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Top 25 – genéricos de abertura favoritos

Uma das maiores infelicidades do cinema moderno (principalmente o americano) é a perda do genérico inicial. Hoje em dia, o cinema vive na ilusão que o genérico é apenas um conjunto de letras desnecessárias que ninguém quer ler. Verdade que nas primeiras décadas do cinema, o genérico não era muito imaginativo, mas não só permitia ao espectador saber o que estava a ver, quem o tinha feito e quem entrava (muitas vezes até com direito a retrato) – verdadeiros programas do espectáculo como aqueles que são distribuídos no teatro ou na ópera – como a própria música (tratada com um respeito que hoje não tem) enquadrava o espectador no tom e no ambiente da história.

Para mim é precisamente essa a grande valência do genérico, essa capacidade de criar um momento de habituação, de transição entre a vida real e a arte ilusória do cinema, tal como aquele momento em que os mergulhadores têm de aguardar antes de chegar à superfície, para habituarem o corpo à pressão do ar. Hoje em dia há no cinema uma desesperada procura de realismo (até nos filmes mais fantasiosos como os de super-heróis) e o genérico cortaria essa aura. Por outro lado, tratasse o público como crianças, tem-se um enorme medo que eles se enfadem como tudo, por isso quanto mais depressa o filme começar melhor. Acho mal. Até porque, dos anos 1950 em diante, mestres como Maurice Binder (ver genéricos de James Bond) ajudaram a elevar a arte do genérico até outro patamar. Eles próprios momentos de arte dentro da arte do filme. Eles próprios, se forem bons, uma parte integrante do filme, indissociável da viagem emocional, ou de acção, ou de comédia, ou de entretenimento, que ele nos vai contar.

É isso que um bom genérico pode oferecer. Não uma mera listagem de actores e técnicos, mas já um elemento crucial do filme. É isso que os produtores de hoje parecem ter-se esquecido: que, aquando do genérico, o filme já começou. Para além do mais, a verdadeira beleza é que não é preciso, para um bom genérico funcionar, criar animações ou pôr as letras a saltar (embora às vezes até resulte bastante bem!). Woody Allen consegue ser extremamente eficaz com as suas letras brancas em fundo preto, desde que a selecção de musica seja a apropriada. Geralmente é. E quem não se recorda do genérico de ‘Ben-Hur’, com imagens da Capela Sistina? Quem viu o filme percebe perfeitamente o porquê dessa escolha.

A semana passada iniciei uma contenda pelos filmes de animação em língua original em Portugal. Esta semana o meu apelo é para o regresso do genérico inicial ao cinema em geral. E para suportar o meu apelo, ficam aqui 25 dos meus genéricos preferidos da história do cinema. De novo a palavra chave é ‘favorito’. Podem não ser os melhores (o leitor certamente preferirá outros), mas estes são aqueles que eu cresci a adorar e a rever uma e outra vez. Caro leitor, desfrute desta selecção e tenha umas boas férias de Verão… com bons filmes claro!!!


25. Any Which Way You Can (1980, dir. Buddy Van Horn)

Só coloquei este aqui por piada. Não é particularmente um grande genérico, mas quantas oportunidades é que tivemos de ouvir o próprio Clint Eastwood a cantar num genérico de um dos seus filmes? Pois, precisamente uma. Aqui. E ainda por cima em dueto com Ray Charles...




24. The Pink Panther (1963, dir. Blake Edwards)

Um clássico. Tão poderosamente engraçado, com uma grande ajuda da banda sonora de Henry Mancini, que a pantera se tornou um ícone e teve direito a uma série de desenhos animados depois disto. A única personagem a estrear-se num genérico que conseguiu ter a sua própria série! Não é coisa pouca...





23. Les parapluies de Cherbourg (1964, dir. Jacques Demy)

Simples, geométrico, eficaz, profundo. As coordenadas do próprio filme, sob o tema de Michel Legrand. A solidão das pessoas à chuva. As pessoas que se cruzam e não se conhecem. Os encontros e os desencontros. A beleza trágica do amor.



22. Gunfight at the O.K. Corral (1957, dir. John Sturges)

Um dos fundamentais westerns da Hollywood clássica inicia-se com um genérico de visual costumeiro mas que se transcende (e de que maneira) com uma poderosíssima balada sobre o dever, interpretada pela inconfundível e incontornável voz de Frankie Laine. Costumo ver duas ou três vezes, antes de prosseguir com o filme.




21. Austin Powers: International Man of Mystery (1997, dir. Jay Roach)

Meia dose de 'Hard Day's Night', duas colheres de flower power, uma pitada de irreverência, mexer tudo com muita dança e voilá. Magia cinematográfica vintage Mike Myers, com enorme cor, alegria e boa disposição, elementos fundamentais para entrar no universo deste filme. CRÍTICA JÁ DISPONÍVEL




20. Life of Brian (1979, dir. Terry Jones)

O que acontece quando se mistura um genérico de James Bond com as animações de Terry Gilliam e o humor surreal de Monty Python? Precisamente, sem tirar nem pôr, o genérico de 'Life of Brian'. É só para quem pode...





19. The Liquidator (1965, dir. Jack Cardiff)

A resposta da MGM aos filmes de James Bond tinha que ter, obrigatoriamente, o seu genérico. Não olhando a despesas, até conta com a voz da inconfundível Shirley Bassey, numa poderosa balada. Mas não é só isso que se destaca. A animação é também extremamente inventiva, uma das melhores do spy-fi dos anos 1960. Adoro a sombra.



18. Gake no ue no Ponyo (2008, dir. Hayao Miyazaki)

Desenhos propositadamente simples, como os feitos pelas crianças, mas imbuídos de enorme beleza. Uma música etérea de Joe Hisaishi. O desaguo numa cena inicial de animação de cortar a respiração. O engenho da simplicidade. Brilhante.



17. The Circus (1928, dir. Charles Chaplin)

O genérico da versão restaurada por Chaplin em 1968 conta com a voz do próprio (com quase 80 anos de idade!) a cantar o tema principal. Magnífico. Um genérico incrivelmente simples mas extremamente eficaz, que nos mergulha no universo nostálgico do cinema de Chaplin.



16. Barbarella (1968, dir. Roger Vadim)

Palavras para quê? Maurice Binder a cargo do genérico, Vadim a realizar, Jane Fonda a fazer um strip em gravidade zero. O genérico de 'Barbarella' é uma obra de arte a todos os níveis, do técnico ao erótico, e o início perfeito para a trip flower power que este filme é. CRÍTICA JÁ DISPONÍVEL



15. Miller's Crossing (1990, dir. Joel e Ethan Coen)

Sempre adorei. A música de Carter Burwell é genial. E a criação assenta apenas em dois elementos; a floresta e um chapéu, ambos com enorme significado no filme. A simplicidade dos irmãos Coen num dos minutos mais perfeitos do cinema dos anos 1990. Uma pena que não se encontre no Youtube. Fica a música.



14. Le Mépris (1963, dir. Jean-Luc Godard)

Só Godard para ter a irreverência de fazer um genérico sem letras, totalmente falado, ao mesmo tempo que quebra as barreiras entre o cinema e a realidade. A partir do momento em que  o director de fotografia Raoul Coutard vira a câmara para nós, somos desconcertados pela dualidade do filme: uma gigantesca lição de cinema, mas também um expoente máximo da Nouvelle Vague. É nos sentimentos que estes extremos se encontram, e nunca tão bem como em 'Le Mepris'. Daqui, saltamos para a cena das partes do corpo de Brigitte Bardot. Há melhor começo?



13. Ben-Hur (1959, dir. William Wyler)

A criação do Homem na Capela Sistina. Quer pelo seu significado religioso, quer pelo seu significado artístico, não parece haver outro background possível para o genérico de um filme com a dimensão de 'Ben-Hur'. E se juntarmos a isso a banda sonora de Miklos Rozsa, então está tudo pronto para mergulharmos no mais épico dos épicos. Que venham as 4 horas seguintes.



12. Les demoiselles de Rochefort (1967, dir. Jacques Demy)

Há quem não goste de musicais porque não consegue aceitar a transição entre a realidade filmada e a realidade imaginária em que os actores começam, de repente, a cantar e a dançar no meio da rua. Eu gosto, precisamente por causa disso. E o mestre dos mestres a fazê-lo, como este genérico tão bem comprova, era Jacques Demy, com a sempre presente ajuda de Michel Legrand. Assim se introduz o maior filme feel-good de todos os tempos, de mansinho com injecções de energia. É um genérico tentador, a criar antecipação para o que está para vir... CRÍTICA JÁ DISPONÍVEL



11. Casino Royale (1967, dir. Ken Hughes, John Huston, Joseph McGrath, Robert Parrish, Richard Talmadge)

Hilariante. Um filme totalmente anárquico, com cinco realizadores, ainda mais argumentistas, e uma carrada de estrelas. Tudo a gozar com James Bond. O genérico partilha dessa anarquia, com brilhantes animações que salientam a secção da sopro da música de Burt Bacharach. Mesmo assim, consegue ser a sequência mais coerente e lógica de todo o filme. A paródia spy-fi realmente começou aqui, nestes dois minutos.



10. Psycho (1960, dir. Alfred Hitchcock)

A prova talvez mais conseguida de sempre de como a animação de letras e um pouco de música (Bernard Herrmann, o rei) podem gerar um genérico brilhante. Quando acaba o espectador fica realmente com uma sensação desconfortável a percorrer-lhe o corpo (chamem-lhe medo, chamem-lhe suspense, chamem-lhe o que quiserem) e quando a música de súbito cessa e assistimos ao zoom-in ao prédio, sabemos perfeitamente que isto não vai ser um filme qualquer...



9. Guardians of the Galaxy (2014, dir. James Gunn)

Agradeci aos céus na sala de cinema depois de ter visto isto. De repente, não só percebi que este filme ia ser especial, como percebi que afinal na América ainda há alguém que acredita no poder do genérico inicial e que sabe usá-lo perfeitamente em prol do filme. Aqui entramos na onda que terá todo o filme; a comédia ligeira ao som do pop-rock dos anos 1970, com carradas de auto-gozo e grande consciência kitsch. Magnífico. Para ver e rever, juntamente com o filme. CRÍTICA JÁ DISPONÍVEL



8. Carlito's Way (1993, dir. Brian De Palma)

Artístico, poético, pungente, brilhantemente executado. Assim se inicia um dos mais espectaculares filmes de gangsters alguma vez feitos, ao som da fabulosa banda sonora de Patrick Doyle. A cena é tão forte que condiciona todo o filme, atribuindo-lhe uma aura trágica que nunca conseguirá sacudir. Esta introdução engata com um dos monólogos iniciais mais bem escritos da história do cinema moderno, mas que infelizmente não se consegue ver neste clip do Youtube...



7. Il buono, il brutto, il cattivo (1966, dir. Sergio Leone)

Western, explosões, Sergio Leone e Ennio Morricone. É uma mistura que todos sabemos que resulta. Agora com aguarelas ao barulho a coisa já poderia parecer mais dúbia. Mas é só começar a ver este genérico para todas as dúvidas se desfazerem. Vibrante, intenso, um tour de force que nos empurra para dentro do western mais grandioso de que há memória. Empurra-nos, com um chuto no rabo e o grito do coiote. Leone diz-nos que está prestes a partir tudo, dentro e fora do ecrã. E está mesmo!



6. 25th Hour (2002, dir. Spike Lee)

Parece justo que o melhor filme americano da década de 2000 seja também aquele com o melhor genérico. Enquanto todos os outros realizadores estavam preocupados em retirar digitalmente as Torres Gémeas dos seus filmes prestes a estrear, Spike Lee encara o problema da Nova Iorque pós 11 de Setembro de frente, e transforma o sentimento que pairava pela cidade numa parte integrante do seu filme e das suas personagens. A poderosa balada de Terrence Blanchard completa o quadro de um genérico tão forte emocionalmente que chega a ser assustador.




5. Much Ado About Nothing (1993, dir. Kenneth Branagh)

O filme é imensamente solarengo, imensamente apaixonado, imensamente alegre. E o genérico representa todas essas características. Aqui, mais do que em nenhum outro filme, Branagh demonstra o seu olho para a composição cénica. O genérico, coreografado até ao ínfimo detalhe mas que se desenrola de uma forma extremamente natural, é um hino ao prazer da vida e do reencontro, e na mesma cajadada, introduz todas as personagens da intriga. Fascinante. Patrick Doyle, mais uma vez, é o génio por detrás do virtuoso tema. CRÍTICA JÁ DISPONÍVEL



4. North by Northwest (1959, dir. Alfred Hitchcock)

Épico e frenético, a vida na grande cidade é reduzida ao ridículo pelo grande mestre do suspense e pela banda sonora de Bernard Herrmann, ao mesmo tempo que antecipam que todo o filme vai ter este mesmo ritmo imparável. E tem. Como cereja em topo do bolo, ainda temos o melhor cameo de Hitchcock de sempre; a perder um autocarro mesmo no final.



3. To Kill a Mockingbird (1962, dir. Robert Mulligan)

Uma extrema delicadeza na fotografia e no descobrir dos objectos pelo olhar de uma criança. Tanta, que até a música de Elmer Bernstein tem vergonha de começar. O genérico de 'To Kill a Mockingbird' é muito mais que uma peça de arte. É uma lição de inocência e de simplicidade, mas ao mesmo tempo uma memória nostálgica, quiçá pesada, da forma como se pode perder ambas as coisas com o passar do tempo.



2. The Rocky Horror Picture Show (1975, dir. Jim Sharman)

Absolutamente fabuloso, com elementos que se tornaram de culto. Uma música inspirada nos filmes de terror e ficção científica dos anos 1930-1950 (ver a minha crónica 'Science Fiction / Double Feature'), as letras vermelho sangue, e a deliciosa boca de Patricia Quinn a fazer as honras. Uma delícia para entrar no "prazer absoluto". Infelizmente, não encontro o genérico no Youtube. Fica a música.




1. James Bond - Toda a saga

Nenhuma destas listas estaria completa sem um genérico (oficial) de James Bond. Em representação da saga, fica aqui o genérico de 'Goldfinger' (1963), a primeira vez em que tudo funcionou em pleno; a canção, a voz, os corpos, as sombras, as letras. Hoje parece simples. Mas não é.


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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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