Realizador: Oliver Parker
Actores principais: Rowan Atkinson, Roger Barclay, Rosamund Pike
Duração: 101 min
Crítica: Sejamos sinceros. O primeiro ‘Johnny English’ (2003) era (muito) fraquinho. Surpreendentemente, foi escrito pela dupla Neal Purvis e Robert Wade (responsáveis pelos filmes do James Bond desde ‘The World is not Enough’), mas estes senhores, tão versados na acção e nos conceitos de espionagem, claramente percebem menos de comédia. A sua tentativa de gozar com todos os seus próprios clichés foi demasiado exagerada e tornou o filme uma paródia de si mesmo, com um argumento ridículo a roçar o patético (John Malkovich um francês que quer ser rei de Inglaterra?!), e com sequências que apesar de engraçadinhas, tinham pouca piada.
Contudo, tal como o genial ‘Mr. Bean’s Holiday’ (2007) redimiu a imagem cinematográfica de Mr. Bean depois do desastre que foi ‘Bean’ (1997), esse sell-out Hollywoodesco de fraquíssima qualidade, assim também ‘Johnny English Reborn’ redime a imagem de ‘Johnny English’. E não será por acaso que o argumentista de ambas as redenções seja o mesmo (Hamish McColl). Para começar, ‘Johnny English Reborn’ tem um argumento que (exceptuando, obviamente, as partes de comédia), poderia perfeitamente encaixar num filme de acção/espionagem de mediana qualidade. Isto torna o filme interessante (apesar de muito previsível), e dá-lhe uma consistência de base que falta à maioria das paródias.
A misteriosa organização Vortex, com agentes infiltrados nas melhores agências do mundo (CIA, MI7, etc), está a planear um assassinato ao primeiro-ministro chinês. Um delator aceita falar, mas apenas com Johnny English, pelo que o MI7, que o dispensara anos antes por incompetência, vai buscá-lo ao Tibete. De regresso, English pavoneia-se hilariantemente, dando a volta ao Mundo para resolver o mistério e impedir o assassinato. Desde uma Macau confundida com Hong Kong (um erro natural mas que não cai bem aos Portugueses), aos subúrbios Londrinos, a uma mansão muito bondesca no topo de uma montanha na Suiça, English, auxiliado pelo novo agente Daniel Kaluuya, pela psicóloga Rosamund Pike (bond girl de ‘Die Another Day’), e chateado inúmeras vezes pela chefe Gillian ‘Skully’ Anderson, tem um dia em cheio.
Tal como o alterar as personalidades entre Baldrick e Blackadder da primeira para a segunda série de ‘BlackAdder’ fez toda a diferença, aqui também dar a English a inteligência que faltava no primeiro filme tornou o espião muito mais hilariante. English já não é o pateta que salva o Mundo sem saber como. Desde o seu renascimento no Tibete, English é agora muito mais maduro. Os seus métodos de trabalho (e alguma incredulidade) é que são hilariantes. E o público responde muito melhor a isso do que a uma assumida incompetência. Para além do mais, a comédia é mais física e visual do que propriamente falada, e as múltiplas hilariantes sequências não se apoiam na paródia directa à espionagem para funcionar, mas sim na forma como se estruturam, o que é sempre uma lufada de ar fresco. Contudo, apenas um punhado de vezes é o filme verdadeiramente engraçado (a sequência da perseguição nos telhados de Macau a melhor delas todas, embora haja outras, como o saco da morgue aos saltos), e há varias sequências à la Bond sem uma única piada (ou se existem, não me ri). Vistas sozinhas, bem podiam estar num filme Bond que ninguém notaria a diferença. Na sua demanda por consistência e seriedade, o realizador Oliver Parker (que até faz um bom trabalho) esqueceu-se que estava a fazer uma comédia. Uma mais cuidada união das cenas de enquadramento e de comédia tornaria o filme melhor, mas não podemos ser muito exigentes. ‘Johnny English Reborn’ já é suficiente melhor que ‘Johnny English’ para uma pessoa se dar por satisfeita, e rir a bom rir umas quantas de vezes. A mim convenceu-me. Poderá até ser a melhor comédia de 2011.
É este o Johnny English que eu vou recordar. O primeiro filme está completamente apagado da minha cabeça.
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