Quando os filmes de James Bond se tornaram um estrondoso sucesso, geraram, como nunca antes na história do cinema, uma resposta tão entusiástica da indústria cinematográfica que praticamente do dia para a noite se criou um novo género: o spy-fi. O “spy” vinha da espionagem, do agente secreto com uma missão para salvar o mundo. O “fi” vinha da ficção científica, que estava presente nos diabólicos planos dos diabólicos vilões, e nas inúmeras gadgets de que o espião podia usufruir, cortesia do seu governo.
Os filmes de James Bond afastavam-se dos restantes thrillers e filmes de espionagem da Guerra Fria porque tinham esta pontinha de “fi”, mas mesmo assim conseguiam manter uma sobriedade neste equilíbrio, e daí extraiam a sua fantástica veia de entretenimento fantasioso. Contudo as dezenas de imitações que começaram a surgir a partir de 1964 facilmente deixaram cair essa barreira e tornaram-se um gigantesco cliché de si próprias. O spy-fi, principalmente através dos filmes de série B (C, D, Z….) que surgiram na Europa – os Eurospy – proliferou, não como um grande género de espionagem, mas como uma enorme série de aventuras kitsch do cinema leve e flower power, pincelado de cores garridas e extremamente auto-consciente, tão típico dos anos 1960.
Estes filmes, que nunca se decidiam bem se queriam ser paródias ou sérios, ou uma exibição de belas localizações e belas miúdas, ou todas estas coisas em conjunto, tinham contudo um charme intrínseco apesar da superficialidade do seu conteúdo. Amar o spy-fi (e há um sem número fãs do género, ainda hoje, por esse mundo fora) é muito mais do que ter um guilty pleasure por filmes que (pelo menos alguns) de tão maus se tornam bons. É deixar-se seduzir por fantasias surreais (e que se tornaram nostalgicamente datadas, no bom sentido), que misturavam, sabe-se lá como, tudo o que gostamos no bom entretenimento. Um bom spy-fi tinha de ter um espião irresistível, um vilão que queria dominar o mundo, mais gadgets do que propriamente cenas de acção, e claro, dezenas de beldades que desfilavam em trajes menores em localizações solarengas. Quem não adora um filme relaxado assim, com o tom feel good da década? Ver um spy-fi é ter o prazer de ir de férias aos locais mais belos do mundo, a excitação de viver uma aventura de agente secreto e a satisfação de ver belos corpos (dos agentes ou das girls), tudo junto num pacote de 100 minutos. Maravilha. E em muitos até dá para rir bastante, ou com a tentativa de seriedade ou com os gozos a Bond.
Eu adoro o spy-fi. É o meu prazer cinematográfico mais pecaminoso, e há anos que o estudo a fundo. Já partilhei com o leitor de EU SOU CINEMA uma crónica sobre as suas origens (‘Martinis, girls and a gun - sobre a génese do 'spy-fi'), um top com os Maiores Espiões (use-o como referência se tiver dúvidas ao ler este post) e inúmeras críticas (veja o separador ‘spy-fi’). Chega agora a vez de falar das girls.
As Bond-girls e todas as outras spy-fi girls eram escolhidas a dedo para estimular as nossas fantasias. As mulheres queriam ser como elas, os homens queriam estar com elas. Mas, ao contrário do que geralmente se pensa, não eram tratadas apenas como objectos de adoração sexual e produtos para vender bilhetes. Algumas eram, claro, mas o facto de estarmos numa época em que a nudez e o sexo no cinema mainstream ainda não eram fáceis de encontrar, evitava que, como agora, se recorresse ao artifício extremamente baixo de mostrar uma parte íntima do corpo ou uma cena de sexo quando não se tem inspiração para mais. Portanto, todo o carisma sexual destas deusas do ecrã era conseguido, no máximo (ou melhor, mínimo de roupa), em fato de banho, o que queria dizer que nem todas tinham o talento para dominar a antítese que era necessária; a subtileza contida da sua sensualidade para provocar um poderosíssimo impacto no espectador. Para além do mais, porque estas mulheres cruzavam o caminho de másculos espiões, símbolos de virilidade, e porque algumas conseguiam enfrentá-los olhos nos olhos, os primeiros passos para a emancipação feminina no grande ecrã deram-se precisamente aqui. No spy-fi surgiram as primeiras grandes mulheres de armas do cinema, que combinavam inteligência e beleza, desbravando assim caminho numa era, e num género de cinema, extremamente sexista.
Podia fazer um top das spy-fi girls mais sexy, como há inúmeros por essa internet fora. Mas isso sim seria ser sexista. Achei muito mais interessante fazer um top das mais proliferas, algo que, sinceramente, nunca li em lado nenhum. Isto porque, sendo verdade que na década de 1960 qualquer ‘gatinha’ (como lhes chama Peter O’Toole em ‘What’s New Pussycat’, 1964) com um corpinho bem feito e uma carinha laroca tinha grandes hipóteses de ir parar a um spy-fi, algumas tornaram-se verdadeiras instituições do género, ao saltar de filme em filme e rodar de espião em espião. Algumas até chegaram a contracenar com quatro, ou mais, espiões diferentes, o que é absolutamente incrível. O leitor certamente conhecerá algumas e desconhecerá outras, mas acredite, é um prazer vê-las a todas nestes filmes deliciosos, mesmo que alguns sejam bastante maus, se pensarmos neles analiticamente. Mas não queremos pensar assim. Nunca. Queremos sempre mergulhar na sua fantasia despreocupadamente. É pelo menos isso que eu faço, e sempre continuarei a fazer. Porque o spy-fi é escapismo. mas também é alegria, essa alegria que é ver Cinema...
Os filmes de James Bond afastavam-se dos restantes thrillers e filmes de espionagem da Guerra Fria porque tinham esta pontinha de “fi”, mas mesmo assim conseguiam manter uma sobriedade neste equilíbrio, e daí extraiam a sua fantástica veia de entretenimento fantasioso. Contudo as dezenas de imitações que começaram a surgir a partir de 1964 facilmente deixaram cair essa barreira e tornaram-se um gigantesco cliché de si próprias. O spy-fi, principalmente através dos filmes de série B (C, D, Z….) que surgiram na Europa – os Eurospy – proliferou, não como um grande género de espionagem, mas como uma enorme série de aventuras kitsch do cinema leve e flower power, pincelado de cores garridas e extremamente auto-consciente, tão típico dos anos 1960.
Estes filmes, que nunca se decidiam bem se queriam ser paródias ou sérios, ou uma exibição de belas localizações e belas miúdas, ou todas estas coisas em conjunto, tinham contudo um charme intrínseco apesar da superficialidade do seu conteúdo. Amar o spy-fi (e há um sem número fãs do género, ainda hoje, por esse mundo fora) é muito mais do que ter um guilty pleasure por filmes que (pelo menos alguns) de tão maus se tornam bons. É deixar-se seduzir por fantasias surreais (e que se tornaram nostalgicamente datadas, no bom sentido), que misturavam, sabe-se lá como, tudo o que gostamos no bom entretenimento. Um bom spy-fi tinha de ter um espião irresistível, um vilão que queria dominar o mundo, mais gadgets do que propriamente cenas de acção, e claro, dezenas de beldades que desfilavam em trajes menores em localizações solarengas. Quem não adora um filme relaxado assim, com o tom feel good da década? Ver um spy-fi é ter o prazer de ir de férias aos locais mais belos do mundo, a excitação de viver uma aventura de agente secreto e a satisfação de ver belos corpos (dos agentes ou das girls), tudo junto num pacote de 100 minutos. Maravilha. E em muitos até dá para rir bastante, ou com a tentativa de seriedade ou com os gozos a Bond.
"As spy-fi girls eram escolhidas a dedo para estimular as nossas fantasias. As mulheres queriam ser como elas, os homens queriam estar com elas. Mas, ao contrário do que geralmente se pensa, não eram tratadas apenas como objectos de adoração sexual (...) Porque estas mulheres cruzavam o caminho de másculos espiões, símbolos de virilidade, e porque algumas conseguiam enfrentá-los olhos nos olhos, os primeiros passos para a emancipação feminina no grande ecrã deram-se precisamente aqui (...) desbravando assim caminho numa era, e num género de cinema, extremamente sexista."
Eu adoro o spy-fi. É o meu prazer cinematográfico mais pecaminoso, e há anos que o estudo a fundo. Já partilhei com o leitor de EU SOU CINEMA uma crónica sobre as suas origens (‘Martinis, girls and a gun - sobre a génese do 'spy-fi'), um top com os Maiores Espiões (use-o como referência se tiver dúvidas ao ler este post) e inúmeras críticas (veja o separador ‘spy-fi’). Chega agora a vez de falar das girls.
As Bond-girls e todas as outras spy-fi girls eram escolhidas a dedo para estimular as nossas fantasias. As mulheres queriam ser como elas, os homens queriam estar com elas. Mas, ao contrário do que geralmente se pensa, não eram tratadas apenas como objectos de adoração sexual e produtos para vender bilhetes. Algumas eram, claro, mas o facto de estarmos numa época em que a nudez e o sexo no cinema mainstream ainda não eram fáceis de encontrar, evitava que, como agora, se recorresse ao artifício extremamente baixo de mostrar uma parte íntima do corpo ou uma cena de sexo quando não se tem inspiração para mais. Portanto, todo o carisma sexual destas deusas do ecrã era conseguido, no máximo (ou melhor, mínimo de roupa), em fato de banho, o que queria dizer que nem todas tinham o talento para dominar a antítese que era necessária; a subtileza contida da sua sensualidade para provocar um poderosíssimo impacto no espectador. Para além do mais, porque estas mulheres cruzavam o caminho de másculos espiões, símbolos de virilidade, e porque algumas conseguiam enfrentá-los olhos nos olhos, os primeiros passos para a emancipação feminina no grande ecrã deram-se precisamente aqui. No spy-fi surgiram as primeiras grandes mulheres de armas do cinema, que combinavam inteligência e beleza, desbravando assim caminho numa era, e num género de cinema, extremamente sexista.
Podia fazer um top das spy-fi girls mais sexy, como há inúmeros por essa internet fora. Mas isso sim seria ser sexista. Achei muito mais interessante fazer um top das mais proliferas, algo que, sinceramente, nunca li em lado nenhum. Isto porque, sendo verdade que na década de 1960 qualquer ‘gatinha’ (como lhes chama Peter O’Toole em ‘What’s New Pussycat’, 1964) com um corpinho bem feito e uma carinha laroca tinha grandes hipóteses de ir parar a um spy-fi, algumas tornaram-se verdadeiras instituições do género, ao saltar de filme em filme e rodar de espião em espião. Algumas até chegaram a contracenar com quatro, ou mais, espiões diferentes, o que é absolutamente incrível. O leitor certamente conhecerá algumas e desconhecerá outras, mas acredite, é um prazer vê-las a todas nestes filmes deliciosos, mesmo que alguns sejam bastante maus, se pensarmos neles analiticamente. Mas não queremos pensar assim. Nunca. Queremos sempre mergulhar na sua fantasia despreocupadamente. É pelo menos isso que eu faço, e sempre continuarei a fazer. Porque o spy-fi é escapismo. mas também é alegria, essa alegria que é ver Cinema...
10. Honor Blackman e Diana Rigg – 2 espiões (Bond + Mr. Steed)
Como não me consegui decidir, atribuo o décimo lugar ex-áqueo a Honor Blackman e à divina Diana Rigg. Adoro-as muito mais, e eram muito melhores actrizes, do que as restantes desta lista, mas cada uma foi spy-fi girl apenas uma vez, num filme de James Bond. De facto, ambas compartilham muitas semelhanças no seu perfil e na sua carreira. Ambas eram inglesas, que limaram a sua arte primeiro no teatro clássico e depois na televisão, com apenas ocasionais passagens pelo cinema. Por esses meios continuaram até hoje, sem nunca capitularem à popularidade fácil do cinema comercial que o spy-fi lhes poderia proporcionar. Ambas combinavam uma pose graciosa, uma predisposição atlética e uma extraordinária capacidade de actuar apenas com o tom de voz ou um movimento subtil do rosto, com uma inteligência perceptível (ainda mais para os papéis que tinham de desempenhar nessa época) e claro, uma figura invejável, que ficava incrivelmente sexy em fatos justos de cabedal, como aqueles que usaram na série ‘The Avengers’.
Blackman já tinha quase 40 anos e uma carreira rica de papéis secundários em filmes que não ficaram muito para a posteridade, quando interpretou a agente Catherine Gale na segunda e na terceira temporada de 'The Avengers', ao lado do incrível Mr. Steed interpretado por Patrick Macnee. Como Gale, Blackman mostrou que ainda estava para as curvas e podia ser muito mais sexy que mulheres vinte anos mais novas. A sua imponente figura, loira de olhos azuis com uma face de linhas bem definidas e seios protuberantes, adequava-se na perfeição à personalidade forte da personagem. Já Rigg, uma morena com uma beleza clássica, um sorriso incrível e um corpo de morrer, tinha apenas 27 anos (e nenhum filme) quando substituiu Blackman nas temporadas quatro e cinco da série. A sua interpretação da inteligentíssima e belíssima Emma Peel, sempre a exalar sexualidade com cada movimento gracioso, mas mantendo sempre um tom irónico e autoconsciente, faiscou ao lado de Macnee e tornou-se absolutamente memorável (ainda a melhor agente secreta de sempre!).
Ambas abandonariam a série para entrar num filme de Bond, interpretando mulheres fortes, com algo a dizer. Blackman foi Pussy Galore, a vilã cheia de classe de ‘Goldifnger’ (1964), e a mais velha Bond-girl durante meio século (até Monica Belluci em 'Spectre'). Rigg foi Tracy, a única mulher, excepto Vesper, por quem Bond realmente se apaixona em ‘On Her Majesty’s Secret Service’ (1969). A importância de ambas como inspirações feministas é inegável e ficaram para a história como mulheres de enorme beleza, garra e inteligência, que se emanciparam e puseram de igual para igual com os heróis masculinos.
Blackman já tinha quase 40 anos e uma carreira rica de papéis secundários em filmes que não ficaram muito para a posteridade, quando interpretou a agente Catherine Gale na segunda e na terceira temporada de 'The Avengers', ao lado do incrível Mr. Steed interpretado por Patrick Macnee. Como Gale, Blackman mostrou que ainda estava para as curvas e podia ser muito mais sexy que mulheres vinte anos mais novas. A sua imponente figura, loira de olhos azuis com uma face de linhas bem definidas e seios protuberantes, adequava-se na perfeição à personalidade forte da personagem. Já Rigg, uma morena com uma beleza clássica, um sorriso incrível e um corpo de morrer, tinha apenas 27 anos (e nenhum filme) quando substituiu Blackman nas temporadas quatro e cinco da série. A sua interpretação da inteligentíssima e belíssima Emma Peel, sempre a exalar sexualidade com cada movimento gracioso, mas mantendo sempre um tom irónico e autoconsciente, faiscou ao lado de Macnee e tornou-se absolutamente memorável (ainda a melhor agente secreta de sempre!).
Ambas abandonariam a série para entrar num filme de Bond, interpretando mulheres fortes, com algo a dizer. Blackman foi Pussy Galore, a vilã cheia de classe de ‘Goldifnger’ (1964), e a mais velha Bond-girl durante meio século (até Monica Belluci em 'Spectre'). Rigg foi Tracy, a única mulher, excepto Vesper, por quem Bond realmente se apaixona em ‘On Her Majesty’s Secret Service’ (1969). A importância de ambas como inspirações feministas é inegável e ficaram para a história como mulheres de enorme beleza, garra e inteligência, que se emanciparam e puseram de igual para igual com os heróis masculinos.
9. Shirley Eaton – 2 espiões (Bond + Templar)
Shirley Eaton era, como as anteriores, mais uma cara bonita do cinema inglês. Loira, de olhos sorridentes (incrivelmente sorridentes, que nos convidavam para o seu círculo mas ao mesmo tempo nos advertiam para termos cuidado com o que poderíamos encontrar), e claro, de curvas bem formadas, a sua carreira durou apenas duas décadas, mas valeria, literalmente, o seu peso em ouro. A ‘rapariga dourada’ como ficaria conhecida (é esse o título até da sua autobiografia), tinha pouco mais de vinte anos quando começou a ganhar momento nalgumas comédias inglesas, incluindo três aparições na famosa série de filmes ‘Carry On’, e noutros papéis como a ‘gatinha’ típica da década de sessenta. Depois começou a interpretar algumas personagens mais sérias, mas nada se compara à popularidade que lhe daria o spy-fi.
Em 1962, esteve ao lado de Roger Moore no episódio piloto da icónica série do Santo. O seu papel é um clássico e a sua interpretação de mestre; uma mulher ciente do seu poder de atracção, que tem sempre respostas à altura, mas que não se importa de mudar a balança do poder para o homem numa relação, desde que seja o homem certo. Templar era o homem certo e portanto iria aparecer, noutros papéis, em mais dois episódios da série. Tal como seria James Bond dois anos depois em ‘Goldfinger’. A sua personagem, Jill Masterson, morre aos 16 minutos de filme, mas nunca ninguém a esqueceu. Desde a sua aparição, de biquíni negro, deitada numa espreguiçadeira a espreitar um jogo de cartas por uns binóculos, até ao seu tête-à-tête íntimo com Bond, até à sua derradeira imagem totalmente pintada de dourado, deitada em cima da cama, Eaton cativa-nos com o seu carisma, e alimenta as nossas fantasias à medida que se derrete aos poucos. O choque da sua morte é ainda maior por causa da sua jovialidade na cena do quarto e, como diz um crítico, apenas perdoável porque mais tarde o filme introduziria Pussy Galore.
É uma pena que tenha apenas feito mais um punhado de filmes, incluindo uma interessante interpretação em ‘Ten Little Indians’ (1965) e, no final da sua carreira, ser Sumuru em dois filmes (1967, 1969), uma vilã que quer dominar o mundo com o seu exército de mulheres belas… Mas esqueçamos estes filmes. Eaton é um símbolo imortal do spy-fi graças a ‘Goldfinger’. Ponto final.
Em 1962, esteve ao lado de Roger Moore no episódio piloto da icónica série do Santo. O seu papel é um clássico e a sua interpretação de mestre; uma mulher ciente do seu poder de atracção, que tem sempre respostas à altura, mas que não se importa de mudar a balança do poder para o homem numa relação, desde que seja o homem certo. Templar era o homem certo e portanto iria aparecer, noutros papéis, em mais dois episódios da série. Tal como seria James Bond dois anos depois em ‘Goldfinger’. A sua personagem, Jill Masterson, morre aos 16 minutos de filme, mas nunca ninguém a esqueceu. Desde a sua aparição, de biquíni negro, deitada numa espreguiçadeira a espreitar um jogo de cartas por uns binóculos, até ao seu tête-à-tête íntimo com Bond, até à sua derradeira imagem totalmente pintada de dourado, deitada em cima da cama, Eaton cativa-nos com o seu carisma, e alimenta as nossas fantasias à medida que se derrete aos poucos. O choque da sua morte é ainda maior por causa da sua jovialidade na cena do quarto e, como diz um crítico, apenas perdoável porque mais tarde o filme introduziria Pussy Galore.
É uma pena que tenha apenas feito mais um punhado de filmes, incluindo uma interessante interpretação em ‘Ten Little Indians’ (1965) e, no final da sua carreira, ser Sumuru em dois filmes (1967, 1969), uma vilã que quer dominar o mundo com o seu exército de mulheres belas… Mas esqueçamos estes filmes. Eaton é um símbolo imortal do spy-fi graças a ‘Goldfinger’. Ponto final.
8. Ursula Anders – 2 espiões (Bond e… Bond!)
Ela era totalmente inexperiente. Era uma modelo suíça que apenas tinha três créditos cinematográficos, já datados de 1955, pequenas aparições em produções italianas menores quando tinha 19 anos de idade. Ela rumara a Hollywood nesse mesmo ano, mas apesar de conseguir um contrato com a Paramount não fez um único filme, porque se recusou a entrar na linha do sistema de estúdio e a aprender inglês correctamente. Ela casara com o polémico John Derek (aquele que mais tarde casaria com Bo) com apenas 21 anos de idade, adiando assim de novo o início da sua carreira. Ela sabia falar muito pouco inglês e tinha um sotaque cerrado e por isso a sua voz teve que ser dobrada. Mas tudo isso deixou de importar a partir do momento em que ascendeu das águas da Jamaica como uma ninfa de Botticelli, com um biquíni branco e uma faca à cinta, segurando duas conchas e cantando ‘Beneath the Mango Tree’.
O seu nome era Ursula Anders e estávamos a dois terços do primeiro filme de James Bond, ‘Dr. No’. E não importava também que fosse já a terceira mulher com quem Bond se envolvia nesse filme. Para todos, para sempre, Honey Rider será a primeira Bond-girl, a grande referência da saga, e a sua aparição é uma das suas imagens mais icónicas de toda a história do cinema. Uma loira amazónica de beleza clássica e com um rosto perfeito, o impacto de Anders em ‘Dr. No’ foi tão grande, a sua linguagem corporal e a sua explosiva sensualidade tão intensas, que até admira que não se tenha embrenhado no mundo dos spy-fi.
Deambulou até à década de 1980 em comédias (a mais relevante o icónico ‘What's New Pussycat’, 1964), filmes policiais e de acção e até westerns (imponente em ‘Soleil rouge’, 1971), mas só voltaria ao spy-fi uma única vez e no filme onde menos se esperaria: o mítico não-oficial ‘Casino Royale’ de 1966. Como a agente Vesper Lynd está muito para lá de uma auto-paródia; está incrivelmente sedutora, e detém a câmara completamente apaixonada por si, como só as grandes actrizes (Marilyn, Audrey, Cybill) conseguiram fazer. A prova perfeita está no facto de Burt Bacharach ter escrito uma das suas mais famosas baladas ‘The Look of Love’ para a cena em que ela seduz Peter Sellers. Mais não é preciso dizer.
O seu nome era Ursula Anders e estávamos a dois terços do primeiro filme de James Bond, ‘Dr. No’. E não importava também que fosse já a terceira mulher com quem Bond se envolvia nesse filme. Para todos, para sempre, Honey Rider será a primeira Bond-girl, a grande referência da saga, e a sua aparição é uma das suas imagens mais icónicas de toda a história do cinema. Uma loira amazónica de beleza clássica e com um rosto perfeito, o impacto de Anders em ‘Dr. No’ foi tão grande, a sua linguagem corporal e a sua explosiva sensualidade tão intensas, que até admira que não se tenha embrenhado no mundo dos spy-fi.
Deambulou até à década de 1980 em comédias (a mais relevante o icónico ‘What's New Pussycat’, 1964), filmes policiais e de acção e até westerns (imponente em ‘Soleil rouge’, 1971), mas só voltaria ao spy-fi uma única vez e no filme onde menos se esperaria: o mítico não-oficial ‘Casino Royale’ de 1966. Como a agente Vesper Lynd está muito para lá de uma auto-paródia; está incrivelmente sedutora, e detém a câmara completamente apaixonada por si, como só as grandes actrizes (Marilyn, Audrey, Cybill) conseguiram fazer. A prova perfeita está no facto de Burt Bacharach ter escrito uma das suas mais famosas baladas ‘The Look of Love’ para a cena em que ela seduz Peter Sellers. Mais não é preciso dizer.
7. Yvonne Craig – 2 espiões (Solo + Flint) + Batman
Yvonne Craig teve uma longa e prolifera carreira na televisão americana entre os anos 1950 e os anos 1980, com apenas um punhado de filmes pelo meio. A sua imortalidade cinematográfica não é garantida pelo spy-fi, mas sim por ter sido a Batgirl na icónica, extremamente kitsch, série de culto do Batman dos anos 1960. Mas ser uma actriz jovem e bonita nessa década era meio caminho andado para entrar num ou noutro spy-fi e Yvonne, uma antiga bailarina tornada actriz, era definitivamente bonita com a sua cara de traços infantis, olhos alongados e os cabelos negros, curtos e lisos. Parecia pequena e delicada, mas como provou, podia ter a genica de uma super heroína.
Como uma experiente actriz televisiva, participou em alguns episódios da série ‘The Man from U.N.C.L.E.’ e depois retornou à serie para dois telefilmes, ‘One Spy Too Many’ (1966) e ‘One of Our Spies Is Missing’ (1966), no papel da controladora da central da agência. No primeiro está absolutamente deliciosa, atendendo as chamadas dos agentes em biquíni enquanto toma banhos de lâmpada de solário (so sixties…). No mesmo ano em que se tornaria Batgirl, regressaria às origens ao interpretar uma bailarina, agente russa, no segundo filme do espião Flint de James Coburn: ‘In Like Flint’ (1967). São pequenos mas marcantes papéis no spy-fi, daquela que foi uma das primeiras heroínas de acção feminina da história do cinema e ainda, a melhor Batgirl de sempre. Mais provas não precisa de dar para figurar nesta lista.
Como uma experiente actriz televisiva, participou em alguns episódios da série ‘The Man from U.N.C.L.E.’ e depois retornou à serie para dois telefilmes, ‘One Spy Too Many’ (1966) e ‘One of Our Spies Is Missing’ (1966), no papel da controladora da central da agência. No primeiro está absolutamente deliciosa, atendendo as chamadas dos agentes em biquíni enquanto toma banhos de lâmpada de solário (so sixties…). No mesmo ano em que se tornaria Batgirl, regressaria às origens ao interpretar uma bailarina, agente russa, no segundo filme do espião Flint de James Coburn: ‘In Like Flint’ (1967). São pequenos mas marcantes papéis no spy-fi, daquela que foi uma das primeiras heroínas de acção feminina da história do cinema e ainda, a melhor Batgirl de sempre. Mais provas não precisa de dar para figurar nesta lista.
6. Jill St. John – 3 espiões (Bond + Oaks + Smith)
Jill St. John, no seu auge, combinava um conjunto de valências muito, muito interessantes. Para começar havia o seu look; uma ruiva voluptuosa com um sorriso aberto e um brilho travesso no olhar, porque sabia perfeitamente quem estava a dominar (ela, claro!). Está bem documentado que Jill tinha um quociente de inteligência elevadíssimo (entrou na faculdade aos 14 anos, saiu aos 16 para fazer cinema) e ela sempre soube tirar partido desse atributo sem ser pedante. Nascida em 1940, passou os seus verdes anos na década do flowerpower e com naturalidade entrou no mundo das comédias leves pelo qual esta década é famosa. Mas lentamente, de forma extremamente subtil, foi ascendendo de filmes em que os seus atributos corporais eram os que mais interessavam (como ‘The Lost World’, 1960 ou ‘Who's Minding the Store?’, 1963 com Jerry Lewis) para papéis em que podia deixar os seus traços mais fortes brilhar. E no spy-fi encontrou um lugar em que podia ser ao mesmo tempo sexy, inteligente e cosmopolita, explorando na perfeição o seu sotaque californiano e os seus modos americanizados com sagazes one-liners.
Em ‘The Liquidator’, a resposta da MGM aos filmes de James Bond, ela vai taco-a-taco com o Boysie Oakes interpretado por Rod Taylor, com uma personagem igualmente sexy mas muito mais complexa do que as habituais vilãs femininas do spy-fi. Mas seria depois de ter entrado no primeiro policial em que Sinatra interpreta ‘Tony Rome’ (1967) e no menor telefilme 'The Spy Killer’ (1969), que deixaria a sua marca eterna no spy-fi. Não poderia haver escolha melhor para o papel de Tiffany Case no regresso de Connery à saga Bond em ‘Diamonds Are Forever’ (1971), um filme propositadamente mais sujo e mais duro, já longe do gloss dos anos 1960. Num dos seus últimos filmes (passaria a dedicar-se quase exclusivamente à televisão) St. John interpreta uma Bond-girl cheia de garra e que sabe o que quer, embora a meio o realizador se tenha esquecido disso. Foi, infelizmente, a sua sina em inúmeros filmes…
Em ‘The Liquidator’, a resposta da MGM aos filmes de James Bond, ela vai taco-a-taco com o Boysie Oakes interpretado por Rod Taylor, com uma personagem igualmente sexy mas muito mais complexa do que as habituais vilãs femininas do spy-fi. Mas seria depois de ter entrado no primeiro policial em que Sinatra interpreta ‘Tony Rome’ (1967) e no menor telefilme 'The Spy Killer’ (1969), que deixaria a sua marca eterna no spy-fi. Não poderia haver escolha melhor para o papel de Tiffany Case no regresso de Connery à saga Bond em ‘Diamonds Are Forever’ (1971), um filme propositadamente mais sujo e mais duro, já longe do gloss dos anos 1960. Num dos seus últimos filmes (passaria a dedicar-se quase exclusivamente à televisão) St. John interpreta uma Bond-girl cheia de garra e que sabe o que quer, embora a meio o realizador se tenha esquecido disso. Foi, infelizmente, a sua sina em inúmeros filmes…
5. Santa Berger – 3 espiões (Solo + Helm + Jessel)
Santa Berger é uma bem conhecida e bem-amada actriz austríaca que ainda hoje faz filmes, principalmente na indústria alemã, mas que raramente foi vista em produções de Hollywood (por exemplo ‘Cross of Iron’, 1977, de Peckinpah). Isto é, excepto nos anos 1960, em que as produções spy-fi procuravam as mais belas actrizes que quisessem exibir os seus dotes aos mais charmosos espiões, e obviamente, ao público. Com lábios carnudos, o cabelo ruivo, uma curvilínea e cheia figura voluptuosa, Berger encaixava perfeitamente neste perfil. E ela não se importou nada em tirar partido desse facto. Tinha a seu favor as suas linhas mas também, ao contrário de muitos nomes desta lista, talento e timing cómico, o que a permitia nunca levar totalmente a sério os seus papéis neste tipo de filme, que enchia de autoconsciência e um sorriso matreiro, originando assim uma grande afinidade com o público.
A sua primeira aparição num spy-fi foi num episódio de ‘The Man from U.N.C.L.E.’ que seria re-editado como o icónico filme ‘The Spy With My Face’ (1965). No papel de Serena, está fantástica como uma vilã que adora fazer um jogo de gato e rato entre o mortífero e o amoroso com Solo. E desliza de forma igualmente fascinante por ‘The Ambushers’ (1967), o terceiro filme de Matt Helm, roubando o show a Dean Martin. Contracenaria com Tony Randall na paródia ‘Our Man in Marrakesh’ (1966), mas o seu grande trunfo é também ter, fruto do seu talento, entrado em filmes de espionagem sérios como ‘The Quiller Memorandum’ (1966) com George Seagal ou ‘Peau d'espion’ (1967) com Louis Jourdan. É praticamente a única a poder gabar-se desse feito e das poucas que teve uma carreira sólida depois da era dourada do spy-fi ter terminado. Excelente.
A sua primeira aparição num spy-fi foi num episódio de ‘The Man from U.N.C.L.E.’ que seria re-editado como o icónico filme ‘The Spy With My Face’ (1965). No papel de Serena, está fantástica como uma vilã que adora fazer um jogo de gato e rato entre o mortífero e o amoroso com Solo. E desliza de forma igualmente fascinante por ‘The Ambushers’ (1967), o terceiro filme de Matt Helm, roubando o show a Dean Martin. Contracenaria com Tony Randall na paródia ‘Our Man in Marrakesh’ (1966), mas o seu grande trunfo é também ter, fruto do seu talento, entrado em filmes de espionagem sérios como ‘The Quiller Memorandum’ (1966) com George Seagal ou ‘Peau d'espion’ (1967) com Louis Jourdan. É praticamente a única a poder gabar-se desse feito e das poucas que teve uma carreira sólida depois da era dourada do spy-fi ter terminado. Excelente.
4. Daniela Bianchi – 2+ espiões (Bond + Connery + uma carrada de espiões do Eurospy)
Daniela Bianchi fez apenas uma conjunto muito limitado de filmes (14 no total), entre 1958 e 1968, altura em que casou com um poderoso magnata (como muitas desta lista) e se retirou, vivendo longe do cinema até aos dias de hoje (ser incrivelmente bonito tem as suas vantagens….). Mas foram quase todos spy-fi, o que a torna uma gigantesca instituição do género. Foi na moda que Daniela começou a sua carreira, ficando em segundo lugar no concurso de Miss Universo em 1960, mas arrecadando o cobiçado prémio de Miss Roma nesse mesmo ano. Não coisa pouca, diga-se, se recordarmos que esse foi precisamente o ano em que Fellini filmou ‘La Dolce Vita’ nessa cidade, inaugurando a época mais gloriosa do glamour italiano.
Daniela era uma típica beldade italiana, com a pela clara, o corpo de curvas avantajadas, o cabelo loiro, lábios tentadores e um nariz alongado. Portanto foi com muita naturalidade que passou do mundo das Miss para o mundo da sétima arte, e com ainda mais naturalidade que, após três pequenos papéis no cinema italiano, tornou-se mundialmente famosa ao interpretar a russa Tatiana Romanova no segundo filme de Bond ‘From Russia with Love’ (1963). Que não tinha muito talento como actriz é notório (inclusive a voz que ouvimos no filme não é a sua, visto que não sabia falar inglês!), mas o seu calor, especialmente na longa sequência no comboio pelo qual este filme é famoso, largamente compensa.
Mas seria uma chama que, com muita pena dos espectadores, não voltaria a encontrar, porque a classe de Bond não é propriamente a classe do Eurospy. Com excepção de um ou dois thrillers mais sérios, Daniela perdeu-se completamente neste meio, com paródia de espionagem atrás de paródia de espionagem, interpretando agentes ou eye-candys em ‘Slalom’ (1965); ‘Zarabanda Bing Bing’ (1966); ‘Missione speciale Lady Chaplin’ (1966), em que interpreta a Lady Chaplin do título; ‘Requiem per un agente segreto’ (1966) e, por último, o surreal ‘OK Connery’ (1967), em que parodia a sua imagem como nunca (embora de forma apagada), ao lado, imagine-se, do irmão de Sean, Neil Connery! É descer demasiado baixo. Mas será sempre a rara beleza, a flor delicada mas selvagem de ‘From Russia with Love’, que convida Bond para o seu leito como nenhuma outra Bond-girl da história. E isso chega.
Daniela era uma típica beldade italiana, com a pela clara, o corpo de curvas avantajadas, o cabelo loiro, lábios tentadores e um nariz alongado. Portanto foi com muita naturalidade que passou do mundo das Miss para o mundo da sétima arte, e com ainda mais naturalidade que, após três pequenos papéis no cinema italiano, tornou-se mundialmente famosa ao interpretar a russa Tatiana Romanova no segundo filme de Bond ‘From Russia with Love’ (1963). Que não tinha muito talento como actriz é notório (inclusive a voz que ouvimos no filme não é a sua, visto que não sabia falar inglês!), mas o seu calor, especialmente na longa sequência no comboio pelo qual este filme é famoso, largamente compensa.
Mas seria uma chama que, com muita pena dos espectadores, não voltaria a encontrar, porque a classe de Bond não é propriamente a classe do Eurospy. Com excepção de um ou dois thrillers mais sérios, Daniela perdeu-se completamente neste meio, com paródia de espionagem atrás de paródia de espionagem, interpretando agentes ou eye-candys em ‘Slalom’ (1965); ‘Zarabanda Bing Bing’ (1966); ‘Missione speciale Lady Chaplin’ (1966), em que interpreta a Lady Chaplin do título; ‘Requiem per un agente segreto’ (1966) e, por último, o surreal ‘OK Connery’ (1967), em que parodia a sua imagem como nunca (embora de forma apagada), ao lado, imagine-se, do irmão de Sean, Neil Connery! É descer demasiado baixo. Mas será sempre a rara beleza, a flor delicada mas selvagem de ‘From Russia with Love’, que convida Bond para o seu leito como nenhuma outra Bond-girl da história. E isso chega.
3. Daliah Lavi – 4 espiões (Bond + Helm + Drummond + Trevelyan)
A carreira de Daliah Lavi também demorou pouco mais de uma década (tornar-se-ia uma cantora de relativo sucesso na Europa nos anos 1970), mas apanhou de rajada os anos sessenta e o spy-fi. A suave israelita de cabelo longo, liso e escuro, olhos grandes e uma sedutora voz grave, não era propriamente uma grande actriz, mas era uma gatinha dos swinging sixties por excelência, com doses iguais de promiscuidade, animalidade, uma doce vulnerabilidade e um ambíguo charme sedutor. Por isso é que resultava tão bem nos spy-fi mais leves, como a sexy, elusiva e exótica sedutora que revela no final ser a vilã.
Foi precisamente isso que foi em ‘The Silencers’ (1965) o primeiro filme do espião Matt Helm, no mesmo ano em que, após uma série de filmes alemães e franceses, finalmente entrou no cinema anglo-saxónico com nada menos que cinco filmes (incluindo ‘Lord Jim’ com Peter O’Toole). Mas isso foi o início e o fim das suas aspirações dramáticas, tendo-se acomodado confortavelmente no mundo pouco exigente dos spy-fis, que dominou acima de tudo com a sua linguagem corporal. Em ‘Some Girls Do’ (1969), o segundo filme de Bulldog Drummond e praticamente o seu último filme, fez quase exactamente o mesmo papel que em ‘The Silencers’, sem perder o magnetismo. Pelo meio entrou no auto-explicativo ‘The Spy with a Cold Nose’ (1966) e sim, também teve o seu cheirinho de Bond. Ou quase. Entrou no mítico não-oficial ‘Casino Royale’ de 1966. É ela que Jimmy Bond (Woody Allen) prende nua a uma cadeira e lhe descreve o mundo utópico que quer criar em que tipos baixos, como ele, podem ter uma oportunidade com mulheres altas e esculturais, como ela. Boa sorte com isso Jimmy…
Foi precisamente isso que foi em ‘The Silencers’ (1965) o primeiro filme do espião Matt Helm, no mesmo ano em que, após uma série de filmes alemães e franceses, finalmente entrou no cinema anglo-saxónico com nada menos que cinco filmes (incluindo ‘Lord Jim’ com Peter O’Toole). Mas isso foi o início e o fim das suas aspirações dramáticas, tendo-se acomodado confortavelmente no mundo pouco exigente dos spy-fis, que dominou acima de tudo com a sua linguagem corporal. Em ‘Some Girls Do’ (1969), o segundo filme de Bulldog Drummond e praticamente o seu último filme, fez quase exactamente o mesmo papel que em ‘The Silencers’, sem perder o magnetismo. Pelo meio entrou no auto-explicativo ‘The Spy with a Cold Nose’ (1966) e sim, também teve o seu cheirinho de Bond. Ou quase. Entrou no mítico não-oficial ‘Casino Royale’ de 1966. É ela que Jimmy Bond (Woody Allen) prende nua a uma cadeira e lhe descreve o mundo utópico que quer criar em que tipos baixos, como ele, podem ter uma oportunidade com mulheres altas e esculturais, como ela. Boa sorte com isso Jimmy…
2. Elke Sommer – 4 espiões (Drummond + Helm + Fenner + Wilder) + Clouseau
A berlinense Elke Sommer foi uma das mais populares actrizes do cinema alemão da década de 1960, a par de Santa Berger, e ainda conseguiu manter uma carreira sólida em Hollywood e na Alemanha até aos anos 1990. Elke era loira, escultural e alta, ainda tornada mais alta pelos longos e elaborados penteados que usava. Os seus olhos eram azuis esverdeados, os seus lábios cheios, em beiço, o seu busto avantajado e a voz arrastava-se num sussurro grave com um sotaque exótico. Ora fria e elusiva, ora abertamente quente, era a sedutora tentadora por excelência e o spy-fi usou-a precisamente nesse papel, especialmente como vilã, que, tal como Lavi, lhe assentava como uma luva.
Depois de vários filmes alemães e italianos no início da década de 1960, começou a aparecer em filmes americanos como ‘The Prize’ (1963) ao lado de Paul Newman, ou o segundo filme da Pantera Cor-de-rosa, ‘A Shot in the Dark’ (1964), ao lado de Peter Sellers. Aqui está excelente como a supostamente indefesa criada acusada de homicídio que Clouseau jura defender. Este papel levou-a às leves comédias americanas e depois, inevitavelmente, ao spy-fi. Em ‘The Venetian Affair’ (1966) interpreta a ex-mulher do jornalista/espião Robert Vaughn. Seguiu-se o mais esquecido ‘Die Hölle von Macao’ (1967) com Robert Stack e depois, finalmente, atingiu a sua passada no tipo de papel que devia ter interpretado desde o início. Em ‘Deadlier Than the Male’ (1967) o primeiro filme de Bulldog Drummond, é a melhor coisa que o filme tem – está fantástica com a líder de um esquadrão de irresistíveis mulheres espias que assassinam os seus alvos depois de os seduzirem. Por fim, fez praticamente o mesmo papel no último dos filmes de Matt Helm ‘The Wrecking Crew’ (1968).
Verdade que Elke fez inúmeros filmes sérios, em que demonstrou as suas qualidades dramáticas, quer na década de 1960, quer depois, mas teremos sempre o guilty pleasure de gostar mais dela nestas leves paródias spy-fi, onde estava como peixe na água em modo auto-gozo, desfilando ponderadamente pelas cenas e transpirando uma potente aura sexual.
Depois de vários filmes alemães e italianos no início da década de 1960, começou a aparecer em filmes americanos como ‘The Prize’ (1963) ao lado de Paul Newman, ou o segundo filme da Pantera Cor-de-rosa, ‘A Shot in the Dark’ (1964), ao lado de Peter Sellers. Aqui está excelente como a supostamente indefesa criada acusada de homicídio que Clouseau jura defender. Este papel levou-a às leves comédias americanas e depois, inevitavelmente, ao spy-fi. Em ‘The Venetian Affair’ (1966) interpreta a ex-mulher do jornalista/espião Robert Vaughn. Seguiu-se o mais esquecido ‘Die Hölle von Macao’ (1967) com Robert Stack e depois, finalmente, atingiu a sua passada no tipo de papel que devia ter interpretado desde o início. Em ‘Deadlier Than the Male’ (1967) o primeiro filme de Bulldog Drummond, é a melhor coisa que o filme tem – está fantástica com a líder de um esquadrão de irresistíveis mulheres espias que assassinam os seus alvos depois de os seduzirem. Por fim, fez praticamente o mesmo papel no último dos filmes de Matt Helm ‘The Wrecking Crew’ (1968).
Verdade que Elke fez inúmeros filmes sérios, em que demonstrou as suas qualidades dramáticas, quer na década de 1960, quer depois, mas teremos sempre o guilty pleasure de gostar mais dela nestas leves paródias spy-fi, onde estava como peixe na água em modo auto-gozo, desfilando ponderadamente pelas cenas e transpirando uma potente aura sexual.
1. Luciana Paluzzi – 4 espiões (Bond + Solo + LaBath + Fenner)
No documentário ‘Bond Girls Are Forever’ (2002) Luciana Paluzzi, recorda, sem arrependimento, que na década de 1960 dava-se com todos os grandes realizadores do cinema italiano; Fellini, Antonioni, Visconti, que a adoravam, mas quando vinha à baila ela realmente aparecer num dos seus filmes, eles ficavam reticentes. Esta foi a sina da belíssima Luciana que, depois de um começo pouco auspicioso no cinema de série B e nalgumas séries americanas, deixou uma marca indelével no spy-fi, uma forma de cinema que esses grandes artistas consideravam menor, recusando-se assim a dar-lhe um lugar ao lado de outras deusas italianas como Sophia Loren ou Claudia Cardinale – um lugar, diga-se, que mereceria.
Baixa, voluptuosa, com um fogoso cabelo ruivo, voz melodiosa e um brilho entre o trocista e o sedutor no olhar, Luciana era perfeita para os dois papéis icónicos que interpretou em 1965: a vilã Angela, que vai para a cama com espiões antes de os matar num episódio de ‘The Man from U.N.C.L.E.’ (que seria re-editado no telefilme ‘To Trap a Spy’) e Fiona, no mais espectacular (pelo menos para mim) filme de James Bond ‘Thunderball’. Verdade que Fiona não é muito diferente de Angela, mas a sua fascinante interpretação, mortalmente sedutora, e como a primeira Bond-girl a não se deixar seduzir pelos charmes de Connery, é absolutamente memorável. Mas é tão boa no papel – para mim é a melhor Bond-girl de sempre! – que isso acabaria por ser a sua maldição. Repetiria a dose da spy-fi girl (já sem a ambiguidade da vilã) com Robert Vaugh no menor ‘The Venetian Affair’ (1966), e depois ao lado de John Gavin num papel inócuo num dos filmes de OSS 177: ‘Niente rose per OSS 117’ (1968).
Infelizmente, nunca conseguiria transitar para o dito ‘cinema sério’, restringindo-se à ficção científica de série B de Hollywood (‘The Green Slime’; ‘Captain Nemo and the Underwater City’) e a uma série de filmes de acção/policiais menores (embora alguns até bastante interessantes como ‘La morte non ha sesso’, 1968 – recomendo). Mas para os fãs será, para sempre, a mais sexy vilã da saga Bond. Não é coisa pouca. É o seu cantinho de imortalidade.
Baixa, voluptuosa, com um fogoso cabelo ruivo, voz melodiosa e um brilho entre o trocista e o sedutor no olhar, Luciana era perfeita para os dois papéis icónicos que interpretou em 1965: a vilã Angela, que vai para a cama com espiões antes de os matar num episódio de ‘The Man from U.N.C.L.E.’ (que seria re-editado no telefilme ‘To Trap a Spy’) e Fiona, no mais espectacular (pelo menos para mim) filme de James Bond ‘Thunderball’. Verdade que Fiona não é muito diferente de Angela, mas a sua fascinante interpretação, mortalmente sedutora, e como a primeira Bond-girl a não se deixar seduzir pelos charmes de Connery, é absolutamente memorável. Mas é tão boa no papel – para mim é a melhor Bond-girl de sempre! – que isso acabaria por ser a sua maldição. Repetiria a dose da spy-fi girl (já sem a ambiguidade da vilã) com Robert Vaugh no menor ‘The Venetian Affair’ (1966), e depois ao lado de John Gavin num papel inócuo num dos filmes de OSS 177: ‘Niente rose per OSS 117’ (1968).
Infelizmente, nunca conseguiria transitar para o dito ‘cinema sério’, restringindo-se à ficção científica de série B de Hollywood (‘The Green Slime’; ‘Captain Nemo and the Underwater City’) e a uma série de filmes de acção/policiais menores (embora alguns até bastante interessantes como ‘La morte non ha sesso’, 1968 – recomendo). Mas para os fãs será, para sempre, a mais sexy vilã da saga Bond. Não é coisa pouca. É o seu cantinho de imortalidade.
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