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Knight of Cups

Ano: 2015

Realizador: Terrence Malick

Actores principais:  Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman

Duração: 118 min

Crítica: Malick. Terrence Malick. Filme número 7 em 43 anos de carreira. Um número especial, com vários significados existencialistas, que para um realizador como Malick, o maior filósofo do cinema moderno (ou pelo menos do cinema mainstream) poderia ter inspirado uma obra transcendental, como muitas do seu passado cinematográfico. Poderia, mas não é isso, com uma enorme tristeza da minha parte, que acontece em ‘Knight of Cups’.

Durante anos, praticamente desde sempre, Malick foi o meu realizador preferido. Na minha crítica a ‘To the Wonder’, o seu último filme datado de 2012, descrevi ao pormenor a forma como conheci e me apaixonei pelo seu cinema, depois de ter visto na pré-adolescência ‘Badlands’ (1973) e principalmente ‘Days of Heaven’ (1978), um dos melhores filmes alguma vez feitos e que estabeleceria o look definitivo das suas obras; a fotografia de cortar a respiração, a voz off filosófica e existencialista, a câmara sempre ao nível do olhar das personagens, e uma história menos relevante que as próprias emoções, essas sim o verdadeiro cerne dos filmes. Após vinte anos de ausência, em que viveu em Paris escrevendo argumentos de forma não creditada e ensinando filosofia, Malick decidiu regressar ao cinema com ‘The Thin Red Line’ (1998), que fui ver excitadamente com 14 anos de idade, selando incondicionalmente a minha devoção ao seu trabalho. Contudo, desde então, Malick decidiu enveredar por uma reforma à Manoel de Oliveira, deixando cada vez menos espaço entre os seus filmes e embrenhando-se cada vez mais na lenda da sua arte.

"O que é que se faz depois de se fazer a perfeição? Para onde é que se vai depois de se ter atingido o pico? (...) Desde 'Tree of Life', e tendo que ser honesto, comecei lentamente a ficar demasiado desapontado com a direcção que o cinema de Malick tomou e que continua, infelizmente, a tomar com este novo filme."

Se ‘The Thin Red Line’ (um dos melhores filmes de guerra alguma vez feitos) ainda seguia um argumento escrito, lentamente começamos a ver isso desaparecer. Os seus filmes passaram a seguir um guião emocional, criado menos no plateau, mas principalmente nos extensos períodos de pós-produção que Malick da a si próprio o luxo de ter, onde entrecruza filmagens, sons e voz offs desconexas para criar uma viagem visual enriquecida por uma torrente de sentimentos que cabe a cada espectador interpretar por si. Se ‘The New World’ (2005) converge para esta maneira única de fazer cinema, é realmente com ‘Tree of Life’ (2011) que Malick nos oferece o pico da sua arte como cineasta; uma obra-prima quase insuportável de tão magnificente, um mosaico de emoções comandado por um formalismo estético livre, puro, delicado, mas também pesado e profundo, oferecendo-nos vida (toda a vida) e cinema (todo o cinema) em duas horas de tirar o fôlego. Foi para ‘Tree of Life’ que Malick caminhou toda a sua vida, foi para essa peça de arte (pois é arte) que todos os seus filmes se foram construindo, e é aí que a sua existência como cineasta e como ser humano faz sentido, em si mesmo, mas também para nós, fãs, espectadores.

Mas o que é que se faz depois de se fazer a perfeição? Para onde é que se vai depois de se ter atingido o pico? ‘Tree of Life’ gerou enormes sentimentos contraditórios na comunidade crítica cinematográfica e nos espectadores, e serviu de oportunidade para muitos acusarem Malick daquilo que, injustamente, já desde ‘Days of Heaven’ era acusado; de ser um criador de obras ocas e pretensiosas, só com forma e sem conteúdo. Sempre fui um acérrimo defensor de que isto era uma grande calúnia. Como podemos acusar ‘Days of Heaven’, ‘Tree of Life’ ou ‘The Thin Red Line’ de serem ocas, de serem pretenciosismo estético? Como podemos, se está tudo lá; mestria na realização, beleza indescritível na fotografia (e de Nestor Almendros a Emmanuel Lubezki, Malick sempre se uniu aos maiores DOPs), um genial gerir de emoções, e uma incrível profundidade (filosófica, existencialista, sentimental)? Como podemos, se as obras são visualmente ricas e multifacetadas, comparando-se às maiores pinturas, às maiores esculturas, e que realmente catapultam o cinema (ou pelo menos este cinema) para um estado sublime de criação artística inolvidável, que ninguém, pelo menos em Hollywood, pelo menos com estes elencos de grandes estrelas, consegue, nem de perto nem de longe, atingir?!

Até ‘Tree of Life’, nunca concordei com estes críticos. Mas desde então, e tendo que ser honesto, comecei lentamente a ficar demasiado desapontado com a direcção que o cinema de Malick tomou e que continua, infelizmente, a tomar com este novo filme, cujas filmagens terminaram já em 2013 e que Malick passou os últimos dois anos a montar. A partir de 2011 e ‘The Tree of Life’, Malick iniciou uma grande odisseia cinematográfica auto-biográfica. Este filme era influenciado pela infância de Malick no Texas e pelo seu olhar sobre o significado da vida, enquanto ‘To the Wonder’ (lançado um ano depois, algo surpreendente para o homem que deixava quase uma década entre filmes) reflectia a sua vida amorosa (os paralelismos com o seu casamento eram mais que óbvios) e, como contraponto, o seu olhar sobre a religião, uma via secundaria que entrava no filme de uma forma algo forçada. Mas o abismo entre ‘Tree of Life’ e ‘To the Wonder’ é colossal. Se o primeiro é arte, o segundo, apesar de não deixar de ser um filme muito bem feito, é, como lhe chamei, ‘rotina-Malick’, Malick a imitar Malick. Se existisse como ente isolado seria magnífico, mas após tantas belas obras parece algo manco em comparação.

"Infelizmente, ‘Knight of Cups’ prova que ‘To The Wonder’ não foi apenas um caso isolado, e que a decadência estética, a auto-citação enfadonha, a bela fotografia mas em piloto automático, e a forma sem conteúdo que muitos acusaram Malick de ter antes de ele realmente as ter, profeticamente estão agora aninhadas no seu trabalho"

Na crítica a ‘To the Wonder’ escrevi: “é um trabalho com todas as características belíssimas do cinema de Malick, que nenhum outro realizador da história conseguiu apresentar. A câmara é sempre balética e nunca se eleva acima do olhar humano. A fotografia (do grande Emmanuel Lubezki, [que este ano ganhou o seu terceiro Óscar seguido de Fotografia por ‘The Revenant’]) é pura, natural e cristalina, com uma excelente utilização da luz natural, e fabulosos planos em contra-luz. Os actores não seguem um argumento escrito, mas um argumento emocional, onde Malick capta pequenos momentos da vida diária em cortes rápidos mas sempre em movimentos delicados. A câmara não filma a acção, a câmara é parte da acção, faz parte do círculo íntimo das personagens. A banda sonora é repetitiva mas melodiosa, uma espiral de sentimentos em crescendo. E a voz off reflecte a poesia da alma das personagens e apenas complementa aquilo que o visual está a explicar. Mas o senão de ‘To the Wonder’ é que já vimos todas estas características, toda esta beleza, em trabalhos anteriores de Malick. E a já as vimos melhor.

Na altura, ainda especulei que o filme pudesse ter resultado assim por ser a descompressão natural de Malick após o excesso de ‘Tree of Life’. Isso desculparia a forma mais superficial com que utilizava o estilo que ele próprio havia criado e até alguma displicência na montagem, reflectida no curto tempo que o demorou a fazer, como se o filme estivesse incompleto emocionalmente simplesmente porque não tinha amadurecido o suficiente. Quando ‘Knight of Cups’ (inicialmente previsto para 2013) foi adiado ano após ano, eu pelo menos senti um ligeiro alívio ao pensar que Malick estava a regressar à sua genialidade perfeccionista obsessiva, que resultaria numa grande obra, nem que estivesse dez anos a montá-la. Mas só esteve dois e, infelizmente, ‘Knight of Cups’ prova que ‘To The Wonder’ não foi apenas um caso isolado. Infelizmente, ‘Knight of Cups’ prova que a decadência estética, a auto-citação enfadonha, a bela fotografia mas em piloto automático, e a forma sem conteúdo que muitos acusaram Malick de ter antes de ele realmente as ter, profeticamente estão agora aninhadas no seu trabalho.

Tudo o que eu escrevi sobre ‘To the Wonder’ e reproduzi no parágrafo em cima serve de igual forma para descrever ‘Knight of Cups’. A forma de filmagem é exactamente a mesma, ou seja, a câmara (de novo operada por Emanuel Lubezki) desliza a maior parte do tempo como se fossem os olhos da personagem principal, observando ‘por trás’ paisagens e outras personagens, e raramente sendo observado; e a fotografia é cristalina mas mais sombria (a natureza deste filme é urbana, e a decadência emocional maior). Contudo, é uma estética que parece forçada e batida. Se até poderá ser equiparável à de filmes anteriores de Malick, mesmo que mais ousada (aqui usam-se câmaras de desportos radicais para recolher imagens debaixo de água, em movimento acelerado ou até no famoso rapel de Las Vegas), mesmo movendo-se em ambientes atípicos do cinema outdoor de Malick (discotecas, bares de strip, concertos, a noite de Las Vegas), falta-lhe, sem dúvida alguma, uma indubitável chama. Falta-lhe a chama que fazia a transição entre o visual e o emocional. Se formos incrivelmente ousados podemos argumentar que esse é o grande trunfo de Malick nesta película; o de transportar para a estética do filme o vazio da sua personagem central, mas acho que isso seria forçar demasiadamente uma interpretação. Seria Malick tão ousado ao ponto de fazer uma obra enfadonha e pretensiosa para descrever enfado, pretensiosismo e vazio na alma da sua personagem?!

"Se formos incrivelmente ousados podemos argumentar que esse é o grande trunfo de Malick nesta película; o de transportar para a estética do filme o vazio da sua personagem central, mas acho que isso seria forçar demasiadamente uma interpretação. Seria Malick tão ousado ao ponto de fazer uma obra enfadonha e pretensiosa para descrever enfado, pretensiosismo e vazio na alma da sua personagem?!"

Christian Bale (que já havia interpretado um papel em ‘The New World’ e que entra no próximo filme de Malick, ‘Weightless’, inicialmente agendado para 2016, mas já se sabe que isto não é certo…) interpreta Rick, mais uma reencarnação do próprio Malick, como foi Sean Penn em ‘Tree of Life’ e Ben Affleck em ‘To the Wonder’. Nem de propósito, Rick é um argumentista de Hollywood, mas isso não só é totalmente irrelevante, como é preciso estarmos muito atentos para o perceber. Como aliás o que quer que seja. Os diálogos que foram filmados raramente se ouvem (nem sei porque é que os actores ainda se dão ao trabalho) pois Malick ou os coloca em surdina ou os apaga completamente, substituindo-os por música (neste caso menos etérea e mais pesada do que é habitual) ou voz off, que neste caso é ainda mais esporádica, ainda mais filosófica e ainda mais intangível. Aliás, se até agora a narração cruzada e inconstante do cinema de Malick permitia que mergulhássemos na alma das personagens (podíamos gostar ou não gostar do artificio, mas a verdade é que ele resultava e era lírico e poético), em ‘Knight of Cups’ as frases que vão soando como salpicos pela banda sonora pouco nos dizem, são um puzzle de emoções desconexas que no final pouco se transcendem e pouco revelam para além daquilo que a imagem já fez um trabalho muito melhor em descrever. Exemplo: quando ouvimos Bale a dizer "sinto-me perdido", isso era realmente necessário?! Na realidade, há uma voz off muito mais impactante e cujos textos são muito mais profundos, mas, numa manobra atípica, pertence a um narrador ausente (voz de Ben Kingsley). Esta soa como uma figura mitológica que narra lenda do Rei de Copas; um contra-senso (que se nota, e bem) do estilo extremamente enraizado em personagens e nas suas emoções tão característico do cinema de Malick.

E é curioso notar que, tal como em ‘To the Wonder’, quem diz menos é a própria personagem principal. Affleck mal abria a boca e pouco narrava, e o mesmo se passa com Bale aqui. O filme aproveita, tal como o anterior, todas as oportunidades para se ir apegando às várias personagens secundárias que se vão cruzando pelo caminho de Rick (Antonio Banderas, por exemplo, tem tanta voz off nos poucos minutos em que aparece como Bale em quase todo o filme). Principalmente, o filme foca-se nas seis mulheres com quem Rick vai tendo casos à vez pelo período de duração da história (a sua ex-mulher Cate Blanchet, a mulher casada como quem tem um caso Natalie Portman, as belíssimas modelos Freida Pinto e Isabel Lucas, a rebelde Imogen Poots, e a stripper Teresa Palmer). São elas que deslizam constantemente à frente da câmara, perante os nossos olhos e os de Rick, são elas que rodopiam poeticamente e olham para trás de relance, e são elas que vão revelando os seus sentimentos, sobre elas próprias e em relação a Rick, em voz off, tal como Olga Kurylenko e Rachel McAdams haviam feito em ‘To the Wonder’. Nesse sentido, o eu-Malick mantêm-se inescrutável, alimentando a sua própria lenda mas não revelando nada do seu íntimo. Está Malick apenas a alimentar o seu próprio ego?!

Esta é a sensação que já tinha sentido em ‘To the Wonder’. Mas pelo menos aí o filme conseguia ser extremamente bem-sucedido em revelar a sua verdadeira essência; a essência do amor (tal como o título em português tão destramente descreve), já que as duas personagens femininas tinham a profundidade que faltava ao alter-ego de Malick. Já ‘Knight of Cups’ não parece ter muita essência para revelar, ou melhor, uma essência para o espectador, visto que parece ser “apenas” uma trip auto-reflexiva do próprio Malick, onde até as mulheres têm pouco peso e onde se perde finalmente a ligação com o espectador que a pura beleza emocional e visual das suas obras anteriores não tinha deixado anteriormente cair. Mas agora cai, com um estrondo. Um estrondo inaudível. O filme arrasta-se durante duas horas, à medida que Rick parece estar a viver uma crise existencialista, saltando de festa em festa, de romance em romance, de local em local (de Los Angeles a Las Vegas às praias californianas), por onde desfila lentamente, olhando, escutando as outras personagens, mas nunca deixando transparecer nada de si. Para mim é isso o que falta. Falta a força para percebermos a personagem central, para sentirmos o peso da sua decadência, para percebermos porque tanto romance não o satisfaz, porque perde mulheres, como as conquista (o que vêm elas nele, visto que o espectador não consegue ver nada?!), qual o vazio que o persegue e porquê, e como o pode esperar saciar. Só há talvez um pequeno vislumbre da sua personalidade, assente na história secundária do filme. ‘Tree of Life’ tinha uma subcorrente existencialista, ‘To the Wonder’ uma subcorrente religiosa, e aqui há uma subcorrente familiar. Por entre os vários romances, por vezes Rick interage com o seu irmão (Wes Bentley) e com o seu pai (Brian Dennehy), uma figura possessiva com quem tem uma relação claramente tempestuosa, e que recorda obviamente ‘Tree of Life’. Mas mesmo estas cenas são muito pouco esclarecedoras, tal como são os intertítulos. Por exemplo, o segmento com Natalie Portman é intitulado ‘morte’. Ela morre no final? Não sabemos, e visto que a personagem segue para outro romance, para outras deambulações e mais reflexões desconexas, nunca saberemos.

"Em ‘Knight of Cups’ as frases que vão soando como salpicos pela banda sonora pouco nos dizem, são um puzzle de emoções desconexas que no final pouco se transcendem e pouco revelam (...) O filme parece ser “apenas” uma trip auto-reflexiva do próprio Malick (...) onde se perde finalmente a ligação com o espectador que a pura beleza emocional e visual das suas obras anteriores não tinha deixado anteriormente cair. Mas agora cai, com um estrondo." 

‘Knight of Cups’ anda tanto em círculos que se suspeita se realmente Malick teria algo mais para reflectir do que somente mergulhar nesse sentimento único de vazio e decadência que prevalece ao longo de todo o filme. Todos sabemos que Malick agora filma sem argumento e deixa as coisas acontecerem em câmara apenas baseado numa ideia, num sentimento. Mas não terá sido o início das filmagens deste filme demasiado próximo do término de ‘To the Wonder’? Não deveria Malick ter maturado durante mais tempo esta história, em vez de se divertir a quase ‘filmar por filmar’, tudo e nada, e depois tentar desencantar uma obra em pós produção? Não há dúvidas nenhumas que o filme tem pormenores belíssimos, quer de filmagens, quer de montagem visual e sonora (filmando horas e horas de película e ficando dois anos na sala de montagem, Malick encontra sem sobra de dúvidas os planos mais belos, como nenhum outro realizador), mas perde-se neles e não tem a continuidade (pelo menos a emocional – essa até agora sempre foi coerente) dos dois primeiros filmes desta trilogia autobiográfica.

‘Knight of Cups’ é acima de tudo um filme despersonalizado, e, tal como o seu alter-ego, Malick surge perdido e sem rumo, repetindo ad eternum e ad nauseam o mesmo estilo fotográfico e narrativo (a miúda a rodopiar à frente da câmara altera, e as localizações também, mas a essência é sempre a mesma). E é tão vago no significado reflectido pelo visual, pelos intertítulos e pela voz off (se não é vago, pelo menos é tão inescrutável que só ele o entenderá), que o filme não tem uma chama que permita captar o espectador, seja ela filosófica, artística ou emocional. ’Knight of Cups’ reflecte o estado de espírito, os sonhos e metáforas da vida do seu realizador, mas como ele não está minimamente interessado em que o espectador entre para o seu círculo íntimo acaba por ser, no fundo, no fundo, apenas um conjunto de imagens belas. E essas já as vimos noutros filmes de Malick, e melhor.

Tudo somado, o sétimo filme de Malick é uma decepção. É um trabalho reflexivo de expressão egocêntrica e egoísta, que se deixa afogar na própria torrente de arte que cria e que se distancia do espectador porque não o faz entrar no seu círculo de luz, como deixavam todas as obras de Malick até aqui. Todos os grandes filósofos visuais do cinema (Fellini, Godard, etc), mais cedo ou mais tarde descarrilaram numa obra assim, em que deixaram o seu ego e a sua ambição de fazer arte pela arte, dominar a sua capacidade de expressão, uns para chocar, outros para expurgar os seus demónios ou simplesmente porque sim. Qualquer que seja o motivo, chegou a vez de Malick. Tornou-se o seu próprio cliché artístico e caiu que nem um patinho nas mãos dos seus críticos de longa data. Eu nunca o fui, mas tenho que o ser agora. ‘Knight of Cups’ é muito pior do que ‘Malick a imitar Malick’. É Malick a usar o seu próprio cliché superficialmente, sem uma ponta da profundidade artística e cinematográfica que sempre teve. É Malick a acreditar na sua própria lenda em vez de ser ele próprio.

"Não há dúvidas nenhumas que o filme tem pormenores belíssimos, quer de filmagens, quer de montagem visual e sonora (...), mas perde-se neles e não tem continuidade emocional (...) Acima de tudo é um filme despersonalizado, (...) um trabalho reflexivo de expressão egocêntrica e egoísta, que se deixa afogar na própria torrente de arte que cria (...) É muito pior do que ‘Malick a imitar Malick’. É Malick a usar o seu próprio cliché superficialmente, sem uma ponta da profundidade artística e cinematográfica que sempre teve." 

Não sei se ‘Wightless’ (2016) seguirá esta senda autobiográfica. Quer siga ou não, que não seja mais um exercício de forma sem conteúdo. Porque aí tudo o que de mais belo há no cinema de Malick se transforma em vazio, porque aí não temos um exercício de beleza cinematográfica, de reflexão filosófica; teremos apenas, como em ‘Knight of Cups’, um mero enfado. Todos os grandes realizadores têm o direito a fazer uma má obra. Para Malick, que seja este filme a sua obra para esquecer. E que este Malick nunca mais regresse, e que o Malick de sempre retorne rapidamente, para saciar a alma dos seus fãs incondicionais, em vez de saciar apenas a sua.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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