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Top 10 - Génios da comédia clássica (parte 2)

Depois de há uns dias ter revisitado cinco grandes nomes da comédia clássica: W.C. Fields, Buster Keaton, Laurel & Hardy, Harold Lloyd e os irmãos Marx, prossigo com a segunda metade do meu TOP de Génios da Comédia.


5. Louis de Funés (1914–1983)


Louis de Funés é um daqueles cómicos que, se fosse americano, seria continuamente recordado ao lados dos grandes. Mas em França, e para todos os que tiveram a boa fortuna de encontrar o seu cinema, é um autêntico deus. Funés é basicamente o Pato Donald de carne e osso, o maior rezingão da história do cinema, mais até que W.C. Fields. Com uma incrível versatilidade facial e vocal, é infinitamente hilariante no seu enorme leque de personagens de meia-idade, geralmente numa posição de semi-poder, que querem tudo à sua maneira mesmo que tenham de ser algo manhosas para o conseguir, e que entram em espirais de loucura tempestuosa a desancar em tudo quanto respira quando as coisas não correm de vento em popa.

Durante décadas foi secundário em filmes franceses mas na década de 1960, já com 50 anos de idade, atingiu um incrível pico de popularidade. O seu ano chave foi 1964, quando fez o primeiro filme de 'Fantômas', que teria três sequelas, e o primeiro filme de Gendarme ('Le gendarme de Saint-Tropez'), que se tornou o filme mais visto em França desse ano e que teria cinco sequelas. Em 1966, a comédia da Segunda Guerra Mundial 'La grande vadrouille' foi mais um massivo sucesso. Aliás, foi o filme mais visto em França durante trinta anos, até ‘Titanic’ o destronar em 1997. Seguiram-se quatorze anos em que esteve à frente da bilheteira francesa, com sucesso cómico atrás de sucesso cómico incluindo a obra-prima ‘Oscar’ (1967), que já critiquei'Le petit baigneur' (1968)‘Les aventures de Rabbi Jacob’ (1973) e, após três anos de ausência devido a um ataque cardíaco, 'L'aile ou la cuisse' (1976).

Se adoramos rir com as suas paranóias e as situações cada vez mais caricatas em que se metia, o seu fascínio vinha de no fundo ter um coração de ouro; uma característica que se foi tornando mais evidente nas suas obras mais tardias, com a sua popularidade no auge mas a sua saúde a declinar. Funés foi muito mais do que um génio cómico nas mãos de outros realizadores (realizou um único filme 'L'avare', 1980). É uma verdadeira instituição do género, que nos prendia de forma fascinante à sua personalidade mesquinha do primeiro ao último segundo de filme. E pelo meio, obrigava-nos a dar uma gargalhada sempre que se mexia ou abria a boca. Raríssimo é o cómico que tinha esta eficácia.

Três filmes imperdíveis: ‘Oscar’ (1967), La grande vadrouille’ (1966), ‘Les aventures de Rabbi Jacob’ (1973),


4. Woody Allen (1935 - )


À primeira vista pode parecer que Woody Allen surge como um outsider nesta lista. Afinal, nas últimas duas décadas o cinema de Allen está muito mais associado ao estilo, vá, digamos, 'woody-allen', ou seja, o do drama romântico com pitadas hilariantes de comicidade e veias bem vincadas de existencialismo, tragicismo e, recentemente, nostalgia; do que propriamente ao estilo puro e duro de comédia. Mas quem tem boa memória e não deixa para trás o cinema antigo só porque é antigo sabe perfeitamente que nem sempre foi assim, e que este pequeno judeu de nome verdadeiro Allan Stewart Konigsberg já foi o expoente máximo da comédia americana.

Como Mel Brooks, Woody Allen limou a sua arte na televisão mas principalmente no stand-up, onde a sua personalidade neurótica e a sua comédia paradoxalmente dividida entre a alta cultura e a corriqueira insanidade do dia-a-dia, apimentada pelos melhores one-liners e double entendres desde Groucho Marx, lhe deu as primeiras oportunidades para brilhar. Daí até ao cinema foi um passo, quando foi contratado para escrever um argumento cómico que daria origem a 'What's New Pussycat' (1964). O filme é hilariante do início ao fim, e a cena em que Allen (então no seu primeiro filme, embora não se note nada) contracena com Peter Sellers nas margens do Sena é uma das melhores cenas de comédia da história do cinema. Contudo, não foi uma filmagem fácil, já que Allen teve de lutar constantemente para manter a pureza do seu material. O mesmo se passou com o seu argumento seguinte, o da paródia a James Bond 'Casino Royale' (1967), um filme de novo hilariante mas absolutamente caótico, com cada actor e realizador (o filme tem cinco) a puxar para o seu lado. Mas há males que vêm por bem. Allen jurou que nunca mais faria um filme sem ter o completo controle. E nos agradecemos.

De 'Take the Money and Run' (1969) o seu primeiro filme como realizador, até 'Annie Hall' (1977) o seu filme de transição para o estilo mais sério, Allen fez uma série de comédia irreverentes e inovadoras, centradas em si próprio e no seu estilo neuroticamente anárquico mas incisivamente profundo: 'Bananas' (1971), 'Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask ' (1972) ou 'Sleeper' (1973). E mesmo quando começou a enveredar para o seu estilo definitivo e as suas obras primas sobre a condição humana, a comédia, como todos sabemos, nunca o abandonou. De vez em quando, para relaxar talvez, Allen volta à carga com uma grande obra cómica: 'Zelig' (1983), 'Manhattan Murder Mystery' (1993), 'Whatever Works' (2009). E claro, não há filme seu, especialmente aqueles em que o próprio entra, que não tenha deliciosos à partes cómicos. Veja-se o caso das suas últimas três, cada vez mais raras, aparições como actor: 'To Rome With Love' (2012), 'Fading Gigolo' (2013, uma rara aparição num filme de outrem) e a mini-série 'Crisis in Six Scenes' (2016). O melhor de todas estas entradas é sempre o próprio Allen e o humor que ele naturalmente proporciona, por ser quem é. E é por isso que as suas obras-primas recentes não são completamente satisfatórias: ele não entra...

Já todos sabemos que Allen é um génio cineasta, um génio filósofo, um génio artista. Mas é por motivos como estes que nunca deixará de ser também um génio cómico. E como não avistamos ainda o final da sua carreira, e o final do Verão trás sempre um novo filme seu, quem sabe que pérolas cómicas ainda nos esperam e que podem revolucionar, de um segundo para o outro, a forma como olhamos para ele e para a sua comédia.

Três filmes imperdíveis: (estou-me a referir apenas às comédias): 'Sleeper' (1973), 'Zelig' (1983), 'Manhattan Murder Mystery' (1993)


3. Mel Brooks (1926 - )


Mel Brooks foi o comediante que me ensinou o que era a comédia, e por isso mesmo sempre terá um lugar precioso no meu coração. Não sei bem em que idade é que vi o meu primeiro 'Mel Brooks', o fantástico 'Blazzing Saddles' (1974), mas era novo, muito novo. Aliás, foi o primeiro cineasta de quem tive a filmografia completa na estante; juntando aos vários VHS gravados da televisão, a compra do VHS original de 'History of the World: Part I' (1981). Para um pré-adolescente ou adolescente apaixonado por cinema, não parecia haver coisa melhor no mundo. E ainda hoje pensar, sentir ou ver o cinema de Brooks enche-me de imensas memórias felizes e nostálgicas daqueles anos em que cresci para a vida e para o cinema. E de certa forma, se virmos para além da capa das piadas ostensivas, do humor aparentemente simples e da paródia descarada que caracteriza as suas obras, descobrimos que o seu cinema é precisamente isso: memórias felizes e nostálgicas do amor à vida, à música (tinha um fraquinho por números musicais) à comédia pela comédia, e ao próprio cinema.

Nas décadas de 1950 e 1960 Brooks já havia atingido um estatuto respeitável nos meandros da comédia televisiva como cómico mas principalmente como argumentista. Os seus trabalhos para o mestre comediante Sid Caesar são famosos e concebeu a série 'Get Smart' (1965-1970), que durou cinco temporadas. Mas quando decidiu fazer a transição para o cinema como argumentista/realizador, ninguém esperava que o seu impacto fosse tão grande. 'The Producers' (1967) o seu primeiro filme, re-inventou a comédia e obteve um invulgar (para uma comédia) Óscar de Melhor Argumento (o único da carreira de Brooks e o patético motivo, creio, pelo qual a Academia ainda não lhe deu um honorário). Seguiram-se duas décadas em que Brooks continuamente desafiou os limites da comédia comercial, paradoxalmente misturando arte, brejeirice (mas sempre com bom gosto) e um intrínseco amor ao cinema. No total são onze os filmes que compõem a sua filmografia como realizador, incluindo dois no ano dourado de 1974 ('Young Frankenstein' e 'Blazing Saddles'); 'High Anxiety' (1977, uma paródia a Hitchcock que o próprio aprovou); 'Spaceballs' (1987), o surpreendente 'Life Stinks' (1991) e 'Robin Hood: Men in Tights' (1993).

'Dracula: Dead and Loving It' (1996) foi o seu último filme como realizador, e talvez ainda bem, porque é o seu pior. A comédia que ele próprio inventara desvirtuou-se imenso nos anos 1980 e 1990 com a comercialização e a banalização (e devo acrescentar, a falta de compreensão) do seu estilo por parte de nomes como os irmãos Zucker ou os irmãos Farrelly. Essa excessiva parvoíce inerente às obras dos anos 1990 já não se adequava ao verdadeiro Brooks, mas de novo há males que vêm por bem. Em vez do cinema, Brooks voltou-se para uma velha paixão; o teatro musical. O musical 'The Producers' (2001) baseado no seu primeiro filme "só" se tornou no espectáculo mais bem sucedido da história da Broadway, originando ainda um filme em 2005, que também já critiquei.

Prestes a fazer 91 anos, Brooks ainda surge esporadicamente na televisão (sem perder uma pinga de piada), e ainda faz algumas vozes para filmes e séries de animação. Um dos poucos artistas que já ganharam um Óscar, um Emmy, um Grammy e um Tony, o legado de Brooks é muito mais do que o de um mero "comediante". É realmente importante para a história do cinema. Fez comédias menores, é inegável. Todos os cómicos exageram quando se tentam vender ao público e às suas exigências. Mas Brooks tem também uma série de incontestáveis obras-primas. E são essas que recordamos, a par do homem. Um homem hilariante, sempre sorridente, sempre vivo. Um homem cheio de ideias inovadoras para a comédia. Um homem que fazia filmes para rir, é certo, mas que nunca deixava de lado o seu amor pelo cinema. Se Lloyd fazia comédia pela comédia, se Keaton fazia comédia pela técnica e se Chaplin fazia comédia pela arte, Brooks fazia comédia pelo cinema. Nunca deixarei de rever os seus filmes.

Três filmes imperdíveis: 'Blazzing Saddles' (1974)'The Producers' (1967)'History of the World: Part I' (1981)

2. Jerry Lewis (1926 - )


Já disse e repeti várias vezes nestas páginas que o cinema de Jerry Lewis é mágico. Absolutamente mágico. Lewis nunca deixou de ser uma criança e a sua comédia é o reflexo disso. Emanava dele uma comédia simples mas nunca simplória, infantil mas nunca oca. Uma comédia sem pretensões, construída com um imenso coração, e que só queria proporcionar risadas verdadeiras, enternecedoras. Uma comédia cinematográficamente belíssima (Lewis, o realizador, era também um génio, usando a técnica para servir as gags como só Buster Keaton o fizera antes). Uma comédia que tinha sempre o propósito de inspirar e incutir preciosos valores no seu público alvo: os jovens, as famílias, as outras crianças que nunca cresceram, como ele.

No final da década de 1940, Lewis alcançou uma enorme popularidade numa parelha cómica com Dean Martin, primeiro na rádio, depois na televisão e finalmente no cinema. Martin, com a sua voz aveludada, era responsável pelo charme e pelo romance. Lewis, com a sua infantilidade desastrada, era responsável pela comédia. E ambos interagiam com enorme química, um o contraponto do outro. A fórmula provou ser um fenómeno cultural (encimariam a box office diversas vezes) e entre 1950 e 1956 fizeram uma dezena de filmes, incluindo os hilariantes 'At War with the Army' (1950), 'Sailor Beware' (1952) ou 'Artists and Models' (1955). A partir de 1957, Lewis prosseguiu numa carreira a solo e aí, sem a necessidade de deixar espaço para Martin, a sua comédia realmente levantou voo, primeiro pela mão do seu mentor, o realizador Frank Tashlin, e depois, a partir de 1960 e a obra-prima 'The Bellboy' (1960) - uma das melhores comédias de sempre - com ele próprio atrás das câmaras. Liderando a bilheteira mundial nos anos de 1957, 1959, 1961 e 1964, seguiu-se um período áureo até ao final da década de 1960, com comédias cada vez mais ousadas que uniam o seu humor familiar a um surrealismo crescente e a um indiscutível amor pela música e pelo cinema (leia também o meu post 'Dez grandes cenas de comédia musical de Jerry Lewis').

As suas obras marcantes são inúmeras: 'The Geisha Boy' (1958), 'Cinderfella' (1960), 'The Nutty Professor' (1963, um dos seus filmes mais populares), ‘The Errand Boy’ (1961) ou ‘The Family Jewels’ (1965). Contudo, a sua chama apagou-se no final da década. O cinema e a sociedade dos anos 1970 não eram lugar para a comédia inocente de Lewis, e os seus filmes tardios parecem algo desgarrados e cada vez mais pungentes. Durante essa década praticamente não fez um filme e o seu último filme como realizador data de 1983 ('Smorgasbord'). A partir daí Lewis tem vindo a aparecer esporadicamente em filmes de outros ('The King of Comedy', 1982 de Scorsese; 'Arizona Dream', 1993 de Kusturica) e em pequeno papéis em séries até aos dias de hoje. Mas dedicar-se-ia principalmente a causas humanitárias (as suas teletonas de angariação de fundos continuam a decorrer anualmente), causas essas que lhe valeriam o prémio humanitário dos Óscares em 2009 (embora um Óscar honorário pelos feitos cinematográficos ainda esteja por receber).

Também prestes a fazer 91 anos de idade, Lewis é daqueles raros cómicos que atingiu a divindade cinematográfica, que transcendeu a sua posição de 'mero comediante' para se tornar um verdadeiro artista. Desde Chaplin e Keaton que a pantomina cinematográfica não era tão bem executada, e claramente ninguém depois dele o fez melhor. Um grande surrealista de direito próprio, um amante do cinema mudo e um grande coreografo de comédia, Lewis contudo nunca perdeu de vista o seu objectivo principal: apelar ao coração das crianças e realizar o melhor entretenimento familiar possível. E nessa pura humildade reside o génio que lhe garante a imortalidade.

Três filmes imperdíveis: 'The Bellboy' (1960); 'The Geisha Boy' (1958), 'Sailor Beware' (1952, com Dean Martin)


1. Charles Chaplin (1889–1977)


E por fim Charlie. Sempre Charlie. Charles Chaplin, o princípio e o fim de toda a comédia, e em boa verdade o princípio e o fim de todo o cinema. Eu nasci depois de Chaplin já ter falecido. Mesmo assim é para mim muito difícil de acreditar que já foi há mais de um século, mais precisamente em 1914, com 25 anos de idade, que Chaplin rumou a Hollywood proveniente de anos e anos no teatro itinerante vaudvilliano. Em menos de um ano já tinha concebido o seu pequeno Vagabundo, já se tinha tornado o realizador e argumentista (ou pelo menos o improvisador principal) dos seus próprios filmes, já tinha feito o seu primeiro milhão e já se tinha tornado a primeira grande estrela à escala mundial da história do cinema.

E foi há precisamente 100 anos, em 1917, que Chaplin estava a terminar um dos seus períodos mais extraordinários da sua carreira no cinema mudo. O seu contrato de ano ano com o estúdio Mutual, para o qual fizera doze curtas metragens (incluindo 'Easy Street', que já critiquei), estava a chegar ao fim e preparava-se para iniciar o seu período na First National, para onde faria dez obras, incluindo as suas primeiras (mais) longas metragens; 'Shoulder Arms' (1918) e o fabuloso 'The Kid' (1921) (pode ler tudo sobre este período, bem como estas dez críticas, no post 'Chaplin na First National (1918-1923) - Introdução para um ciclo de críticas').

A relevância história destes eventos de há um século é gigantesca. Foi aqui que Chaplin amadureceu a sua arte e se tornou totalmente seguro da beleza da sua criação. Pode ser uma surpresa para muitos mas o seu Vagabundo original era um ser mesquinho (foi bêbado, ladrão, interesseiro, parasita em inúmeras curtas de 1914/1915). Mas aqui, subtilmente, em curtas como 'The Vagabond' (1916) ou 'Easy Street' (1917), o Vagabundo tornou-se um ser universal. De repente, o Vagabundo já era um ser perdido a tentar encontrar o seu lugar no mundo com um pungente tragicismo. De repente Chaplin já não estava simplesmente a querer fazer rir, embora ainda o fizesse como ninguém. De repente, a sua comédia transcendeu-se. Tornou-se arte, tornou-se imortal.

A comédia de Chaplin era exímia, uma graciosidade desajeitada ritmada por movimentos baléticos extraordinariamente bem executados que misturavam na perfeição o seu background no vaudville com o seu domínio da técnica cinematográfica. O seu one-man show como bêbado em ‘One A.M.’ (1916), a forma como patina em 'The Rink' (1916) ou como se esconde na árvore em 'Shoulder's Arms' (1917) são momentos absolutamente soberbos, demonstrando a beleza pura e dedicada da sua comédia. Mas a partir do momento em que acabou o contrato com a First National e se tornou finalmente o seu próprio patrão no seio da "sua" United Artists, não há palavras para descrever a dimensão do seu cinema: um grito de revolta social, uma bíblia acutilante da condição humana, mas sem nunca, nunca esquecer a comédia. Recordemos a cena da cabana em 'The Gold Rush' (1925); as manobras de trapezista em 'The Circus' (1928); a cena inicial de 'City Lights' (1931); as cenas na fábrica de 'The Modern Times' (1936); a cena dos pudins em 'The Great Dictator' (1940); o assassinato das mulheres em 'Monsieur Verdoux' (1947) - provando que a sua comédia podia ser negra - o espectáculo final de 'Limelight' (1952) ao lado de Buster Keaton; a cena após a operação plástica em 'A King in New York' (1957) e as comédias de enganos no simpático 'A Countess from Hong Kong' (1967). Comédia pura, viva, apaixonada, extraordinária, imortal.

Chaplin foi um dos autores mais injustiçados da história do cinema, sendo amado e detestado em partes iguais ao longo da sua carreira. Mas agora que as paranóias comunistas há muito se enterraram no passado, e no ano em que celebramos cem anos das suas primeiras obras-primas, é difícil de negar (eu pelo menos não posso) que Chaplin foi o maior artista que o cinema já conheceu. O facto de nunca ter deixado de ser um cómico, mesmo quando a sua poesia visual se tornou mais ousada, mais pungente e mais dramática, é para mim a marca incontestável do génio. Porque nele a comédia é o ponto de partida para o resto, porque só rindo e fazendo rir é que podemos preencher o vazio da existência, porque só a sorrir é que podemos superar os males do mundo. Chaplin e só Chaplin nos ensinou isso. E quando surge, velho e grisalho, pela última vez, no seu pequeno papel como camareiro em 'A Countess from Hong Kong' (1967), fá-lo sempre com um sorriso enternecedor, quase infantil. É essa a prova de que, por mais séculos que passem, o pequeno Vagabundo nunca envelhecerá. A sua magia será sempre eternamente jovem. E todos nós, que fomos abençoados com o seu cinema, sabemos isso.

Três filmes imperdíveis: 'Limelight' (1952); 'City Lights' (1931); 'The Great Dictator' (1940).


(Ilustres suplentes que falharam esta lista por pouco incluem Peter Sellers, Abbot & Costello, Jacques Tati, Bob Hope, Danny Kaye, ou os irreverentes Monty Python)


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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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