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Coelhos no cinema – uma lista de fofos (e não tão fofos) roedores

Quando eu era criança, nos anos 1980, parecia-me que o único animal no cinema era o ratinho. Bernardo e Bianca, Basil o grande mestre dos detectives, a Sra. Brisby de ‘The Secret of NIHM’ (já criticado), Fievel, enfim, todos apareceram no cinema de animação num curto espaço de anos e fizeram as delícias da minha infância. Claro que há outros ratos cinematográficos muito famosos (o Rato Mickey, Jerry, o Remy de ‘Ratatouille’), mas não creio que o rato tenha tido tanta longevidade, tanta diversidade (ou seja, extravasando a animação para a imagem real) e até, tanta ambiguidade no retrato antropomórfico que outro importante animal do cinema: o coelho. Quer sejam, na língua original, bunny, rabbit ou hare, os coelhos já foram usados em animação ou imagem real, no cinema mudo ou nos mais recentes blockbusters, e com propósitos que vão da comédia ao terror, e passam por todos os restantes géneros pelo meio. Se achava que todos os coelhos eram simpáticos e fofinhos, desengane-se. Eis a minha lista dos mais interessantes coelhos da sétima arte. 


Oswald


Rato Mickey versão 1.0. Oswald, o Coelho Sortudo, divertido e aventureiro, é um enorme pedaço da história da animação. Foi a primeira personagem animada de Walt Disney, criada em 1927 em conjunto com o grande Ub Iwerks, um ano antes de ambos criarem Mickey. Vejam-se as parecenças. Após 26 curtas, Disney e Iwerks perderam os direitos da sua criação para o estúdio que as estava a produzir, a Universal. Desencantado, Disney decidiu criar o seu próprio estúdio, que em breve teria o Rato mais famoso do Mundo. Oswald ficou pela Universal, entrando em quase 200 curtas, mas sem Walt e Iwerks, e perdendo a luta da popularidade com Mickey, nunca mais foi o mesmo.


Thumper


O compincha de Bambi no filme de 1942 é muito mais que um amigo que o ajuda a divertir-se e a crescer, com uma voz ternurenta. É também o animal da Disney que gerou o peluche mais fofinho que esta companhia alguma vez criou. Verdade verdadinha!


Harvey


Harvey é um coelho gigante, de dois metros de altura, que é o amigo imaginário do simpático Elwood P. Dowd interpretado por Jimmy Stewart no filme 'Harvey' (1950). Ou não será imaginário? Apesar de só aparecer uma vez (num quadro) Harvey é uma figura inspiradora poderosíssima que atravessa todo o filme. Representa paz, amizade, serenidade e tranquilidade. Maravilhoso.


Frank


A antítese de Harvey. Harvey possuído por demónios. Também um coelho gigante imaginário, mas que desta vez incita o jovem psicótico Donnie Darko (Jake Gyllenhaal), no filme do mesmo nome de 2001, a cometer uma série de crimes. Assustador.


Bugs Bunny


Genial. Absolutamente genial. O eterno stinker, concebido na sua versão definitiva pelo icónico Tex Avery e com a voz de Mel Blanc, era super inteligente, sarcástico, extrovertido e parecia ter como propósito na vida pregar partidas e levar os outros ao desespero. O pacote completo para nos rirmos com a desgraça alheia e com a ‘street wise’ deste coelho com o sotaque de Brooklyn. Fez as nossas delícias em 167 curtas-metragens dos lendários Looney Tunes e Merry Melodies e desde então já foi parte de inúmero material televisivo e cinematográfico. Eh…. What’s Up Doc?! 


E.B.


Ele é o Coelho da Páscoa. Ou melhor, o filho dele. Mas tudo o que E.B. quer ser em ‘Hop’ (2011) é um baterista de uma banda rock. Cheio de ritmo, humor sarcástico e com a peculiaridade das suas necessidades fisiológicas serem ovos de Páscoa, E.B. não é propriamente a pessoa (ou melhor dizendo o coelho) menos egoísta do mundo, mas vai ser suficientemente humilde para aprender as suas lições pelo caminho. A animação CGI que o cria é soberba e a voz de Russell Brand primeiro estranha, depois entranha. E cuidado com as Pink Berets, as simpáticas coelhinhas ninja que vão atrás dele!


Roger Rabbit


Claramente inspirado nos desenhos animados de Bugs Bunny, mas a quem é dada a personalidade desmiolada do resto dos Looney Toons, Roger Rabbit é mais uma fantástica criação animada. Mas neste caso, não pela personagem em si, que é menos forte que Jessica Rabbit ou até que o bébé Herman, mas pela soberba concepção visual da película onde entra (‘Who Framed Roger Rabbit’, 1988), e do universo cómico-noir em que Robert Zemeckis nos faz emergir do primeiro ao último minuto.


Harry


Harry o Coelho é o assistente, se assim se pode chamar, do mágico Jerry Lewis no fabuloso filme para a família ‘The Geisha Boy’ (1958). Mas Harry não se limita apenas a sair da cartola. Ao longo do filme, Harry toma banhos de sol, desce por corrimões, aparece e desaparece nos sítios menos esperados e coloca-se na posição que se vê na imagem. O facto de não falar nem ser animado, ser ‘apenas’ um coelho real, torna a coisa muito mais surreal e hilariante.


White Rabbit


Ele está atrasado. Ele está muito atrasado. E porque está atrasado desperta a curiosidade da curiosa Alice, e arrasta-a consigo para o país das Maravilhas neste filme de 1951. Mais tarde, com tanta personagem cativante (o gato, a centopeia, a Rainha de Copas) o coelho branco, servo da rainha, fica um pouco para segundo plano. Mas a verdade é que perdura na imaginação como o pedaço de fantasia que despoletou tudo o resto, como o tornado em 'Feiticeiro de Oz' por exemplo. E dessa chave mágica para o reino da fantasia nunca nos esquecemos, por mais secundaria que seja.


Os coelhos de 'Watership Down'


´Watership Down’ (1978) é dos poucos filmes de animação clássicos (ou seja, pré explosão do cinema de animação nos anos 1990), que eu nunca vi. No outro dia li uma crítica que o descrevia como a “Guerra dos Trono com coelhos”. Reputado como uma forte e poderosa alegoria que não se acanha nas imagens e na violência que mostra, e altamente pouco recomendado para crianças, há anos que ando a adiar vê-lo. Uma coisa é certa, a minha imagem destes coelhos aparentemente inofensivos (e talvez de todos os coelhos em geral) provavelmente mudará para sempre.


Rabbit


A minha personagem preferida do universo de Winnie the Pooh é o Tigre. Em segundo lugar, suponho que seja o coelho, simplesmente chamado de ‘Rabbit’ (o próprio Pooh e que não é de certeza, esse egocêntrico!). Obsessivo por ter tudo controlado e extremamente devotado ao seu jardim, é a sua relação conturbada com o Tigre que provoca as maiores risadas, mas também, tudo passado, as maiores lições de moral.


Were-Rabbit


É um lobisomem? Não! É um coelhomem, e está a ameaçar a vida pacífica (ou talvez não assim tão pacífica) da vila no filme ‘The Curse of the Were-Rabbit’ (2005). As maravilhosas personagens de Wallace e Gromit, criadas no seio dos estúdios Aardman por Nick Park, vêm-se nesta sua primeira, e única longa-metragem até hoje, face a face com um mistério muito misterioso. Quem será este coelhomem que anda a destruir os jardins e vegetais da vila? O facto do coelhomem nunca ser muito assustador, e ter aquele lacinho, pode ser uma pista para a verdadeira identidade do homem por detrás da maldição, neste delicioso filme de animação.


Trudy


Num dos melhores filmes dos anos 1980, ‘Local Hero’ (1983), Peter Riegert e Peter Capaldi atropelam um pequeno coelho nas isoladas estradas cheias de nevoeiro da Escócia. Dão-lhe o nome de Trudy e cuidam dele. Isto é, até que mais tarde, na estalagem, comem um delicioso jantar e perguntam ao estalajadeiro que tipo de carne é aquela. Aqui inicia-se um dos diálogos mais hilariantes do filme. Pobre Trudy.


The Killer Rabbit of Caerbannog


No filme ‘Monty Python and the Holy Grail’ (1975), na sua busca pelo Santo Graal, os cavaleiros deparam-se com um superficialmente inofensivo coelho branco, mas que é descrito como “the most foul, cruel, and bad-tempered rodent you ever set eyes on”. E é mesmo! Um coelho assassino, ao estilo Monty Python, que teve um enorme impacto cultural, tornando-se uma referência recorrente e até aparecendo em jogos de computador!


Os 'Lepus'


Por fim, os coelhos assassinos, gigantes e mutantes, têm uma enorme aparição no tardio clássico de terror sci-fi ‘Night of the Lepus’ (1972), que confesso nunca vi, mas para lá caminharei. É um daqueles filmes de série B que se tornaram de culto e que adoro ver porque de tão maus se tornam bons e proporcionam boas doses… de terror?! Não! De diversão! Nos anos 1950 há muitos desse género que me deliciam, mas desconfio desta entrada tardia. Em plenos anos 1970, às portas do género de terror se revolucionar com os slashers, e um ano antes de ‘The Wicker Man’, ‘Don’t Look Now’ e ‘The Exorcist’ (todos de 1973) estes coelhos assassinos provavelmente roçarão o patético. Ou não? Como diz um crítico do imdb “é um daqueles filmes que é preciso ver para acreditar que foi feito”.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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