Realizador: Charles Chaplin
Actores principais: Charles Chaplin, Edna Purviance, Syd Chaplin
Duração: 45 min
Crítica: (Esta é a terceira crítica de um ciclo sobre as 10 curtas-metragens que Charles Chaplin realizou durante o seu período com a distribuidora First National (1918-1923). Pode ler a introdução a este ciclo na minha crónica “Chaplin na First National (1918-1923) - Introdução para um ciclo de críticas” (link aqui), bem como ter acesso aos links para as restantes críticas à medida que forem publicadas.)
Chaplin não lutou na Primeira Guerra Mundial. O próprio sempre afirmou que se registou na América, mas que nunca foi chamado, nem pelas forças americanas, nem pelas inglesas. Sempre recebeu críticas por isso (que se tornariam muito mais intensas duas décadas depois), mas seria erróneo afirmar que Chaplin não contribuiu, como poucos, para o esforço de Guerra. Para começar gerou milhões de dólares em títulos de guerra nas suas campanhas promocionais pela América, materializadas na curta ‘The Bond’ (1918; a próxima crítica deste ciclo). Mas teve um contributo muito mais importante: as suas curtas eram as mais populares entre os soldados nas trincheiras, enormes catalisadores de escapismo e de elevação de moral.
Em homenagem a estes relatos, Chaplin decidiu que se não podia ir para a Guerra, então o Vagabundo iria. O resultado, que saiu no ano final da Guerra, foi o soberbo ‘Shoulder Arms’, uma das grandes curtas-metragens da sua carreira, e num honroso segundo lugar (porque existe ‘The Kid’), das suas melhores curtas para a First National. A premissa para a história é simples: basicamente, o Vagabundo vai à Guerra. Sob essa base, Chaplin enriquece o filme até ao tutano com gags brilhantes, assentes nas diversas fases da vida do soldado; o marchar, o dia-a-dia nas trincheiras (deliciosa a cena da inundação) e depois prossegue numa fantástica segunda parte, atrás das linhas do inimigo, que inclui Chaplin mascarado de árvore (uma das melhores gags da sua vida, pelo menos para mim) e a eventual vitória (praticamente acidental) sobre o exército alemão (terá o general alemão minorca inspirado o director da escola em ‘Zero de Conduit’, 1933?!).
‘Shoulder Arms’ consegue cumprir precisamente o que prometeu; ser uma enorme homenagem aos soldados, que, todos os relatos comprovam, adoraram ver o filme nas folgas e nas trincheiras. Rir é uma poderosíssima arma, e de todos os inspiradores, dramáticos ou bélicos filmes de guerra que já se fizeram por esse cinema fora, nenhum levanta a moral como esta curta, que hoje é ainda incrivelmente fresca e incrivelmente dinâmica. O final é talvez um dos grandes turn offs desta curta, mas realidades alternativas ainda não existiam no cinema por esta altura. A curta não procura ser pungente, nem sentimental, nem amarga. Porque precisariam os soldados de uma curta assim? A curta faz rir, e muito, e era disso que precisavam. Mas mesmo sendo “apenas” engraçada, consegue ser lírica. E isso faz dela o melhor produto que Chaplin (ou qualquer outra pessoa) poderia ter feito nesse conturbado período da história para elevar a moral dos soldados. É uma curta feita com o coração e com um genial engenho cómico. Fabuloso.
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