Na semana passada, no dia 5 de Outubro, foi feriado em Portugal. Celebrou-se a Implantação da República que ocorreu nesse dia no ano de 1910. Mas o universo cinematográfico, e milhares de fãs por todo o mundo, festejaram esta data por outros motivos. Nesse mesmo dia em 1962, em Londres, ocorreu a estreia de um filme que mudaria para sempre a face da espionagem no grande ecrã e que introduziria o herói de acção com maior longevidade da história do cinema. O filme foi 'Dr. No' e o herói, claro, foi o agente 007: James Bond.
Desde 2012, altura em que a saga celebrou as suas bodas de ouro com os fãs, que se decidiu chamar a este dia o Global James Bond Day. Agora há dias de tudo e mais alguma coisa portanto porque não mais este? Ao menos, este é um dia com estilo, onde se celebra um legado com qualidade, quer literário (embora, infelizmente, muito pouca gente realmente leu os livros - que diga-se valem muito a pena), quer cinematográfico. Claro que nem sempre tudo foi um mar de rosas para esta franchise que já conta com 24 filmes oficiais e 2 míticos filmes não oficiais (o 'Casino Royale' de 1967 e 'Never Say Never Again' de 1983). A saga Bond já teve os seus maus momentos, mas sempre se conseguiu reinventar da melhor maneira. 'Spectre', o último filme lançado em 2015, foi uma magnífica homenagem a toda a franchise, que provou que Bond está ainda vivo e de boa saúde, e o seu apelo não esmorece (o filme rendeu uns estonteantes 880 milhões de dólares na bilheteira mundial).
Para assinalar esta data em que se celebrou o sexto Global James Bond Day, e o 55º aniversário da franchise, fica o meu top dos tops. O melhor da saga Bond. Não concorda com alguma coisa, caro leitor? É só dizer.
Melhor livro de Ian Fleming: Casino Royale (publicado em 1953)
Como muitas vezes acontece nestas coisas, o original é sempre o melhor. O primeiro livro de James Bond, supostamente inspirado por eventos que o próprio Fleming presenciou no Casino Estoril em plena Segunda Guerra Mundial, é uma obra de espionagem fabulosa, com uma estrutura incrivelmente contida, mas incrivelmente excitante. Fleming não escreveria muitos livros de James Bond. No total são apenas doze romances mais nove contos publicados em duas compilações. Mas apesar de haver livros brutais, como a chamada trilogia Blofeld (composta pelos livros 'Thunderball', 'On Her Majesty's Secret Service' e 'You Only Live Twice'), nada bate a primeira de todas as obras. É pura e simplesmente um grande livro de espionagem. Se nunca leu um livro de James Bond, caro leitor, não há outro sítio por onde deve começar.
Melhor Filme (da velha escola): 'Thunderball' (1965)
Para inúmeros críticos e fãs, o melhor filme de James Bond é o terceiro, 'Goldfinger' (1963), mas eu prefiro avançar mais um até ao quarto. Há algo em 'Thunderball' que sempre me fascinou. O filme regressa aos ambientes exóticos e solarengos das Caraíbas que já não víamos desde o filme original, mas por esta altura já temos um Sean Connery não só muito mais confiante no papel como, após o inusitado sucesso de 'Goldfinger', muito mais autoconsciente. A mistura da aura fantasiosa do cinema de espionagem em geral (e neste ano em que o spy-fi despoletou, da saga Bond em particular), com uma abordagem um pouco mais terra-a-terra resulta bem. Para além disso, o filme tem extraordinárias cenas de acção subaquática, uma bombástica canção no genérico inicial e uma das mais excitantes vilãs de toda a saga: a mítica Fiona, interpretada pela bomba sexual italiana Luciana Palluzi. É difícil encontrar melhor em qualquer uma destas vertentes. Não é por acaso que o leitor vai ler o nome de 'Thunderball' mais vezes ao longo desta lista.
Melhor filme (da nova escola): 'Casino Royale' (2006)
Depois da saga Bond ter ido ao limite do credível e do fantástico com 'Die Another Day' em 2002 (carros invisíveis... meu Deus!) só havia um coisa a fazer: respirar fundo, reinventar-se e regressar às origens. E foi precisamente isso que aconteceu em 'Casino Royale' quatro anos depois. A mestria do filme é conseguir fazer a junção de duas coisas que até então pareciam impossíveis de unir. Por um lado o filme é uma brilhante obra de acção moderna, que vai saltando de set piece em set piece com um ritmo intenso e épicas cenas de acção, tensão e perseguição que não deixam o espectador parar para ganhar fôlego. Mas por outro lado, o filme é uma fiel e sincera homenagem ao primeiro livro de Fleming e possui uma profundidade emocional nunca antes vista. Daniel Craig, cuja escolha havia sido fortemente criticada ("um James Bond loiro?!"), calou os críticos ao conseguir ir ao cerne da personagem, e Eva Green é sem dúvida alguma a melhor bond-girl de toda a saga. Era este o filme necessário para transportar a saga Bond para o século XXI. E tudo o que Daniel Craig conseguiu atingir como Bond até hoje com os três mega-sucessos de bilheteira que se seguiram: 'Quantum of Solace' (2008), 'Skyfall' (2012) e 'Spectre', deve-se ao caminho desbravado por 'Casino Royale'. Indubitavelmente.
Filme mais fiel ao livro de origem: 'On Her Majesty's Secret Service' (1969)
'On Her Majesty's Secret Service', o "nosso" filme de James Bond (mais de metade da acção passa-se, e foi filmada, em Portugal) é também um dos mais esquecidos, já que é o único filme da franchise em que o actor australiano George Lazemby interpreta o espião inglês. O filme é um poço de contastes: tem das frases mais lamechas e kitsch de toda a saga, mas das cenas de acção mais excitantes (década à frente do seu tempo). Tem um excelente vilão (Telly Savalas), uma excelente bond-girl (Diana Rigg), mas um inacreditavelmente mau Bond. Mas há outra coisa que distingue o filme. Ao contrário das outras obras da franchise, que se inspiram levemente na história base dos livros, por vezes misturam eventos de mais do que uma obra, e têm o seu quinhão de "invenção", 'On Her Majesty's Secret Service' é uma adaptação fiel, praticamente página a página, e muitas vezes diálogo a diálogo, do livro que lhe deu origem. Isso só torna esta obra ainda mais surreal. Pode ler tudo sobre este filme na crítica que publiquei há uns anos seguindo este link.
Depois da saga Bond ter ido ao limite do credível e do fantástico com 'Die Another Day' em 2002 (carros invisíveis... meu Deus!) só havia um coisa a fazer: respirar fundo, reinventar-se e regressar às origens. E foi precisamente isso que aconteceu em 'Casino Royale' quatro anos depois. A mestria do filme é conseguir fazer a junção de duas coisas que até então pareciam impossíveis de unir. Por um lado o filme é uma brilhante obra de acção moderna, que vai saltando de set piece em set piece com um ritmo intenso e épicas cenas de acção, tensão e perseguição que não deixam o espectador parar para ganhar fôlego. Mas por outro lado, o filme é uma fiel e sincera homenagem ao primeiro livro de Fleming e possui uma profundidade emocional nunca antes vista. Daniel Craig, cuja escolha havia sido fortemente criticada ("um James Bond loiro?!"), calou os críticos ao conseguir ir ao cerne da personagem, e Eva Green é sem dúvida alguma a melhor bond-girl de toda a saga. Era este o filme necessário para transportar a saga Bond para o século XXI. E tudo o que Daniel Craig conseguiu atingir como Bond até hoje com os três mega-sucessos de bilheteira que se seguiram: 'Quantum of Solace' (2008), 'Skyfall' (2012) e 'Spectre', deve-se ao caminho desbravado por 'Casino Royale'. Indubitavelmente.
Filme mais fiel ao livro de origem: 'On Her Majesty's Secret Service' (1969)
Melhor Bond tendo em conta os livros: Timothy Dalton
Até aparecer Daniel Craig eu não tinha dúvidas absolutamente nenhumas: o não muito bem-amado pelos fãs Timothy Dalton era o Bond mais fiel aos livros de toda a saga. Agora, com cada filme de Daniel Craig, a coisa vai ficando cada vez mais renhida, mas por agora mantenho-me em Timothy. Na verdade, Dalton apareceu na saga Bond numa altura algo inglória. Na década em que Stallone, Schwarzenegger, Norris ou Willis re-inventavam o cinema de acção, um Roger Moore com quase 60 anos ainda conseguiu suster um estilo mais, digamos, tradicional, até 1985, muito graças ao seu carisma. Mas quando pousou as esporas, coube a Dalton aproximar a saga desses novos ícones da acção, uma luta que já estava perdida à partida. Verdade que 'The Living Daylights' (1987) e especialmente 'Licence to Kill' (1989) quase que podiam funcionar com qualquer outro herói (podia ser o John McLaine), mas Dalton, o actor com o estilo mais "clássico" de todos os que interpretaram este papel, oferece a Bond o que ele nunca tinha tido: profundidade emocional e pathos. Não é tão carismático como Moore nem tão desdenhosamente másculo como Connery. Mas adicionava ao charme e ao músculo uma vulnerabilidade, por vezes séria, por vezes quase travessa, que qualquer leitor da saga literária reconhece em 007. Não sou particularmente fã destes dois filmes, mas sempre fui fã de Timothy Dalton.
Até aparecer Daniel Craig eu não tinha dúvidas absolutamente nenhumas: o não muito bem-amado pelos fãs Timothy Dalton era o Bond mais fiel aos livros de toda a saga. Agora, com cada filme de Daniel Craig, a coisa vai ficando cada vez mais renhida, mas por agora mantenho-me em Timothy. Na verdade, Dalton apareceu na saga Bond numa altura algo inglória. Na década em que Stallone, Schwarzenegger, Norris ou Willis re-inventavam o cinema de acção, um Roger Moore com quase 60 anos ainda conseguiu suster um estilo mais, digamos, tradicional, até 1985, muito graças ao seu carisma. Mas quando pousou as esporas, coube a Dalton aproximar a saga desses novos ícones da acção, uma luta que já estava perdida à partida. Verdade que 'The Living Daylights' (1987) e especialmente 'Licence to Kill' (1989) quase que podiam funcionar com qualquer outro herói (podia ser o John McLaine), mas Dalton, o actor com o estilo mais "clássico" de todos os que interpretaram este papel, oferece a Bond o que ele nunca tinha tido: profundidade emocional e pathos. Não é tão carismático como Moore nem tão desdenhosamente másculo como Connery. Mas adicionava ao charme e ao músculo uma vulnerabilidade, por vezes séria, por vezes quase travessa, que qualquer leitor da saga literária reconhece em 007. Não sou particularmente fã destes dois filmes, mas sempre fui fã de Timothy Dalton.
Melhor Bond tendo em conta os filmes: Roger Moore
E neste momento todos os fãs de Sean Connery estão-me a vaiar. Mas eu sempre tive um grande afecto por Roger Moore que na realidade não começou em James Bond: começou com o seu Santo. É verdade que Moore não era um actor multifacetado. Mas como outras grandes glórias do cinema (John Wayne por exemplo) era tão carismático que conseguia imiscuir a sua própria personalidade em todos os papéis que interpretava. Ele foi Simon Templar, foi Brett Sinclair na série 'The Persuaders' e finalmente foi Bond. E não só foi Bond, como foi o actor que mais vezes foi Bond: sete vezes, atravessando duas décadas, atravessando gerações, e criando uma identidade própria que a franchise não tinha nem nos livros nem nos filmes de Connery. Claro que hoje olhamos para algumas cenas ou alguns one-liners extremamente datados (o que os ingleses chamam camp ou kitsch) destes gloriosos anos 1970, e sentimos um arrepio. Mas ao mesmo tempo não podemos deixar de sorrir. A espectacularidade da aventura familiar entrou na franchise graças a Roger Moore e tudo o que ele fazia, fazia-o com classe e estilo. E foi também ele a fazer o primeiro grande filme mais realista, menos fantasioso da franchise: 'For Your Eyes Only' (1981). E que mais prova podemos ter do seu incrível carisma do que ainda conseguir um sucesso de bilheteira como Bond aos 57 anos de idade? Não, meus amigos. Moore é o melhor Bond, porque foi o pacote completo; ele era tudo o que as fantasias cinematográficas que eram, e continuam a ser, os filmes de James Bond precisavam. E nunca lhes falhou.
Melhor realizador: Terrence Young
Muito pouca gente recorda-se disto, mas os primeiros dezasseis filmes da franchise foram realizados apenas por cinco realizadores. John Glen realizou os últimos seis filmes de Roger Moore; Guy Hamilton realizou quatro filmes, incluindo o icónico 'Goldfinger'; mas para mim o grande crédito tem que ser dado ao homem que originou isto tudo: Terrence Young. Young, que vemos na fotografia em cima ao lado de Sean Connery e Ursula Andress, realizou três filmes da franchise: os dois primeiros, 'Dr. No' e 'From Russia with Love' (1963), e o quarto: 'Thuderball'. É mais ou menos consensual que os aspectos em que o Bond do primeiro filme difere do Bond literário devem-se muito mais ao trabalho de Young do que de Sean Connery. Reza a lenda que Young, ele próprio um bon vivant e ladies man, incluiu muito da sua personalidade no retrato do agente secreto. E reza a lenda também que foi Young que treinou arduamente Sean Connery na forma como devia andar, mover-se e falar. Nunca esqueceremos o primeiro filme e, como disse em cima, 'Thunderball' é o meu filme preferido. Ambos trabalhos do Sr. Young. Portanto, muito obrigado!
E neste momento todos os fãs de Sean Connery estão-me a vaiar. Mas eu sempre tive um grande afecto por Roger Moore que na realidade não começou em James Bond: começou com o seu Santo. É verdade que Moore não era um actor multifacetado. Mas como outras grandes glórias do cinema (John Wayne por exemplo) era tão carismático que conseguia imiscuir a sua própria personalidade em todos os papéis que interpretava. Ele foi Simon Templar, foi Brett Sinclair na série 'The Persuaders' e finalmente foi Bond. E não só foi Bond, como foi o actor que mais vezes foi Bond: sete vezes, atravessando duas décadas, atravessando gerações, e criando uma identidade própria que a franchise não tinha nem nos livros nem nos filmes de Connery. Claro que hoje olhamos para algumas cenas ou alguns one-liners extremamente datados (o que os ingleses chamam camp ou kitsch) destes gloriosos anos 1970, e sentimos um arrepio. Mas ao mesmo tempo não podemos deixar de sorrir. A espectacularidade da aventura familiar entrou na franchise graças a Roger Moore e tudo o que ele fazia, fazia-o com classe e estilo. E foi também ele a fazer o primeiro grande filme mais realista, menos fantasioso da franchise: 'For Your Eyes Only' (1981). E que mais prova podemos ter do seu incrível carisma do que ainda conseguir um sucesso de bilheteira como Bond aos 57 anos de idade? Não, meus amigos. Moore é o melhor Bond, porque foi o pacote completo; ele era tudo o que as fantasias cinematográficas que eram, e continuam a ser, os filmes de James Bond precisavam. E nunca lhes falhou.
Melhor realizador: Terrence Young
Muito pouca gente recorda-se disto, mas os primeiros dezasseis filmes da franchise foram realizados apenas por cinco realizadores. John Glen realizou os últimos seis filmes de Roger Moore; Guy Hamilton realizou quatro filmes, incluindo o icónico 'Goldfinger'; mas para mim o grande crédito tem que ser dado ao homem que originou isto tudo: Terrence Young. Young, que vemos na fotografia em cima ao lado de Sean Connery e Ursula Andress, realizou três filmes da franchise: os dois primeiros, 'Dr. No' e 'From Russia with Love' (1963), e o quarto: 'Thuderball'. É mais ou menos consensual que os aspectos em que o Bond do primeiro filme difere do Bond literário devem-se muito mais ao trabalho de Young do que de Sean Connery. Reza a lenda que Young, ele próprio um bon vivant e ladies man, incluiu muito da sua personalidade no retrato do agente secreto. E reza a lenda também que foi Young que treinou arduamente Sean Connery na forma como devia andar, mover-se e falar. Nunca esqueceremos o primeiro filme e, como disse em cima, 'Thunderball' é o meu filme preferido. Ambos trabalhos do Sr. Young. Portanto, muito obrigado!
Melhor Vilão: Christopher Lee como Scaramanga em 'The Men With the Golden Gun' (1974)
Esta categoria não era propriamente fácil de escolher, mas acho que acabei por fazer uma escolha acertada. Se 'The Man with the Golden Gun' é um dos melhores filmes de James Bond da era Roger Moore (embora de semelhante com o livro de origem praticamente só tenha o título), então isso deve-se em grande parte, precisamente, ao "homem da pistola dourada", interpretado pelo grande, grande, grande, Christopher Lee. A forma como Lee interpreta este vilão é particularmente interessante. Claro que tem a megalomania inerente a um típico vilão Bond e no final até faz uma grande discurso em vez de, obviamente, matar 007. Mas o prazer sádico por que passa por todo o filme é soberbo; o misto de frieza emocional, eficiência profissional mas também um maléfico charme requintado, como só Lee sabia conceber. E não só tem um dos melhores lares de todos os vilões da franchise, uma ilha da Tailândia que hoje se chama, precisamente, James Bond Island (já a visitei!), como o seu duelo final com Bond nesse local é ainda hoje um dos mais memoráveis da saga. Fantástico.
Melhor "capanga" de vilão: Richard Kiel como Jaws em 'The Spy Who Love Me' (1977) e 'Moonraker' (1979)
Os vilões de James Bond sempre tiveram "capangas" para fazer o seu trabalho sujo, desde os três cegos no primeiro filme de todos, 'Dr. No', a Hinx em 'Spectre'. E se esta lista de vilões secundários está repleta de grandes nomes como Oddjob em 'Goldfinger' ou o casal Mr. Kidd e Mr. Wint de 'Diamonds Are Forever' (1971), há um nome que se destaca: Jaws. Dois anos depois do filme 'Jaws' de Steven Spielberg se tornar o mais rentável da história do cinema, a saga Bond claramente tentou capitalizar nessa popularidade com um vilão de dentes metálicos inspirada na personagem Horror Horowitz do (já agora excelente) livro 'The Spy Who Love Me'. No filme com o mesmo nome, Jaws, interpretado pelo gigante Richard Kiel, começa como uma figura ameaçadora e quase indestrutível mas lentamente vai-se imiscuindo no espectador, principalmente porque, tal monstro de Frankenstein, demonstra uma terna vulnerabilidade e inspira uma inesperada compaixão. Esta figura trágica teve tanto impacto nas audiências de teste que os produtores filmaram à pressa a última cena em que o vemos a sobreviver ao ataque final, e depois até o trouxeram de volta no filme seguinte: 'Moonraker' (1979). Aqui Jaws já é uma espécie de Chewbacca, um gigante que revela uma boa alma, que até ajuda Bond e depois encontra o amor. Planos para trazer Jaws de volta pela terceira vez foram cancelados quando se optou por uma abordagem mais terra-a-terra em 'For Your Eyes Only'. Jaws não é o único vilão Bond a redimir-se e a regenerar-se. Mas é o único que conseguiu ser ameaçador e terno ao mesmo tempo.
Esta categoria não era propriamente fácil de escolher, mas acho que acabei por fazer uma escolha acertada. Se 'The Man with the Golden Gun' é um dos melhores filmes de James Bond da era Roger Moore (embora de semelhante com o livro de origem praticamente só tenha o título), então isso deve-se em grande parte, precisamente, ao "homem da pistola dourada", interpretado pelo grande, grande, grande, Christopher Lee. A forma como Lee interpreta este vilão é particularmente interessante. Claro que tem a megalomania inerente a um típico vilão Bond e no final até faz uma grande discurso em vez de, obviamente, matar 007. Mas o prazer sádico por que passa por todo o filme é soberbo; o misto de frieza emocional, eficiência profissional mas também um maléfico charme requintado, como só Lee sabia conceber. E não só tem um dos melhores lares de todos os vilões da franchise, uma ilha da Tailândia que hoje se chama, precisamente, James Bond Island (já a visitei!), como o seu duelo final com Bond nesse local é ainda hoje um dos mais memoráveis da saga. Fantástico.
Melhor "capanga" de vilão: Richard Kiel como Jaws em 'The Spy Who Love Me' (1977) e 'Moonraker' (1979)
Os vilões de James Bond sempre tiveram "capangas" para fazer o seu trabalho sujo, desde os três cegos no primeiro filme de todos, 'Dr. No', a Hinx em 'Spectre'. E se esta lista de vilões secundários está repleta de grandes nomes como Oddjob em 'Goldfinger' ou o casal Mr. Kidd e Mr. Wint de 'Diamonds Are Forever' (1971), há um nome que se destaca: Jaws. Dois anos depois do filme 'Jaws' de Steven Spielberg se tornar o mais rentável da história do cinema, a saga Bond claramente tentou capitalizar nessa popularidade com um vilão de dentes metálicos inspirada na personagem Horror Horowitz do (já agora excelente) livro 'The Spy Who Love Me'. No filme com o mesmo nome, Jaws, interpretado pelo gigante Richard Kiel, começa como uma figura ameaçadora e quase indestrutível mas lentamente vai-se imiscuindo no espectador, principalmente porque, tal monstro de Frankenstein, demonstra uma terna vulnerabilidade e inspira uma inesperada compaixão. Esta figura trágica teve tanto impacto nas audiências de teste que os produtores filmaram à pressa a última cena em que o vemos a sobreviver ao ataque final, e depois até o trouxeram de volta no filme seguinte: 'Moonraker' (1979). Aqui Jaws já é uma espécie de Chewbacca, um gigante que revela uma boa alma, que até ajuda Bond e depois encontra o amor. Planos para trazer Jaws de volta pela terceira vez foram cancelados quando se optou por uma abordagem mais terra-a-terra em 'For Your Eyes Only'. Jaws não é o único vilão Bond a redimir-se e a regenerar-se. Mas é o único que conseguiu ser ameaçador e terno ao mesmo tempo.
Melhor Bond Girl 'boa': Eva Green como Vesper em 'Casino Royale' (2006)
Desde que se revelou ao mundo com a sua interpretação de estreia em 'The Dreamers' (2003) de Bernardo Bertolucci, Eva Green provou ser uma actriz muito especial. É uma estrela do cinema clássico a viver na era moderna, e a raridade dessa mistura reflecte-se no facto de apenas ter feito 16 filmes noutros tantos anos de carreira (algo pouco normal nas "estrelas" de hoje). A sua beleza invulgar, a sua aberta sensualidade, a classe da sua presença, a sua voz grave e sedutora, e a habilidade de ao mesmo tempo usar e desdenhar os seus vários talentos tornam-na uma personalidade multifacetada mas ao mesmo tempo incrivelmente real; uma qualidade que faltava às estrelas idealizadas da Hollywood clássica das quais descende. Todas estas valências assentavam como uma luva na personalidade de Vesper, a primeira bond-girl literária, pelo que é impossível pensar em qualquer outra actriz que a pudesse interpretar. Este é, provavelmente, o melhor casting que os produtores da franchise alguma vez fizeram. Como Vesper, Green está absolutamente incrível, sexy quando tem que ser sexy, dura quando tem que ser dura, e vulnerável quando tem que ser vulnerável. Mas não passa de um destes estados para outro; equilibra os três em todas as cenas, contribuindo assim para o tragicismo da sua personagem. O facto de não ser uma típica bond-girl ajuda imenso e Green assume esse papel com distinção. A sua paixão por Bond não é um factor de redenção instantâneo. É mais um elemento que alimenta a sua luta interna e o seu drama emocional, e o seu final trágico não é um acto de heroísmo ou de sacrifício cego. É uma prova da fragilidade humana. Grande personagem. Grande interpretação. Tomara que todas as bond-girls tivessem este apelo e esta dimensão.
Desde que se revelou ao mundo com a sua interpretação de estreia em 'The Dreamers' (2003) de Bernardo Bertolucci, Eva Green provou ser uma actriz muito especial. É uma estrela do cinema clássico a viver na era moderna, e a raridade dessa mistura reflecte-se no facto de apenas ter feito 16 filmes noutros tantos anos de carreira (algo pouco normal nas "estrelas" de hoje). A sua beleza invulgar, a sua aberta sensualidade, a classe da sua presença, a sua voz grave e sedutora, e a habilidade de ao mesmo tempo usar e desdenhar os seus vários talentos tornam-na uma personalidade multifacetada mas ao mesmo tempo incrivelmente real; uma qualidade que faltava às estrelas idealizadas da Hollywood clássica das quais descende. Todas estas valências assentavam como uma luva na personalidade de Vesper, a primeira bond-girl literária, pelo que é impossível pensar em qualquer outra actriz que a pudesse interpretar. Este é, provavelmente, o melhor casting que os produtores da franchise alguma vez fizeram. Como Vesper, Green está absolutamente incrível, sexy quando tem que ser sexy, dura quando tem que ser dura, e vulnerável quando tem que ser vulnerável. Mas não passa de um destes estados para outro; equilibra os três em todas as cenas, contribuindo assim para o tragicismo da sua personagem. O facto de não ser uma típica bond-girl ajuda imenso e Green assume esse papel com distinção. A sua paixão por Bond não é um factor de redenção instantâneo. É mais um elemento que alimenta a sua luta interna e o seu drama emocional, e o seu final trágico não é um acto de heroísmo ou de sacrifício cego. É uma prova da fragilidade humana. Grande personagem. Grande interpretação. Tomara que todas as bond-girls tivessem este apelo e esta dimensão.
Melhor Bond Girl 'má': Luciana Paluzzi como Fiona Volpe em 'Thunderball' (1964)
Depois de 'Goldfinger' (1963) alguns críticos (e principalmente críticas) acusaram a franchise de machismo e de degradar a imagem das mulheres; uma crítica, muitas vezes justificada, que tem aparecido em intervalos regulares nos últimos cinquenta anos. Fiona, em 'Thunderball' é a resposta a essas críticas: é ela a primeira bond-girl de toda a saga que não se deixa seduzir pelos encantos do agente secreto. Ao contrário de Pussy Galore em 'Goldfinger', a vilã que se torna boa depois de ir para a cama com Bond, Fiona não percorre o mesmo caminho para o bem. Ela vai para a cama com ele, claro, mas porque ela quer. É ela que se "oferece" e é ela que o seduz, como aliás já tinha feito a outro homem no início do filme, antes de o matar. Depois do seu momento de prazer, ela aponta uma arma a Bond e, perante o espanto deste, diz uma frase que nenhuma outra mulher em toda a saga lhe repetiu: "Mas claro, esqueci-me do teu ego, Sr. Bond, James Bond, que só tem de fazer amor com uma mulher para ela começar a ouvir um coro celestial. Ela arrepende-se e vira-se para o lado do bem e da virtude... Mas não esta mulher". Infelizmente, pouco depois, num clube nocturno, Bond vai conseguir meter Fiona à sua frente para que ela seja atingida por uma bala que lhe estava destinada. Quando a pousa, já morta, numa cadeira, Bond diz mais um brilhante one-liner "Importam-se que a minha amiga se sente aqui.. ela está completamente morta". Resta dizer que Fiona é interpretada pela actriz Luciana Paluzzi. Baixa, voluptuosa, com um fogoso cabelo ruivo, voz melodiosa e um brilho entre o trocista e o sedutor no olhar, Luciana era perfeita para este papel, e a sua interpretação é fascinante, mortalmente sedutora. Anos à frente do seu tempo, continua a ser a mais sexy e emancipada vilã da saga Bond. Não é coisa pouca. É o seu cantinho de imortalidade.
Melhor sidekick recorrente: Desmond Llewelyn como Q em 17 filmes
Como todos sabemos há três grandes personagens recorrentes nos filmes de James Bond: o seu chefe M, a secretária Moneypenny e o génio do departamento de pesquisa e desenvolvimento dos Serviços Secretos: Q, o Quartermaster. No primeiro filme, 'Dr. No', tal como no livro do mesmo nome, as armas são fornecidas pelo Major Boothroyd, interpretado por Peter Burton. No segundo filme é o actor britânico Desmond Llewelyn que aparece creditado no genérico como Major Boothroyd , mas na realidade, na cena em que dá a mítica mala cheia de gadgets a Bond, não é mencionado pelo nome, apenas como "armeiro". A partir do filme seguinte, e com uma única excepção (em 'The Spy Whol Loved Me') seria sempre creditado como Q. Mas se o M original (Bernard Lee) teve que ser substituído após a morte do actor em 1979, e se a Moneypenny de Lois Maxwell foi finalmente substituída em 1987 para o primeiro filme de Timothy Dalton (estava demasiado velha para o flirt com Bond), o Q de Desmond Llewelyn persistiu. De facto, é o actor que apareceu em mais filmes de James Bond, uns estonteantes 17, embora a sua aparição se resuma quase sempre a uma única cena por filme, com duas excepções, 'Octopussy' e 'Licence to Kill', onde vai ao terreno dar uma mãozinha a Bond. Mas percebe-se o seu apelo. Inicialmente usado simplesmente para discursar friamente sobre o armamento e a tecnologia, a interacção Bond-Q, ou melhor Connery-Llewelyn começou a crescer para uma espécie de relação pai-filho. À medida que Llewelyn foi envelhecendo, e com um Roger Moore cada vez mais brincalhão, a veia paternalista de Q foi-se tornando cada vez mais simpática e cada vez mais apelativa; o avozinho, a voz da razão, que mesmo assim era super cool porque, afinal, todas aquelas gadgets eram fruto do seu génio. Atravessando cinco Bonds, Llewelyn é uma autêntica instituição, e foi um grande choque para os fãs quando faleceu pouco depois das filmagens de 'The World Is Not Enough' (1999). John Cleese interiorizou a parte da comédia do papel e Ben Whishaw, o novo Q, a parte da tecnologia. Mas nenhum deles tinha o carisma familiar de Llewelyn. Q só há um, e é este.
Melhor sidekick ocasional: Clifton James como Sheriff J.W. Pepper em 'Live and Let Die' (1973) e 'The Man with the Golden Gun' (1974)
O leque de homens e mulheres que deram uma mãozinha a Bond durante as suas aventuras (muitos até morrendo por causa disso) é bastante vasto e diversificado. Mas de toda esta gente há uma que me faz sempre rir. Não é uma personagem de acção, aliás nem é uma personagem séria. É uma daquelas personagens que só poderiam existir num Bond com Roger Moore e num Bond dos anos 1970. O seu nome é Sheriff J.W. Pepper, interpretado pelo hilariante Clifton James. O xerife Pepper, um campónio de toscas maneiras, porte atarracado, voz arrastada, sotaque sulista e extremamente convencido da sua importância, acha-se um manda chuva no pequeno condado do Louisiana que está sob a sua jurisdição. Mas o seu mundo vai ser virado do avesso quando se atravessa no caminho da grande perseguição de barcos em 'Live and Let Die' (1973). Quando Bond destrói o carro do xerife com o seu barco, este toma a si a missão de prender o agente secreto, custe o que custar. E vai custar muito, para o crescente desespero do xerife... Esta mistura de acção e comédia resultou tão bem que os produtores decidiram trazê-lo de volta no filme seguinte, 'The Man with the Golden Gun'. Pepper vai surgir, imagine-se, de férias na Tailândia, espalhando o seu oco espalhafato até que se envolve em mais uma perseguição com Bond. O famosíssimo plano em que Bond faz um 360 com o seu carro ao atravessar uma ponte semi-destruída, inclui um incrédulo Pepper no lugar do passageiro. Mas tão rapidamente como apareceu, desapareceu. Resta-nos a memória deste delicioso escape cómico.
Depois de 'Goldfinger' (1963) alguns críticos (e principalmente críticas) acusaram a franchise de machismo e de degradar a imagem das mulheres; uma crítica, muitas vezes justificada, que tem aparecido em intervalos regulares nos últimos cinquenta anos. Fiona, em 'Thunderball' é a resposta a essas críticas: é ela a primeira bond-girl de toda a saga que não se deixa seduzir pelos encantos do agente secreto. Ao contrário de Pussy Galore em 'Goldfinger', a vilã que se torna boa depois de ir para a cama com Bond, Fiona não percorre o mesmo caminho para o bem. Ela vai para a cama com ele, claro, mas porque ela quer. É ela que se "oferece" e é ela que o seduz, como aliás já tinha feito a outro homem no início do filme, antes de o matar. Depois do seu momento de prazer, ela aponta uma arma a Bond e, perante o espanto deste, diz uma frase que nenhuma outra mulher em toda a saga lhe repetiu: "Mas claro, esqueci-me do teu ego, Sr. Bond, James Bond, que só tem de fazer amor com uma mulher para ela começar a ouvir um coro celestial. Ela arrepende-se e vira-se para o lado do bem e da virtude... Mas não esta mulher". Infelizmente, pouco depois, num clube nocturno, Bond vai conseguir meter Fiona à sua frente para que ela seja atingida por uma bala que lhe estava destinada. Quando a pousa, já morta, numa cadeira, Bond diz mais um brilhante one-liner "Importam-se que a minha amiga se sente aqui.. ela está completamente morta". Resta dizer que Fiona é interpretada pela actriz Luciana Paluzzi. Baixa, voluptuosa, com um fogoso cabelo ruivo, voz melodiosa e um brilho entre o trocista e o sedutor no olhar, Luciana era perfeita para este papel, e a sua interpretação é fascinante, mortalmente sedutora. Anos à frente do seu tempo, continua a ser a mais sexy e emancipada vilã da saga Bond. Não é coisa pouca. É o seu cantinho de imortalidade.
Melhor sidekick recorrente: Desmond Llewelyn como Q em 17 filmes
Como todos sabemos há três grandes personagens recorrentes nos filmes de James Bond: o seu chefe M, a secretária Moneypenny e o génio do departamento de pesquisa e desenvolvimento dos Serviços Secretos: Q, o Quartermaster. No primeiro filme, 'Dr. No', tal como no livro do mesmo nome, as armas são fornecidas pelo Major Boothroyd, interpretado por Peter Burton. No segundo filme é o actor britânico Desmond Llewelyn que aparece creditado no genérico como Major Boothroyd , mas na realidade, na cena em que dá a mítica mala cheia de gadgets a Bond, não é mencionado pelo nome, apenas como "armeiro". A partir do filme seguinte, e com uma única excepção (em 'The Spy Whol Loved Me') seria sempre creditado como Q. Mas se o M original (Bernard Lee) teve que ser substituído após a morte do actor em 1979, e se a Moneypenny de Lois Maxwell foi finalmente substituída em 1987 para o primeiro filme de Timothy Dalton (estava demasiado velha para o flirt com Bond), o Q de Desmond Llewelyn persistiu. De facto, é o actor que apareceu em mais filmes de James Bond, uns estonteantes 17, embora a sua aparição se resuma quase sempre a uma única cena por filme, com duas excepções, 'Octopussy' e 'Licence to Kill', onde vai ao terreno dar uma mãozinha a Bond. Mas percebe-se o seu apelo. Inicialmente usado simplesmente para discursar friamente sobre o armamento e a tecnologia, a interacção Bond-Q, ou melhor Connery-Llewelyn começou a crescer para uma espécie de relação pai-filho. À medida que Llewelyn foi envelhecendo, e com um Roger Moore cada vez mais brincalhão, a veia paternalista de Q foi-se tornando cada vez mais simpática e cada vez mais apelativa; o avozinho, a voz da razão, que mesmo assim era super cool porque, afinal, todas aquelas gadgets eram fruto do seu génio. Atravessando cinco Bonds, Llewelyn é uma autêntica instituição, e foi um grande choque para os fãs quando faleceu pouco depois das filmagens de 'The World Is Not Enough' (1999). John Cleese interiorizou a parte da comédia do papel e Ben Whishaw, o novo Q, a parte da tecnologia. Mas nenhum deles tinha o carisma familiar de Llewelyn. Q só há um, e é este.
Melhor sidekick ocasional: Clifton James como Sheriff J.W. Pepper em 'Live and Let Die' (1973) e 'The Man with the Golden Gun' (1974)
O leque de homens e mulheres que deram uma mãozinha a Bond durante as suas aventuras (muitos até morrendo por causa disso) é bastante vasto e diversificado. Mas de toda esta gente há uma que me faz sempre rir. Não é uma personagem de acção, aliás nem é uma personagem séria. É uma daquelas personagens que só poderiam existir num Bond com Roger Moore e num Bond dos anos 1970. O seu nome é Sheriff J.W. Pepper, interpretado pelo hilariante Clifton James. O xerife Pepper, um campónio de toscas maneiras, porte atarracado, voz arrastada, sotaque sulista e extremamente convencido da sua importância, acha-se um manda chuva no pequeno condado do Louisiana que está sob a sua jurisdição. Mas o seu mundo vai ser virado do avesso quando se atravessa no caminho da grande perseguição de barcos em 'Live and Let Die' (1973). Quando Bond destrói o carro do xerife com o seu barco, este toma a si a missão de prender o agente secreto, custe o que custar. E vai custar muito, para o crescente desespero do xerife... Esta mistura de acção e comédia resultou tão bem que os produtores decidiram trazê-lo de volta no filme seguinte, 'The Man with the Golden Gun'. Pepper vai surgir, imagine-se, de férias na Tailândia, espalhando o seu oco espalhafato até que se envolve em mais uma perseguição com Bond. O famosíssimo plano em que Bond faz um 360 com o seu carro ao atravessar uma ponte semi-destruída, inclui um incrédulo Pepper no lugar do passageiro. Mas tão rapidamente como apareceu, desapareceu. Resta-nos a memória deste delicioso escape cómico.
Melhor Canção: "Thunderball" para o filme 'Thunderball' (1964)
O primeiro filme de James Bond não teve uma música cantada no genérico inicial mas deu-nos o famoso tema instrumental do agente 007. O segundo também não; a balada 'From Russia With Love' apenas aparece no genérico final. Portanto, realmente, o primeiro tema de James Bond foi o de 'Goldfinger' uma ode não ao agente secreto, mas ao vilão. Portanto era mais que necessário um hino a Bond. E esse hino finalmente chegou no filme seguinte; e quando chegou, chegou com tudo. Se nesta lista dei a 'Tunderball' o título de Melhor Filme Clássico, Melhor Realizador e Melhor Vilã, então também me parece mais do que lógico que lhe dê o título de Melhor Música, não só pela melodia em si, mas por tudo o que ela representa. Depois da música inicial "Mr Kiss Kiss Bang Bang" ser atirada para o meio do filme por motivos de marketing (os produtores queriam uma música com o mesmo nome do filme), e de "Thunderball" composta e interpretada por Johnny Cash ser rejeitada (parece uma música de um western), finalmente o compositor John Barry e o letrista Don Black tiraram da cartola este este "Thunderball", interpretado por Tom Jones. Embora seja cantada na terceira pessoa, a voz forte e máscula do sedutor cantor funciona praticamente como a voz interior do próprio Bond. De facto, a música é uma autêntica ode à persona cinematográfica de 007, com uma batida poderosa onde soam acordes do seu tema instrumental, e uma letra que enaltece a pujança, a masculinidade, mas também a solidão, semi-egoísta, semi-trágica do homem que tem de ser duro e desprovido de emoções para cumprir a sua missão ("He looks at this world, and wants it all", "His needs are more, so he gives less", "He will break any heart without regret."). Claro que hoje o tema pode ser considerado excessivamente machista. Mas como peça musical, para aquilo que os filmes era na altura, não há melhor. Se o tema de Monty Norman é o hino-Bond em formato "composição instrumental", este "Thunderball" é o hino-Bond em formato "canção".
O primeiro filme de James Bond não teve uma música cantada no genérico inicial mas deu-nos o famoso tema instrumental do agente 007. O segundo também não; a balada 'From Russia With Love' apenas aparece no genérico final. Portanto, realmente, o primeiro tema de James Bond foi o de 'Goldfinger' uma ode não ao agente secreto, mas ao vilão. Portanto era mais que necessário um hino a Bond. E esse hino finalmente chegou no filme seguinte; e quando chegou, chegou com tudo. Se nesta lista dei a 'Tunderball' o título de Melhor Filme Clássico, Melhor Realizador e Melhor Vilã, então também me parece mais do que lógico que lhe dê o título de Melhor Música, não só pela melodia em si, mas por tudo o que ela representa. Depois da música inicial "Mr Kiss Kiss Bang Bang" ser atirada para o meio do filme por motivos de marketing (os produtores queriam uma música com o mesmo nome do filme), e de "Thunderball" composta e interpretada por Johnny Cash ser rejeitada (parece uma música de um western), finalmente o compositor John Barry e o letrista Don Black tiraram da cartola este este "Thunderball", interpretado por Tom Jones. Embora seja cantada na terceira pessoa, a voz forte e máscula do sedutor cantor funciona praticamente como a voz interior do próprio Bond. De facto, a música é uma autêntica ode à persona cinematográfica de 007, com uma batida poderosa onde soam acordes do seu tema instrumental, e uma letra que enaltece a pujança, a masculinidade, mas também a solidão, semi-egoísta, semi-trágica do homem que tem de ser duro e desprovido de emoções para cumprir a sua missão ("He looks at this world, and wants it all", "His needs are more, so he gives less", "He will break any heart without regret."). Claro que hoje o tema pode ser considerado excessivamente machista. Mas como peça musical, para aquilo que os filmes era na altura, não há melhor. Se o tema de Monty Norman é o hino-Bond em formato "composição instrumental", este "Thunderball" é o hino-Bond em formato "canção".
Melhor Canção rejeitada: "No Good About Goodbye", para o filme 'Quantum of Solace' (2008)
Em 2015 fiz um grande post sobre as 15 grandes canções que foram escritas para figurar no genérico inicial de um filme da saga Bond mas que, sendo rejeitadas pelos produtores, acabaram por nunca ver a luz do dia... isto é, até serem reeditadas pelos próprios autores ou serem lançadas naquela coisa maravilhosa que é a internet. Como o leitor pode ver se consultar esse post, algumas canções mereceram-no, outras nem tanto, outras foram totalmente injustiçadas. Mas a mais injustiçada de todas foi esta. Composta por David Arnold (o compositor da saga Bond durante o final dos anos 1990 e o final da década de 2000); com uma letra de Don Black (que havia escrito três temas clássicos da saga com John Barry); e com a voz da mítica Shirley Bassey, "No Good About Goodbye" é memorável. É uma balada poderosíssima, que não só retoma o teor emocional de ‘Casino Royale’, como reflecte a essência mais dura, mais pesada, do Bond dos livros que os filmes recentes recuperaram. Bassey está imbatível, tão fresca e tão intensa como esteve 50 anos antes (!!!) em ‘Goldfinger’, numa canção que faz a ponte entre o passado e o futuro, e que certamente se iria tornar, tivesse sido usada, o hino de referência do meio século da saga. Mas não era para ser. Os senhores produtores provavelmente consideraram que colocar Bassey a cantar uma música não iria ser vendável e que o tema não era suficientemente comercial. O público, por desconhecimento, nem protesto esboçou, e portanto para a posteridade ficamos com uma berração cantada por Jack White e Alicia Keys. Ás vezes até os grandes cineastas podem ser estúpidos. E este é um bom exemplo de pura estupidez!
Em 2015 fiz um grande post sobre as 15 grandes canções que foram escritas para figurar no genérico inicial de um filme da saga Bond mas que, sendo rejeitadas pelos produtores, acabaram por nunca ver a luz do dia... isto é, até serem reeditadas pelos próprios autores ou serem lançadas naquela coisa maravilhosa que é a internet. Como o leitor pode ver se consultar esse post, algumas canções mereceram-no, outras nem tanto, outras foram totalmente injustiçadas. Mas a mais injustiçada de todas foi esta. Composta por David Arnold (o compositor da saga Bond durante o final dos anos 1990 e o final da década de 2000); com uma letra de Don Black (que havia escrito três temas clássicos da saga com John Barry); e com a voz da mítica Shirley Bassey, "No Good About Goodbye" é memorável. É uma balada poderosíssima, que não só retoma o teor emocional de ‘Casino Royale’, como reflecte a essência mais dura, mais pesada, do Bond dos livros que os filmes recentes recuperaram. Bassey está imbatível, tão fresca e tão intensa como esteve 50 anos antes (!!!) em ‘Goldfinger’, numa canção que faz a ponte entre o passado e o futuro, e que certamente se iria tornar, tivesse sido usada, o hino de referência do meio século da saga. Mas não era para ser. Os senhores produtores provavelmente consideraram que colocar Bassey a cantar uma música não iria ser vendável e que o tema não era suficientemente comercial. O público, por desconhecimento, nem protesto esboçou, e portanto para a posteridade ficamos com uma berração cantada por Jack White e Alicia Keys. Ás vezes até os grandes cineastas podem ser estúpidos. E este é um bom exemplo de pura estupidez!
Melhor Banda Sonora: 'On Her Majesty's Secret Service' (1969) por John Barry
Esta foi a categoria na qual tive de pensar mais para me decidir. Quando pensamos nas bandas sonoras de James Bond, pensamos nas canções e pensamos no mítico tema instrumental composto por Monty Norman com arranjos de John Barry. Mas na realidade a saga Bond, musicalmente, tem um enorme espólio. Vinte e seis filmes significam vinte e seis bandas sonoras É praticamente um género de direito próprio. Algumas banda sonoras são esquecíveis, uma junção dos temas que todos conhecemos com alguma música ambiente. Outras são um mundo musical a ser descoberto. Pessoalmente, apesar de adorar o trabalho de Thomas Newman, não estou muito contente com as suas contribuições para 'Skyfall' e 'Spectre'. O compositor anterior, David Arnold, tem uma trabalho mais bem conseguido (a banda sonora de 'Casino Royale' é brutal). E há outras composições que ficam na retina, ou melhor, no ouvido, como a de Michael Kamen para 'Licence to Kill' (1989). Mas falar de bandas sonoras de James Bond é falar de John Barry que não só deu ao hino da saga a sua forma definitiva, como compôs a banda sonora para nada menos que onze dos filmes, começando em 'From Russia with Love' e terminando em 'The Living Daylights' (1987). Usando temas e tons recorrentes, é talvez difícil dizer qual a melhor individualmente. Sempre gostei da de 'Octopussy' (1983) mas acabei por dar o prémio à de 'On Her Majesty's Secret Service'. O facto de haver um novo actor a interpretar Bond e brilhantes sequências de acção deu a Barry espaço para inovar. As suas composições para este filme são incrivelmente excitantes. Aliás, está aqui aquele que é, para mim, o melhor tema instrumental da saga, a seguir claro ao "James Bond Theme". Como o leitor pode ouvir em cima este "Ski Chase" é absolutamente brutal. Bond em acção. Nem mais, nem menos.
Esta foi a categoria na qual tive de pensar mais para me decidir. Quando pensamos nas bandas sonoras de James Bond, pensamos nas canções e pensamos no mítico tema instrumental composto por Monty Norman com arranjos de John Barry. Mas na realidade a saga Bond, musicalmente, tem um enorme espólio. Vinte e seis filmes significam vinte e seis bandas sonoras É praticamente um género de direito próprio. Algumas banda sonoras são esquecíveis, uma junção dos temas que todos conhecemos com alguma música ambiente. Outras são um mundo musical a ser descoberto. Pessoalmente, apesar de adorar o trabalho de Thomas Newman, não estou muito contente com as suas contribuições para 'Skyfall' e 'Spectre'. O compositor anterior, David Arnold, tem uma trabalho mais bem conseguido (a banda sonora de 'Casino Royale' é brutal). E há outras composições que ficam na retina, ou melhor, no ouvido, como a de Michael Kamen para 'Licence to Kill' (1989). Mas falar de bandas sonoras de James Bond é falar de John Barry que não só deu ao hino da saga a sua forma definitiva, como compôs a banda sonora para nada menos que onze dos filmes, começando em 'From Russia with Love' e terminando em 'The Living Daylights' (1987). Usando temas e tons recorrentes, é talvez difícil dizer qual a melhor individualmente. Sempre gostei da de 'Octopussy' (1983) mas acabei por dar o prémio à de 'On Her Majesty's Secret Service'. O facto de haver um novo actor a interpretar Bond e brilhantes sequências de acção deu a Barry espaço para inovar. As suas composições para este filme são incrivelmente excitantes. Aliás, está aqui aquele que é, para mim, o melhor tema instrumental da saga, a seguir claro ao "James Bond Theme". Como o leitor pode ouvir em cima este "Ski Chase" é absolutamente brutal. Bond em acção. Nem mais, nem menos.
Melhor Gadget: Aston Martin DB5 em 'Goldfinger' (1964)
O primeiro grande carro que James Bond teve na saga foi também a sua primeira grande gadget. Tudo neste carro, que até incluía um GPS, estava modificado para ser extremamente letal: metralhadoras nos faróis, libertação de óleo e fumo pela traseira, e picos metálicos para destruir as rodas de carros que se aproximavam demasiado. E quem não se lembra do famoso sistema de ejecção do assento? Mas acima de tudo, este Aston Martin DB5, lançado no mercado poucos meses antes do filme estrear (conveniente, não?), era um veículo cheio de virilidade e classe, atributos que, obviamente, se ajustavam como uma luva a Sean Connery. O carro foi utilizado no filme seguinte 'Thunderball', mas só seria reavivado décadas mais tarde, com pequenas aparições em 'GoldenEye' (1995) e 'Tomorrow Never Dies' (1997). Na era Daniel Craig, com o regresso às origens, o carro passou a ser uma figura recorrente. Bond ganha-o num jogo de póquer em 'Casino Royale' e volta a aparecer em 'Skyfall' e 'Spectre'. Esta é a viatura que mais se associa a Bond e não é surpresa que muitas celebridades o detenham nas suas garagens. Steven Spielberg por exemplo, um assumido apaixonado pela franchise (nos anos 1980 até tentou convencer os produtores, sem sucesso, a deixarem-no realizar um filme) é uma delas.
O primeiro grande carro que James Bond teve na saga foi também a sua primeira grande gadget. Tudo neste carro, que até incluía um GPS, estava modificado para ser extremamente letal: metralhadoras nos faróis, libertação de óleo e fumo pela traseira, e picos metálicos para destruir as rodas de carros que se aproximavam demasiado. E quem não se lembra do famoso sistema de ejecção do assento? Mas acima de tudo, este Aston Martin DB5, lançado no mercado poucos meses antes do filme estrear (conveniente, não?), era um veículo cheio de virilidade e classe, atributos que, obviamente, se ajustavam como uma luva a Sean Connery. O carro foi utilizado no filme seguinte 'Thunderball', mas só seria reavivado décadas mais tarde, com pequenas aparições em 'GoldenEye' (1995) e 'Tomorrow Never Dies' (1997). Na era Daniel Craig, com o regresso às origens, o carro passou a ser uma figura recorrente. Bond ganha-o num jogo de póquer em 'Casino Royale' e volta a aparecer em 'Skyfall' e 'Spectre'. Esta é a viatura que mais se associa a Bond e não é surpresa que muitas celebridades o detenham nas suas garagens. Steven Spielberg por exemplo, um assumido apaixonado pela franchise (nos anos 1980 até tentou convencer os produtores, sem sucesso, a deixarem-no realizar um filme) é uma delas.
Melhor one-liner: Roger Moore e Lois Chiles em 'Moonraker' (1979)
A saga Bond sempre teve o seu quinhão de one-liners, frases semi-humorísticas com trocadilhos que quer James quer os múltiplos vilões que defrontou se deliciaram a dizer para demonstrar a sua própria sagacidade e confiança. Mas a franchise nunca teve tantos, e com tanta qualidade, como na era de Roger Moore que, como todos sabemos, não só era exímio a dizê-los, como adorava fazê-lo. Para mim o melhor de todos ocorre no filme 'Moonraker', quando Bond está no topo da carruagem do teleférico do Pão de Açúcar, em pleno Rio de Janeiro. Quando Jaws parte um dos cabos (com os dentes!) Bond desequilibra-se e cai borda fora, segurando-se apenas por uma unha negra. A bond-girl de serviço, a belíssima Lois Chiles (cuja personagem tem o mítico nome de Holly Goodhead!) grita nesse momento "Hang on, James" (James, segura-te). Ao qual Bond responde, no estilo clássico de Roger Moore com um leve arquear de sobrancelha: "The thought had occured to me" (O pensamento já me tinha ocorrido). Impagável.
A saga Bond sempre teve o seu quinhão de one-liners, frases semi-humorísticas com trocadilhos que quer James quer os múltiplos vilões que defrontou se deliciaram a dizer para demonstrar a sua própria sagacidade e confiança. Mas a franchise nunca teve tantos, e com tanta qualidade, como na era de Roger Moore que, como todos sabemos, não só era exímio a dizê-los, como adorava fazê-lo. Para mim o melhor de todos ocorre no filme 'Moonraker', quando Bond está no topo da carruagem do teleférico do Pão de Açúcar, em pleno Rio de Janeiro. Quando Jaws parte um dos cabos (com os dentes!) Bond desequilibra-se e cai borda fora, segurando-se apenas por uma unha negra. A bond-girl de serviço, a belíssima Lois Chiles (cuja personagem tem o mítico nome de Holly Goodhead!) grita nesse momento "Hang on, James" (James, segura-te). Ao qual Bond responde, no estilo clássico de Roger Moore com um leve arquear de sobrancelha: "The thought had occured to me" (O pensamento já me tinha ocorrido). Impagável.
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