Mais um ano. Mais uma cerimónia de Óscares. Mais folclore. Mais injustiças. Mais discursos sobre o tema social da moda e vencedores de conveniência enquanto os grandes filmes passam ao lado. Mais do mesmo. Mas hey, é Hollywood, é glamour e é, para o bem e para o mal, ainda o cinema mais popular à escala mundial. Talvez seja por isso que, ano após ano, continuamos a prestar atenção aos Óscares quando há muito já perderam a sua integridade.
Como o leitor bem sabe, uma das categorias que gosto de ver (ou neste caso ouvir) com detalhe é a de Melhor Música. O ano passado publiquei um post análogo a este sobre os nomeados, e já recordei nestas páginas os vencedores quer da década de 1980, que da década de 1990 (um dia farei as outras décadas!).
A presente década tem sido dominada por duas grandes entidades, a Disney e James Bond. A Disney já ganhou três vezes; em 2010 com "We Belong Together" do filme 'Toy Story 3'; em 2011 com "Man or Muppet" do filme 'The Muppets' e em 2013 com o mega-sucesso "Let It Go" do filme 'Frozen'. E James Bond ganhou duas vezes, depois de ter passado cinquenta anos sem ganhar uma única vez. Foi Adele que quebrou o enguiço com 'Skyfall' (2012) e seguiu-se Sam Smith e "Writing's on the Wall" para o filme 'Spectre' (2015). As outras duas músicas vencedoras desta década foram Glory" do filme 'Selma' (2014) e, no último ano "City of Stars" de 'La La Land'.
Este ano a Disney até poderia ganhar outra vez com a canção de 'Coco', mas tudo aponta que não. Mesmo assim, a selecção deste ano é absolutamente mais do mesmo, pelo que me sinto tentado a fazer copy/past do apanhado que fiz no ano passado. Temos a já mencionada música de um filme de animação, que nunca pode faltar. Temos uma canção mais emotiva, com os contornos slow que tanto apelam a uma determinada elite cultural, e temos uma canção no espectro oposto: uma grande balada pop comercial. E temos duas canções abordando fortes temáticas sociais, interpretadas por famosos cantores que por acaso (completamente por acaso) são afro-americanos. Como disse, nada de novo.
Para além do mais, é tudo malta muito experienciada. Das cinco músicas nomeadas, três são compostas por antigos vencedores desta categoria, incluindo os actuais detentores da estatueta. Portanto, quem vai ganhar? Eu tenho as minhas ideias, que exponho em baixo. Mas isto são os Óscares, imprevisíveis na sua previsibilidade, por isso posso estar enganado. No dia 4 de Março saberemos.
A presente década tem sido dominada por duas grandes entidades, a Disney e James Bond. A Disney já ganhou três vezes; em 2010 com "We Belong Together" do filme 'Toy Story 3'; em 2011 com "Man or Muppet" do filme 'The Muppets' e em 2013 com o mega-sucesso "Let It Go" do filme 'Frozen'. E James Bond ganhou duas vezes, depois de ter passado cinquenta anos sem ganhar uma única vez. Foi Adele que quebrou o enguiço com 'Skyfall' (2012) e seguiu-se Sam Smith e "Writing's on the Wall" para o filme 'Spectre' (2015). As outras duas músicas vencedoras desta década foram Glory" do filme 'Selma' (2014) e, no último ano "City of Stars" de 'La La Land'.
Este ano a Disney até poderia ganhar outra vez com a canção de 'Coco', mas tudo aponta que não. Mesmo assim, a selecção deste ano é absolutamente mais do mesmo, pelo que me sinto tentado a fazer copy/past do apanhado que fiz no ano passado. Temos a já mencionada música de um filme de animação, que nunca pode faltar. Temos uma canção mais emotiva, com os contornos slow que tanto apelam a uma determinada elite cultural, e temos uma canção no espectro oposto: uma grande balada pop comercial. E temos duas canções abordando fortes temáticas sociais, interpretadas por famosos cantores que por acaso (completamente por acaso) são afro-americanos. Como disse, nada de novo.
Para além do mais, é tudo malta muito experienciada. Das cinco músicas nomeadas, três são compostas por antigos vencedores desta categoria, incluindo os actuais detentores da estatueta. Portanto, quem vai ganhar? Eu tenho as minhas ideias, que exponho em baixo. Mas isto são os Óscares, imprevisíveis na sua previsibilidade, por isso posso estar enganado. No dia 4 de Março saberemos.
"The Mystery of Love" (do filme 'Call Me by Your Name')
Música e Letra: Sufjan Stevens
Num parágrafo: A típica música mais suave, mais artística, que geralmente é nomeada, ora de um filme independente como este, ora de um documentário (como aconteceu com a canção de Sting o ano passado). Uma espécie de balada à la Simon e Garfunkle com uma batida instrumental extremamente (e enervantemente) repetitiva, e a voz suave do músico alternativo Sufjan Stevens por cima. Ainda não vi o filme, mas consigo imaginar bem a música a acompanhar as belas paisagens italianas, como acontece no videoclip. Agora dificilmente ganhará o Óscar. Não tem nada de memorável.
"Stand Up for Something" (do filme 'Marshall')
Música: Diane Warren | Letra: Common e Diane Warren
Num parágrafo: O enquadramento é perfeito para ter popularidade e receber prémios no mundo da música actual. É um filme de emancipação racial sobre o primeiro afro-americano a chegar a Juiz do Supremo Tribunal Americano. É uma música com uma batida semi-rap, semi-pop, com uma letra inspiradora. E a dupla de compositores já anda nisto há muitos anos; Common ganhou o Óscar há 4 anos com a canção de 'Selma' e Diane Warren já vai na nona nomeação para Melhor Música (nunca ganhou). Mas o resultado convence? Bem, a voz de Andra Day é poderosa mas a letra é banalíssima, o rap é pobre e o refrão faz lembrar (pelo menos a mim) o de outra música mais famosa de Beyoncé... É uma música que soa bem cantada por um coro gospel, mas que é igual a dúzias de outras que aparecem todos os anos... Só se a simpatia pela coitada da Diane, a eterna perdedora, for suficiente para convencer a Academia. Mas não me parece.
"This is Me" (do filme 'The Greatest Showman')
Música e Letra: Benj Pasek e Justin Paul
Num parágrafo: A música partilha muitas semelhanças com a anterior. É cantada por uma afro-americana com um vozeirão espectacular. E a letra é também inspiradora, incitando o ouvinte a aceitar-se como é e a revelá-lo ao mundo sem pudor. Mas é uma música completamente diferente. Possui uma batida tentadora, que obriga a dançar e a gritar bem alto "This is Me!". Verdade que é comercial. E verdade que pode ficar enervante à décima audição. Mas é verdade também que até chegarmos a essa décima vez, ouviremos esta música em loop. Não fosse ela, como aliás toda a banda sonora de 'The Greatest Showman', composta pela dupla vencedora de 'La La Land', ou seja, pelos actuais detentores do Óscar de Melhor Música. Farão a dobradinha? Parece provável. Parece muito provável. Já venceram os Globos de Ouro. E é das cinco músicas nomeadas aquela que mais agarra ouvintes ao som das rádios. Isso aliado à sua letra é mais do que desculpa suficiente para a Academia...
"Remember Me" (do filme 'Coco')
Música e Letra: Kristen Anderson-Lopez, Robert Lopez
Num parágrafo: O casal Lopez, depois de uma bem sucedida passagem pela Broadway e de um primeiro filme para a Disney ('Winnie the Pooh', 2011), foi catapultado para a ribalta mediática com as composições para 'Frozen', principalmente "Let it Go" que lhes deu a ganhar o Óscar. Neste seu terceiro filme para Disney/Pixar, a canção principal é muito menos impactante. Aliás, resulta melhor como a simples balada à guitarra, como é ouvida no filme, do que neste single mais animado. Sabemos que está nomeada por dois motivos: a Disney tem sempre uma música nomeada e os seus compositores são populares. Mas é uma vergonha estar isto nomeado e não "Evermore" de 'Beauty and the Beast'. É o problema de lançar filmes em Março. Já ninguém se lembra deles (e muito menos das músicas) em Janeiro do ano seguinte. A de 'Coco' está fresquinha. Mas não tem, nem de perto nem de longe, a mesma qualidade.
"Mighty River" (do filme 'Mudbound')
Música e Letra: Raphael Saadiq, Mary J. Blige, Taura Stinson
Num parágrafo: E por fim "Mighty River" de mais um filme inspiracional centrado em em dois soldados afro-americanos que regressam ao Mississippi rural depois da Segunda Guerra Mundial. É de novo uma balada com uma letra previsível que ganha vida pela voz poderosa de Mary J. Blidge, que até conseguiu estar nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária. Todos conhecemos Mary J., mas uma coisa que me surpreende sempre é a gigantesca popularidade que tem na própria América (muito mais do que aquela que imagina, caro leitor). Por todos esses motivos, esta canção de esperança com toques gospel é a única que realmente pode fazer frente a "This is Me", na minha opinião. Mary J. dificilmente ganhará o Óscar de actuação (ou será que vai, deram à Jennifer Hudson só por cantar bem...), mas bem que pode subir ao palco por causa desta música. Não é tão boa como "This is Me" à primeira audição, mas é a melhor destas cinco a longo prazo. E a Academia iria adorar. As audiências iriam aumentar de certeza nesse minuto, só para a América ouvir o discurso de Mary J.. E no dia seguinte, seria certamente a convidada de honra no programa da Oprah...
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