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Top 10 grandes citações cinematográficas – edição comédia "clássica"

Grandes citações cinematográficas. Todos as conhecemos. “I’m gonna make you an offer you can’t refuse”. “Rosebud”. “Are you talking to me?!”. “We’ll always have Paris”. E, claro, todos já as usamos, numa altura ou noutra, na brincadeira, porque fazem parte do imaginário comum da nossa cultura, e são reconhecidas por todos, cinéfilos ou não cinéfilos, tenham ou não tenham visto os filmes em que aparecem.

Por isso mesmo, para mim, essas citações são menos apelativas. Talvez seja porque já se tornaram tão batidas que perderam a sua mística. Talvez seja porque, como são de todos, deixaram de ter a intimidade da ‘private joke’, a cumplicidade de quem partilha filmes e brincadeiras. Ou talvez seja porque só são citações engraçadas porque já foram infinitamente parodiadas, e não porque são engraçadas em si. Aliás, nas listas das grandes citações cinematográficas, há frases icónicas, intensas, dramáticas, românticas e até sarcásticas, mas frases realmente engraçadas, ou que não são tão engraçadas quanto isso, mas são infinitamente engraçadas no contexto do filme, estão ausentes. Os tops de melhores citações de comédia são geralmente tops à parte, e como pude constatar a pesquisar para este post, geralmente referem-se a filmes dos últimos vinte anos, às comédias de Adam Sandler ou Ben Stiller ou do ‘American Pie’. Alguns tops cometem a ousadia de ir até aos filmes de adolescentes ‘brat pack’ dos anos 1980, mas são raros. E tops contendo citações de filmes anteriores nem vê-los, a não ser que sejam temáticos (as melhores frases de Mel Brooks, por exemplo).

Para colmatar essa falha nos tops por essa internet fora, segue-se o Top 10 (sem uma ordem particular) daquelas que são, para mim, as grandes citações cinematográficas da comédia que apelido de “clássica”. Uso o termo num sentido lato e extremamente pessoal. Estas são as citações dos filmes da minha infância e adolescência (daí a inevitável restrição ao cinema americano), as frases que me ficaram no ouvido desde que me recordo de ver cinema, e que foram repetidas vezes sem conta em brincadeiras com os meus irmãos ou os meus amigos. São as frases que ainda me excitam quando revejo os filmes onde elas se encontram, pois ao ouvi-las de novo recordo bons momentos de infância. São as frases que, por incrível que possa parecer, ainda fazem parte do meu léxico, para descrever uma panóplia de sensações (correndo o risco de quem me ouve pensar que sou maluquinho!), e que ainda conseguem entrar sub-repticiamente nas conversas com aqueles que me são mais chegados e partilham comigo essa memória, essa cumplicidade, essa alegria que foi (e é!) descobrir cinema à medida que fomos (e vamos!) crescendo. Sempre que consegui encontrar, introduzo o clip do filme onde a citação aparece, para que o leitor possa entrar também para este meu círculo de cumplicidade. Não fosse esse o objectivo de EU SOU CINEMA. 


“You’ll have to talk a little louder”

Filme: A Day at the Races ('Um Dia nas Corridas', 1937, dir. Sam Wood)

Quem a diz, e em que contexto: Dr. Hackenbush (o incomparável Groucho Marx) a fazer-se passar por um coronel texano a fingir que está no meio de um furacão, para minar uma chamada telefónica. 

Porque a adoro: Groucho di-la de uma forma incrivelmente engraçada, com um sotaque e um tom hilariantes, e uma folha de papel presa numa ventoinha para simular o temporal. É a minha maneira particular de encarar o mau tempo. Outros lutam para manter o guarda-chuva aberto. Eu digo esta frase. Há malucos para tudo. 




“At ease!”

Filme: Stalag 17 ('Inferno na Terra', 1953, dir. Billy Wilder)

Quem a diz, e em que contexto: O soldado Marko (William Pierson), que distribui o correio no campo de concentração, cada vez que os soldados ficam inquietos. O soldado Animal (Robert Strauss) repete-o, como um eco, cada uma das vezes.

Porque a adoro: Um pedaço incrivelmente simples, mas incrivelmente eficaz de comédia, tão característico de Billy Wilder. Duas palavras, dois soldados, dois tons de voz que são uma antítese um do outro, e uma frase a usar (com qualquer um dos tons de voz, embora eu prefira o primeiro!) em qualquer ocasião em que queremos dizer a alguém para aguentar os cavalos.





“In a manner of speaking!” 

Filme: Bringing Up Baby ('Duas Feras', 1938, dir. Howard Hawks)

Quem a diz, e em que contexto: Mr. Gogarty (Barry Fitzgerald), depois de ter passado muito tempo a gabar-se de que havia domado o leopardo, quando o leopardo realmente aparece e é confrontado com as suas mentiras.

Porque a adoro: Primeiro porque 'Bringing Up Baby' é o clássico de comédia para acabar com todos os clássicos de comédia. Segundo porque Barry Fitzgerald é um rei. E terceiro porque é uma frase infinitamente engraçada que se pode aplicar em diversas ocasiões da vida real, sempre que se contorna um bocadinho a verdade... e muito mais engraçada quando a dizemos a alguém que a reconhece.


(infelizmente não encontrei um clip na internet!)


“A Handbag?!” 

Filme: The Importance of Being Earnest ('A Importância de se Chamar Ernesto', 1952, dir. Anthony Asquith)

Quem a diz, e em que contexto: Lady Bracknell (Edith Evans), a futura sogra de Ernesto, quando descobre que ele foi descoberto numa 'handbag' em bebé numa estação de comboios.

Porque a adoro: Uma frase clássica de Oscar Wilde transformada numa gloriosa frase de comédia pelo génio da actriz (que a diz com uma expressão e um tom impagáveis) e que desde a primeira vez que a ouvi, com a minha irmã, passou a significar indignação e espanto, qualquer que seja a circunstância, com ou sem 'handbags' ao barulho. É o que se chama uma private joke fraternal.





“Chargeeeeeeeeeeeee” 

Filme: Arsenic and Old Lace ('O Mundo É Um Manicómio', 1944, dir. Frank Capra)

Quem a diz, e em que contexto: O tio Teddy (John Alexander), um maluco ternurento que acha que é o presidente Teddy Roosevelt, cada vez que sobe a escadaria de casa rumo ao seu quarto.

Porque a adoro: Um grito que guerra, que com a entoação particular que Alexander lhe dá, e a dimensão cómica que o filme lhe dá com o seu uso recorrente, resulta na frase ideal para ser reproduzida quando é preciso um incentivo extra, em qualquer situação do dia-a-dia!





“Forgot the Mustard” e “Home Again”

Filme: You Can't Take It With You ('Não o Levarás Contigo', 1938, dir. Frank Capra)

Quem a diz, e em que contexto: O marido da criada da casa (Eddie Anderson), primeiro quando passa pela sala a correr para ir comprar mostarda para o jantar  e segundo quando vai parar à prisão e entra na cela.

Porque as adoro: Não é tanto pelas frases em si, mas mais pela entoação cómica do actor e o contexto que as envolvem, um contexto que se estende à gloriosa memória de todo o filme. Repeti-las para significar esquecimento de qualquer coisa (no primeiro caso), ou ao entrar em casa (no segundo), como é meu hábito fazê-lo, é mais do que ser engraçadinho (ou até engraçado); é fazer pequenas homenagens interiores a esta jóia, a esta obra-prima da história do cinema!

(infelizmente não encontrei um clip na internet!)


"Silence when you're shouting at me!" e "You are a monster and a monster, in that order" 

Filme: What's New Pussycat ('Que há de novo, gatinha?', 1965, dir. Clive Donner, Richard Talmadge)

Quem a diz, e em que contexto: Dr. Fritz Fassbender (o grande Peter Sellers) na discussão com a sua mulher que abre o filme.

Porque as adoro: Basicamente, toda a cena é genial. Mas estas duas frases, neste que é o primeiríssimo argumento de Woody Allen para o cinema, partem-me todo, e Peter Sellers tem o timing e a mestria cómica mais que adequadas para as executar na perfeição. E claro, são excelentes quebra-gelos em qualquer discussão.



"I see your Schwartz is as big as mine"

Filme: Spaceballs ('A Mais Louca Odisseia no Espaço', 1987, dir. Mel Brooks)

Quem a diz, e em que contexto: Dark Helmet (Rick Moranis) antes da sua batalha de 'anéis de luz' com Lone Starr (Bill Pullman)

Porque a adoro: Quando eu pouco mais tinha que 10 anos de idade, obviamente não tinha chegado ainda à inevitável piada sexual inerente, portanto via-a apenas como uma icónica frase pré-duelo, em tom de desafio, com o uso engraçado da palavra 'Schwartz'. Foi nessa perspectiva que a repliquei em inúmeras brincadeiras e ainda hoje me sinto tentado a fazê-lo em diversas ocasiões comparativas, embora, mais consciente do seu verdadeiro significado, tenha de me conter para a usar com moderação!



"Doc, Doc, come in Doc" e "The Doc's alive! He's in the Old West, but he's alive!"

Filme: Back to the Future, Part II (1989)

Quem a diz, e em que contexto: A primeira quando Marty McFly (Michael J. Fox) fala em walkie-talkie com Doc, quando regressam a 1955. A segunda quando, no final do filme, recebe a carta que Doc lhe manda de 1885.

Porque as adoro: Porque antes de saber que existia cinema pré-1980, o meu filme preferido era 'Back to the Future: Part II'. Foi um filme que me acompanhou por toda a infância e pré-adolescência, que hoje ainda estimo com grande carinho, e que me ensinou a adrenalina da acção/aventura, valores de amizade, questões existencialistas espacio-temporais mas também umas frases bem catitas, quer seja para telecomunicar (Doc, Doc, come in...) quer para mostrar espanto em geral (He's in the Old West, but he's aliiiiiiive!). Poderão argumentar que isto não são propriamente frases de comédia. Não me importo. Eu divirto-me a citá-las. A minha mulher que o diga...





"My wife..."

Filme: His Girl Friday ('O Grande Escândalo', 1940, dir. Howard Hawks)

Quem a diz, e em que contexto: O desgraçado Pettibone (Billy Gilbert), recorrentemente, sempre que quer argumentar o que quer que seja, embora seja geralmente interrompido antes de conseguir passar do 'My wife' ou 'My wife says...'

Porque a adoro: Gilbert é uma pérola hilariante num filme que é de si hilariante do primeiro ao último segundo. É uma frase que simboliza uma indignação contida, mas também uma cega confiança no conhecimento conjugal, ideal para ser reproduzida quando queremos reforçar um argumento cómico, mesmo que já esteja perdido à partida. 'My wife says...'. Mais nada. Que o diga o Pettibone.



(Não talvez a cena mais engraçada do filme com Pettibone, nem a com os melhores 'My wife', mas é a que consigo encontrar no Youtube!)

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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