Realizador: Rian Johnson
Actores Principais: Daisy Ridley, John Boyega, Mark Hamill
Duração: 152 min
Crítica SEM SPOILERS; antes uma crónica sobre a vida e a morte de Star Wars; neste caso mais a morte…
Crítica: Finalmente, duas semanas após ter estreado, fui ver o oitavo filme do universo Star Wars (nono se contarmos com ‘Rogue One’): ‘Star Wars: Episode VIII - The Last Jedi’. Há muitos anos isto seria um motivo de enorme excitação e orgulho para mim. Não agora. Muito simplesmente ‘The Last Jedi’, depois da pura estupidez que foi ‘Rogue One’, prova aquilo que os verdadeiros fãs há muito sabem mas têm uma enorme relutância em admitir: que a Guerra das Estrelas que amamos desde a nossa infância desapareceu e já não volta.
Até parece que admitir tal coisa é admitir que não se gosta de Star Wars. Não compreendo porque assim é, ou pelo menos porque muitos pensam dessa forma. Estes novos filmes só foram feitos porque a Disney pagou uma fortuna a George Lucas pelos direitos da saga. Qualquer outro estúdio podia tê-lo feito se tivesse pago o que a Disney pagou, portanto o fã não lhes deve absolutamente nada. São estúdios diferentes, criativos diferentes, realizadores diferentes. Só os velhos actores são os mesmos. Mas como é um produto “oficial” Star Wars existe uma euforia generalizada. Por isso cria-se uma grande expectativa por cada novo filme, criam-se enormes filas nas bilheteiras (‘The Force Awakens’ rendeu dois mil milhões de dólares, ‘Rogue One’ mil milhões), e cria-se a noção de que é preciso necessariamente gostar destes novos produtos, porque gostar deles é reviver a magia que sentimos nos anos 1980, e porque queremos quase desesperadamente que as novas gerações sintam o mesmo.
"‘The Last Jedi’, depois da pura estupidez que foi ‘Rogue One’, prova aquilo que os verdadeiros fãs há muito sabem mas têm uma enorme relutância em admitir: que a Guerra das Estrelas que amamos desde a nossa infância desapareceu e já não volta."
Mas na realidade, quanto desta euforia provém deste nosso querer permanecer fieis aos filmes Star Wars e quanto provém da qualidade intrínseca dos filmes em si? Esta é a questão delicada que a maior parte dos críticos e fãs quer evitar mas que eu escrevo aqui, claramente, para todos lerem, pois é a questão que eu já fiz a mim próprio muitas vezes. Já a fiz nas prequelas que George Lucas realizou no virar do milénio, mas mesmo nesses mal-amados filmes encontrei motivos para me re-apaixonar pela saga. Porque, como escrevi no final da minha crítica a ‘The Force Awakens’, só George Lucas sabia o segredo. E voltei a fazer essa pergunta com mais afinco nos últimos dois anos.
Os novos filmes podiam apresentar uma visão diferente, mais moderna mas não menos interessante que ganharia toda uma nova legião de fãs. Mas não é o caso. ‘The Force Awakens’ e agora ‘The Last Jedi’ provaram ser uma enfadonha e desinspirada repetição, que cavalgam cegamente sobre os louros do universo original sem acrescentar nada de novo, sem chama e sem perceberem (e isto é o que mais me choca) what it is all about. Superficialmente e visualmente os elementos estão todos lá. Mas é apenas superficialmente. Espremendo as histórias, as personagens e os seus arcos não sai nada. Não sai absolutamente nada. O original 'Star Wars' baseava-se em seculares elementos culturais, mitológicos e lendários. Estes novos filmes baseiam-se apenas na lenda que é 'Star Wars'. E aí está toda a diferença. Escrevi na crítica a ‘The Force Awakens’:
“Tem a pirotecnia necessária para cativar as novas gerações. Tem o tom e as homenagens para cativar os fãs. Tem um pacote de entretenimento apelativo, embora repetitivo, durante duas horas para o colocar no topo dos melhores filmes de aventura do ano. Mas a sua alma mais pura, aquela alma que era a essência de Star Wars, de valores honestos e verdadeiros (não estes de plástico que satisfazem as distopias futuristas das novas gerações), não está presente. Pode-se reproduzir os faróis, mas tem que se acender as chamas. ‘The Force Awakens’ constrói todos os faróis, muito melhor que as prequelas. Mas não acendeu a chama.”
Idem idem aspas aspas para ‘The Last Jedi’, com duas ainda piores agravantes. Primeiro tem o mesmo tom de moralismo oco que fazia de ‘Rogue One’ um muito, muito mau filme de ficção científica de série B (pode ler tudo na minha crítica). E segundo tem um argumento que faz trinta por uma linha por tudo e por nada, numa tentativa ambiciosa de ser épico, um estatuto que nunca tem qualidade suficiente para atingir. Se pensarmos bem naquilo que as personagens fazem (e muitas vezes não fazem) ao longo do filme chegamos à conclusão que se estivessem sentadinhas numa nave durante o mesmo período de tempo o desfecho seria exactamente o mesmo. E isso é enfadonho porque nunca nos permite vibrar com a aventura, por mais pirotecnia que surja no ecrã.
"‘The Force Awakens’ e agora ‘The Last Jedi’ provaram ser uma enfadonha e desinspirada repetição, que cavalgam cegamente sobre os louros do universo original sem acrescentar nada de novo, sem chama e sem perceberem (e isto é o que mais me choca) what it is all about. Superficialmente e visualmente os elementos estão todos lá. Mas é apenas superficialmente. Espremendo as histórias, as personagens e os seus arcos não sai absolutamente nada."
Para mim foi revelador ouvir um miúdo de sete ou oito anos que estava sentado algumas cadeiras mais ao lado dizer ao seu pai que o filme era uma seca e que mais valia terem ido ver ‘Jumanji’. George Lucas teria tido um ataque se o ouvisse, porque ele sempre fez os filmes para miúdos desta idade. Eu senti a dor de ambos, porque também estava a sentir uma dor semelhante. O filme é realmente “uma seca”. Não tem química, não tem energia. As personagens não crescem um milímetro desde o filme anterior, embora o filme tente enganar-nos de quando em quando que sim. São o arquétipo que foi concebido há dois anos e nada mais. E a história é tudo menos original e surpreendente. Não tem um propósito, limita-se a andar em círculos sem nada para dizer, mesmo estado a seguir o molde daquele que é para muitos o melhor filme da saga: ‘The Empire Strikes Back’.
De facto, ‘The Last Jedi’ é um remake pouco mascarado de ‘The Empire Strikes Back’ tal como ‘The Force Awakens’ era um remake pouco mascarado do original 'Star Wars'. Se a Disney tivesse tentado ser original e falhasse então merecia aplausos por ter tido a coragem de tentar. Agora assim, repetindo morosamente um modelo perfeito e obviamente não o conseguindo emular, não merece consideração nenhuma. Merece o repúdio dos fãs. Desta vez, o filme foi escrito e realizado por Rian Johnson, responsável por ‘Brick’ (2005), ‘The Brothers Bloom’ (2008), ‘Looper’ (2012) e por alguns episódios de ’Breaking Bad’. A sua abordagem ao universo da Guerra das Estrelas é em termos argumentais linear, em termos visuais coerente mas monótona, e em termos de conteúdo extremamente pobre e inconstante.
O filme, como disse, tem a mesma estrutura de ‘The Empire Strikes Back’. Em ‘Empire’ a história, de uma simplicidade extrema, dividia-se em duas partes. Uma em que os rebeldes, mais concretamente Hans, Leia e Chewie, fugiam do Império desde a sua base inicial em Hoth até à Cidade das Nuvens. Essa “fuga” incluía várias set pieces de acção, ou pelo menos de tensão, como a passagem pelo campo de asteróides e o confronto nas nuvens. A outra parte via Luke a receber os ensinamentos Jedi do mestre Yoda, antes de confrontar no final Darth Vader.
Quem olhar com atenção aperceber-se-á que ‘The Last Jedi’ divide-se exactamente da mesma forma. Há uma linha argumental que segue os rebeldes, mais concretamente Leia, Finn, Poe e uma nova adição à equipa, Rose (uma personagem no mesmo cumprimento de onda das de ‘Rogue One’), enquanto fogem por meia galáxia desde a sua base inicial, sob ataque da Primeira Ordem, até à sua base final. E há uma segunda linha argumental que segue Rey, que procura receber os ensinamentos Jedi de Luke Skywalker antes de confrontar Kylo Ren e o Imperador Snoke…
"Não tem química, não tem energia. As personagens não crescem um milímetro desde o filme anterior (...) A história é tudo menos original e surpreendente. Não tem um propósito, limita-se a andar em círculos sem nada para dizer (...) E não há maturidade nenhuma a atingir porque não há qualquer valor que o filme queira aprofundar, a não ser voltar a enfatizar o contexto de lenda que a própria saga se tornou, dentro e fora do ecrã"
Mas apesar destas semelhanças estruturais há uma diferença notória em termos de conteúdo. Como escrevi na crítica a ‘The Empire Strikes Back’ o filme “livra-se de tudo o que é supérfluo para ir ao âmago da mitologia de ‘Star Wars’ e das suas personagens (…) Kershner conseguiu enfatizar o drama emocional das personagens no contexto da épica aventura de uma forma tão acutilante, num misto de humor simpático e intensidade dramática, que essas personagens se tornaram muito mais definidas, muito mais intensas, muito mais poderosas. (...) Em ‘Empire’, a saga atinge a sua maturidade emocional.”
Obviamente nada disto ocorre em ‘The Last Jedi’. Não há maturidade nenhuma a atingir porque não há qualquer valor que o filme queira aprofundar, a não ser voltar a enfatizar o contexto de lenda que a própria saga se tornou, dentro e fora do ecrã, como se vê pela ridícula cena final na mesma linha de filmes que todos os críticos desprezam como ‘Hercules’ (2014). Em ‘Hercules’, porque é um blockbuster acéfalo, então estas cenas são tidas como um cliché mal escrito. Em ‘The Last Jedi’, só porque é Star Wars, magicamente deixam de o ser? Claro que não. São más na mesma. Só não vê quem não quer.
Para começar continuo sem acreditar minimamente no contexto do universo concebido. Retomando a minha discussão anterior, é preciso repetir que este contexto não faz qualquer sentido. No final de ‘Return of the Jedi’ o Império foi destruído, os dois Sith existentes foram mortos e os Rebeldes retomaram o poder na Galáxia. Quem conhece a mitologia sabe que só há sempre dois Sith, o mestre e o aprendiz. Portanto se Palpatine e Darth Vader morreram, de onde apareceu este Snoke, e como é que obteve o seu poder negro? Se se tivessem passado trezentos anos, ou mil anos ou dez mil anos, podíamos acreditar que havia um novo regime e um novo Sith que havia sido concebido pelo lado negro da Força. Agora apenas trinta? Como é que em trinta anos os rebeldes perderam o controlo da galáxia para se tornarem outra vez os rebeldes? E se Snoke é um Sith tão velho e poderoso, então certamente já existiria há trinta anos. Mas não podia existir, porque já havia dois Sith nessa altura.
"Comparar Snoke com o genial Palpatine de Ian McDiarmid é como comparar Jar-Jar Binks com R2-D2 (...) Ren continua completamente unidimensional (...) E a importância de Rey na trama é extremamente diminuta e não há qualquer evolução do seu arco emocional. (...) Apesar de Luke avisar que a Força é mais do que fazer “truques bonitos”, é precisamente isso que Rey se limita a fazer e não parece que alguma vez o irá ultrapassar"
A presença de Snoke como um maléfico “Imperador” não só vai contra toda a mitologia como é totalmente forçada. Compará-lo com o genial Palpatine de Ian McDiarmid é como comparar Jar-Jar Binks com R2-D2. E curiosamente o filme sabe-o perfeitamente, por isso não tem relutância nenhuma em atirá-lo para segundo plano (de uma forma mais uma vez pouco credível) para suportar a ascensão de Kylo Ren. Mas como o espectador também nunca se ligou à personagem, não se importará muito. Na realidade, a única coisa para que Snoke serve neste filme é para verbalizar as críticas a Ren que os fãs fizeram nos últimos dois anos: como é que perdeu um combate de sabre de luz com Finn e Rey? E é isto. Intensidade de vilão: zero. Capacidade de gelar a espinha: zero. Importância na trama: zero. Mas se ao menos Ren cobrisse estes pontos, perdoaríamos a ofensa. Mas não cobre.
Detestei a personagem de Ren (e o actor) no primeiro filme. Agora o actor está ligeiramente melhor (menos beicinho fica sempre bem) mas a personagem continua completamente unidimensional. Os motivos para a sua caída para o mal (que aqui são reveladas) são tão parvos que fazem ‘Attack of the Clones’ parecer um filme muito bem escrito (o que diga-se não é fácil!). O filme tenta criar alguma tensão sobre se ele vai voltar para o lado bom, e em contrapartida se Rey vai ceder para o mal (não é spoiler, é insinuado no trailer), mas realmente alguém acredita nisso? O vilão não se vai regenerar no filme do meio de uma trilogia, e a heroína não se vai tornar má porque senão lá se iam as vendas dos bonecos e o apelo ao público feminino que tão cuidadosamente foi concebido na criação desta personagem principal. O que nos leva a o outro ponto. É Rey a personagem principal?
A coisa que mais me surpreendeu em ‘The Last Jedi’ é que a resposta à pergunta anterior é não. E não é porque aparece muito menos tempo no filme que Finn e Poe (já aí vamos) mas porque a sua importância na trama é extremamente diminuta e não há qualquer evolução do seu arco emocional. De facto, a única coisa que muda é o cabelo. Mesmo. Tal como no primeiro filme, Rey é a “escolhida” e comporta-se sempre como tal. Não aprende nada porque já sabe (ou acha que sabe) tudo. Nem o agora eremita Luke lhe ensina particularmente algo de novo, e a sua ida à Ilha distante é totalmente desnecessária para o seu crescimento como Jedi, ou pelo menos nesta nova versão de um Jedi. Apesar de Luke verbalizar as inseguranças dos próprios espectadores, nomeadamente que a Força é mais do que fazer “truques bonitos”, é precisamente isso que Rey se limita a fazer e não parece que alguma vez o irá ultrapassar.
"Mark Hamill tem uma boa interpretação, mas o seu papel é bastante fora de carácter (o Luke de Lucas nunca faria aquilo!). Um twist interessante? Talvez. Digno? Nem tanto. Claro que é um prazer ver um talento como Hamill regressar aos velhos palcos, tal como foi ver Ford no filme anterior, mas o papel é igualmente inglório porque nunca pode realmente tirar protagonismo à nova geração, que simplesmente não merece os sacrifícios que são feitos por ela."
Na realidade, o filme não parece saber bem o que fazer com Rey neste filme. Alguns segredos (como o da sua origem) são rapidamente dissipados sem que se tire daí qualquer elação; o seu romance platónico com Finn continua incrivelmente forçado e sem química; não mata Ren quando tem mais que oportunidade (quer regenera-lo e é isso que provavelmente fará no terceiro filme); e até na batalha final, na qual entra de fugidia, tem uma importância a roçar o nulo (um bocado de dinamite serviria igual propósito). De facto, o filme dedica-se muito mais a homenagear Luke, ou pelo menos como Rian Johnson o imagina mais velho. É verdade que Mark Hamill tem uma boa interpretação, mas o seu papel é bastante fora de carácter (o Luke de Lucas nunca faria aquilo!). Um twist interessante? Talvez. Digno? Nem tanto. Claro que é um prazer ver um talento como Hamill regressar aos velhos palcos, tal como foi ver Ford no filme anterior, mas o papel é igualmente inglório porque nunca pode realmente tirar protagonismo à nova geração. Geração essa que, infelizmente, simplesmente não merece os sacrifícios que são feitos por ela. E isso pesa-me, como fã de longa data.
E o que é que andam os rebeldes a fazer durante todo este tempo? Basicamente a fugir de naves da Primeira Ordem, no mesmo estilo forçado e artificial de ‘Rogue One’. A adrenalina já não é obtida por sequências brilhantemente encenadas como outrora. É obtida (ou pelo menos tenta-se) por mini-missões que têm de ser sempre muito bem explicadinhas. Agora precisamos de carregar naquele botão específico para desactivar o escudo. Agora precisamos de destruir aquele canhão específico. Agora precisamos de não deixar fugir aquela nave específica… Em cada um destes momentos parece que mais nada existe senão essa coisa específica, e sempre que cada mini-objectivo é cumprido parece que os vilões desaparecem por tempo suficiente para que se encontre outro mini-objectivo. É uma sucessão de momentos de tensão ocos e ridiculamente melodramáticos (a cena inicial tem o mesmo peso emocional que o final de inúmeros filmes deste género), onde os heróis principais miraculosamente sobrevivem e as personagens secundárias falecem sempre em prol da causa maior.
Poe passa metade do tempo às turras com um assunto que revolveria facilmente se Leia ou a nova Almirante Holdo (Laura Dern numa interpretação que apreciei) perdessem vinte segundos a explicar-lhe. Mas não perdem e assim mais “tensão” é incutida artificialmente no filme. E o trajecto de Finn e Rose é ainda mais inglório e irrelevante. Por um longo período do filme (longo mesmo), que inclui uma viagem a um planeta distante, Finn e Rose procuram uma coisa que lhes permitirá ter acesso a outra coisa que lhes permitirá conseguir fazer ainda uma terceira coisa que poderá eventualmente, quiçá, se calhar, ajudar uma nave rebelde. É tão rebuscado que até mete dó. Pior ainda, depois de gastar tanta saliva o filme até se esquece que essa aventura não tem desfecho. Foi basicamente tempo perdido (excepto a oportunidade de ver Benicio Del Toro). Visto que o filme tem quase 2h30, podia ter-se eliminado completamente esta sequência para o tornar mais pequeno, mais focado e, é preciso admiti-lo, melhor.
"A única coisa que verdadeiramente me apelou foi o visual. É-se totalmente coerente com o estilo ‘back to basics’ de ‘The Force Awakens’ obtendo-se assim o melhor de dois mundos; a maravilha dos efeitos digitais mas com o look agastado e naturalista dos filmes originais. (...) Mas é pena que seja apenas no visual. Isso o dinheiro pode comprar. Para fazer o resto é preciso grande talento criativo, que parece ter desaparecido do cinema de Hollywood."
Tudo somado, e continuando sem contar nada da história, o que sobra? A única coisa que verdadeiramente me apelou foi o visual. É-se totalmente coerente com o estilo ‘back to basics’ de ‘The Force Awakens’ obtendo-se assim o melhor de dois mundos; a maravilha dos efeitos digitais mas com o look agastado e naturalista dos filmes originais. A adição de alguns elementos reais em substituição de digitais (particularmente numa personagem surpresa) ainda mais enfatizam a beleza visual que este filme possui. Mas é pena que seja apenas no visual. Isso o dinheiro pode comprar. Para fazer o resto é preciso grande talento criativo, que parece ter desaparecido do cinema de Hollywood.
No fundo, recordando aquele miúdo que estava na minha fila no cinema, o filme é uma valente seca. Por mais espectacular que seja o visual, esta obra é monocórdica. A tensão e a excitação existente são obtidas artificialmente e há inúmeras cenas inconsequentes. Logo no início, há abertas tentativas de tornar o tom do filme mais ligeiro e humorístico (mais Disney!), que a meio são esquecidas só para retornar no incrivelmente frouxo final moralista. E o argumento é fraquíssimo porque as personagens andam como baratas tontas de um lado para o outro sem fazerem ideia do que estão a fazer, a não ser cumprir os destinos do seu próprio lugar comum. “Fulfill your destiny” indeed…
"De ‘The Last Jedi’ levo a derradeira performance de Carrie Fisher, que é Leia como foi na vida; frágil exteriormente, forte interiormente. E levo Hamill, que demonstra o quão cool sempre foi, mesmo tendo passado ao lado de uma grande carreira. Agora Poe, Finn, Rey, Ren? Bah! Andaram para ali aos saltos durante 2h30, é verdade. Mas não me dizem nada. Não sei quem são. E sinceramente, não tenho interesse em voltar a ver um filme com eles."
Muito mais que o visual, que a mitologia, que a excitação da aventura, a verdadeira Força de Star Wars sempre foram as personagens. E chegamos ao fim de ‘The Last Jedi’ para descobrir que Leia e Luke, e até os secundários Holdo, Rosse e DJ (a personagem de Del Toro) são muito mais interessantes, e perduram muito mais na memória do espectador que as supostas principais: Ren, Rey, Finn e Poe. Era suposto? Provavelmente não. Este quarteto é o reflexo do cinema actual americano; personagens que o marketing e a comunicação social nos dizem que são espectaculares muito antes dos filmes estrearem, mas que raramente o são no próprio filme. Nunca ninguém tinha ouvido falar de Hans Solo antes de 'Star Wars' estrear. Foi o filme que o tornou imortal. Se alguém sem acesso à internet ou a uma televisão visse ‘The Force Awakens’ ou ‘The Last Jedi’ nunca iria ser fã de Rey ou Finn. E se 'Star Wars' não existisse, esta nova trilogia apareceria e desapareceria tão rapidamente como outras distopias futuristas como ‘Maze Runner’ ou ‘Divergent’ que ao terceiro filme já ninguém liga nenhuma.
Este é a triste verdade desta nova trilogia. Só chega onde chegou, como escrevi no início, a cavalgar a onda do universo original. Como é que esta linha argumental de plástico se vai suster no terceiro filme? Como é que estas personagens sem interesse vão conseguir continuar a existir numa nova aventura? Nem quero pensar. De ‘The Last Jedi’ levo a derradeira performance de Carrie Fisher, que é Leia como foi na vida; frágil exteriormente, forte interiormente. E levo Hamill, que demonstra o quão cool sempre foi (sempre o apreciei), mesmo tendo passado ao lado de uma carreira de mega-estrela de Hollywood nos últimos trinta anos. Agora Poe, Finn, Rey, Ren? Bah! Andaram para ali aos saltos durante duas horas e meia, é verdade. Mas não me dizem nada. Não sei quem são. E sinceramente, não tenho interesse em voltar a ver um filme com eles. Parece que Rian Johnson vai desenvolver mais uma nova trilogia. Deus nos ajude a todos. Volta, Hayden Christensen, estás perdoado!
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