Realizador: Irvin Kershner
Actores principais: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher
Duração: 124 min
Crítica: Como é que se critica a mais bem-amada saga da história do cinema? O que é que se escreve sobre os filmes que já toda a gente viu, inúmeros adoram incondicionalmente, e outros tantos têm memorizado, cena a cena, frame a frame? O que se pode acrescentar a um universo que é muito mais do que um evento cinematográfico, é uma filosofia de vida para todos os fãs que se renderam ao universo de fantasia galáctica que George Lucas concebeu na década de 1970? A resposta a todas estas questões é: não é possível.
‘Star Wars’ (‘A Guerra das Estrelas’) é um mundo infinito e nada que o crítico possa dizer surgirá como uma revelação. Já tudo se escreveu e reescreveu sobre Star Wars. Já tudo se sentiu, já tudo se amou ou detestou; a herança mitológica, a nostálgica aventura, a magia do entretenimento, a exuberância da fantasia, os inovadores efeitos especiais, a soberba banda sonora de John Williams. Portanto a única coisa que se pode acrescentar, realmente, é mais uma visão pessoal sobre a saga. Foi precisamente isso que me propus fazer há mais de um ano, pouco antes da estreia de ‘Star Wars Episode VII: The Force Awakens’. Saltar tudo o que já foi sobejamente debatido nas últimas décadas para me centrar de novo nos filmes em si, em seis reflexões (nem lhes chamei críticas) inspiradas pelo facto de, como um bom fã nerd, ter revisto os seis filmes da saga em seis sextas-feiras antes desse grande evento que marcou o ano de 2015.
Contudo, apenas acabei por publicar quatro das reflexões; as correspondentes à trilogia das prequelas; ‘Ep. I: The Phantom Menace’, ‘Ep. II: Attack of the Clones’ e ‘Ep. III: Revenge of the Sith’, e ao filme onde tudo começou ‘Star Wars – Ep. IV: A New Hope’. Simplesmente, não tive tempo de escrever as restantes duas relativas a ‘The Empire Strikes Back’ e a ‘Return of the Jedi’ antes de ir ver ‘The Force Awakens’ ao cinema. E portanto, após o facto, essa tarefa ficou esquecida e o tempo foi passando. Mas agora, depois de termos tido oportunidade de ver mais um filme da saga, ‘Rogue One’, decidi que já era mais do que tempo de completar esse ciclo, e assim ficar com a saga analisada na íntegra em EU SOU CINEMA.
O que se segue são então as minhas sensações e reacções instintivas aos filmes, tal como rabiscadas no meu fiel caderninho em Dezembro de 2015, tantos anos e tantas visualizações depois, com a plena consciência de que os sei de cor, de trás para a frente e da frente para trás até ao mais ínfimo pormenor (eu avisei… nerd!), mas ao mesmo tempo a tentar ter algum distanciamento (tarefa quase impossível num conjunto de filmes que diz tanto a nível pessoal) para procurar analisar objectivamente a lógica do todo. Quem espera sempre alcança portanto um ano e um mês depois da reflexão sobre ‘Star Wars’ aqui fica a de ‘The Empire Strikes Back’!
"A história da criação deste filme (...) é a própria história de George Lucas como cineasta; de tudo o que ele acreditava ser o Cinema, de toda a sua paixão, e a concepção de tudo o que ele acabaria por contribuir para esta forma de arte (...) Toda a produção de ‘Empire’, e como consequência todo o filme, está imbuído de uma épica, estranhamente trágica, estranhamente extasiante, energia criativa."
O Império pode ter contra-atacado depois de Luke e companhia terem conseguido destruir a primeira Estrela da Morte. Mas na realidade quem contra-atacou, contra tudo e contra todos, foi George Lucas. A história da criação deste filme, tal como espectacularmente contada no livro ‘The Making of The Empire Strikes Back’ de J.W. Rinzler (também o livro do meio de uma soberba trilogia de calhamaços) é a própria história de George Lucas como cineasta; de tudo o que ele acreditava ser o Cinema, de toda a sua paixão, e a concepção de tudo o que ele acabaria por contribuir para esta forma de arte.
‘Star Wars’ foi um incrível e inesperado sucesso. Ultrapassou ‘The Sound of Music’ (1965), ultrapassou ‘Jaws’ (1975) e tornou-se no filme mais rentável de sempre na bilheteira. Não foi só um filme que redefiniu o género da ficção científica ou que revolucionou os efeitos especiais; foi principalmente um filme que trouxe de volta uma extasiante sensação de aventura e felicidade que o cinema alienado dos anos 1970 havia perdido. Foi um filme que falou a famílias e gerações inteiras graças aos seus valores honestos e verdadeiros e ao seu estilo pura e classicamente cinematográfico. E foi o filme que permitiu a Lucas tornar-se independente do sistema de estúdios e perseguir os seus sonhos de cinema.
Era agora ou nunca. Embalado pelo sucesso, Lucas jogou a sua cartada definitiva para mudar para sempre a face do seu cinema e, como consequência, do nosso cinema. O Skywalker Ranch, o seu ‘retiro’, ainda hoje um lugar de referência no desenvolvimento das tecnologias digitais de som e edição, começou a ser construído num belíssimo vale verdejante a norte de São Francisco. A Industrial Light and Magic, a companhia que havia sido criada para ‘Star Wars’ teve liberdade para se expandir e desafiar os limites dos efeitos visuais. E a Lucasfilm assumiu inteiramente os encargos de produção de ‘Empire’, com um orçamento quase duplicado do filme original, ficando a 20th Century Fox, algo relutantemente, apenas num papel de distribuidora. Não havia volta a dar. O filme tinha de ser um sucesso para que a companhia, com toda esta injecção de criatividade que tinha de ser suportada financeiramente, conseguisse sobreviver. Só que nunca nenhuma sequela tinha feito tanto na bilheteira como o filme original. Mas sem parar para ponderar esta questão, Lucas e o seu séquito de criativos atiraram-se de cabeça, e portanto toda a produção de ‘Empire’, e como consequência todo o filme, está imbuído de uma épica, estranhamente trágica, estranhamente extasiante, energia criativa.
"Há uma palavra que para mim, agora, tantas visualizações depois, define ‘Empire’: focado (...) Se repararmos bem, o argumento segue uma clássica estrutura de uma aventura que nos leva “apenas” do ponto A para o ponto B (...) Mas esta simplicidade argumental é apenas superficial. ‘Empire’ livra-se de tudo o que é supérfluo para ir ao âmago da mitologia de ‘Star Wars’ e das suas personagens"
Há uma palavra que para mim, agora, tantas visualizações depois, define ‘Empire’: focado. É um filme extremamente focado. E, embora seja surpreendente constatar isso hoje, parece mais do que lógico que tinha de o ser. Era a única maneira de, na altura, funcionar, e de não se perder, como se perdem inúmeras sequelas. E esta contenção começa logo na construção da história, que não tem praticamente nenhuma ramificação, nem nenhuma trama secundária. Se repararmos bem, o argumento segue uma clássica estrutura de uma aventura que nos leva “apenas” do ponto A para o ponto B.
O ponto A é o planeta gelado Hoth (os inúmeros problemas da filmagem numa Noruega com o pior Inverno em décadas estão bem documentados no livro de Rinzler), onde os rebeldes têm uma base escondida que nos primeiros segundos de filme é descoberta pelo Império. Um destaque enorme tem de ser dado à excelente e visualmente excitante batalha de Hoth (em ‘Star Wars’ só vimos algo assim no final do filme) que, é incrível notar, demora uns estonteantes 40 minutos (num filme com 2 horas) antes praticamente da história arrancar. Depois disso ocorre a viagem até ao ponto B: a Cloud City. Hans (Harrison Ford) e Leia (Carrie Fisher) seguem no Millenium Falcon perseguidos pelas naves do Império e pouco mais fazem, realmente, do que ir fugindo pelo campo de asteróides. Já Luke (Mark Hamill) faz um desvio pelo planeta Dagobah para começar a ter a sua iniciação Jedi com Yoda (soberba criação pela mão do ‘marreta’ Frank Oz). Mas quando pressente os amigos em perigo também ele parte rumo a Cloud City. Aí, dar-se-á o seu icónico primeiro confronto face-to-face com Darth Vader e a (na altura) chocante revelação.
Mas esta simplicidade argumental é apenas superficial. ‘Empire’ livra-se de tudo o que é supérfluo para ir ao âmago da mitologia de ‘Star Wars’ e das suas personagens. De novo voltamos à palavra ‘focado’. Lucas, e bem, decidiu cingir-se a um papel de produtor, podendo assim supervisionar intensamente todos os aspectos da produção, do casting aos efeitos especiais (o que dá uma enorme coerência ao todo), mas evitando a extenuante agravante de ter de estar no plateau todos os dias. Assim sendo foi Irvin Kershner, um veterano realizador de dramas mais subtis à margem das grandes produções, o escolhido para essa tarefa. Mas o que à partida parecia uma bizarra decisão acabou por revelar ser uma das inúmeras manobras inteligentíssimas que Lucas executou na produção deste filme. E de facto, ainda hoje conseguimos desfrutar imenso do trabalho Kershner como realizador, e não temos dúvidas nenhumas em afirmar que é o filme mais bem realizado de toda a saga (Lucas é um grande produtor e um ainda maior editor, mas não é assim tão bom realizador e ainda pior argumentista…).
"Kershner conseguiu enfatizar o drama emocional das personagens no contexto da épica aventura de uma forma tão acutilante, num misto de humor simpático e intensidade dramática, que essas personagens se tornaram muito mais definidas, muito mais intensas, muito mais poderosas. (...) Em ‘Empire’, a saga atinge a sua maturidade emocional."
E o segredo está na forma como Kershner conseguiu fazer aquilo que Lucas não tinha conseguido completamente em ‘Star Wars’. Ou seja, Kershner conseguiu enfatizar o drama emocional das personagens no contexto da épica aventura de uma forma tão acutilante, num misto de humor simpático e intensidade dramática, que essas personagens se tornaram muito mais definidas, muito mais intensas, muito mais poderosas. A genial química entre Hans e Leia, e a forma como conduz a história desde os sarcásticos diálogos nas cavernas de Hoth até um dos mais citados momentos da história do cinema ("I love you" / "I know!") no final climático em Cloud City, é o mais perfeito exemplo disso. É precisamente por causa desta química crescente que a sequência da batalha de Hoth se torna tão excitante. Há uma sensação de perigo que nos liga não propriamente aos eventos, mas às personagens, enriquecidas pelos diálogos preciosos de Leigh Brackett e Lawrence Kasdan. E é precisamente por isso que acreditamos que Luke tenha de deixar o seu treino para ir tentar resgatar os seus amigos. As personagens deixaram de ser estereótipos lendários de um determinado perfil (o miúdo com desejos de aventura, a princesa, o rebelde) para passarem a ser intensamente reais no imaginário, quer do filme, quer do espectador. E isto também explica porque Han/Harrison Ford se tenha tornado muito mais popular e famoso que Luke/Mark Hamill, que por necessidades da história tem um papel mais solitário, introspectivo e contido.
Esta sensação acutilante realidade é algo transversal ao tom, ao look e à mensagem do filme. ‘Empire’ já não é como ‘Star Wars’, uma história auto-suficiente em que o bem triunfa sobre o mal e há uma grande festa no final. Tão facilmente Lucas poderia ter recriado essa fórmula, mas a longevidade da saga ficaria inevitavelmente condicionada pela repetição. Em vez disso, o segundo acto é construído no clássico modo operático onde tudo é mais negro, mais pesado, e os heróis têm de se passar por processos mais intensos para atingir um final que, ao contrário de todas as expectativas, não é feliz. O facto do filme se passar quase inteiramente no negro do espaço ou em ambientes crepusculares (Hoth está coberto de neve, a Cloud City é sempre filmada a meia luz), e não se ver um único raio de Sol (tão contrastante é de ‘The Phantom Menace’ por exemplo) tem um simbolismo significativo. A magia aventureira existe mas é, propositadamente, muito menos espectacular e exuberante do que a do primeiro filme. Em ‘Empire’, a saga atinge a sua maturidade emocional, e isso é um inesperado toque de pungência naquela que é, recorde-se, uma sequela de um blockbuster de aventuras espaciais. Não devia lá estar por todas as regras do género e das sequelas. Mas por estar torna ‘Empire’ muito especial.
Por um lado é inegável que Lucas exagerou. Por exemplo, a cena extremamente filosófica da Caverna do Mal em Dagobah, onde Luke entra e luta contra um Darth Vader ilusório que revela ter a sua própria cara, surge ainda hoje como um choque em cada visualização. Eu próprio nunca me lembro que essa cena faz parte do filme até ao preciso momento em que ela começa. Hoje essa cena nunca seria feita mas temos de nos recordar que ‘Empire’ surge no final de uma década muito particular na história da cultura americana, de valores decadentes e quebra de fé. A cena acaba por ser demasiado seventies (é a única datada de todo o filme) mas a verdade também é que dá uma inesperada ambiguidade ao herói que mais uma vez é totalmente invulgar. E obviamente, vai estabelecer um forte elo de ligação emocional à intensa revelação da sua paternidade.
"Yoda ensina o Jediismo, não como uma filosofia para “ganhar” (tal como os poderes geralmente são vistos nos filmes modernos, ‘The Force Awakens’ inclusive), mas como uma filosofia para “crescer” e enfrentar a vida. Os poderes que Luke vai adquirindo não são para poder fazer coisas espectaculares em batalha. São para encontrar a paz interior que o permita enfrentar os seus próprios medos."
Cada vez que vejo o filme procuro pôr-me na pele de um espectador de 1980 para tentar sentir o choque desse segredo. Mas como faz parte do meu imaginário e da nossa cultura desde sempre é uma tarefa impossível. Mesmo assim, há um enorme prazer, quase macabro, em ouvi-la uma e outra vez. Sustemos a respiração quando as frases chegam. E depois quase que aplaudimos. Não é só o momento mais espectacular de toda a saga da Guerra das Estrelas. É o nosso momento. É o momento em que a expressão de todas as nossas alegres fantasias e sonhos de aventura que era ‘Star Wars’, se torna também uma expressão dos nossos complexos e desejos ambíguos. A velha máxima de Hitchcock era que quanto melhor o vilão, melhor o filme. Em ‘Empire’ o vilão é soberbo. Não é apenas uma figura ameaçadora, uma sombra negra que cumpre o seu papel de vilão como em ‘Star Wars’. É o reflexo do eterno dilema do crescimento: a passagem da visão do pai como o herói que queremos emular enquanto crianças (era assim que o pai de Luke era visto em ‘Star Wars’) para o pai cujas pisadas não queremos seguir em adolescentes, embora em adultos descubramos que corremos o “risco” de mais cedo ou mais tarde nos tornarmos como ele. É esse o verdadeiro ‘lado negro’. Mas há sempre uma ponta de esperança. É a Força.
É aqui, no reverso da medalha, que está Yoda, a outra figura paternal deste filme, o velho mestre que substitui a presença de Obi-Wan Kenobi (embora Guinness tenha um pequeno e bem-vindo, embora desnecessário, papel). Yoda ensina o Jediismo, não como uma filosofia para “ganhar” (tal como os poderes geralmente são vistos nos filmes modernos, ‘The Force Awakens’ inclusive), mas como uma filosofia para “crescer” e enfrentar a vida. Os poderes que Luke vai adquirindo não são para poder fazer coisas espectaculares em batalha. São para encontrar a paz interior que o permita enfrentar os seus próprios medos. Interpretada assim, a cena da Caverna do Mal ganha outro significado. Para além do mais a manobra arriscada que foi a criação de Yoda (tão facilmente poderia fazer o filme descambar para a aura kitsch de um sci-fi dos anos 1950) resultou numa das mais inspiradas personagens do século XX. O trabalho de Frank Oz na gestão da marioneta é extremamente realista e incrivelmente soberbo (e já agora o pouco cantado trabalho de Hamill na realística interacção merece destaque) e toda a sua personagem transmite uma aura tranquila e luminosa. Os seus diálogos, sentidos e filosóficos (os mais profundos de toda a saga) permanecem, lições de vida, o símbolo dos valores pelos quais Lucas sempre regeu a sua visão de Star Wars, a encarnação de toda a mitologia do ‘coming ao age’ e da percepção do bem e do mal.
Esta é uma mensagem tão simples mas ao mesmo tempo tão complexa, porque a simplicidade com que é dada necessita de um enorme trabalho para que não seja apenas um oco debitar de lugares comuns. Da mesma forma como ‘fazer o bem’ não é uma linha recta que as personagens apreendem inequivocamente. É esta ambiguidade, extremamente bem construída, que distingue ‘Empire’. Mas ao mesmo tempo o filme tem tudo o resto, e isso é ainda mais brilhante. ‘Empire’ é um filme quase intelectual na forma como aborda psicologia das suas personagens (não deve nada a uma obra ‘artística’), mas não é pedante. Ou seja, tem o melhor de dois mundos: uma incrivelmente bem construída estrutura emocional mas envolta num pacote extremamente excitante de entretenimento.
"‘Empire’ é um filme quase intelectual na forma como aborda psicologia das suas personagens (não deve nada a uma obra ‘artística’), mas não é pedante. Ou seja, tem o melhor de dois mundos: uma incrivelmente bem construída estrutura emocional mas envolta num pacote extremamente excitante de entretenimento. (...) E a ligar tudo isto está primeiro a inspirada banda sonora de John Williams (...) e segundo a beleza realista dos efeitos especiais."
O ritmo do filme, capitalizando na economia argumental, raramente abranda, alternando enganadoras quebras de passo para aumentar o suspense com explosões de excitação que fazem com que o espectador fique sempre na ponta do seu assento. A sequência na caverna dos Mynocks é um bom exemplo, tal como o contraste das cenas de Luke em Dagobah com as do Millenium Falcon, muito bem integradas na montagem. A batalha de Hoth é soberba e depois claro, há todo o extremamente bem encenado confronto em Cloud City; da captura de Han (é incrível como foi preciso esperar três anos para saber o desenlace) à primeira grande batalha de sabres de luz da saga, depois da mais pesada coreografia do primeiro filme. O aspecto agastado e desesperado de Luke contribui, e muito, para o realismo maduro da obra e Darth Vader fica mais ameaçador a cada cena que passa.
E a ligar tudo isto está primeiro a inspirada banda sonora de John Williams, adicionando novos e excitantes temas à partitura original (sendo o expoente máximo a deliciosamente macabra Imperial March) e segundo a beleza realista dos efeitos especiais. Pode ser uma mistura de animatronics com os fabulosos matte paintings de Ralph McQuarie (não há palavras para os descrever) com stop motion, mas o resultado final, salvo raríssimos pormenores (o Tauntaun nunca resultou muito bem por exemplo), é inacreditável. Estávamos em 1980, mas estes efeitos são bem melhores que os de ‘Rogue One’, trinta e seis anos depois. Há um peso palpável nas criações, há profundidade e tridimensionalidade e uma sensação de contraste que os efeitos digitais modernos (para não falar de todos os restantes filmes da década de oitenta) nunca conseguiram reproduzir. Porque aqui foram realmente captados em câmara; todas as naves, todas as criaturas. E a câmara não mente.
No final não há muito mais a dizer que já não tenha sido dito e re-dito sobre ‘Empire’. Melhor sequela de sempre? Talvez, para mim, num honroso segundo lugar, atrás de ‘Back to the Future: Part II’ (1989). Melhor filme da saga Star Wars? Sem dúvida alguma. A aura pura do primeiro filme é impossível de recriar, mas ‘Empire’ encontrou um novo rumo por mérito próprio. É menos fantasioso e aventureiro, é menos exuberante, mas é um filme que pertence às personagens. Os sentimentos são soberbamente escritos (e descritos, pois nem tudo é dito), deliciosos à partes mantêm o tom humorístico/sarcástico no ponto, as personagens secundárias são excelentes (Chewie brilha mais, C3PO está em forma, o Lando de Billy Dee Williams é uma inspirada adição, o Imperador ameaça a sua presença pela primeira vez), e há sempre acção e ritmo a condizer, mas sem nunca (e isto é importante) se sobrepor às personagens.
"Nunca se fez um filme de aventuras tão simples mas tão intenso, tão excitante e tão profundo, tão artístico e tão fantasioso. Mas no fundo, é um filme que continua o legado da única maneira que ele devia ser continuado. Não é uma cópia ou uma homenagem ou uma repetição da lenda que é ‘Star Wars’, como todos os restantes filmes da saga que se seguiram até hoje. É o único que, mantendo os mesmos valores do original, cria a sua própria lenda. "
Hoje, quando já sabemos de cor e salteado o arco da história completa, a revelação impactante e o final em suspenso não surgem como meras desculpas para o terceiro filme, como é norma no cinema do século XXI. A quebra não é injusta, ou seja, Lucas não está a enganar o espectador para que ele volte a comprar um bilhete no ano a seguir. A história não se resolve, é certo, mas o filme foi muito mais do que a viagem de um ponto A para um ponto B. As personagens cresceram e amadureceram. E por isso é que é uma sequela brilhante; porque dá um passo à frente de ‘Star Wars’ em vários departamentos (efeitos especiais, qualidade da realização, intensidade emocional), mas principalmente no sentido em que consegue ver muito para além da lenda, para além da magia aventureira, e dá humanidade às personagens. Daí até à imortalidade é um passo.
O filme não foi um sucesso tão grande como o seu predecessor, mas tornou-se o terceiro filme mais visto de sempre, salvando Lucas e a sua companhia da bancarrota (dando-lhes assim espaço para crescer; os efeitos digitais modernos, o som e a montagem digital, e até a animação por computador surgiriam daqui) e dando mais um valente safanão no cinema de aventuras e ficção científica. De facto, nunca se fez um filme de aventuras tão simples mas tão intenso como ‘Empire’, tão excitante e tão profundo ao mesmo tempo, tão artístico e tão fantasioso. Mas no fundo no fundo, é um filme que continua o legado de ‘Star Wars’ da única maneira que ele devia ser continuado. Não é uma cópia ou uma homenagem ou uma repetição da lenda que é ‘Star Wars’, como todos os restantes filmes da saga que se seguiram até hoje. É o único que, mantendo os mesmos valores do original, cria a sua própria lenda. E que lenda. ‘The Empire Strikes Back’ é único. Todos sabemos isso. E sempre irá continuar a ser.
Um filme que jamais será esquecido, graças a qualidade e a inovação na época.
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