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J. Edgar

Ano: 2011

Realizador: Clint Eastwood

Actores principais: Leonardo DiCaprio, Josh Hamilton, Naomi Watts

Duração: 137 min

Crítica: 'J. Edgar' é uma biografia, com classe é certo (não fosse o realizador Clint Eastwood), mas padece do mesmo problema da maior parte das biografias. É maçadora. A vida de uma pessoa (real) geralmente tem pouco de interesse para suster 2 horas de filme. O lugar comum é apaparicar estes filmes apostando nos eventos sociais que rodeiam essa pessoa e nos seus dramas pessoas. Ora J. Edgar era um viciado no trabalho que detinha pouca ou nenhuma vida social, e o seu trabalho de uma vida foi criar e consolidar o FBI. As investigações seriam interessantes, como já se viu em milhares de outros filmes, mas essas são feitas pelos investigadores. O coordenador tem sempre um trabalho muito mais maçador. Para além do mais as ameaças fantasmas do comunismo, os segredos, as escutas, fogem sempre ao concreto, portanto o filme na realidade pouco pode oferecer como história e tem de se agarrar ao que lhe resta, levando-o ao exagero.
    
O filme começa como um documentário do canal História. Debita cena após cena, focando-se nos eventos que levaram à ascensão de Hoover no FBI. A narração pelo próprio Hoover (ele em velho a ditar as suas memórias) ajuda a criar esta atmosfera. Mas o filme seria moroso assim sequencialmente, portanto para se auto-apimentar decide oscilar entre o passado e o presente. Não tem surpresas para contar, nem twists, portanto é na forma como se desenrola que o filme tenta encontrar o seu ritmo. E depois apoia-se em 3 eventos para criar suspense dramático. O primeiro é o caso que tornou popular os novos métodos de investigação criminal do FBI: o rapto do filho do aviador Lindberg. O segundo é o ‘drama pessoal’ de Hoover, e da sua relação homossexual com o seu nº 2. E o terceiro é a sua ‘queda’, devido a velhice, exaustão, e à impossibilidade de combater o crime, visto que este até já chegou à presidência (Nixon).

Contando eventos de 50 anos, ‘J. Edgar’ é pouco interessante. Durante 1 hora de filme, Leonardo DiCaprio mostra-nos um ser pouco social vidrado no trabalho, e a sucessão de eventos históricos chave com Hoover por detrás são-nos mostrado com a intensidade de um documentário. Depois o filme decide tornar-se pessoal, e a sua relação homossexual vem ao de cima durante demasiado tempo. Mas como nunca é assumida e como nunca se mostra nada o filme retrai-se e perde-se. Por fim, o filme mostra-nos um ser impotente, impotente contra a velhice, contra a corrupção, contra si próprio e aquilo que se tornou. Aqui é mais delicado, mais interessante, mais humano. Mas o pano de fundo não o é, por isso é sol de pouca dura. E como todos os filme de época recentes (‘O Aviador’ por exemplo) o filme vangloria-se de pequenos pormenores não provados mas que estão lá para agradar às massas (ou ao próprio Clint visto que parece difícil que as massas de hoje reconheçam estas personagens). Assim Hoover aperta a mão a Shirley Temple, está à mesa com Ginger Rogers, e escuta uma gravação de algo nunca explicitado mas que se poderá deduzir ser um encontro sexual entre Kennedy e Marilyn Monroe. O que realmente se passa na vida do dia a dia de J. Edgar é mito, portanto o filme acaba por não ser o retrato de um homem. É o retrato de um mito. E então onde fica, se até o próprio homem se acha um mito?

Como se diz no filme de John Ford ‘The Man who Shot Liberty Valance’ de 1962 ‘entre a lenda e o facto, publica-se a lenda’. J Edgar é uma lenda. E o filme desenrola-se como tal, fazendo zoom a uma série de eventos históricos ‘famosos’ para seduzir superficialmente o público, e deixando os encargos emocionais da pessoa, um menino da mamã gago e homossexual, a 3 relações apenas, a secretária Naomi Wats, a mãe Judy Dench e o amor não assumido com Armie Hammer.

As interpretações são boas, o desenho de produção excelente, a realização delicada e contida, pouco interventiva. Todos os aspectos técnicos são bons (excepto a banda sonora que é uma repetição dos pianos ouvidos noutros filmes de Clint). Mas o que o filme realmente não tem é uma história interessante, porque a maior parte das vidas não o são. E a escolha de deixar de fora cenas chave para se focar no homem faz mais mal ao filme que bem. Por exemplo, cada fez que um presidente é eleito (Hoover reinou no FBI durante o mandato de 8 presidentes), há uma reunião entre ambos que nunca é mostrada. Mostra-se Hoover a aguardar na sala de espera, mas nunca se vê a reunião. Apenas é inferido o braço de ferro, os jogos de poder, as armas que Hoover tem (os ficheiros pessoais de toda a gente). Quando se defende perante o congresso, por exemplo, aí, visto que está numa cerimónia pública, já é o mito. O homem verdadeiro raramente se vê. E quando se vê está esticado por clichés.

O último filme de Clint tem o mesmo ritmo lento do anterior (Hereafter) e acaba por ser de igual modo desapontante. O velho mestre é um excelente realizador, mas está a tentar ficar demasiado artístico até para o seu incontestável talento.


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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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