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Django Unchained

Ano: 2012

Realizador: Quentin Tarantino

Actores principais: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio

Duração: 165 min

Crítica: Quentin Tarantino tem, na sua carreira de realizador/argumentista uma grande falha. Não consegue ter ideias de base originais. Contudo, se a base lhe for dada, consegue, a partir dela, desenvolver filmes especiais e únicos, com personagens e argumentos muito bem trabalhados e situações que chegam ocasionalmente a roçar o brilhantismo. Na óptica do historiador de cinema os seus filmes pecam por ser demasiado dependentes das situações originais, mas esta falha não é vislumbrada pela maioria dos espectadores modernos. Melhor que ninguém, Tarantino consegue transformar o kitsch da história do cinema em cool. E os seus filmes apresentam-se como épicos cools.

Tendo como base o filme ‘Django’ (1966) e as suas múltiplas sequelas (1967, 1968, 1969, 1987) ‘Django Unchained’ não é apenas mais um desses épicos cools, é talvez o melhor épico cool que Tarantino alguma vez produziu. E atrevo-me a afirmar mais, é talvez o melhor western que apareceu no grande ecrã desde ‘Unforgiven’ (1991) de Clint Eastwood.

A primeira parte do filme desenvolve-se como um western bem construído, à la Leone, e aparenta ser uma história de caçadores de prémios. Christoph Waltz, de fala erudita e rápido com o gatilho, liberta o escravo Jamie Foxx (Django) pois este conhece a identidade de três homens que têm a cabeça a prémio. Juntos perseguem estes homens mas esta história esgota-se depressa. A segunda parte do filme é menos um western e mais um épico sulista, com os dois homens a juntarem forças mais uma vez para libertarem a mulher de Django que foi comprada por Leonardo DiCaprio, o rico dono de uma plantação de algodão. Esta parte é mais lenta e detém todas as características de Tarantino, construção pausada e com muita oratória, cenas tensas em que pouco acontece e a explosão em (múltiplos) banhos de sangue. Esta é talvez a grande falha do filme. Os banhos de sangue não são tão bem construídos. Verdade que uma das falhas de ‘Inglorious Basterds’, a exagerada conversa, mais do que aquela que devia suster o ritmo do filme, é ultrapassada. ‘Django Unchained’ é um filme que, nas suas quase três horas, não leva ninguém a olhar para o relógio. Por outro lado (e talvez por questões de tempo) falta a tensão necessária para que o banho de sangue seja justificado. Simplesmente acontece. Mas se acontecesse de repente, de surpresa, para chocar, seria aceitável. Mas neste caso sabemos que ele vai chegar, contudo Tarantino não estica a corda o suficiente. Em 'Basterds' esticou-a demais até partir. Aqui não vai até ao limite.

De resto, o filme é (quase) tecnicamente perfeito. É um virtuoso western spaghetti, uma história de vingança em linha recta, muito bem escrita e protagonizada, com muito sangue à mistura e um camião de estilo. Na verdade as falhas estão no facto de que toda a gente está ali a divertir-se, o que desvirtua o filme. Quando o próprio Tarantino aparece como um traficante de escravos australiano, completo com o sotaque australiano actual (sim, porque em 1850, mal estava a terra a ser colonizada, já falava tudo com aquele sotaque!), vê-se mesmo que ele está ali pelo gozo e não por nenhuma verdade cinematográfica.


‘Django Unchained’ é o western spaghetti da era moderna, o que ele seria nos anos 1960 se houvesse dinheiro e grandes actores para o fazer. Waltz é, de novo, brutal, e DiCaprio surpreende. Contudo, é com surpresa que vejo este filme nomeado para os grandes prémios (incluindo melhor filme). Tarantino não trás só o cool, trás também prestígio a um género que há trinta anos era encarado como uma forma de cinema menor. ‘Django Unchained’ é muito bom, é verdade, muito melhor que qualquer spaghetti, mas não é nada quando comparado com as obras-primas de Leone. Leone nunca ganhou um Óscar. ‘Once Upon a Time in the West’ (1968) é mil vezes o filme que 'Django' é, e não foi nomeado para um único Óscar. A brilhante química entre Juan e Sean (Rod Steiger e James Coborn) em ‘A Fistful of Dynamite’ (1971) parece ressoar na relação entre Foxx e Waltz, mas quem se lembra desse filme hoje? Talvez apenas Tarantino, que mais uma vez usa o espólio de Ennio Morricone em vez de uma banda sonora original.

Tarantino fez de novo o que sabe fazer melhor. Pegar em vinte filmes obscuros e transformá-los numa obra-prima cinematográfica que apela às novas gerações. A alma é pouca (embora tenha sem dúvida alguma) e a fachada é tudo. Este é a lei do cinema, segundo Tarantino.

1 comentários:

  1. Agora que sou seguidor, espero a visita no Linguado, que também tem crítica (normalmente selvagem e desviada) de cinema...
    http://olinguado.blogspot.pt/search/label/cinema

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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