Realizador: Douglas McCarthy
Actores principais: Bill Farmer, Jason Marsden, Jeff Bennett
Duração: 76 min
Crítica: 'An Extremely Goofy Movie', lançado directamente-para-VHS no ano 2000, é a sequela do fantástico (e eu quero mesmo dizer fantástico!) 'A Goofy Movie' (já criticado em EU SOU CINEMA). 'A Goofy Movie', a primeira longa metragem dedicada à personagem do Pateta, foi o terceiro filme do DisneyToon Studios, um estúdio subsidiário da Disney, fundado no início dos anos 1990 com o objectivo de capitalizar no então emergente mercado de VHS e dar oportunidades a novos talentos, produzindo filmes das grandes séries do Disney Channel (como o grande 'DuckTales the Movie', 1993), ou sequelas menores dos mais famosos filmes de animação da Disney. Desde então, o DisneyToons tem lançado vários filmes por ano, nunca se acanhando em produzir mais sequelas dos seus próprios filmes conforme necessidade. 'Lion King 2' (1998), por exemplo, teve a sequela 'Lion King 1/2' (2004) já na era do directo-para-DVD. Mais recentemente tivemos o sucesso do spin-off de 'Cars'; 'Planes' (2013 - tão bem sucedido que até foi lançado no grande ecrã), seguido de 'Planes: Fire and Rescue' (2014). E claro, o estúdio agora anda dedicado a produzir todos os filmes da Sininho (seis filmes desde 2008). Mas nos anos 1990, se o estúdio tinha uma jóia da coroa a pedir sequela, então essa jóia era o soberbo (a sério, não há palavras para descrever este filme) 'A Goofy Movie', um enorme sucesso crítico e até comercial.
Infelizmente a sequela deixa bastante a desejar e, na minha humilde opinião, mais valia não ter sido feita, já que a sua qualidade é tão fraca em termos cinematográficos (talvez seja melhorzita se o considerarmos em termos de entretenimento infantil), que praticamente constitui uma ofensa ao filme original.
Visto que o realizador de 'A Goofy Movie', Kevin Lima, já tinha avançado para coisas mais ambiciosas ('Tarzan', 1999), 'An Extremely Goofy Movie' ficou a cargo de Douglas McCarthy, realizador de séries animadas dos anos 1990 como 'Taz-Mania' e animador de outras tantas como 'Tiny Toons', aqui no seu primeiro (e único até hoje) filme como realizador. O resultado não é contudo completamente insatisfatório. Tal como outras sequelas da Disney realizadas ao longo dos anos 1990 e 2000 sem passagem pelo grande ecrã (ou seja feitas directamente para VHS ou DVD), 'An Extremely Goofy Movie' tem excelentes visuais e soberbos desenhos, exacerbados por backgrounds coloridos por meios informáticos que fascinarão as crianças e os adultos mais sensíveis à arte da animação (a sério, experimentem ver por exemplo 'Lady and the Tramp II: Scamp's Adventure', 2001, em blu-ray - brutal!). O problema, como sempre nestes filmes menores feitos apressadamente, é que a sua historieta é extremamente pobre e não faz jus ao visual.
O primeiro filme é, sinceramente, uma das melhores obras animadas sobre a relação pai/filho alguma vez feita (e já se fizeram muitas). A sua simplicidade e beleza narrativa é um trunfo, e a sua alegria cómica aliada a uma moral sobre o crescimento é um triunfo. Já o segundo filme está a milhares de anos luz de distância. Este filme apanha Max, o filho de Pateta, pouco tempo depois do primeiro filme terminar, a caminho do seu ano de caloiro na faculdade. Ansioso por finalmente sair da casa paterna, Max vai cheio de esperanças para a cidade universitária, como outrora, no primeiro filme, havia saído de casa cheio de sonhos para o Verão que se aproximava. Contudo, a sua diversão no típico campus americano e a sua longa esperada liberdade são postas em causa com a chegada do próprio Pateta. Cheio de saudades do filho e depois de perder o emprego e sem um diploma para conseguir arranjar outro, Pateta decide inscrever-se na mesma Universidade! Ups. O desespero de qualquer filho, certo?! Principalmente se o seu pai é o Pateta! Esta premissa até de certa forma interessante é contudo parcamente explorada. Max tem a necessidade de encontrar o seu lugar na imensa horde de estudantes (os cool, os alternativos, os nerd), mas o enorme catalisador do arco clássico do inicial desentendimento e posterior entendimento entre pai e filho (que, com a sua viagem, havia sido o segredo do primeiro filme) aqui acaba por ser representado sob a forma banal de uns jogos radicais universitários, com Max e o pai a irem parar a equipas rivais... (Numa nota, tenho para mim que toda a história dos jogos universitários deste filme foi rudemente roubada pelos tipos que fizeram 'Monsters's University'...).
No desenrolar previsível da sua história, 'An Extremely Goofy Movie' apresenta o mínimo necessário, só e apenas isso, para mais ou menos imitar (sem grande sucesso) a estrutura emocional e narrativa do primeiro filme. Já não é um grande filme coming of age. Já não há aquele arco magnífico na história entre o pai e o filho. O argumento já não está bem escrito; está cheio de situações extremamente forçadas para conceber os clássicos momentos de tensão e dilema, e quase todas as personagens que possui são estereotipadas. E a sua moral final sai directamente de uma linha de montagem. Mesmo assim, há ainda algumas (embora poucas) coisas que ainda chamam a atenção pela positiva, algum dialogo mais bem construído, alguma sequência mais bem trabalhada, que nos permitem por momentos recapturar a essência da série 'Goof Troop', no qual estes filmes se baseiam, e claro, a magia do primeiro filme. O melhor momento surge num pequeno pormenor surrealmente delicioso, quando uma personagem pergunta, olhando para as suas próprias mãos, porque é que eles, as personagens do universo 'Pateta', estão sempre de 'luvas'?! À falta de melhor, é engraçado.
Mas no global, na minha perspectiva, o filme só consegue realmente ser bem sucedido (talvez seja esse o seu objectivo) no departamento de arranjar todos os possíveis artifícios para fazer com que um conjunto de crianças fique a olhar para a televisão sem se distrair muito durante 75 minutos. A sua oca profundidade, a sua moral de trazer por casa, e os seus desenhos coloridos e, passe a redundância, animados, provavelmente cumprirão sem grande dificuldade esse objectivo. Falta é o resto, que o filme não dá por um motivo muito simples: não tem. Este filme não foi feito, como o primeiro, do coração. Este filme foi feito para fazer mais uns trocos, impingir o DVD (um formato que então tinha acabado de sair) aos pais e para mais tarde encher a programação do Disney Channel. É um filme feito para os pais porem as suas crianças a ver num sábado de manhã, para estas acalmarem durante uma horita, e que certamente esquecerão passados trinta segundos do final. Poder-me-ão dizer que isso possibilitará que as crianças possam vê-lo vezes sem conta, rentabilizando assim o investimento dos pais, mas não é a mesma coisa do que ver e rever um filme por prazer, como revemos 'Beauty and the Beast' ou o próprio 'A Goofy Movie'.
'An Extremely Goofy Movie' não tem, repito, não tem absolutamente nada a ver com a magistral obra prima que, muito sorrateiramente, sem ninguém se aperceber disso, foi concebida no primeiro filme faz agora vinte anos. Esse é o imortal, esse é o que deve figurar nos livros da especialidade e passar de pais para filhos como um legado emocional. Já 'An Extremely Goofy Movie' tem muito pouco de emocional para oferecer, e ainda menos para o adulto que gosta de animação. Resta-nos a esperança de que poderá ser uma delícia para as crianças e os pré-adolescentes (mas só eles o poderão dizer, não eu). Isto é, uma delícia apenas no momento em que o estão a ver. Se alguma vez precisarem de uma delícia intemporal, para criarem memórias e afectos, para aprenderem a crescer, e reconhecerem o valor dos seus pais, não irão encontrar nada disso aqui. Mas para isso é que existe, agora e sempre, o original 'A Goofy Movie'...
Visto que o realizador de 'A Goofy Movie', Kevin Lima, já tinha avançado para coisas mais ambiciosas ('Tarzan', 1999), 'An Extremely Goofy Movie' ficou a cargo de Douglas McCarthy, realizador de séries animadas dos anos 1990 como 'Taz-Mania' e animador de outras tantas como 'Tiny Toons', aqui no seu primeiro (e único até hoje) filme como realizador. O resultado não é contudo completamente insatisfatório. Tal como outras sequelas da Disney realizadas ao longo dos anos 1990 e 2000 sem passagem pelo grande ecrã (ou seja feitas directamente para VHS ou DVD), 'An Extremely Goofy Movie' tem excelentes visuais e soberbos desenhos, exacerbados por backgrounds coloridos por meios informáticos que fascinarão as crianças e os adultos mais sensíveis à arte da animação (a sério, experimentem ver por exemplo 'Lady and the Tramp II: Scamp's Adventure', 2001, em blu-ray - brutal!). O problema, como sempre nestes filmes menores feitos apressadamente, é que a sua historieta é extremamente pobre e não faz jus ao visual.
O primeiro filme é, sinceramente, uma das melhores obras animadas sobre a relação pai/filho alguma vez feita (e já se fizeram muitas). A sua simplicidade e beleza narrativa é um trunfo, e a sua alegria cómica aliada a uma moral sobre o crescimento é um triunfo. Já o segundo filme está a milhares de anos luz de distância. Este filme apanha Max, o filho de Pateta, pouco tempo depois do primeiro filme terminar, a caminho do seu ano de caloiro na faculdade. Ansioso por finalmente sair da casa paterna, Max vai cheio de esperanças para a cidade universitária, como outrora, no primeiro filme, havia saído de casa cheio de sonhos para o Verão que se aproximava. Contudo, a sua diversão no típico campus americano e a sua longa esperada liberdade são postas em causa com a chegada do próprio Pateta. Cheio de saudades do filho e depois de perder o emprego e sem um diploma para conseguir arranjar outro, Pateta decide inscrever-se na mesma Universidade! Ups. O desespero de qualquer filho, certo?! Principalmente se o seu pai é o Pateta! Esta premissa até de certa forma interessante é contudo parcamente explorada. Max tem a necessidade de encontrar o seu lugar na imensa horde de estudantes (os cool, os alternativos, os nerd), mas o enorme catalisador do arco clássico do inicial desentendimento e posterior entendimento entre pai e filho (que, com a sua viagem, havia sido o segredo do primeiro filme) aqui acaba por ser representado sob a forma banal de uns jogos radicais universitários, com Max e o pai a irem parar a equipas rivais... (Numa nota, tenho para mim que toda a história dos jogos universitários deste filme foi rudemente roubada pelos tipos que fizeram 'Monsters's University'...).
No desenrolar previsível da sua história, 'An Extremely Goofy Movie' apresenta o mínimo necessário, só e apenas isso, para mais ou menos imitar (sem grande sucesso) a estrutura emocional e narrativa do primeiro filme. Já não é um grande filme coming of age. Já não há aquele arco magnífico na história entre o pai e o filho. O argumento já não está bem escrito; está cheio de situações extremamente forçadas para conceber os clássicos momentos de tensão e dilema, e quase todas as personagens que possui são estereotipadas. E a sua moral final sai directamente de uma linha de montagem. Mesmo assim, há ainda algumas (embora poucas) coisas que ainda chamam a atenção pela positiva, algum dialogo mais bem construído, alguma sequência mais bem trabalhada, que nos permitem por momentos recapturar a essência da série 'Goof Troop', no qual estes filmes se baseiam, e claro, a magia do primeiro filme. O melhor momento surge num pequeno pormenor surrealmente delicioso, quando uma personagem pergunta, olhando para as suas próprias mãos, porque é que eles, as personagens do universo 'Pateta', estão sempre de 'luvas'?! À falta de melhor, é engraçado.
Mas no global, na minha perspectiva, o filme só consegue realmente ser bem sucedido (talvez seja esse o seu objectivo) no departamento de arranjar todos os possíveis artifícios para fazer com que um conjunto de crianças fique a olhar para a televisão sem se distrair muito durante 75 minutos. A sua oca profundidade, a sua moral de trazer por casa, e os seus desenhos coloridos e, passe a redundância, animados, provavelmente cumprirão sem grande dificuldade esse objectivo. Falta é o resto, que o filme não dá por um motivo muito simples: não tem. Este filme não foi feito, como o primeiro, do coração. Este filme foi feito para fazer mais uns trocos, impingir o DVD (um formato que então tinha acabado de sair) aos pais e para mais tarde encher a programação do Disney Channel. É um filme feito para os pais porem as suas crianças a ver num sábado de manhã, para estas acalmarem durante uma horita, e que certamente esquecerão passados trinta segundos do final. Poder-me-ão dizer que isso possibilitará que as crianças possam vê-lo vezes sem conta, rentabilizando assim o investimento dos pais, mas não é a mesma coisa do que ver e rever um filme por prazer, como revemos 'Beauty and the Beast' ou o próprio 'A Goofy Movie'.
'An Extremely Goofy Movie' não tem, repito, não tem absolutamente nada a ver com a magistral obra prima que, muito sorrateiramente, sem ninguém se aperceber disso, foi concebida no primeiro filme faz agora vinte anos. Esse é o imortal, esse é o que deve figurar nos livros da especialidade e passar de pais para filhos como um legado emocional. Já 'An Extremely Goofy Movie' tem muito pouco de emocional para oferecer, e ainda menos para o adulto que gosta de animação. Resta-nos a esperança de que poderá ser uma delícia para as crianças e os pré-adolescentes (mas só eles o poderão dizer, não eu). Isto é, uma delícia apenas no momento em que o estão a ver. Se alguma vez precisarem de uma delícia intemporal, para criarem memórias e afectos, para aprenderem a crescer, e reconhecerem o valor dos seus pais, não irão encontrar nada disso aqui. Mas para isso é que existe, agora e sempre, o original 'A Goofy Movie'...
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