Realizador: George Lucas
Actores principais: Hayden Christensen, Natalie Portman, Ewan McGregor
Duração: 142 min
Crítica: Como é que se critica a mais bem-amada saga da história do cinema? O que é que se escreve sobre os filmes que já toda a gente viu, inúmeros adoram incondicionalmente, e outros tantos têm memorizado, cena a cena, frame a frame? O que se pode acrescentar a um universo que é muito mais do que um evento cinematográfico, é uma filosofia de vida para todos os fãs que se renderam ao universo de fantasia galáctica que George Lucas concebeu na década de 1970? A resposta a todas estas questões é: não é possível.
‘Star Wars’ (‘A Guerra das Estrelas’) é um mundo infinito e nada que o crítico possa dizer surgirá como uma revelação. Já tudo se escreveu e reescreveu sobre Star Wars. Já tudo se sentiu, já tudo se amou ou detestou; a herança mitológica, a nostálgica aventura, a magia do entretenimento, a exuberância da fantasia, os inovadores efeitos especiais, a soberba banda sonora de John Williams. Portanto a única coisa que se pode acrescentar, realmente, é mais uma visão pessoal sobre a saga. É precisamente isso que me proponho a fazer. Saltar tudo o que já foi sobejamente debatido nas últimas décadas para me centrar de novo nos filmes em si, em seis reflexões (nem lhes vou chamar críticas) inspiradas pelo facto de, como um bom fã nerd, nas últimas seis sextas-feiras ter revisto cada um dos seis filmes da saga, ou não estivesse a estreia de ‘Star Wars Episode VII: The Force Awakens’ a aproximar-se a passos largos!
O que se segue são as minhas sensações e reacções instintivas a cada um dos filmes, rabiscadas agora, tantos anos e tantas visualizações depois, com a plena consciência de que os sei de cor, de trás para a frente e da frente para trás até ao mais ínfimo pormenor (eu avisei… nerd!), mas ao mesmo tempo a tentar ter algum distanciamento (tarefa quase impossível num conjunto de filmes que diz tanto a nível pessoal) para procurar analisar objectivamente a lógica do todo. Depois de ‘Ep. I: The Phantom Menace’ agora ‘Ep II: Attack of the Clones’. Que a força esteja convosco!
O mais curioso é que, mais de uma década depois, Ep. II ainda é um filme que faz as mesmas promessas. Quando nos predispomos a rever Ep. II, mais que certo acabamos de ver Ep. I e portanto não podemos deixar de sentir essa mesma expectativa uma e outra vez (mesmo sabendo que não vai ser saciada), e somos ingénuos ao ponto de acreditar, por momentos, nessas promessas nas entrelinhas. Mas uma e outra vez, agora tal como em 2002, ficamos decepcionados (pelo menos eu fico). Para mim não há qualquer dúvida. ‘Star Wars Ep. II: Attack of the Clones’ é o pior filme da saga Star Wars. Repito. É O PIOR FILME DA SAGA.
Várias coisas se combinam para que assim seja, e todas, tal como em Ep. I, estão associadas às escolhas pessoais de Lucas, em termos de tom e rumo que decidiu dar às prequelas. Se Lucas tivesse escrito os três argumentos nos anos 1990 seria uma coisa. Mas, obviamente, não o fez. Foi escrevendo-os à medida que foi fazendo os filmes, e nota-se perfeitamente como de filme para filme vai modificando coisas para acomodar as críticas que foi sofrendo. Mas é curioso notar também como Lucas fez caso das críticas digamos, mais populares (veja-se o drástico corte no tempo de antena da personagem de Jar Jar, reduzido a um aparte), mas parece ter feito ouvidos moucos às críticas mais sérias. Claro, entre as massas e os críticos, ouvem-se as massas. Afinal, são elas que pagam os bilhetes, certo?!
Uma promessa que o filme realmente cumpre é proporcionar-nos, no seu ultimo terço, a mais opulenta e visualmente rica batalha de toda a saga (o ataque dos Clones que dá título ao filme). Para lá caminha desde a abertura do filme (é o seu grande propósito) mas o caminho que percorre é tortuoso, em vários sentidos. Visualmente, Ep. II representa tudo o que não se deve fazer em termos de efeitos especiais. O filme tem um uso exageradíssimo de CGI e um look completamente artificial, estragando, tal como o primeiro filme já começara a fazer (mas não com estes contornos tão exagerados) a grande memória do realismo aventureiro que os originais estabeleceram, e que ainda hoje perdura nos nossos corações. Em Ep. I elogiei o facto de os efeitos especiais serem soberbos, não só para a época, mas na forma como não eram usados gratuitamente, mas sim para potenciar a interacção entre os humanos e as criaturas e os cenários digitais. Apesar de tudo, em Ep. I os efeitos especiais ainda trabalham em prol da história e da colorida fantasia, familiar e infantil, que o filme pretende ser.
Mas vamos lá ver. Isto é Star Wars. Independentemente do que escrevi em cima, isto é Star Wars, e portanto, por definição, não pode ser completamente mau, porque há uma herança que sustenta o filme e um fascínio que é inato. Aliás, esse é o grande ponto a favor deste argumento. Existe no universo que amamos, as personagens movem-se nos limites da nossa familiaridade (mesmo que não o materializem e seja apenas uma sensação subconsciente) e consegue fazer a ponte, minimamente, entre as personagens que aprendemos a gostar em Ep. I (principalmente quando regressamos a Tatooine) e os eventos que sabemos, dos filmes originais, avizinharem-se num futuro próximo. Mas sinceramente, havia cem mil maneiras de fazer essa ponte em termos de história, e George Lucas escolheu a pior delas todas. O espectador pode rever o filme as vezes que quiser que haverá sempre coisas que nunca se poderão explicar.
Portanto, quando o filme começa a mostrar-nos os atentados contra a senadora Amidala, perguntamo-nos sempre porque raio há-de querer o Imperador matá-la, se o seu plano já está perfeitamente em marcha?! Isto para não falar do papel actual que ela detém no senado, que parece, neste momento, tão importante como o de qualquer outro senador (sensação essa ainda mais enfatizada em Ep. III onde Padmé já não parece ter importância política nenhuma). E se ela precisa de se esconder, porque é que há-de ir para o seu próprio planeta natal, Naboo, o local mais óbvio se alguém a quisesse procurar? O mais afastado Tatooine, onde acabam por ir quando Anakin começa a sentir que a sua mãe está em perigo, faria muito mais sentido. Mas claro, a história dos atentados origina algumas cenas iniciais de tensão (a perseguição em Coruscant é um dos momentos mais interessantes da prequela, tal como a caracterização da cidade) e depois a fuga de Anakin e Padmé para Naboo serve como catalisador do seu romance.
Isto é, se é que se pode chamar àquilo que se passa entre os dois um romance. O fantástico novo tema de John Williams (Across the Stars), e o facto de darem um beijo são as únicas indicações credíveis de que estas duas pessoas estão apaixonadas. Não será por nada do que dizem certamente. Este é um dos romances mais forçados e mais mal escritos da história do cinema, e a química entre Natalie Portman e Christensen é absolutamente inexistente. Emocionalmente, a sua relação não é nada mais que uma mistelada pastosa, forçada e incoerente, pior do que aquela que se vê em inúmeras novelas na TV. Continuo sem perceber como é que Padmé gosta de Anakin se tudo o que ele faz neste filme é amuar, queixar-se e ter atitudes egoístas. É por as mulheres gostarem de bad boys? É uma atracção física? Só pode. Padmé conheceu um miúdo de 10 anos em Ep. I. Não se apaixonou por ele aí certamente. Mas depois conheceu um tipo de 20 anos completamente mimado e que não tem um único gesto de afecto a não ser dizer umas baboseiras telenovelescas. Nem a mim nem a ninguém estas cenas convencem e só se salvam por serem as únicas filmadas em cenário real (nos lagos italianos), o que ao menos é um alívio depois de uma hora de CGI. Em Tatooine apenas o destaque para o ataque de Anakin aos Tusken Raiders, como um momento chave da sua viragem para o lado negro. Resulta, mas só porque ele não abre a boca. Esta é a triste verdade deste filme.
Mas temos inevitavelmente que admitir que a batalha final em Geonosis, entre os droides e os Stormtroopers, e entre os Jedi e o Sith Dooku enche o olho e é, como disse, um dos momentos mais excitantes da prequela, pela sua espectacularidade computadorizada e pelo simples facto de vermos tantos Jedi a lutar (e quão cool é Samuel L. Jackson a empunhar um sabre?!). Contudo, são emoções que duram sempre pouco, porque Ep. II é demasiado artificial, muito mais do que Ep. I. E rapidamente (demasiado rapidamente) perdemos o fio condutor da batalha para nos focarmos num pormenor que não tem o mínimo de força. Os trejeitos de personalidade de Anakin estragam tudo e não sabemos bem se é suposto partirmo-nos a rir quando Yoda se transforma numa espécie de Pokemon quando cruza sabres com o Conde Dooku.
No final, Ep. II não tem muito que abone em seu favor, em comparação com os restantes cinco filmes da saga. Podemos dizer que é o filme mais “urbano” da saga (os ambientes estilo ‘Blade Runner’ de Coruscant são exclusivos deste filme), é o mais disperso e diversificado em termos de planetas e espécies extraterrestres, é o mais ambicioso em termos de cenas de acção (que se multiplicam, desde a perseguição nocturna, à cena na linha de montagem, ao inicio da guerra), e tem alguns inesperados toques de classe, como por exemplo o Conde Dooku de Christopher Lee e claro, sempre que o agora Chancellor Palpatine aparece em cena. Ian McDiarmid continua a ser o mais espectacular actor das prequelas (de longe).
Contudo, no reverso da medalha, todos os escapes cómicos do filme roçam o ridículo (que dizer da cena C3PO vs. Droides?!), e a psicologia emocional das personagens é bastante fraca, para não dizer errada. Acima de tudo, acho que Ep. II não é apenas um mau filme (se se pode chamar isso a um filme de Star Wars sem ser atingido por um raio). É um filme que confunde os fãs porque existe à parte do universo que amamos. Ep. I é que era supostamente o filme mais infantil da saga, com a exuberância colorida dos anos 1990 e centrado num herói de 10 anos. Mas paradoxalmente, Ep. II com o seu argumento pastoso e a sua excessiva computadorização parece ser para um público ainda mais jovem. Ou melhor, Ep. I era para crianças que pensavam e que davam asas à imaginação e à fantasia. Ep. II já não. É para crianças preguiçosas, tal como Lucas parece ter sido extremamente preguiçoso a fazê-lo.
Contudo, no reverso da medalha, todos os escapes cómicos do filme roçam o ridículo (que dizer da cena C3PO vs. Droides?!), e a psicologia emocional das personagens é bastante fraca, para não dizer errada. Acima de tudo, acho que Ep. II não é apenas um mau filme (se se pode chamar isso a um filme de Star Wars sem ser atingido por um raio). É um filme que confunde os fãs porque existe à parte do universo que amamos. Ep. I é que era supostamente o filme mais infantil da saga, com a exuberância colorida dos anos 1990 e centrado num herói de 10 anos. Mas paradoxalmente, Ep. II com o seu argumento pastoso e a sua excessiva computadorização parece ser para um público ainda mais jovem. Ou melhor, Ep. I era para crianças que pensavam e que davam asas à imaginação e à fantasia. Ep. II já não. É para crianças preguiçosas, tal como Lucas parece ter sido extremamente preguiçoso a fazê-lo.
Mas, tudo somado, Yoda anda por aqui, Obi-Wan também, e aquele badameco que um dia se vai tornar Darth Vader (a sério?!) igualmente. Isso deve ser suficiente para a passagem obrigatória por este filme, entre os Ep. I e III. Não fosse essa feliz coincidência, poucos veriam este filme certamente. Sorte a dele. Assim vemo-lo sempre, uma e outra vez, com uma inevitabilidade trágica, como um guilty pleasure. E sempre que o vemos esperamos ser surpreendidos. Mas nunca somos. E sempre que o vemos esperamos que de tão mau se torne bom. Mas nunca se torna. O filme simplesmente não tem o que é preciso. Siga para o bem melhor ‘Ep. III: Revenge of the Sith’. Begun the Clone War has.
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