Todos nós que crescemos nos anos 1980 sabemos o quão especial foi essa era. Claro que foi uma época de desenfreado consumismo. Claro que foi uma época de excessiva despreocupação (mesmo nas peças mais dramáticas). Claro que foi uma época de exuberâncias e extremos (recordemos as músicas e os cabelos de muitas bandas). Mas ao mesmo tempo foi uma época sincera e verdadeira, e uma época onde uma mistura paradoxal entre a modernidade e os valores clássicos teve a sua mais perfeita representação. A despreocupação no tom, por exemplo, surgia de uma forma directa de encarar a vida, mas essa visão não era decadente como a da década de 1970. Ao invés, reconhecia que por detrás da realidade, acompanhando-a, havia sempre um toque de magia. Nos anos 1980, a fantasia ainda era possível e não precisávamos de ir para universos distantes, de super-heróis ou distopias futuristas, para a obter. Existia na nossa vida, no nosso dia-a-dia. Por isso é que a esta época pertencem os melhores filmes de aventura. Por isso também é que a esta época pertencem os melhores filmes de jovens.
Nunca o cinema tratou tão bem o jovem de liceu, universitário ou recém-licenciado como nos anos 1980. Nos anos 2000, a geração de ‘American Pie’ (1999) e ‘Not Another Teen Movie’ (2001) retratrou os jovens através de comédias acéfalas de humor fácil e centradas numa incessante busca de sexo. Nos anos 1950, James Dean, Marlon Brandoou Sidney Poitier lideraram filmes onde os jovens se revoltavam contra a convenção social e a anterior geração com um berro gutural. Mas nos anos 1980 os jovens eram os heróis das suas próprias histórias. Eram eles que importavam. Não o contexto social, não a mensagem, não a gargalhada. Mas eles próprios. E por isso é que a capacidade de identificação ainda hoje é brutal. Os filmes podiam ser mais pungentes (‘Breakfast Club’, ‘St. Elmo’s Fire’, ‘Less Than Zero’), mais cómicos (o genial ‘Sixteen Candles’, ‘Ferris Bueller's Day Off’), mais fantasiosos (‘Weird Science’, ‘Mannequin’) ou totalmente high school (‘Pretty in Pink’, ‘Some Kind of Wonderful’). Mas uma coisa todos tinham em comum; esta honestidade, esta importância das personagens em si, que podiam ser fantasiosas ou representar ‘apenas’ estereótipos (veja-se ‘The Breakfast Club’), mas eram verdadeiras, tinham emoções verdadeiras, e no fim podiam expressar mensagens quiçá simples, mas nunca ocas ou condescendentes. É essa a glória da geração que John Hughes (o supremo!) liderou. É essa a glória da geração intitulada brat pack.
Muito se podia ficar aqui a discutir sobre o brat pack, mas fica para outras núpcias. Hoje, é altura de recordar os filmes, não através das suas críticas, mas através da sua música. De novo é paradoxal a importância e a influência que a música teve no cinema dos anos 1980. Por um lado houve um enorme ressurgimento da banda sonora sinfónica, que permitiu o aparecimento dos grandes nomes que marcaram as últimas duas décadas da música cinematográfica (Hans Zimmer, James Horner, Thomas Newman, Alan Menken). Por outro, o single musical, a ‘canção de rosto’, tornou-se aqui, mais do que em qualquer década anterior, uma peça fulcral do marketing do filme. E não era obrigatório que fosse uma composição contemporânea, adequada ao estilo pop da década. Os anos 1980 foram também uma década de revivalismo. É o efeito ‘Midnight in Paris’. Hoje recordamos com nostalgia os anos 1980. Nessa altura, os realizadores recordavam com nostalgia a década em que tinham crescido; a década de 1950, homenageando as suas músicas (‘Unchained Melody’ em ‘Ghost’, 1989, por exemplo) ou a alma dos seus filmes.
De one-hit wonders a power balads, de eternos clássicos a sonoridades futuristas, a playlist do cinema da geração brat pack é, para muitos, a banda sonora da sua juventude. Para outros, é também a banda sonora de uma vida… por mais kitsch que até possa parecer, em retrospectiva! Para mim, são musicas simpáticas que recordam filmes ainda mais simpáticos. Esta é a minha playlist. Através dela, regresso até esse maravilhoso momento no tempo, até essa gloriosa época cinematográfica.
Nunca o cinema tratou tão bem o jovem de liceu, universitário ou recém-licenciado como nos anos 1980. Nos anos 2000, a geração de ‘American Pie’ (1999) e ‘Not Another Teen Movie’ (2001) retratrou os jovens através de comédias acéfalas de humor fácil e centradas numa incessante busca de sexo. Nos anos 1950, James Dean, Marlon Brandoou Sidney Poitier lideraram filmes onde os jovens se revoltavam contra a convenção social e a anterior geração com um berro gutural. Mas nos anos 1980 os jovens eram os heróis das suas próprias histórias. Eram eles que importavam. Não o contexto social, não a mensagem, não a gargalhada. Mas eles próprios. E por isso é que a capacidade de identificação ainda hoje é brutal. Os filmes podiam ser mais pungentes (‘Breakfast Club’, ‘St. Elmo’s Fire’, ‘Less Than Zero’), mais cómicos (o genial ‘Sixteen Candles’, ‘Ferris Bueller's Day Off’), mais fantasiosos (‘Weird Science’, ‘Mannequin’) ou totalmente high school (‘Pretty in Pink’, ‘Some Kind of Wonderful’). Mas uma coisa todos tinham em comum; esta honestidade, esta importância das personagens em si, que podiam ser fantasiosas ou representar ‘apenas’ estereótipos (veja-se ‘The Breakfast Club’), mas eram verdadeiras, tinham emoções verdadeiras, e no fim podiam expressar mensagens quiçá simples, mas nunca ocas ou condescendentes. É essa a glória da geração que John Hughes (o supremo!) liderou. É essa a glória da geração intitulada brat pack.
Muito se podia ficar aqui a discutir sobre o brat pack, mas fica para outras núpcias. Hoje, é altura de recordar os filmes, não através das suas críticas, mas através da sua música. De novo é paradoxal a importância e a influência que a música teve no cinema dos anos 1980. Por um lado houve um enorme ressurgimento da banda sonora sinfónica, que permitiu o aparecimento dos grandes nomes que marcaram as últimas duas décadas da música cinematográfica (Hans Zimmer, James Horner, Thomas Newman, Alan Menken). Por outro, o single musical, a ‘canção de rosto’, tornou-se aqui, mais do que em qualquer década anterior, uma peça fulcral do marketing do filme. E não era obrigatório que fosse uma composição contemporânea, adequada ao estilo pop da década. Os anos 1980 foram também uma década de revivalismo. É o efeito ‘Midnight in Paris’. Hoje recordamos com nostalgia os anos 1980. Nessa altura, os realizadores recordavam com nostalgia a década em que tinham crescido; a década de 1950, homenageando as suas músicas (‘Unchained Melody’ em ‘Ghost’, 1989, por exemplo) ou a alma dos seus filmes.
De one-hit wonders a power balads, de eternos clássicos a sonoridades futuristas, a playlist do cinema da geração brat pack é, para muitos, a banda sonora da sua juventude. Para outros, é também a banda sonora de uma vida… por mais kitsch que até possa parecer, em retrospectiva! Para mim, são musicas simpáticas que recordam filmes ainda mais simpáticos. Esta é a minha playlist. Através dela, regresso até esse maravilhoso momento no tempo, até essa gloriosa época cinematográfica.
"Don't You Forget About Me" (do filme 'The Breakfast Club', 1985)
Música e Letra: Keith Forsey and Steve Schiff | Interpretação: Simple Minds
Numa frase: O hino. O hino do brat pack. O hino de uma geração.
Numa frase: O hino. O hino do brat pack. O hino de uma geração.
" St Elmo's Fire (Man In Motion)" (do filme 'St. Elmo's Fire', 1985)
Música e Letra: David Foster e John Parr | Interpretação: John Parr
Numa frase: A melhor música, composta em homenagem a um atleta paralímpico que foi (estranhamente) parar a um filme coming of age dos anos 1980, de sempre.
"Pretty In Pink" (do filme 'Pretty in Pink', 1986)
Música, Letra e Interpretação: The Psychedelic Furs
Numa frase: Este pedaço de punk rock inglês num filme sobre adolescentes de liceu é a prova (porque resulta, e bem) de que a essência da música pode transcender a sua forma. E prova também que dá imenso jeito quando um realizador/argumentista é nosso fã e decide fazer um filme com o título da nossa canção e nos convida para a regravar.
"Nothing's Gonna Stop Us Now" (do filme 'Mannequin', 1987)
Música e Letra: Albert Hammond and Diane Warren | Interpretação: Starship
Numa frase: Os anos 1980 em todo o seu esplendor exuberante e eternamente kitsch em quatro minutos ou menos. O filme é o menos importante. As baladas pop eram assim. E eram tãaaao boas.
Música e Letra: Albert Hammond and Diane Warren | Interpretação: Starship
Numa frase: Os anos 1980 em todo o seu esplendor exuberante e eternamente kitsch em quatro minutos ou menos. O filme é o menos importante. As baladas pop eram assim. E eram tãaaao boas.
"Twist And Shout" (do filme 'Ferris Bueller's Day Off', 1986)
Música e Letra: Phil Medley and Bert Berns | Interpretação: The Beatles
Numa frase: Não é segredo que Hughes era o fã nº 1 dos Beatles, e nunca o demonstrou tanto como nesta cena, que representa, em 2 minutos, a essência da década, mas também a da juventude. e é a prova viva de que o que é bom é intemporal, independentemente do choque de gerações.
"Weird Science" (do filme 'Weird Science', 1985)
Música e Letra: Danny Elfman | Interpretação: Oingo Boingo
Numa frase: A música que nos tira as dúvidas de como Danny Elfman (compositor e cantor dos Oingo Boingo mas também futuro compositor de bandas sonoras) criou uma amizade com Tim Burton e se tornou o seu compositor de excelência. Agora interpretem isto como quiserem!
"Try a little tenderness " (do filme 'Pretty In Pink', 1986)
Música e Letra: Jimmy Campbell, Reg Connelly e Harry M. Woods | Interpretação: Otis Redding
Numa frase: A cena pode ser uma 'mera' imitação da de 'Twist and Shout' e Jon Cryer pode ser uma 'mera' mistura de Ferris Bueller e do The Geek de 'Sixteen Candles', mas deita sem dúvida a casa abaixo com o seu playback do clássico de Otis Redding.
Música e Letra: Danny Elfman | Interpretação: Oingo Boingo
Numa frase: A música que nos tira as dúvidas de como Danny Elfman (compositor e cantor dos Oingo Boingo mas também futuro compositor de bandas sonoras) criou uma amizade com Tim Burton e se tornou o seu compositor de excelência. Agora interpretem isto como quiserem!
"Try a little tenderness " (do filme 'Pretty In Pink', 1986)
Música e Letra: Jimmy Campbell, Reg Connelly e Harry M. Woods | Interpretação: Otis Redding
Numa frase: A cena pode ser uma 'mera' imitação da de 'Twist and Shout' e Jon Cryer pode ser uma 'mera' mistura de Ferris Bueller e do The Geek de 'Sixteen Candles', mas deita sem dúvida a casa abaixo com o seu playback do clássico de Otis Redding.
"Hazy Shade of Winter" (do filme 'Less Than Zero', 1987)
Música e Letra: Paul Simon | Interpretação: The Bangles
Numa frase: A maior girls-band pop rock dos anos 1980 a fazer uma cover de Simon e Garfunkle! É preciso dizer mais? É. Grande riff de guitarra a enquadrar o lado mais negro do brat pack.
"If you were here" (do filme 'Sixteen Candles', 1984)
Música, Letra e Interpretação: Thompson Twins
Numa frase: Quando uma das maiores comédias dos anos 1980 se recorda que tem de regressar à sua parte de 'romance adolescente' para fechar a trama, precisa de uma música adequada, de um sussurro romântico. Esta é essa música, este é esse sussurro.
"She's Having A Baby" (do filme 'She's Having A Baby', 1988)
Música e Letra: Paul Simon | Interpretação: The Bangles
Numa frase: A maior girls-band pop rock dos anos 1980 a fazer uma cover de Simon e Garfunkle! É preciso dizer mais? É. Grande riff de guitarra a enquadrar o lado mais negro do brat pack.
"If you were here" (do filme 'Sixteen Candles', 1984)
Música, Letra e Interpretação: Thompson Twins
Numa frase: Quando uma das maiores comédias dos anos 1980 se recorda que tem de regressar à sua parte de 'romance adolescente' para fechar a trama, precisa de uma música adequada, de um sussurro romântico. Esta é essa música, este é esse sussurro.
"She's Having A Baby" (do filme 'She's Having A Baby', 1988)
Música e Letra: Dave Wakeling e Ian Ritchie | Interpretação: Dave Wakeling
Numa frase: Enervantemente repetitiva, mas enervantemente catchy, como só uma música dos anos 1980 consegue ser.
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