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Histoire(s) du Cinema: Cinema Symphony Orchestra no Coliseu do Porto

Há alguns meses a minha esposa ofereceu-nos bilhetes para irmos juntos a um evento que teve lugar na passada quinta-feira no Coliseu do Porto: o espectáculo da tournée europeia da Cinema Symphony Orchestra. Fundada em 1995 esta orquestra, tal como o nome indica, especializou-se a tocar os grandes êxitos instrumentais do maravilhoso mundo das bandas sonoras cinematográficas. 

Que eu gosto de bandas sonoras não é segredo para ninguém. Muito menos para a minha esposa que tem de me aturar a falar delas (e a ouvi-las) cá por casa. Portanto, o quão espectacular é viver com alguém que, não contente com isso, não se importa de passar duas horas numa noite de semana a partilhar esse prazer comigo? Pessoalmente, aguardei os meses até à chegada do evento com antecipação. Já vi muitas orquestras a tocar ao vivo. Mas apenas uma vez, no concerto de Ennio Morricone em Portugal em 2004 (que narrei na anterior Histoire du Cinema), havia mergulhado ao vivo no mundo da música do cinema. Catorze anos depois, preparava-me para o que certamente seria uma experiência inesquecível. E foi.

Assim, na última quinta-feira rumamos à Baixa do Porto para entrar numa sala que eu, muito sinceramente, já nem me lembrava de quando havia entrado pela última vez. Com pesar reparei que o Coliseu já viu melhores dias, mas também já viu piores pelo que suponho que isso seja o lado positivo. As cadeiras eram antigas e não muito confortáveis. E o aspecto algo datado do gigantesco, mas ainda belo espaço ficava ainda um bocadinho mais deprimente, um bocadinho mais nostálgico por a lotação estar longe, muito longe, de ficar completa. Mas também creio que isso é culpa da organização. Eu só soube da existência deste concerto por intermédio do bilhete que a minha mulher me ofereceu. Nos meses de permeio não o vi anunciado em lado nenhum.

Contudo, sentado na primeiríssima fila, deixei estas coisas literalmente atrás das costas. Sou um grande fã de filmes como o leitor bem sabe. E sou um grande fã de música. E portanto, numa circunstância destas, só os filmes e só a música me interessam. Um músico de meia idade já estava nas asas do palco a espreitar, a avaliar a lotação da sala. O concerto estava quase a começar. Depois, as luzes apagaram-se.

Desde o primeiro acorde, comandado por um maestro experienciado e algo excêntrico (não o são todos os maestros?!), percebemos que estava aqui uma orquestra com pedigree. O grupo era muito diversificado. Tínhamos músicos novos e músicos mais idosos; músicos de porte clássico e músicos que se notava perfeitamente que só lhes apetecia tirar o fato e o lacinho (ou o vestido, no caso das senhoras) para poderem produzir a sua música com mais liberdade. E até tínhamos uma música de trombas. Uma das violoncelistas da primeira fila, depois de ter protestado qualquer coisa ao maestro no intervalo entre duas músicas, ficou visivelmente chateada o resto do espectáculo. Mesmo. Nunca vi nada assim. Até a agradecer no final estava de trombas. Mas apesar desta heterogeneidade, o mais maravilhoso é que quando os músicos começaram a tocar, tocaram como um só. E o som era fantástico.

O auditório do Coliseu do Porto
O concerto abriu com um medley de quase dez minutos da banda sonora de ‘Lord of the Rings’. O tempo era algo acelerado relativamente à composição ouvida no filme (este maestro gostava claramente de aumentar a passada) mas o som era incrivelmente cristalino. E não estou apenas a dizê-lo porque era ao vivo. Realmente, a segurança dos músicos com os instrumentos em punho e do maestro a liderá-los (apesar das patacoadas que de vez em quando fazia) provavam incontestavelmente o seu mérito. Havia ali trabalho, talento e classe. A secção de cordas dominava, como sempre acontece nestes casos, mas o programa foi suficientemente variado para que os outros departamentos da orquestra pudessem mostrar o ar da sua graça.

Logo a seguir um piano solitário introduziu-nos o tema principal de ‘Jurassic Park’ antes da orquestra o acompanhar. Depois, com surpresa, ouvimos uma versão instrumental de “Stayin’ Alive” com os violinos a fazer os famosos “Ah Ah Ah Ah” dos Bee Gees. Neste ponto o espectador percebeu duas coisas talvez menos positivas sobre este espectáculo. A primeira é que não iria ser dada qualquer informação sobre a música que estava a ser tocada. Não havia programa, não havia imagens dos filmes a serem projectadas, portanto ou o espectador conhecia a música e o filme a que pertencia ou então essa informação ficava no segredo dos deuses. Num espectáculo sobre bandas sonoras isto é no mínimo bizarro, na minha opinião. A surpresa de não saber o que iam tocar a seguir não era má. Mas o não saber o que eles estavam efectivamente a tocar era um turn-off grande, suponho, para muitos espectadores. 

Não é que eu tivesse muito esse problema. Soube sempre o que eles estavam a tocar com excepção de dois temas. Demorei um bocado a descobrir algumas composições, muito por causa do arranjo instrumental (“Evermore” do recente ‘Beauty and the Beast’, o tema de ‘Pearl Harbor' ou o medley de ‘Grease’) enquanto outras, claro, detectei logo à primeira nota. Mas se até a mim me fez uma enorme impressão não saber a que filme pertenciam essas tais duas (e agora, quatro dias depois, continua a fazer), nem quero imaginar o que terão sentido outros espectadores menos versados, por mais bela que fosse a música ou a interpretação da orquestra. Os temas de ‘Harry Potter’ e ‘Lord of the Rings’ todos conseguem identificar, suponho. Mas a orquestra tocou também, por exemplo, o magnífico tema de ‘Born on the Fourth of July’ de John Williams. Essa escolha surpreendente demonstrou que a orquestra era séria e que não estava ali só para tocar os êxitos comerciais. Mas quantos conseguiram identificar o filme? Bastava projectar o nome….

Não uma fotografia do evento do Porto, mas o maestro era este senhor, cujo nome desconheço
A segunda coisa menos conseguida foi a escolha de tocar cada tema separadamente. O medley inicial de ‘Lord of the Rings’ constituiu igualmente o maior período de tempo que a orquestra esteve a tocar sem pausas. A partir daí passaram a tocar praticamente só temas principais, no máximo de 4 ou 5 minutos de duração (e alguns até menos). E entre cada um deles o maestro mandava levantar os músicos para as palmas e vénias de agradecimento. Chegamos a ter pena dos pobres músicos, obrigados a levantarem-se das suas cadeiras de 5 em 5 minutos para agradecer. Realmente foi um exagero de palmas. Mais valia terem aproveitado melhor o tempo, juntado temas em medleys e parando para agradecer em intervalos mais espaçados, não?

Por esse motivo, alguns temas souberam muito a pouco. Para mim o momento alto da noite foi o tema de ‘Lawrence of Arabia’, mas apenas durou uns 4 ou 5 minutos. Não teria sido mais satisfatório complementá-lo com um medley de Maurice Jarre, passando pelas bandas sonoras de ‘Doctor Zhivago’ ou ‘Ryan’s Daughter’? Assim, o concerto foi saltando de tema em tema, de uma forma praticamente aleatória entre eras, géneros e estilos. Mas estou para aqui a escrever isto e a verdade é que esta estratégia acabou por não resultar muito mal, pois mais uma vez tudo foi feito conscientemente e com classe. Agradaram a gregos e a troianos, aos mais puristas e aos simpatizantes. Foram do comercial ao artístico, do antigo ao mais moderno. E ao fazerem-no mostraram o incrível range que uma boa orquestra instrumental consegue ter. Isso só por si é um feito.

A abrir cada parte brindaram-nos com duas músicas clássicas que na realidade não são verdadeiras “bandas sonoras”, pois não foram escritas propositadamente para os filmes (o que para mim, purista de gema, é uma espécie de aldrabice): “Also Sprach Zarathustra” de ‘2001’ e a “Marcha das Valquirias“ de ‘Apocalyse Now’. E até ao final deram-nos uma grande variedade de composições clássicas como os temas de ‘Ben-Hur’, ‘Romeo and Juliet’, 'Cinema Paradiso' ou ‘Superman’ (não, não tocaram ‘Star Wars’). Deram-nos um conjunto de canções instrumentalizadas como o tema de ‘Fame’ ou “Another Day of Sun” de ‘La La Land’, mais um dos momentos altos da noite. Os mais atentos viram o contrabaixista, que esteve em pose profissional toda a noite, literalmente a “desbundar” única e exclusivamente nesta música, abanando o corpo como se não houvesse amanhã. Mais uma vitória para a grande banda sonora de ‘La La Land’! E por fim, como não podia deixar de ser, passaram pelos êxitos instrumentais mais modernos, terminando o concerto com o tema de ‘Pirates of the Caribbean’ com o mesmo passo acelerado com que havia começado.

Mais uma fotografia que tirei da Internet com o maestro e alguns dos músicos que tocaram no Porto
Honestamente gostei. Gostei genuinamente. No final fui das poucas pessoas que aplaudi de pé. Há que respeitar o trabalho dos músicos, especialmente aqueles que vêm de propósito ao nosso país tocar para uma sala que está apenas um terço cheia. Mas não foi só por isso. Este foi na realidade um privilégio raro. Não é todos os dias que se tem a oportunidade de ver um espectáculo destes em Portugal. Claro que havia coisas que podiam ser melhoradas, mas nenhuma estava directamente relacionada com a música em si. Em termos de encenação pedia-se um bocadinho mais, nomeadamente uma maior informação sobre o que estava a ser tocado ou alguma conexão visual ao cinema, em vez das coloridas formas abstractas que foram projectadas na tela durante todo o concerto. Mas até isto teve o seu lado positivo. Permitiu testar o conhecimento e o ouvido dos fãs. Já musicalmente o espectáculo foi imaculado. Absolutamente imaculado. Grandes arranjos. Grandes músicos. Grande orquestra.

No final, tarde (o espectáculo durou mais de duas horas), rumamos a casa saciados. Uma noite para recordar para o fã de original soundtracks. Contudo, uma grande questão ainda pairava na minha cabeça, e continuará a pairar, suponho, por muito tempo, até o acaso me permitir resolvê-la: que duas músicas eram aquelas que eu não consegui identificar, e para que filme foram compostas?!!! 

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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