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Up in the Air

Ano: 2009

Realizador: Jason Reitman

Actores Principais: George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick

Duração: 109 min

Crítica: Filmes como ‘Up in the Air’ não são raros, e o seu conceito não é novo. O que é mais raro é este tipo de filme ser feito com actores do ‘mainstream’ e ter uma distribuição global subsidiada por um grande estúdio. Claro que isto era inevitável, já que o filme anterior do realizador Jason Reitman (filho de Ivan Reitman, realizador de ‘GhostBusters’ ou ‘Kindergarden Cop’) tinha sido a comédia independente ‘Juno’ (2007), um mega-sucesso de bilheteira. Contudo esta apropriação feita pelo ‘filme de estúdio’ ao ‘filme independente’ não é tão prejudicial como poderia ser. ‘Up in the Air’ acaba por ter o melhor dos dois mundos, pois é fiel aos seus valores e ao seu estilo, mas depois acaba por ter uma camada de lustro associada às grandes produções. Resumidamente é um filme simpático, fluido, que se vê bem e que, embora enverede pela moral batida da ‘vida-vale-a-pena-ser-vivida’, tem, surpreendentemente, um twist que obriga o espectador a recolocar os pés na terra e o lembra de que está a ver algo mais parecido com a realidade do que propriamente um filme.

George Clooney é mais do que uma personagem principal. É o âmago do filme. Verdade que este é o tipo de filmes que os actores conhecidos fazem de quando em quando para se expurgarem de outras produções milionárias mas com pouca qualidade artística, serem considerados como ‘actores sérios’ e ganharem prémios. Mas muita da consideração por estes actores está no argumento, nas cenas e no tema do filme e não, na realidade, na sua performance. Este não é o caso de Clooney neste filme. A sua presença é indispensável ao filme, e esta é sem dúvida uma das melhores performances da sua carreira. Na verdade Clooney não está mais brilhante nem pior do que em qualquer outra actuação. Ele é um daqueles actores que tem sempre a mesma personagem de ecrã, independentemente do papel que está a fazer. Mas neste caso (tal como no caso do filme ‘O Brother Where Art Thou’, 2000, dos irmãos Coen) a personagem adequa-se tão bem a Clooney que a simplicidade e naturalidade da sua actuação dá energia, cor e profundidade a um filme que apesar do seu argumento bem construído poderia falhar com um actor menos adequado no papel principal. A mesma fórmula, por exemplo, resultou muito pior no recente The Descendants’ (2011) de Alexander Payne, pois aí Clooney é só Clooney. Aqui Clooney é algo mais apelativo.

A história segue um arco comum. É-nos apresentada a rotina de um homem solteiro e solitário pelos seus quarenta anos, mas que contudo é feliz, pois faz aquilo que acha que gosta. A sua rotina consiste em viajar para todos os pontos da América e despedir, cara a cara, trabalhadores de empresas. Este tema do homem que dá a cara por uma corporação já tinha sido visto no primeiro filme de Reitman, ‘Thank You For Smoking’ (2005), mas enquanto aí a espalhafatosidade, o show, era central, aqui há uma intimidade nas suas entrevistas individuais, e obviamente uma tentativa de controlo emotivo por parte de Clooney para não se deixar afectar pelas vidas que está a influenciar indirectamente. Enquanto a rotina se mantém, os aviões, os hotéis, a impersonalidade, a falta de compromisso, tudo está bem. Mas quando a mudança chega, isso leva-o a reconsiderar os seus valores, o que inevitavelmente conduzirá, no final do filme, à catarse.

Esta mudança toma a forma de três mulheres. A sua irmã, que está prestes a casar-se (que o leva a reconsiderar os valores dos laços familiares e as suas visões sobre o compromisso), a novata assistente que ele tem que treinar e que significa o futuro (interpretada por Anna Kendrick) e o interesse amoroso, que aparenta ser uma versão feminina de Clooney, com as mesmas visões sobre a vida (interpretada por Vera Farmiga). Ambas estas actrizes foram nomeadas para o Óscar de Melhor Actriz Secundária (e ambas perderam para Mo’Nique no filme ‘Precious’), mas enquanto Farmiga tem uma performance interessante e consegue ser uma personalidade atraente, Kendrick é um desastre. Esta foi mais uma daquelas nomeações pelo texto do argumento e não pela representação do actor desse texto. A actriz que pouco mais fez do que entrar em filmes do ‘Twilight’ tem dificuldade em dar entoações às frases e é, na maior parte das vezes, literalmente irritante. Claro que alguns destes elementos fazem parte da personagem (uma jovem ambiciosa, melhor do curso, com ideias artificiais e teóricas mas que não sabe nada da vida real), mas mesmo a pessoa mais convencida e superficial nunca choraria da forma como Kendrick chora na sua cena ‘emocional’. OK, a cena procura ser semi-engraçada, e mostrar que nem chorar direito esta florzinha de estufa consegue. Mas, por amor de Deus, até uma criança de cinco anos que quer chantagear os pais a darem-lhe um brinquedo ou uma bolacha consegue imitar melhor um choro real do que esta actriz ‘nomeada para o Óscar’. Nunca vi ninguém chorar tão mal, em filme algum!

Tirando este e outros pormenores que fazem algum mal ao filme, ‘Up in the Air’ vai seguindo o seu curso natural de uma forma apelativa e interessante. Clooney começa a ponderar o seu estilo de vida, a sentir-se afectado pelas pessoas que despede, a ligar-se cada vez mais (pela primeira vez) a uma mulher, e volta a redescobrir-se através do amor da família e dos amigos. Contudo, o arco que parecia talhado para um final previsível de repente dá uma volta inesperada mas muito agradável de se ver (não porque é, literalmente, agradável, mas porque valoriza o filme). Este twist tem os pés bem assentes no chão, na vida real e nos dilemas dos dias de hoje, embora deixe ainda uma luz, uma réstia de esperança, pois, apesar de tudo, este filme não é deprimente, mas sim um drama ligeiro. Esta forma de terminar o filme é um trunfo forte. Eu apreciei muito os últimos dez minutos a primeira vez que vi o filme no cinema e voltei a aprecia-los hoje, ao revê-los.

Após ‘Thank You For Smoking’ e ‘Juno’, o realizador Jason Reitman continuou a provar que está muito mais à frente do seu pai em termos de qualidade artística de realização. A sua veia independente cruza-se com um apelo às massas. Se às vezes, por causa disto, os filmes têm algumas lacunas emocionais, são no entanto obras de uma simplificada qualidade e profundidade muitas vezes raras de encontrar. Este filme não é uma obra-prima, mas mereceu a atenção que recebeu, pois é suficientemente convincente e apelará à maior parte dos espectadores. Se o tema da crise e do decrescimento de empregos está subjacente à história, o filme tem a inteligência de não tornar isso o seu ponto principal, focando-se em vez disso nas personagens. Aqui está a diferença entre um filme feito chapa cinco para ser bem recebido e ser aclamado como ‘bom’ por críticos sociais, só porque fala dos desempregados, e de um filme realmente bom, porque o que o faz bom vem de dentro, do seu cerne, e não da superficialidade da sua história. Para terminar, recomendo que se veja este filme com alguém especial ao lado. Suponho que seja mais desfrutável desta maneira.

Reitman lançou recentemente o seu quarto filme, com Charlize Theron, ‘Young Adult’ (2011). Infelizmente ainda não tive o prazer de o ver. Digo ‘prazer’ pois os três filmes anteriores do realizador valeram a pena, no seu estilo contido, simpático e pessoal.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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