Realizador: Rob Marshall
Actores principais: Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Penélope Cruz
Duração: 118 min
Crítica: Nove estrelas em dez? Definitivamente não. Nove em cem? É mais provável…
Há muitos cinéfilos que não apreciam o género do musical, consideram-no menor, mas não é esse o meu caso. O meu filme preferido é um musical, ‘Les Demoiselles de Rochefort’ (1967, critica aqui), e para além disso sou um apaixonado pelos musicais dos anos 1930 de Fred e Ginger, por extravagâncias dos anos 1940 como ‘Yankee Doodle Dandy’ (1942) e basicamente quase tudo o que tenha Gene Kelly e tudo, absolutamente tudo, o que tenha Fred Astaire (Funny Face, Band Wagon,…). E quando o musical deixou de ser original e começou a basear-se em opulentos espectáculos da Broadway (anos 1950 e 1960) há ainda produtos de génio como ‘My Fair Lady’ ou ‘The Sound of Music’. Mas tirando algumas aberrações decadentes dos anos 1970 (não necessariamente más, veja-se o caso de ‘The Rocky Horror Picture Show’, 1977), e alguns filmes nostálgicos (‘Pennies from Heaven’, 1982) o musical esteve morto no cinema por quase 30 anos. E então aconteceu ‘Chicago’.
Em 2002 ‘Chicago’ foi mais do que uma moda. Para o bem ou para o mal (mais para o mal) ‘Chicago’, impulsionado pelo Óscar de Melhor Filme que recebeu (?!) marcou uma tendência para a década de 2000, um re-despertar do interesse por parte do público para este tipo de espectáculo. Convenhamos que a maior parte do público mundial não tem possibilidades de ver ao vivo os espectáculos da Broadway ou do West End. Portanto, à primeira vista, não há nada de errado em ir buscar inspiração a este tipo de shows para fazer cinema. Contudo, esta segunda moda pelos espectáculos da Broadway diferiu bastante da primeira nos anos 1960, já que todos quiseram ir atrás do modelo definido por ‘Chicago’ para ter rentabilidade na bilheteira. Em vez de opulentos espectáculos visuais, de invejável design de produção e sumptuosa fotografia, regressamos a um modelo mais confinado e estilizado, de estúdio, com uma montagem e um estilo de edição frenéticos, tal videoclip de música. Em vez de vermos canções interpretadas em grandes espaços abertos, no meio da acção, passamos a ter uma teatralização do número musical, como se os produtores achassem que o público não iria conseguir aceitar alguém a começar a cantar e a dançar no meio da rua. Em ‘Chicago’ sempre que há um número musical, a acção pára, e as personagens transladam-se para um palco imaginário. Na maior parte dos musicais da década de 2000, salvo raras excepções (‘Mamma Mia’, 2008, por exemplo), este esquema foi mantido. E por fim, em vez de grandiosos talentos da canção e da dança, passamos a ter actores famosos a pavonearem-se pela tela, como se de um reality show se tratasse. Todo o cinéfilo sabe que a voz de canto de Audrey Hepburn foi dobrada em ‘My Fair Lady’. O público queria ouvir as músicas cantadas na perfeição, e os produtores queriam dar essa perfeição. Agora o foco mudou. Veja-se o ataque aos ouvidos e à música que é Pierce Brosnan a cantar em ‘Mamma Mia’. Pode parecer um gato a ser esganado, mas aparentemente a maior parte do público achou (não sei como) fofinho ele ter feito esse esforço e aplaudiram em vez de vaiar. Estes três elementos; a quebra da acção para os números de canto e dança, a montagem frenética em género videoclip, e a introdução de actores, talentosos na actuação mas não tanto nas artes musicais, fazem-me detestar a maior parte destes musicais. O objectivo parece ser criar uma cena que possa ser espetada directamente num canal de música ou no youtube, não criar uma cena com qualidade cinematográfica…
Em 2009, desta forma, parecia que já todos os possíveis e imaginários musicais tinham sido feitos. Tivemos ‘Phantom of the Opera’ (2004), tivemos ‘Rent’ (2005), tivemos ‘Dreamgirls’ (2006), tivemos ‘Hairspray’ (2007), tivemos ‘Mamma Mia’ (2008), enfim, tivemos tudo. E em 2009 chegou ‘Nine’. Sinceramente, não percebo, olhando para a sua premissa, como é que ‘Nine’ alguma vez foi um sucesso na Broadway. E ao ver o filme percebo ainda menos. Admito que o conceito até tinha algum potencial, mas esse potencial não foi, de forma alguma, promovido. ‘Nine’ é uma adaptação musical do filme de Federico Fellini de 1963, ‘8 ½’, que pela forma como se desenrola e pelo seu estilo visual até poderia ter dado um musical interessante. Contudo, o maior problema que vejo em ‘Nine’, esquecendo o mau argumento, esquecendo as más músicas (já aí vamos), é precisamente a concepção, o fio condutor que está por detrás do filme. Acredite ou não leitor, os criadores de ‘Nine’ (pelo menos os do filme, não conheço a peça) tentaram realmente fazer um remake sério, em termos emocionais, da obra-prima neo-realista italiana. Pior, sendo isto um filme americano das massas, tentaram interpretá-lo, através das músicas, tornando-o “acessível”, descortinando os seus segredos, pincelando todas as emoções no ecrã sem qualquer contenção ou subtileza, para que o público não possa interpretar absolutamente nada por si, nem tenha que fazer o mínimo esforço intelectual para as perceber. Obviamente, isto torna as emoções superficiais e dá apenas uma única explicação possível para todas as coisas, ou seja, a história perde dimensão, mestria, intimidade, vertente artística, capacidade de ligação com a alma do público.
Resumido de uma forma simplista, ‘8 ½’ é sobre um realizador de cinema, Guido (no original o mestre Marcello Mastroianni) que tem uma crise existencialista de meia-idade quando está a preparar o seu novo filme. À medida que vai fingindo e fazendo bluff por todo o processo de pré produção, quando nem sequer tem um argumento escrito nem inspiração, Guido vai saltando entre as várias mulheres da sua vida e vai tentar reconciliar-se com a sua alma, com o seu passado, presente e futuro. E é esta versão simplista da trama que ‘Nine’ tem, sem tirar nem pôr. ‘8 ½’ era arte. ‘Nine’ é entretenimento. E, a começar pelo título, parece que nem sequer perceberam qual era a verdadeira essência do filme original.
‘8 ½’ chama-se assim pois Fellini já havia feito sete filmes e uma curta metragem (meio filme), e portanto, na sua contagem, este era o seu filme 8 ½. Não é segredo para ninguém que Guido é uma versão de Fellini. Neste filme, Fellini mostra um retrato egocêntrico de si próprio, envolvendo-o numa cortina filosófica e existencialista, e oferecendo-o ao público num pacote imaculado, visual, artística e dramaticamente. O filme é tudo menos claro, excepto numa intimidade subjectiva e subjacente, numa cumplicidade entre Mastroianni e o público, que se desenrola não ao nível daquilo que é mostrado, mas ao nível daquilo que é sentido. ‘8 ½’, a meu ver, é um filme de constante composição inconstante, para reflectir medos e sonhos, esperança e perda de fé, vida e o que existe nela, para além dela. O filme está cheio de cenas “normais”, de diálogo, de discussão, de sentimentos abertamente falados, mas tudo isso é fogo-de-vista que Fellini utiliza para se defender e esconder os seus verdadeiros desejos. Estas cenas estão perdidas por entre a verdadeira essência do filme, o que há por entre as linhas, e que é revelado através das inúmeras sequências sonhadas/surreais, de belíssima composição cinematográfica, que o filme contém. E toda a riqueza e significado de ‘8 ½’ está nestas cenas.
Agora ‘Nine’ para começar não percebeu a significância do título. O que é ‘Nine’? É oito e meio mais meio. Estarão eles a querer dizer que o seu filme só vale meio? Ora aí estava uma grande verdade. Que significa este acrescento de meio? É relativo à introdução de números musicais, à re-imaginação do filme dos anos 1960? É a luta de um homem para introduzir música na sua vida? Não se percebe, e não tem nada a ver com a luta de um realizador para fazer o seu filme 8 1/2, pois aqui o realizador não está a fazer o seu nono filme. Mas estamos a falar de um filme baseado numa peça da Broadway, baseada numa peça de teatro italiana, baseada num filme, portanto é normal que se perca alguma coisa pelo caminho. Depois, estes senhores também não perceberam nada da essência do filme original. ‘Nine’ tem inúmeras cenas ‘normais’, de diálogo, muitas até um total e completo copy/paste do filme italiano. Mas não há uma única cena sonhada/surreal. Ou melhor, há. No sítio onde todas elas existiam em ‘8 ½’, foram substituídas por números musicais em ‘Nine’. AHA! Grande ideia, pensaram eles…
E depois os produtores tiveram mais duas ideias iluminadas, daquelas que só o dinheiro pode comprar. A primeira foi ao nível da escolha do realizador, que recaiu sob Rob Marshall, o realizador de ‘Chicago’, cuja visão estabeleceu o tom para os musicais da década de 2000. Este encenador de teatro só havia feito um filme desde então, ‘Memoirs of a Geisha’ (2005), e a razão para ter decidido realizar este musical e não qualquer outro melhor desta década (ofertas não devem ter faltado, de certeza) deve ter sido, suponho, porque lhe acenaram muitos dólares à frente. A segunda ideia foi ao nível da contratação de actores. Duvido que haja filme com mais actores vencedores de um Óscar na sua ficha técnica. Guido é interpretado por nenhum outro senão Daniel Day-Lewis. Acho que, se por mais nada, ‘Nine’ vai ser relembrado por ser o único filme que Day-Lewis fez entre ter vencido o seu segundo Óscar (‘There Will be Blood, 2007) e o seu terceiro (‘Lincoln’, 2012). Tão esquisito que é com a escolha dos seus papéis, parece incrível que tenha decidido fazer este filme. Suponho que, para além dos dólares que também lhe devem ter acenado, a possibilidade de recriar o papel de Mastroianni tenha sido o principal aliciador para Day-Lewis. Isso e contracenar com uma carrada de mulheres sexy, já que o ultimo trunfo está precisamente na introdução destas meninas que giram à volta de Guido. Temos Marion Cotillard, temos uma inacreditavelmente sexy Penélope Cruz, temos Nicole Kidman, temos até Judi Dench e Sofia Loren (todas estas vencedoras de Óscar na altura em que este filme foi feito), e temos também outras como Kate Hudson e Fergie. E como seria de esperar, cada uma tem direito à sua música, as tais que substituem as cenas surreais/sonhadas de ‘8 ½’. E é aí que a porca começa a torcer o rabo, por mais sexy e por mais ‘music-video’ que sejam estas cenas.
Para começar, para um filme musical de 110 minutos é quase inacreditável que a primeira música surja somente passados 25 minutos de película. Até lá temos, em primeiro lugar, uma cena introdutória de música instrumental/dança que estabelece todas as personagens e o tom do filme, passada num plateau de cinema. É neste estúdio da Cinnecittá que se passarão 90% dos números musicais. Marshall faz exactamente os mesmo que fez em ‘Chicago’, sem originalidade nenhuma. O truque é exactamente o mesmo. No filme de 2002 onde quer que estivesse a acção, os números musicais eram executados num palco de teatro. Em ‘Nine’ são executados num plateau de cinema. Depois, é-nos também introduzida a história de Guido, em muitas cenas roubadas de ‘8 ½’ mas com um décimo da mestria e a curiosa inserção de uma personagem nova, a directora de guarda roupa interpretada por Judi Dench, que serve para Guido lhe contar coisas. Um dos tais artifícios para o público perceber como o homem anda deprimido...
E quando chega o primeiro número musical convenhamos que Daniel Day-Lewis a cantar não é propriamente a coisa mais espectacular do Mundo. O homem esforça-se, mas nesta altura há que aplaudir Meryl Streep. A mulher consegue fazer tudo, incluindo cantar (ver ‘Mamma Mia’). Day-Lewis consegue fazer tudo, mas cantar não é propriamente a sua chávena de chá. E aqui começamos também a perceber outra coisa. As músicas são todas inacreditavelmente más, com letras inacreditavelmente fracas. Não de banais note-se, não temos cá “I love you, you know I do”, mas estão escritas de uma forma tão intrincada que não há melodia que resista a estas letras. Cotillard canta varias vezes “my husband makes movies in which…”. In which? A meio de uma música? No mínimo invulgar. Se ao menos as melodias fossem boas, a coisa ainda passaria despercebida, mas não é esse o caso. Só os showstoppers ‘Cinema Italiano’, cantado por Hudson, e ‘Be Italian’ cantado por Fergie se safam em termos musicais nesta amálgama.
Como é óbvio, estas músicas de letras complexas mas nada ritmadas para encaixar numa frase musical, pouco ou nada contribuem para chegar ao âmago das personagens e são um muito pobre substituto das magníficas cenas de ‘8 ½’. Na minha opinião, a essência deste filme só levemente passa para ‘Nine’ e tê-lo visto é essencial para dar o mínimo de dimensão às personagens e à história. Senão estamos pura e simplesmente a ver o espectáculo pelo espectáculo, o que até poderia ser bom mas neste caso não é, porque o espectáculo deixa muito a desejar. É tudo superficial, tudo atrapalhado, e o conflito interior de Guido, o cerne do filme de Fellini, é pouco ou nada trabalhado, abafado pela necessidade da trama de saltar de menina em menina, de número musical em número musical. Ainda por cima, tirando a primeira música, as restantes são todas cantadas, à vez, por estas mulheres, por isso o Guido de Day-Lewis torna-se um mero espectador num filme que devia ser uma expressão do seu egocentrismo. A revelação emocional que as músicas supostamente dariam não surte efeito, pois não está focada em Guido, está focada nas personagens secundárias que seguem sempre o mesmo padrão; o padrão de uma estrutura fugaz e incoerente com o todo. As actrizes aparecem, tem uma cena de diálogo com Lewis, cantam a sua canção e depois desaparecem para não mais voltar. A revelação emocional das suas músicas, quando existe, vai-se embora com elas, e o fio condutor da personagem de Guido vai morrendo cada vez mais, com cada canção que é cantada. E morre ainda mais com as músicas que não fazem sentido na trama. Veja-se, por exemplo, a música ‘Folies Bergeres’ cantada por Judi Dench. Uma música sobre o teatro francês num filme sobre cinema italiano? É claramente uma música que funciona bem em palco, e que enche o ecrã (tem cor, montes de adereços e opulência), mas que é apenas um grande encher de chouriços. Que importância tem para o filme e para as personagens? Zero.
Hudson surpreende com a sua interpretação de ‘Cinema Italiano’, mas a sua personagem de jornalista americana (inventada para este filme) é inconsequente. Penélope Cruz não deixa ninguém lembrar-se da sua música pois está tão sexy que toda a gente fica abananada. Mas a sua sensualidade, para além de magnifica, é completamente descabida. A personagem da amante de Guido em ‘8 ½’ é decadente, outrora bela que agora perdeu o charme e a graça. Guido procura reacender a paixão infiel mas fica enfadado. Já em ‘Nine’ Penélope Cruz não é decadente, a sua beleza está tudo menos a esmorecer e a sua personalidade é bem melhor do que a da sua homóloga no filme italiano. Portanto, porque é que Guido se farta dela neste filme? Por fim, Cotillard surge como a única que dá emotividade dramática à sua interpretação. Aliás, a sua personagem, da esposa abandonada de Guido, está bem mais trabalhada que a correspondente no filme de Fellini. Chega a um ponto em que o filme parece ser sobre ela. Canta mais que uma canção e tem o seu arco emocional bem descrito, ao contrário do de Guido. Mas isto não dá crédito ao filme. Quando muito faz salientar a sua inconstância.
‘Nine’ tem ainda mais duas desfeitas graves. A primeira e usar Nicole Kidman no papel da musa, do anjo inspirador, que pertenceu a Claudia Cardinale. Cardinale em 1963 estava no pico da sua beleza jovem, um rosto natural, imaculado, angelical. Vê-la surgir de branco junto às termas é absolutamente de cortar a respiração, pela beleza dela e do plano. Já Nicole Kidman tem o rosto carregado de botox e nesta fase da sua carreira de virginal e inocência pura já tem pouco. O plano onde surge, num screen test, é sem duvida o enquadramento mais belo de todo o filme, mas esta personagem não representa uma inocência perdida, uma madona imaculada. É, simplesmente, mais uma personagem, ao estilo clássico de Kidman, mais uma personagem que entra e sai desta trama e que pouco deixa. Não é credível que seja uma musa inspiracional e compará-la a Claudia Cardinale é um insulto. Mais insulto é o casting de Sofia Loren. Se era para usarem uma senhora da velha guarda do cinema italiano, porque não contrataram Cardinale? Ao menos assim haveria um elo físico a ‘8 ½’. Se calhar tentaram, mas ela recusou… quem tem juízo recusaria fazer parte deste aborto….
A segunda desfeita é a ausência de um paralelo à famosa cena sonhada de ‘8 ½’ onde Mastroianni está vestido com uma fralda e uma toga romana, e tem um chapéu na cabeça e um chicote na mão. Aí, tal como animais numa jaula, Guido tenta domar as mulheres da sua vida. Da primeira vez que vi ‘Nine’ fiquei o filme todo à espera que esta cena aparecesse. Mas nunca apareceu. Eis aqui uma oportunidade para juntar todas as mulheres numa única sequência, eis a oportunidade para um número de dança magnífico. Mas não, nada, silêncio. Reproduzem frases rebuscadíssimas de uma cena esquecida, mas não tiveram coragem, inspiração ou talento para reproduzirem uma cena icónica de ‘8 ½’. No início e no fim, todas as mulheres estão juntas no plateau à volta de Guido. Não só não há uma música cantada ou um medley das canções das várias personagens, tal como a cena pedia (só há música instrumental) como há muita pouca dança (claro, estas meninas famosas não sabem dançar) e Day-Lewis está de fato e gravata. Teria sido épica, esta cena que nunca foi, e poderia ter salvo o filme…
Eu já vi ‘Nine’ duas vezes. Vi-o no cinema em 2009, não gostei, e vi-o a semana passada (tinha o DVD, que saiu de graça num jornal, há anos por abrir), logo após de ter revisto ‘8 ½’, e gostei ainda menos. Vê-los em sequência só faz salientar a genialidade de um e a incompetência do outro. Nem mesmo como filme musical se safa, quanto mais como filme no geral. Reitero a minha questão de como é que é possível Daniel Day-Lewis ter aceitado entrar num produto tão brejeiro, superficial e espalhafatoso como este? Suponho que se o espectador nunca viu ‘8 ½’, se está à procura de entretenimento ligeiro, se tem um gosto musical comercial e se gosta de olhar demoradamente para os contornos das mulheres mais belas de Hollywood, então este filme não será uma grande decepção. Caso contrário o choque será grande. Se o filme tivesse mais um par de canções (a canção principal do musical, ‘Nine’, por exemplo, foi cortada), se estas fossem de melhor qualidade, se os números de dança fossem mais ousados (só o de Fergie e o de Hudson ficam na retina), e se assumisse que iria cortar as cenas sérias e afastar-se do foro existencialista de ‘8 ½’, dando apenas um conteúdo suficientemente leve para suster as músicas, então poderia ter sido um novo ‘Chicago’ ou um novo ‘Mamma Mia’. Assim sendo é um projecto ambicioso e convencido, que tem mais buracos que um queijo suíço, composto por cenas sem profundidade, canções espetadas a cuspo e uma parada de estrelas. Está demasiado longe da essência do filme original para herdar alguma coisa dele, e tem muito pouco de próprio para oferecer algo de original. Está no purgatório dos maus filmes.
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