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Every Which Way But Loose

Ano: 1978

Realizador: James Fargo

Actores principais: Clint Eastwood, Sondra Locke, Geoffrey Lewis 

Duração: 110 min

Crítica: Das duas uma, ou ‘Every Which Way But Loose’ é uma comédia surrealmente inconsistente e com pouca substância ou então é uma obra-prima do cinema americano. Qual das duas é difícil de dizer. Mesmo agora, quase um ano depois de ter visto o filme pela primeira vez, ainda continuo com dúvidas. No imdb tem uma pontuação ridícula de 5.9, e o filme é raramente referido ou relembrado na filmografia de Clint Eastwood. Por outro lado, foi o segundo filme mais visto de 1978, apenas atrás de ‘Superman’.

Até então, Clint tinha entrado praticamente apenas em dois géneros de filme: westerns e policiais. Vê-lo a aparecer de repente nas ruas dos subúrbios de Los Angeles de mão dada com um orangotango não é propriamente o que se esperaria de Blondie ou Dirty Harry. E essa nuance é subtilmente explorada pelo realizador James Fargo (que, diz-se, era apenas um mero peão da vontade de Clint). Todo o filme parece existir num universo à parte, numa espécie de realidade surreal. Não é drama, nem é comédia, nem é um dos road movies tão típicos do cinema americano dos anos 1970. É uma mistura dos três, mas num patamar tão à parte que é difícil de encontrar uma categoria. Ainda mais difícil é de arranjar uma justificação para o filme, daí se entenda a fraca pontuação dos críticos do imdb. Por outro lado, o filme tem um fascínio imenso, e uma vez penetrado no seu universo, só se sai quando rolam os créditos finais.

Na verdade, uma das características mais fascinantes do filme é que se passa mais de meia hora até que nos apercebemos que estamos a ver uma comédia. O filme não se mostra como tal. Não há enfoque nas piadas nem nas situações engraçadas que acontecem, não há música que enfatize onde se deve rir. As coisas acontecem, os eventos sucedem-se como ‘set pieces’ de comédia e enraízam-se no espectador em vez de serem ‘in your face’.

Clint é um camionista que gosta de arranjar bulhas em bares. Aliás, ganha dinheiro extra em lutas ilegais e sonha um dia lutar com o lendário Tank Murdock. O seu melhor amigo é o seu orangotango de estimação, Clyde. Além disso tem um irmão que é também o seu manager (Geoffrey Lewis), e uma mãe idosa cujo sonho é conseguir tirar a carta de condução (a hilariante e magistral Ruth Gordon, que rouba todas as cenas em que está). Um dia Clint conhece uma cantora de country (Sondra Locke) por quem se apaixona e que lhe leva uma boa quantidade de dinheiro antes de desaparecer. Clint acredita que ela o ama e que os motivos de ela se ter ido embora foram outros, e por isso vai atrás dela pelas estradas dos Estados Unidos. Claro que o irmão e o orangotango vão com ele, e a eles se junta uma mulher que o irmão engata pelo caminho (uma jovem Beverly D'Angelo num dos seus primeiros papeis), formando o quarteto mais improvável que alguma vez se fez às estradas americanas. A questão é que vários motoqueiros de um gang a quem Clint tinha dado uma coça no início do filme, bem como dois polícias que tiveram a mesma sina, vão atrás deles com o intuito de se vingarem… E depois há a mítica luta com Tank…

Na primeira meia hora vemos Clint, por um lado, a dar socos a torto e a direito e, por outro, com uma química enorme com Clyde (que diga-se tem também uma performance genial - eis um animal com talento!). Então perguntamo-nos, afinal este filme é sobre quê? E de repente transforma-se num road movie que se desenrola de uma forma pouco previsível e mais no tom dos restantes filmes da década. Este desequilíbrio de emoções é estranho e não assenta bem, mas uma coisa é certa, o filme tem sempre piada. O animal faz sempre sorrir, as cenas de porrada são engraçadas, os motoqueiros são um monte de cepos (sem clichés, e ainda bem), Clint é uma paródia de si próprio com plena consciência disso e Ruth Gordon é incrível e confirma porque a adoramos em ‘Rosemary’s Baby’ (1968, pelo qual ganhou o Óscar) e em ‘Harold and Maude’ (1971), papéis que desempenhou já depois dos 70 anos. Mas contudo o final faz-nos pensar. Este filme, apesar de tudo, tem substância. Onde e como ela passa para o espectador, não sei. Mas passa.

‘Every Which Way But Loose’ é demasiado surreal na sua comédia para ser hilariante, e é demasiado surreal nas suas situações para ser um road movie ligeiramente dramático. Está num meio-termo precário em termos cinematográficos. Mas se entrássemos na Twilight Zone com Clint Eastwood e um orangotango ao som de música country, então era isto precisamente o que saía.

O sucesso do filme foi tanto que teve uma sequela, ‘Any Which Way You Can’ em 1980, realizada por outro assalariado de Eastwood,  Buddy Van Horn. Embora tenha, sem dúvida, os seus momentos, esta sequela está mais preocupada em tentar reproduzir a fórmula do primeiro filme do que propriamente em oferecer algo de original. Como no primeiro filme a mestria está na naturalidade com que o surrealismo surge, no segundo tudo parece forçado e portanto não resulta. O melhor deste segundo filme está no seu terceiro acto, onde ocorrem cenas hilariantes e, haja orgulho em dizê-lo, a 'fistfight', a luta de punhos, mais épica desde 'The Quiet Man' (1952). Só por esta luta, a sequela já vale a pena.


2 comentários:

  1. Creio que recordo vagamente este filme. É um em que o Clint luta heroicamente contra uma banda sonora horripilante?

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  2. A sequela inclui, como tema principal, aquela obra prima da música country, um dueto Ray Charles e Clint Eastwood!

    http://www.youtube.com/watch?v=d9ZLqkDCfBA

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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