No início de Fevereiro de 1999 fui com o meu pai ao cinema ver ‘La vita è bella’ (A Vida é Bela) de Roberto Benigni. Não era muito usual ir com o meu pai ao cinema. Ainda menos usual era ir sozinho com o meu pai ao cinema, sem os meus irmãos. Tinha 14 anos de idade.
Tinha dois grandes motivos para querer ver este filme em particular – nenhum relacionado propriamente com uma tarde pai-filho – e talvez por isso (não me recordo bem) tenha pedido ao meu pai para ir com ele quando ele disse um dia que o ia ver. O primeiro era que o filme estava a correr as bocas do mundo e eu já nessa idade tinha uma enorme curiosidade e vontade de explorar a sétima arte. O segundo, muito mais importante para mim na altura, era que a rapariga da qual gostava na escola já tinha ido ver o filme nessa semana e havia-mo recomendado vivamente. Estava mortinho por poder falar do filme com ela numa festa de aniversário de um outro colega que iria acontecer nesse fim-de-semana.
Lembro-me vagamente da sessão. Lembro-me de ter rido no início com Benigni, que não fazia a menor ideia quem era, e mais tarde da solenidade que o filme me comandou (acho que nunca tinha visto um filme com uma temática tão forte), bem como da moral que me inspirou. Mas lembro-me muito melhor do dia seguinte. Recordo perfeitamente o momento em que ela chegou à festa. Eu estava a jogar bilhar com os meus amigos e ela desceu as escadas. Como o grande totó que era (e ainda sou) saí-me com esta brilhante frase (altamente original e sagaz!) quando ela se aproximou de mim para me cumprimentar: “Buon giorno, Principessa!”. Um momento alto, certamente, da minha curta carreira como galã pré-adolescente. Ou não.
Ela simplesmente sorriu. Apreciou o esforço e foi condescendente com a classe suficiente para eu não ficar embaraçado. E sempre acabamos por trocar umas impressões sobre o filme. Foi agradável em todos os sentidos. Não há vez que tenha revisto o filme desde então que não me recorde desta minha pequena aventura infantil. E de certa forma adequa-se à história do próprio filme, ou pelo menos uma parte dela; leva-me de volta a um tempo de inocência e primeiro amor que não podia ser outra coisa senão efémero.
Um mês depois, quando o filme foi um dos grandes vencedores dos Óscares, saboreei a vitória como se fosse do meu próprio clube de futebol. Benigni era uma pessoa tão exuberante e simpática que me senti, como milhares de outras pessoas, tocado e inspirado pelo seu cinema. Auxiliado pelo meu gravador VHS, fiquei a conhecer outras obras anteriores de Benigni que as televisões passaram após o sucesso de ‘La vita è bella’, como ‘Johnny Stecchino’ (1991) ou ‘Il mostro’ (1994). E um ou dois anos depois quando ‘La vita è bella’ passou pela primeira vez na televisão portuguesa, o meu gravador VHS voltou a ser útil, e foi essa cópia que mantive durante anos na minha biblioteca pessoal. Só algures no final da década de 2000 é que finalmente comprei o DVD num hipermercado, pela módica quantia de 1 euro. Um preço ridículo para a gigantesca obra que este filme é. Mas não me queixo.
Já a belíssima banda sonora de Nicola Piovani havia-a comprado mal vi o filme no cinema em 1999, cortesia das minhas mesadas (sempre fui poupadinho noutras coisas para poder gastar nestas). Foi um dos primeiros CDs de banda sonora que comprei e o primeiro, juntamente com o de ‘The Thin Red Line’ desse mesmo ano, que comprei contemporaneamente à estreia do filme. Portanto também é um marco para mim por causa disso.
Um clássico eterno. Um filme belo e inspirador. Uma parte de mim e do meu crescimento, cuja memória da “primeira vez” recordo sempre com carinho.
Esta é a minha histoire du cinema sobre ‘La vita è bella’. Qual é a sua, caro leitor?
Esta é a minha histoire du cinema sobre ‘La vita è bella’. Qual é a sua, caro leitor?
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