou ter com a minha nave para voltar para o meu planeta, a Terra’. Capitão? Força Aérea? Americana? Planeta Terra? Ninguém pestaneja perante estas informações…

Descrever a aventura seria uma perda de tempo. Whalberg vai primeiro à cidade dos macacos capturado como escravo, depois foge com um conjunto de humanos que liberta e de macacos que detém reféns, e depois procura regressar à nave mãe, que detém o twist e as respostas sobre a evolução dos macacos, enquanto, ao mesmo tempo, lidera uma espécie de revolta dos humanos contra os macacos. Pouco ou nada disto faz sentido em termos da história, se o espectador estiver atento. Os diálogos são péssimos, e as personagens são completamente unidimensionais.

Outras coisas sem sentido. No filme original, os humanos não falam, são serem menores, pouco inteligentes. Basicamente o papel dos humanos e dos macacos, e toda a estrutura da sociedade, está invertida. Por isso a personagem de Heston contrasta tanto e é tão ameaçadora, especialmente depois de percebido o twist. Nesta re-imaginação, os humanos são igualmente desprovidos de muita inteligência, mas só quando serve ao filme. Os humanos falam (porque neste tipo de filmes tudo tem de ser explicado por frases que as pessoas têm que proferir – a mise en scene não oferece nada) e parecem perfeitamente normais, excepto o facto de serem subjugados. Mas por exemplo nenhum deles consegue abrir a fechadura da jaula onde estão. Walhberg abre-a em 3 segundos e meio, de uma forma muito simples. Os macacos passam a vida a dizer que os humanos são uma raça inferior. Suponho que queiram dizer escrava. Mas não parece. O filme oscila entre tratar os humanos como escravos e trata-los efectivamente como seres evolutivamente inferiores. Mas muda-lhes as características de acordo com aquilo que quer passar ao público.

A própria atitude dos macacos em relação à fuga de 3 insignificantes humanos (quando podem ir ‘caçar’ muitos mais) também não se percebe. Exércitos enormes atrás deles. Tim Roth (o macaco vilão) tem um ódio completamente infundado, quase saído de uma tira de banda desenhada, e não acha nada esquisito que um extra-terrestre tenha aterrado no planeta dele. E depois há as personagens padrão, ou seja as personagens que a cadeira de ‘escrita de argumentos’ da escola de cinema dita que deve haver – o velho heróico que se sacrifica para que os novos possam escapar, o miúdo que não deixam lutar e que à rebeldia se junta as linhas de batalha, o macaco bom a contrastar com o macaco mau, o choninhas que é o escape cómico, etc.

Há tantas outras coisas mais que nem me lembro… ou não me quero lembrar. A explicação do segredo é completamente incongruente em termos da linha do espaço-tempo (nós somos a geração do ‘Regresso ao Futuro’ portanto percebemos montes sobre isso) e o desfecho do filme (quando Walhberg regressa à Terra – igualmente numa viagem pelo espaço que dura cerca de 1 minuto, menos do que a sua viagem da estação orbital ao planeta dos macacos) é ainda mais inexplicável. Estariam a pensar numa sequela que desse sentido ao que não faz sentido? Uma desculpa esfarrapada qualquer? Como foi possível serem tão ingénuos ao ponto de achar que alguém iria financiar uma sequela disto?

Outra coisa inexplicável é o brilhante elenco que este filme contém. Tim Roth, Helena Bonhan Carter, Paul Giamatti, Michael Clarke Duncan, Kriss Kristopherson e o próprio Heston numa única cena tiveram que passar 3 ou mais horas por dia para se maquilharem para fazer estes papéis patéticos. Foi o dinheiro que os convenceu? O facto de poderem trabalhar com Burton? Pior pior é mesmo a menina produzida Estella Warren. Não admira que a sua carreira não tenha nenhum título relevante. Cara bonita, péssima actriz. No meio desta gente toda, só Bonhan Carter brilha. É a digna descendente de Kim Hunter e poder-se-á dizer que a sua relação com Burton (pessoal e profissional) que se originou depois de terem-se conhecido no plateau deste filme, foi a única consequência útil de toda esta produção.

No final, só posso acreditar que, para Burton ter aceitado realizar este filme, se tenha passado uma conversa deste género entre ele (TB) os produtores (P):

P: Olha Tim temos aqui um grande argumento que queremos que tu realizes.
TB: Mas… isto não presta para nada!
P: Nós oferecemos-te uma pipa de massa e deixamos-te fazer 2 filmes à tua escolha depois deste.
TB: Então siga!

Tirando o cenário descrito nas linhas acima, só posso crer que Tim Burton sofreu de uma demência temporária. Este é claramente o seu pior filme. É daqueles filmes que não pára, que debita cena após cena sem ponderação nem espaço para assentar ideias, para as pessoas não poderem pensar o quão enganadas estão a ser. É daqueles filmes em que os diálogos das personagens têm de explicar tudo, por mais parvas e artificiais que sejam as explicações. Por fim, é daqueles filmes tão preocupados em ser inteligentes e sagazes que não ficam acima do patamar da burrice. Na sociedade dos macacos, por exemplo, tudo é semi-medieval – o andar a cavalo, a forma como se vestem, as armas, etc – mas depois vemos miúdos macacos de casaco de cabedal, umas macacas que fizeram plásticas, e por aí fora. Volta e meia, aquilo mais parece um episódio dos Flinstones, mas passado no Planeta dos Macacos.

Este filme prova como se pode pegar numa brilhante história, muito bem executada, e com uma metáfora profunda, e transformá-la em entretenimento acéfalo e banal. Quem é que teve a brilhante ideia de que a história do filme original não era boa o suficiente e por isso precisava de ser ‘re-inventada’? Se é para fazer remakes, façam-nos bem. Acrescentem aquilo que o original não conseguiu ter, por restrições cinematográficas da época ou de contexto. Vejam o famoso ‘Ben-Hur’ de 1959. É um remake. ‘Fistfull of Dollars’ de Sergio Leone. É um remake. Mas são remakes tão bons que se tornam filmes de direito próprio. ‘Planet of the Apes’, versão de 2001, não é um filme, não é nada. É um exercício enfadonho de como desperdiçar dinheiro, efeitos especiais, e o talento de actores bons e do fabuloso Rick Baker, o artista que até hoje já venceu 7 Óscares de Melhor Maquilhagem. Mas sinceramente, as maquilhagens dos macacos não melhoraram quase nada em 40 anos. Talvez por isso o clássico de 1968 ganhou o prémio para a maquilhagem, e Baker nem sequer foi nomeado em 2001. 

Enquanto que as sequelas do início dos anos 1970 eram pobrezinhas porque também não tinham grandes pretensões e eram feitas com baixo orçamento para fazer dinheiro em sessões de início da tarde ‘para a família’, o filme de Burton é mau porque está efectivamente mal feito. Está mastigado e ‘blockbusterizado’ para fazer dinheiro, não como entretenimento leve familiar, mas como um épico das estrelas muito sagaz, mas que nada mais é que um filme, como já disse várias vezes nestas linhas, patético. 

Felizmente, quem fez ‘Rise of the Planet of the Apes’ em 2011, partiu a partir da quintologia original, e apagou qualquer registo da existência deste filme. É assim que deve ser. Este filme na realidade não existe. É um produto de uma alucinação colectiva. Não é possível haver alguém que consiga realizar uma coisa tão má. Esperemos que o próximo ‘Dawn of the Planet of the Apes’ de 2014, siga os mesmos princípios do filme de 2011.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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