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Andy Hardy's Private Secretary

Ano: 1941

Realizador: George B. Seitz

Actores principais: Mickey Rooney, Lewis Stone, Fay Holden

Duração: 101 min

Crítica: Com ‘Andy Hardy's Private Secretary’ (em português ‘A Secretária de Andy Hardy’) a saga de Andy Hardy chegou ao décimo dos dezasseis filmes que teria. Apesar de ter chegado a este incrível número em apenas quatro anos (‘A Family Affair’, o primeiro filme, é de 1937) é surpreendente notar que a saga ainda tinha alguns truques na manga para saciar os jovens e as famílias que a tornaram uma das franchises de maior sucesso comercial da história do cinema. Este décimo filme não só é um dos melhores de toda a saga (após um menos conseguido nono: ‘Andy Hardy Meets Debutante, 1940), como é também um dos que mais bem se sustém como filme isolado. E, para o público português, este filme tem ainda outro motivo de interesse: menciona directamente Portugal, ou melhor, a língua portuguesa, embora não pelas melhores razões…

Em EU SOU CINEMA tenho estado progressivamente a introduzir a saga a uma nova geração de cinéfilos portugueses, lançando as críticas uma a uma. No período delicado entre a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, a sociedade americana encontrou conforto nas aventuras e desventuras da família Hardy da pequena cidade de Carvel. Portanto porque não também a nossa sociedade aqui, agora, oitenta anos depois? Com alegria notamos que, salvo óbvios pormenores, estas obras não estão nada datadas. Precisamente porque não se centravam apenas nas mensagens moralistas e nas lições de vida sobre a honestidade e a riqueza dos valores familiares que, obviamente, ainda hoje fazem sentido. Tinham tudo o resto que a alta qualidade da máquina de entretenimento de Hollywood podia conceber. Mas acima de tudo, tinham um mítico elemento central, o filho mais novo, Andy Hardy, interpretado pelo dínamo ‘one man show’ chamado Mickey Rooney, então com 21 anos de idade.

"É surpreendente notar que a saga ainda tinha alguns truques na manga para saciar os jovens e as famílias que a tornaram uma das franchises de maior sucesso comercial da história do cinema. Este décimo filme não só é um dos melhores de toda a saga (após um menos conseguido nono), como é também um dos que mais bem se sustém como filme isolado."

De facto, a fórmula inicial da saga, centrada nos problemas de corrupção que o pai, o Juiz Hardy (Lewis Stone), tinha de resolver, e nas aventuras-tipo de cada um dos filhos, esgotou-se completamente ao ser repetida quase a papel químico em cinco dos seis primeiros filmes: ‘A Family Affair’ (1937); ‘You're Only Young Once’ (1937); ‘Judge Hardy's Children’ (1938); ‘Out West with the Hardys’ (1938) e 'The Hardys Ride High' (1939). Mas o quarto filme ‘Love Finds Andy Hardy’ (1938), uma obra-prima em formato comédia romântica adolescente, havia encontrado algo de inesperado: a riqueza de Andy/Rooney ao mesmo tempo que o próprio Rooney se tornava o actor mais popular a nível mundial. E portanto, lentamente, a saga voltou-se definitivamente para a semi-cómica, semi-comovente odisseia de crescimento da sua personagem. E, ao fazê-lo, entrou no seu período mais brilhante.

O sexto filme 'The Hardys Ride High' (1939) é o primeiro que realmente mostra Andy a amadurecer. O sétimo 'Andy Hardy Gets Spring Fever’ (1939), é uma “brilhante e virtuosa odisseia cómico-dramática coming-of-age” que atinge invulgares notas introspectivas que também ressoam no oitavo ‘Judge Hardy and Son’ (1939), um dos melhores pois balança na perfeição os didácticos mantras da saga com a genial mestria de um Rooney que por esta altura já havia encontrado o seu lugar como o mais universal jovem-adulto da história do cinema.

Mas esta incrível popularidade de Rooney (em 1939 ganhou um Óscar Honorário Juvenil e liderou a bilheteira mundial, mantendo essa posição em 1940) foi de certa forma um pau de dois bicos para o estúdio. Por um lado a MGM dedicou-se a colocá-lo num enorme número de filmes por ano, entre dramas, os seus memoráveis musicais com Judy Garland e claro, os filmes da saga Hardy. Por outro, parecia haver o claro receio de que a sua personagem mais famosa, Andy, crescesse demasiado depressa e assim perdesse o seu carisma e o seu apelo. Após uma média de três filmes por ano, a saga Hardy só teve um em 1940, 'Andy Hardy Meets Debutante’ que, nem de propósito, é um dos piores. Apesar de manter o foco em Andy, este tem um papel muito menos vibrante porque, como escrevi “o argumento não é muito interessante; há uma clara regressão na maturidade que Andy havia encontrado nos dois filmes anteriores; e (sacrilégio!) a química entre Rooney e Garland está extremamente mal explorada”. Este filme volta a sobrepor a veia didáctica ao crescimento de Andy, e Rooney está fora do seu meio ao sentir demasiado o peso do “drama” que a história impõe e sem oportunidades para exibir a sua extraordinária veia cómica. Queremos que ele cresça, mas não desta forma. Felizmente, o décimo filme, ‘Andy Hardy's Private Secretary’, resolveria com distinção este dilema.

"O filme não é tão hilariante como uma peça de entretenimento familiar nem de comédia romântica adolescente (...) nem tenta ser tão emocionalmente complexo (...) Mas é sem dúvida, pela subtil mudança de tom que opera na saga (...) o mais maduro e o mais emocionalmente profundo até este ponto, e aquele que, apesar de tudo, é “mais filme”, artística e tecnicamente falando."

O ano de 1941 foi para Rooney um ano de capitalização do seu extraordinário sucesso. Fez quatro filmes, nenhum deles uma obra original. Filmou as sequelas dos seus dois filmes mais populares fora da saga Hardy, ‘Boys Town’ (1938) ao lado de Spencer Tracy e ‘Babes in Arms’ (1939) ao lado de Judy Garland – respectivamente ‘Man of Boys Town’ (1941) e ‘Babes on Broadway’ (1941) – bem como mais dois filmes da saga Hardy. ‘Andy Hardy's Private Secretary’ chegou aos cinemas em Fevereiro de 1941 e ‘Life Begins for Andy Hardy’ em Agosto, e é neste par de filmes que finalmente ocorrem os dois eventos para os quais a saga estava há muito a trabalhar mas que ainda não tinha tido coragem de oferecer ao espectador: Andy acaba o liceu e tem a sua primeira aventura laboral ‘no mundo real’.

De novo realizado por George B. Seitz (que até agora só não havia realizado o sétimo filme), ‘Andy Hardy's Private Secretary’ faz o que o anterior não havia conseguido fazer e encontra o tom adequado para manter a energia da saga viva enquanto assume a maturidade inerente ao facto da sua personagem principal estar prestes a deixar de ser um adolescente. O filme não é tão hilariante como uma peça de entretenimento familiar nem de comédia romântica adolescente como havia sido por exemplo ‘Love Finds Andy Hardy’. Aliás, não faria sentido que o fosse depois de tudo pelo qual Andy já passou. Por outro lado, não tenta ser tão emocionalmente complexo como 'Andy Hardy Gets Spring Fever’, nem é tão artificialmente introspectivo e amorfo como 'Andy Hardy Meets Debutante’. Mas é sem dúvida, pela subtil mudança de tom que opera na saga (e que se manteria nos filmes seguintes) o mais maduro e o mais emocionalmente profundo até este ponto, e aquele que, apesar de tudo, é “mais filme”, artística e tecnicamente falando.

Um dos principais motivos para isto pode estar no facto de que em 1941 a Segunda Guerra Mundial dilacerava a Europa, e os Estados Unidos (e Hollywood), até então receosos de tomar uma posição, finalmente começaram a acreditar que o conflito era grave e que a entrada do país na Guerra estava para breve. Numa altura em que os filmes moralistas e patrióticos começaram a surgir como batatas quentes das fornalhas de Hollywood, a própria saga Hardy aproveitou a deixa para utilizar a desculpa de uma família americana que regressa da Europa para viver em Carvel, os Land, não só para subtilmente abordar o problema da guerra como para, muito menos subtilmente, demonstrar como a América era uma país de liberdade e uma terra de oportunidade. Por esses mesmos motivos, o filme tem o discernimento suficiente, ao contrário de alguns anteriores, para não perder tempo com cenas descontraidamente parvas ou com uma moral de trazer por casa; superficial, lamecha ou datada. O filme é respeitoso e aborda assuntos sérios e incisivos que apenas ao de leve haviam constituído “dilemas” anteriormente: a pobreza ou a importância de uma boa educação.

"O próprio Rooney está mais velho, mais maduro, mas ao contrário do filme anterior, tem espaço para dominar a sua arte e manter-se no local onde está mais confortável, ou seja, no permanente limbo entre o drama e a comédia. Nesse sentido Seitz tem uma realização mais sóbria cujo ritmo é marcado menos pela exuberância natural de Andy (...) mas pelo interesse argumental, exacerbado por um inteligente processo de montagem"

Finalmente, quer Andy quer a realização de Seitz acompanham, sem destoar, o tom imposto pelo contexto. O filme passa-se todo na semana antes de Andy terminar o liceu (o mítico “graduation” americano) e prevalece o sentimento de que, apesar de tudo, Andy está a tornar-se homem, a preparar-se para a vida. “Don’t you realize that graduation from high school is more important than graduating from college? It’s the first sign of approaching manhood” diz ele ao pai. O próprio Rooney está mais velho, mais maduro, mas ao contrário do filme anterior, tem espaço para dominar a sua arte e manter-se no local onde está mais confortável, ou seja, no permanente limbo entre o drama e a comédia. Nesse sentido Seitz tem uma realização mais sóbria cujo ritmo é marcado menos pela exuberância natural de Andy (um elemento que havia salvo outros filmes) mas pelo interesse argumental, exacerbado por um inteligente processo de montagem da história. Atingir isto num décimo filme é surpreendente.

O filme começa no mesmo sítio onde todos os anteriores, à excepção do nono, haviam começado: no tribunal. O Juiz Hardy está a resolver mais um caso, desta vez relacionado com um rapaz pobre que não vê a utilidade de ir para a escola. Em menos de um minuto o Juiz já o inspirou com a história de Lincoln e convence-o a ir para um curso profissional de carpintaria. Clássico. Nos primeiros minutos o filme vai seguindo o padrão a que a saga já nos havia habituado, especialmente quando logo depois reencontramos Andy e descobrimos que ele, com a sua fanfarronice costumeira, enfiou-se num buraco do qual não consegue sair. Extremamente excitado com o terminar do liceu e inebriado com a sua própria importância, Andy tornou-se o presidente de todas as comissões de festas e mais algumas. Mas a gestão quer física quer financeira de todas estas tarefas torna-se demasiado difícil para um adolescente só.

Rooney oferece-nos uns momentos do seu bravado habitual (só ele para continuamente reciclar este tipo de material e conseguir mantê-lo fresco), mas um pequeno erro nas finanças leva Andy a admitir ao pai que não tem estamina para gerir tanta coisa. Mantendo a tradição recente da saga, ele e o pai são praticamente os dois únicos membros da família que têm importância argumental. A mãe (Fay Holden) e a Tia Milly (Sara Haden) são meros panos de fundo e este é o primeiro filme de todos no qual a irmã (Cecilia Parker) nem sequer entra. Aparentemente está algures “de férias”, férias essas que demoram tanto tempo que ela só regressaria à saga dois filmes depois. Como já mencionei em críticas anteriores é pena, já que Parker até tinha talento para mais, mas é um sacrifício necessário porque desviar a atenção de Rooney nesta fase seria um crime.

"A história vai focar-se na forma como os Hardy ajudam os Land, uma metáfora óbvia para a forma como os EUA deviam ajudar a Europa (...)  É a filha, Kathryn Land (Kathryn Grayson), que mais vai brilhar nesta obra (...) construindo mais uma excelente personagem feminina desta saga e aproveitando, tal como Garland antes dela, para exibir a sua poderosa voz em todas as oportunidades que tem."

Com a sua infinita sagacidade, o Juiz, para “educar” Andy nas responsabilidades da vida adulta e dar-lhe uma lição de liderança e gestão, obriga-o a convidar os dois filhos “pobres” do sr. Land (Ian Hunter), um mecânico que não há muito tempo se instalou em Carvel, a ajudarem-no na comissão de festas. Os Land são muito low profile mas lentamente descobrimos que antes de voltar para os Estados Unidos o sr. Land, um homem culto, geria uma agência turística internacional, e que os seus dois filhos, o algo ressentido Harry (Todd Karns que poucos anos depois seria o irmão de James Stewart em ‘It’s a Wonderful Life’) e a mais entusiasta Kathryn (Kathryn Grayson) têm uma boa educação, Mas nenhum dos outros miúdos da escola (Andy incluído) lhes tinha prestado muita atenção precisamente porque eram “do lado errado da linha de ferro”.

A história vai focar-se na forma como os Hardy ajudam os Land, uma metáfora óbvia para a forma como os EUA deviam ajudar a Europa. O Juiz Hardy vai usar os seus contactos para tentar encontrar um emprego que seja mais condigno das qualificações do sr. Land, um especialista em relações internacionais. É numa destas cenas que Land vai dizer ao Juiz que fala nove línguas, acrescentando “including the Portuguese”. “Portuguese?!” responde o Juiz de forma condescendente “You make Portuguese sound as though it is very important”. Não é o momento mais glorioso da saga Hardy… Pelo menos o sr. Land suaviza a questão respondendo “You try to get along without it in Portugal or Brasil”... Já Harry vai ficar responsável pela decoração do ginásio para a grande festa de final de ano e, para surpresa de todos, vai fazer um grande trabalho e revelar também ser o melhor aluno da turma. Mas é a filha, Kathryn, que mais vai brilhar nesta obra.

Kathryn Grayson estava a ser literalmente “criada” nas fornalhas da MGM para ser a nova Judy Garland ou Deanna Durbin. Então com apenas 19 anos de idade, este é primeiro filme da actriz sobre quem Howard Keel diria um dia ser a mais bela de Hollywood, e que seria uma parte importante do género musical ao entrar em obras como 'Anchors Aweigh’ (1945), ‘Show Boat’ (1951) ou o extraordinário ‘Kiss Me Kate’ (1953). Tal como outras actrizes em ascensão, foi colocada na saga Hardy para testar o seu potencial, e Kathryn responde ao desafio construindo mais uma excelente personagem feminina desta saga e aproveitando, tal como Garland antes dela, para exibir a sua poderosa voz em todas as oportunidades que tem. É ela também que se irá tornar a “secretária” de Andy na comissão das festas, dando assim o título ao filme. Outro toque de maturidade e classe do filme é que Kathryn é a primeira rapariga, a seguir à Betsy de Judy Garland, por quem Andy não se perde de amores. São só amigos. Diz Andy: “You’re so swell that I never even once through about trying to kiss you, and that’s the first time it ever happened to me in my life!”. E nós bem que o sabemos!

"Um dos elementos que pior funciona no filme é o retrato da pobreza da família Land (...) que nunca é sentida já que nunca os vemos em reais dificuldades. (...) Mas o filme tem a categoria suficiente para pôr esta dicotomia de classes um pouco de lado (...), e dedica-se em vez disso (...) ao próprio Andy. (...) De facto, a riqueza da obra está precisamente na forma como consegue ser bem sucedida a balançar o sério e o cómico em todas as situações que constrói."

Pelo contrário, um dos elementos que pior funciona no filme é o retrato da pobreza da família Land. Realmente é uma pobreza algo cor-de-rosa, que é mencionada para que acreditemos, mas que nunca é sentida já que nunca os vemos em reais dificuldades. Kathryn, por exemplo, anda sempre impecavelmente vestida, e ela e Harry só parecem não ter dinheiro para comprar as roupas escolhidas para a festa de final de ano. Será Andy que vai comprar umas calças para Harry e umas meias para Kathryn (uma cena hilariante), despertando assim os ciúmes da sua namorada Polly (Ann Rutherford) que continua fabulosa no (infelizmente) pouco tempo de antena que tem. Mesmo assim a mensagem passa; devemos ajudar quem está na mó de baixo porque nunca saberemos o potencial que têm até o fazermos, e a amizade é mais importante que o dinheiro. E para além do mais, o filme tem a categoria suficiente para pôr esta dicotomia de classes um pouco de lado (é uma subcorrente natural da história, não algo em que o filme se apoia cegamente), e dedica-se em vez disso, para deleite do espectador, ao próprio Andy.

De facto, a riqueza da obra está precisamente na forma como consegue ser bem sucedida a balançar o sério e o cómico em todas as situações que constrói. Cenas como aquela em que o Juiz e o sr. Land tentam conduzir o velho carro de Andy à chuva ou quando Andy vai tirar a sua foto de graduado com a mãe, constituem bons momentos de humor. Com prazer acolhemos o regresso dos one-liners de Andy à saga (notoriamente ausentes no filme anterior) e o filme explora a enorme capacidade de Rooney nos fazer rir quando, recordando o que já fizera em 'Andy Hardy Gets Spring Fever’, ‘Babes in Arms’ ou ‘Strike Up the Band’ (1940), monta e encena mais uma peça de teatro (uma tragédia grega!) para o espectáculo do final de ano. Quando Andy surge vestido de Apolo a declamar é muito mais que um momento absolutamente hilariante. É um momento de pura genialidade.

Mas ao mesmo tempo o filme observa Andy de uma forma muito mais realista e até pungente. Andy está tão entusiasmado com a gestão das festas que não estuda e chumba no exame final de inglês (descobrimos o que faz a Tia Milly – é a professora!). Isso significa que Andy não irá terminar o secundário, algo que cai como uma bomba no espectador após tanta antecipação. Para além do mais, após o Juiz ter arranjado um excelente emprego para o sr. Land, mas que o obriga a partir com os filhos para a América do Sul um dia antes da festa de final de ano, Andy, vendo a tristeza de Kathryn, decide com boas intenções mudar a data no telegrama em um dia, achando que isso não fará mal. Mas faz e o sr. Land, perdendo o barco, perde também o emprego. Estes são problemas sérios e realistas, com repercussões importantes, e não as habituais ninharias de adolescente à volta das quais os problemas de Andy geralmente orbitavam.

"Apesar de Rooney continuar a fazer overacting nos momentos mais dramáticos, é com comoção que assistimos à forma como Andy enfrenta os seus problemas (...) Só tenho pena que o filme resvale algumas vezes para um tom mais leve (...) pois a constante necessidade de entreter rege toda a obra (...) Todo o brilhantismo dramático-adolescente que o filme havia construído é de certa forma arruinado para que o público saia a aplaudir e a sorrir."

Claro que tudo se irá resolver no final, como não podia deixar de ser, mas não podemos deixar de nos sentir impressionados com a ousadia do filme, e com o peso da maturidade que Andy acaba por acarretar nos ombros, aprendendo as suas lições de vida com uma dose de humildade raramente vista anteriormente. Apesar de Rooney continuar a fazer overacting nos momentos mais dramáticos, é com comoção que assistimos à forma como Andy enfrenta os seus problemas após um momento de cobardia em que tenta “fugir” da cidade. Com a ajuda de Kathryn, Harry e Polly, Andy finalmente entrega-se de corpo e alma a uma causa e estuda como se não houvesse amanhã para passar no exame de recurso, por ele, mas também por todos os outros; pela sua família, pelos Land e pela sua geração de jovens americanos.

De novo Rooney é o nosso amigo, o nosso vizinho, o nosso irmão, o nosso filho, nós próprios. Representa-nos como nenhum outro jovem actor o fez. E o filme oferece esta última parte de uma forma surpreendente e impressionante. Termina com a grande festa de final de ano (comoverá todo o espectador que viu Andy a crescer) mas não a dá num tom festivo (ou seja, como a celebração do herói) como o fazem a maior parte dos filmes high school. Dá-o sim com uma inspiradora sensação de dever cumprido, o que é ainda melhor. 

Realmente, só tenho pena que o filme resvale algumas vezes para um tom mais, digamos, leve, como outros filmes menores da saga. Afinal, isto não é um drama e a constante necessidade de moralizar e entreter rege toda a obra.  Mas há talvez um contraste exagerado, tal como havia acontecido no final do filme anterior. Após tudo o que se passou, o final “tudo está bem quando acaba bem” com Andy a levar Polly no carro novo a um cantinho na floresta para uma boa dose de romance, é excessivamente relaxado. Todo o brilhantismo dramático-adolescente que o filme havia construído é de certa forma arruinado para que o público saia a aplaudir e a sorrir. Mas, pergunto eu agora, não são essas flutuações inconstantes também parte da adolescência?!

"É muito mais do que um filme para a família ou um dos melhores filmes da saga Andy Hardy. É verdadeiramente um dos melhores filmes sobre o ‘high school graduation’ alguma vez feitos, que Rooney de novo encabeça com mestria (...) Para o bem ou para o mal, ele é dono e senhor da obra, nunca se cansando de ser ele próprio nem de nos constantemente recordar disso. Pela minha parte não me importo."

Tudo somado, senti-me extremamente surpreendido e satisfeito com esta sequela. Andy e Rooney cresceram e acabam o liceu num mundo que estava prestes a desabar. O filme não considera isto algo propriamente trágico mas ao mesmo tempo sabe que não o pode enfrentar com a leveza dos primeiros filmes. O meio-termo que encontra é, à excepção do final, excelente, porque nos faz pensar e rir em partes iguais, deixa os pormenores menos importantes da saga de fora (como a irmã), introduz uma excelente nova personagem (Kathryn) e porque cresce, em forma e estilo, como Andy cresce. Ou pelo menos quanto baste. Neste período do tempo, ninguém conseguia parar Rooney, para o bem ou para o mal, e ele é dono e senhor da obra, nunca se cansando de ser ele próprio nem de nos constantemente recordar disso. Pela minha parte não me importo.

Sem surpresa, o filme esteve nas tabelas dos mais vistos do ano e diz a internet que arrecadou cerca de 2,5 milhões de dólares na bilheteira. ‘Andy Hardy's Private Secretary’ é muito mais do que um filme para a família ou um dos melhores filmes da saga Andy Hardy. É verdadeiramente um dos melhores filmes sobre o ‘high school graduation’ alguma vez feitos, que Rooney de novo encabeça com mestria. O liceu terminado e com toda a sua vida pela frente, seguir-se-ia um dos maiores Verões cinematográficos da história do cinema, que se esticaria ao longo de três (sim três!) filmes, até que finalmente Andy apanha o comboio para a faculdade no final de ‘Andy Hardy's Double Life’ (1942). Andy podia estar pronto para o mundo, mas para a MGM o mundo ainda não estava pronto para um Andy Hardy adulto…

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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