Quem lê estas páginas já certamente se apercebeu que uma das minhas grandes paixões cinematográficas (vá, guilty pleasures) é o magnífico cinema de espionagem e agentes secretos que se fez nos anos 1960. O intitulado spy-fi, termo proveniente da junção de spy (espião) com sci-fi (ficção cientifica) explodiu no início desta década com o inusitado sucesso dos filmes de James Bond. Já descrevi os motivos para a origem deste género na minha crónica ‘Martinis, girls and a gun: sobre a génese do spy-fi’, e já critiquei alguns filmes como ‘Ok Connery’, ‘Our Man Flint’ ou ‘On Her Majesty’s Secret Service’. Se paralelamente se faziam filmes sobre a guerra fria como ‘Torn Curtain’ (1966) de Hitchcock ou ‘The Spy Who Came From the Cold’ (1965), e séries como ‘Mission: Impossible’, os filmes do spy-fi eram muito mais fantasiosos e, tirando praticamente os filmes de Bond, muito mais divertidos. Isto porque a maior parte dos filmes de spy-fi constituíram as primeiras semi-paródias a Bond, que mais tarde filmes como os de Austin Powers iriam emular. O objectivo era ter sempre um espião irresistível, vilões que queriam dominar o mundo com algum artifício semi-fantasioso (daí a parte da ficção cientifica), e miúdas lindíssimas.
De filmes sérios a paródias assumidas, James Bond não se viu sozinho por muito tempo. As séries de TV também proliferaram (também oscilando entre o sério - principalmente as inglesas - e a paródia), e no sul da Europa ocorreu um fenómeno inaudito. O género do Eurospy nasceu, co-produções geralmente entre França e Itália, de baixíssimo orçamento, tão más que se tornaram boas por mérito próprio, se o leitor percebe o que quero dizer (perceberá se alguma vez tiver visto um Eurospy!). E se na América se contam pelos dedos os filmes de spy-fi, os Eurospys estão na casa das centenas! O spy-fi é um Mundo, e alguns filmes, principalmente os eurospy eurotrash, são demasiado maus para alguém perder tempo com eles hoje em dia. Mas há anos que vou vendo e me vou deliciando com algumas destas pérolas, umas no campo da genialidade, outras que simplesmente constituem uma noite acéfala, mas divertida, de cinema.
Amar o spy-fi é amar as gadgets futuristas, os heróis machistas, os vilões egocêntricos e completamente ‘over the top’, e claro, as spy-fi girls. E cada um destes pontos merece uma atenção dedicada pelos fanáticos. Havia grandes especialistas do género, por exemplo, especialmente se tinham tido já uma passagem por Bond. O italiano Adolfo Celi, depois de ter sido o vilão em ‘Thunderball’, o filme de Bond de 1964, teve as portas abertas do eurospy, onde fez de vilão em vários filmes, o que não aumentou o seu currículo, mas certamente terá aumentado a sua conta bancária. Da mesma forma, um rol de actrizes voluptuosas rodou pelos spy-fis e pelas camas dos vários espiões. Daliah Levi, Elke Sommer, Luciana Paluzzi ou Jill St. John entraram em vários filmes de espiões diferentes. Mas hoje estou aqui para falar dos supra sumos. Estou aqui para falar dos grandes kahunas. Estou aqui para falar dos epicentros destes gloriosos espectáculos, dos senhores charmosos de fato, transbordando de elegância, que salvam o mundo e ficam (a maior parte das vezes) com as miúdas. Estou aqui para falar dos grandes espiões dos anos 1960. Este é o top dos que conheço melhor.
Amar o spy-fi é amar as gadgets futuristas, os heróis machistas, os vilões egocêntricos e completamente ‘over the top’, e claro, as spy-fi girls. E cada um destes pontos merece uma atenção dedicada pelos fanáticos. Havia grandes especialistas do género, por exemplo, especialmente se tinham tido já uma passagem por Bond. O italiano Adolfo Celi, depois de ter sido o vilão em ‘Thunderball’, o filme de Bond de 1964, teve as portas abertas do eurospy, onde fez de vilão em vários filmes, o que não aumentou o seu currículo, mas certamente terá aumentado a sua conta bancária. Da mesma forma, um rol de actrizes voluptuosas rodou pelos spy-fis e pelas camas dos vários espiões. Daliah Levi, Elke Sommer, Luciana Paluzzi ou Jill St. John entraram em vários filmes de espiões diferentes. Mas hoje estou aqui para falar dos supra sumos. Estou aqui para falar dos grandes kahunas. Estou aqui para falar dos epicentros destes gloriosos espectáculos, dos senhores charmosos de fato, transbordando de elegância, que salvam o mundo e ficam (a maior parte das vezes) com as miúdas. Estou aqui para falar dos grandes espiões dos anos 1960. Este é o top dos que conheço melhor.
12. Neil Connery (1967)
O filme 'OK Connery' de 1967. O espião Neil Connery. O actor... também Neil Connery, o irmão mais novo de um tal de Sean. No filme, Neil Connery é um cirurgião plástico cujos dotes incluem saber fazer hipnotismo e pouco mais. Devido às suas parecenças físicas com um tal de 00 qualquer coisa, é abordado (nem vou dizer contratado) pela agência para salvar o Mundo. A história é patética e o filme não lhe fica atrás (pode ler tudo sobre esta obra prima - estou a ser irónico - aqui, na critica que já escrevi). Em praticamente o seu único filme, Neil Connery, o actor, é péssimo. Arrasta-se de cena para cena sem emoção nenhuma e apenas mexendo os lábios (até a sua voz foi dobrada). Neil Connery, o espião, é mau de mais para ser verdade, e merece estar em último lugar de qualquer lista. Sabe-se lá como salva o Mundo, mas pelo caminho é gozado, quase sem se aperceber, pelos vários actores do universo Bond que fazem aparições especiais neste filme, algo que tornaria este eurospy muito especial (era essa a ideia), não fosse a fraca qualidade da película e deste espião, completamente para esquecer. O conceito era bom, mas o que sobra é apenas a oportunidade de passar 90 min a gozar com o irmão mais novo de Sean Connery, e uma grande banda sonora de Ennio Morricone. Um spy-fi obrigatoriamente para ver em grupo!
11. Hubert Bonisseur de La Bath, o OSS 117 (1963-1970)
O filme 'OK Connery' de 1967. O espião Neil Connery. O actor... também Neil Connery, o irmão mais novo de um tal de Sean. No filme, Neil Connery é um cirurgião plástico cujos dotes incluem saber fazer hipnotismo e pouco mais. Devido às suas parecenças físicas com um tal de 00 qualquer coisa, é abordado (nem vou dizer contratado) pela agência para salvar o Mundo. A história é patética e o filme não lhe fica atrás (pode ler tudo sobre esta obra prima - estou a ser irónico - aqui, na critica que já escrevi). Em praticamente o seu único filme, Neil Connery, o actor, é péssimo. Arrasta-se de cena para cena sem emoção nenhuma e apenas mexendo os lábios (até a sua voz foi dobrada). Neil Connery, o espião, é mau de mais para ser verdade, e merece estar em último lugar de qualquer lista. Sabe-se lá como salva o Mundo, mas pelo caminho é gozado, quase sem se aperceber, pelos vários actores do universo Bond que fazem aparições especiais neste filme, algo que tornaria este eurospy muito especial (era essa a ideia), não fosse a fraca qualidade da película e deste espião, completamente para esquecer. O conceito era bom, mas o que sobra é apenas a oportunidade de passar 90 min a gozar com o irmão mais novo de Sean Connery, e uma grande banda sonora de Ennio Morricone. Um spy-fi obrigatoriamente para ver em grupo!
11. Hubert Bonisseur de La Bath, o OSS 117 (1963-1970)
Tal como muitos espiões desta lista, Hubert Bonisseur de La Bath, nome de código OSS 117, provém da literatura policial dos anos 1930 a 1950, que foi uma grande inspiração do spy-fi. E não deixe que a sigla o engane, leitor, o escritor Jean Bruce criou OSS 117 antes de Flemming criar o seu 007. O problema foi que, adaptado ao cinema, o OSS 117 foi parar às mãos do Eurospy. Entre 1963 e 1970 nada menos que 6 filmes de OSS 117, co-produções francesas/italianas, foram feitos, sendo que o espião foi interpretado pelos praticamente esquecidos Kerwin Mathews (2 filmes), Frederick Stafford (2 filmes), Luc Merenda e o não tão esquecido John Gavin (1 filme cada). Eu só vi um destes filmes, geralmente reconhecido como dos melhores, 'Niente rose per OSS 117' (1968) e que contém também o actor mais famoso, Gavin, que o leitor poderá lembrar-se de 'Psycho' (1960) ou 'Spartacus' (1960) e que chegou até a assinar para fazer de James Bond em 'Diamonds are Forever' (1971), até Connery decidir regressar ao papel. Gavin dá um toque de classe e qualidade a OSS 177 que provavelmente nenhum outro actor desta década deu. Aliás, Gavin é o melhor de todo o filme, que é mais uma mistela de vilões fracos, perseguições dengosas e miúdas giras (incluindo a gloriosa Luciana Paluzzi) mas sem substância. Contudo, os filmes de OSS 117 têm outro trunfo: não são paródias. É como se estivéssemos a ver um filme de Bond, mas feito sem dinheiro e sem grande qualidade técnica. Parece quase um dos filmes policiais urbanos dos anos 1970, o que é bom e é mau, dependendo da perspectiva, mas talvez tenha sido esse o motivo de terem conseguido fazer tantas sequelas, ao contrário dos mais humorísticos spy-fi que ao fim do segundo filme morriam. Bem diferente é a revitalização de OSS 117 pós ano 2000. O realizador Michel Hazanavicius e o actor Jean Dujardin antecederam o seu filme vencedor de 5 Óscares 'The Artist' (2011) com a genial paródia ' OSS 117: Le Caire, nid d'espions' (2006) e o também engraçado 'OSS 117: Rio ne répond plus' (2009) - duas entradas modernas do spy-fi cómico mais que obrigatórias.
10. Bulldog Drummond (1967-1969)
Bulldog Drummond é mais um espião da literatura policial, que teve até um grande sucesso no cinema nos anos 1930 e 1940 numa série de first-features de pouco mais de uma hora - whodunits e pseudo-noirs. Destaca-se Ronald Colman que o interpretou por mais que uma vez. Nos anos 1960, era obrigatório revitalizá-lo. Os filmes são 'Deadlier than the Male' (1967) e 'Some Girls Do' (1969). O espião é uma espécie de look-alike de Connery, interpretado por Richard Johnson, de corpo possante, voz grossa, olhar matreiro e bon vivant, que até consegue ser duro quando é necessário e adora estar perto de miúdas giras. Os filmes são um misto de acção (ou o que era acção nos anos 1960) com comédia, sendo que a comédia é de circunstância e de personagens secundárias (como o seu sobrinho no primeiro filme) e não propriamente uma paródia aos lugares comuns dos espiões e dos vilões, o que pode ser uma mais valia. Infelizmente, este espião que até é interessante é completamente eclipsado, não pelo argumento fraco (que o é), mas pelas spy-fi-girls, que tomam conta de ambos os filmes. No primeiro filme há um exército de mulheres sedutoras que executa assassinatos, lideradas pela belíssima Elke Sommer. No segundo, há um exército de robôs mulheres lideradas por Daliah Lavi (o Austin Powers foi buscar muito a estes dois filmes). A parada de mulheres belíssimas, a seduzir e a matar personagens secundárias, e depois a tentar fazer o mesmo a Drummond deixam pouco espaço para o público se recordar do espião. No final é ele que leva a melhor, mas e depois? Os filmes são uma parada leve de mulheres bonitas e pouco mais. Mas como espião, esquecendo o resto, o Drummond de Johnson não é mau de todo, e é, com este distanciamento, até interessante de ver. Portanto valha-nos isso!
9. Matt Helm (1966-1968)
Matt Helm! Bem, o que dizer de Matt Helm. Os filmes de Matt Helm, interpretado por 4 vezes por Dean Martin - em 'The Silencers' (1966), 'Murderers' Row' (1966), 'The Ambushers' (1967) e 'The Wrecking Crew' (1968), pouco ou nada devem ter a ver com os livros originais de Donald Hamilton. Dean é o espião mais molengão e que menos faz do Cinema. Por um lado, parece estar sempre meio bêbado (e em várias cenas está com um copo na mão), o que provavelmente era verdade conhecendo o actor. Depois, a sua destreza física deixa muito a desejar. E para além do mais, onde é que já se viu um espião a cantar?! Mesmo que não mexa os lábios, o seu 'pensamento' canta, ou nas cenas mais românticas lá se ouve uma série de músicas de Martin na banda sonora; uma tentativa desesperada de capitalizar no seu sucesso e de vender uns discos. Os filmes são abertas paródias aos filmes de espiões, de argumento finíssimo, em que o espião vai andando de um lado para o outro falando com miúdas e no final, no lar do vilão, ouve o plano todo antes de conseguir salvar o dia. Helm é a oferta de Deus às mulheres, na medida em que só tem que chegar à beira delas para elas lhe caírem nos braços. Anda aos beijos com quatro ou cinco diferentes por filme, há alguns escapes cómicos, algumas bocas mandadas (algumas até directamente para a câmara), muito fogo de vista, mas substância absolutamente zero. Só raramente Martin mostra alguma dureza, mas isso nunca é uma prioridade. A prioridade é divertir-se, beber, cantar e beijar miúdas, e é esse sentimento de feel good que todos estes filmes transmitem. De uma maneira quase paradoxal, isso não torna propriamente os filmes maus. São divertimentos familiares em histórias batidas e previsíveis que não fazem nem bem nem mal e ajudam a passar o tempo. Creio que o primeiro filme, mais uma vez com Daliah Lavi como a má Helm-girl, seja o melhor. À medida que os filmes foram avançando, foram-se parodiando até a si próprios, o que nunca é bom. Felizmente, as actrizes femininas são sempre de primeira classe, ou melhor, de topo no género do spy-fi; a gloriosa Ann-Margaret no segundo, Santa Berger no terceiro, e de novo Elke Sommer, bem como uma jovem Sharon Tate, no quarto, o que quando comparado com muitas acéfalas Bond-girls por essa saga fora é mais um ponto a favor dos filmes de Helm.
8. Derek Flint (1966-1967)
A comédia aberta de espiões cingiu-se maioritariamente ao eurospy. Em Hollywood o expoente máximo contemporâneo da paródia directa a James Bond chegou sobre a forma de Flint, Derek Flint, interpretado pelo esguio mas possante James Coburn, com uma masculinidade felina, em dois filmes: ‘Our Man Flint’ (1966), que já critiquei neste blog, neste link, e a sequela ‘In Like Flint’ (1967). Como escrevi na critica ao primeiro filme, 'Our Man Flint’ é provavelmente o menos sério da primeira leva americana dos spy-fis, porque ao contrário dos filmes de Helm, leves, musicais e familiares, este roça mesmo o patamar de comédia. Flint, como interpretado por Coburn, é um agente secreto que parece estar perfeitamente ciente da estrutura cliché da sua personagem, dos seus maneirismos, do seu artificial magnetismo irresistível para com o sexo oposto, mas não altera o seu comportamento um milímetro por causa disso, e para ele esta é a maneira normal de actuar. Aliás, Flint estica a corda quase até ela quebrar, e isso fá-lo estar num patamar à parte, no meio termo entre o clássico espião de spy-fi e um Austin Powers, embora com muita mais testosterona. Vive com 4 mulheres, é um excelente lutador de artes marciais, dançarino, intelectual, bon vivant, ao qual se acresce uma veia de McGyver pois é ele que manufactura o seu próprio arsenal (incluindo aquele magnífico isqueiro!). Coburn usa o seu corpo alto e esguio na perfeição para criar um agente cheio de testosterona mas com movimentos tão ágeis e fluidos que quase parecem baléticos, a transbordar de charme e carisma, cool como poucos mas mortal quando necessário. O agente é tudo o que devia ser, em conceito. Só há o pequeno problema da materialização do conceito, que não é propriamente a mais bem conseguida em ambos os filmes. Os filmes seguem uma estrutura clássica de vilões ridículos a querer dominar o Mundo, e de Flint, o único homem que nos pode salvar, a percorrer locais exóticos descobrindo ao pouco o planos dos maus, seduzindo miúdas, matando uns capangas, escapando da morte e salvando o mundo no final. Mas o ritmo destes dois filmes é muito lento, têm pouca dinâmica, as histórias são unidimensionais e as interacções entre as personagens são arrastadas. Os finais têm, contudo, injecções bem vindas de acção mas isso não é suficiente. No global, para paródia, os filmes nunca são assim tão engraçados, ou pelo menos inteligentemente cómicos. Talvez por isso só tenham havido dois. Mas se o segundo é facilmente esquecível, tem-se contudo de reconhecer que o primeiro é um honrado predecessor do género, ao oferecer alguma originalidade humorística e uma abertura de temas e conceitos sem a qual nunca teríamos tido a proliferação deste estilo até aos dias de hoje. E se os filmes não são memoráveis, o Flint de Coburn, por si só, é.
7. Boysie Oakes, o 'Liquidator' (1965)
Na década de 1970 a fusão MGM/United Artists iria tomar conta dos filmes de James Bond, mas nos anos 1960 a MGM era ainda uma rival da saga de Cubby Broccoli. ‘The Liquidator’, de 1965, foi a resposta do estúdio aos filmes de Bond. Não sendo a MGM um estúdio qualquer, não olhou a medidas para tornar o seu ‘The Liquidator’ um forte concorrente neste mercado. É só ver que a musica do genérico é cantada por Shirley Bassey (então completamente 'propriedade' de Bond) para perceber que não estavam a brincar, e a escolha do elenco não lhe fica atrás. O espião é interpretado por Rod Taylor, um actor então extremamente popular após os seus sucessos em ‘The Time Machine’ (1960) ou no filme de Hitchcock ‘The Birds’ (1963), a girl é a extraordinária Jill St. John, que iria ser Bond-girl 6 anos mais tarde, e a espécie de M é o conceituado actor inglês Trevor Howard. Contudo, a MGM só parece ter falhado na escolha do espião. Boysie Oakes na realidade nem espião é, e de liquidator tem pouco, o que até seria um twist interessante não fosse isto um spy-fi. Provém de uma série de livros de John Gardner (o homem que teria a honra de continuar a escrever os livros de Bond depois da morte de Flemming). e é um herói por acaso. No início do filme (baseado no primeiro livro de Gardner) vemos como, durante a guerra, um comandante do exército (Howard) erroneamente crê que Oakes é o responsável por uma operação bem sucedida. Anos mais tarde, lembra-se de o recrutar para a agência. Oakes está prestes a dizer a verdade (é na realidade um pouco cobarde, apesar de sortudo e bem parecido), mas quando vê o apartamento e o dinheiro que lhe oferecem, e principalmente quando vê St. John (!!!), decide continuar com o engodo. Noutro twist interessante, Oakes contrata um verdadeiro agente para fazer os seus assassinatos por ele. Contudo, Oakes irá inevitavelmente tropeçar numa conspiração de um vilão insuspeito, e aí terá de provar (mais ou menos) o seu valor. Curiosamente, nada disto é dado como comédia. 'The Liquidator' é um filme de acção/espiões leve, mas não deixa de ser um filme de acção/espiões. Taylor interpreta Oakes com as carradas de charme juvenil que possuía, e é este charme, aliado a uma virilidade que vai sendo encontrada ao longo do filme, que o torna interessante. Esta fusão de um espião invulgar (que até tem medo de alturas) com um argumento diferente, distingue o filme, mas contudo não é suficiente para o tornar memorável. Oakes nunca chega a ser brilhante, Taylor por vezes está visivelmente a divertir-se com o papel, e acaba por ser Jill St. John a roubar o espectáculo, inclusive no final….
A comédia aberta de espiões cingiu-se maioritariamente ao eurospy. Em Hollywood o expoente máximo contemporâneo da paródia directa a James Bond chegou sobre a forma de Flint, Derek Flint, interpretado pelo esguio mas possante James Coburn, com uma masculinidade felina, em dois filmes: ‘Our Man Flint’ (1966), que já critiquei neste blog, neste link, e a sequela ‘In Like Flint’ (1967). Como escrevi na critica ao primeiro filme, 'Our Man Flint’ é provavelmente o menos sério da primeira leva americana dos spy-fis, porque ao contrário dos filmes de Helm, leves, musicais e familiares, este roça mesmo o patamar de comédia. Flint, como interpretado por Coburn, é um agente secreto que parece estar perfeitamente ciente da estrutura cliché da sua personagem, dos seus maneirismos, do seu artificial magnetismo irresistível para com o sexo oposto, mas não altera o seu comportamento um milímetro por causa disso, e para ele esta é a maneira normal de actuar. Aliás, Flint estica a corda quase até ela quebrar, e isso fá-lo estar num patamar à parte, no meio termo entre o clássico espião de spy-fi e um Austin Powers, embora com muita mais testosterona. Vive com 4 mulheres, é um excelente lutador de artes marciais, dançarino, intelectual, bon vivant, ao qual se acresce uma veia de McGyver pois é ele que manufactura o seu próprio arsenal (incluindo aquele magnífico isqueiro!). Coburn usa o seu corpo alto e esguio na perfeição para criar um agente cheio de testosterona mas com movimentos tão ágeis e fluidos que quase parecem baléticos, a transbordar de charme e carisma, cool como poucos mas mortal quando necessário. O agente é tudo o que devia ser, em conceito. Só há o pequeno problema da materialização do conceito, que não é propriamente a mais bem conseguida em ambos os filmes. Os filmes seguem uma estrutura clássica de vilões ridículos a querer dominar o Mundo, e de Flint, o único homem que nos pode salvar, a percorrer locais exóticos descobrindo ao pouco o planos dos maus, seduzindo miúdas, matando uns capangas, escapando da morte e salvando o mundo no final. Mas o ritmo destes dois filmes é muito lento, têm pouca dinâmica, as histórias são unidimensionais e as interacções entre as personagens são arrastadas. Os finais têm, contudo, injecções bem vindas de acção mas isso não é suficiente. No global, para paródia, os filmes nunca são assim tão engraçados, ou pelo menos inteligentemente cómicos. Talvez por isso só tenham havido dois. Mas se o segundo é facilmente esquecível, tem-se contudo de reconhecer que o primeiro é um honrado predecessor do género, ao oferecer alguma originalidade humorística e uma abertura de temas e conceitos sem a qual nunca teríamos tido a proliferação deste estilo até aos dias de hoje. E se os filmes não são memoráveis, o Flint de Coburn, por si só, é.
7. Boysie Oakes, o 'Liquidator' (1965)
Na década de 1970 a fusão MGM/United Artists iria tomar conta dos filmes de James Bond, mas nos anos 1960 a MGM era ainda uma rival da saga de Cubby Broccoli. ‘The Liquidator’, de 1965, foi a resposta do estúdio aos filmes de Bond. Não sendo a MGM um estúdio qualquer, não olhou a medidas para tornar o seu ‘The Liquidator’ um forte concorrente neste mercado. É só ver que a musica do genérico é cantada por Shirley Bassey (então completamente 'propriedade' de Bond) para perceber que não estavam a brincar, e a escolha do elenco não lhe fica atrás. O espião é interpretado por Rod Taylor, um actor então extremamente popular após os seus sucessos em ‘The Time Machine’ (1960) ou no filme de Hitchcock ‘The Birds’ (1963), a girl é a extraordinária Jill St. John, que iria ser Bond-girl 6 anos mais tarde, e a espécie de M é o conceituado actor inglês Trevor Howard. Contudo, a MGM só parece ter falhado na escolha do espião. Boysie Oakes na realidade nem espião é, e de liquidator tem pouco, o que até seria um twist interessante não fosse isto um spy-fi. Provém de uma série de livros de John Gardner (o homem que teria a honra de continuar a escrever os livros de Bond depois da morte de Flemming). e é um herói por acaso. No início do filme (baseado no primeiro livro de Gardner) vemos como, durante a guerra, um comandante do exército (Howard) erroneamente crê que Oakes é o responsável por uma operação bem sucedida. Anos mais tarde, lembra-se de o recrutar para a agência. Oakes está prestes a dizer a verdade (é na realidade um pouco cobarde, apesar de sortudo e bem parecido), mas quando vê o apartamento e o dinheiro que lhe oferecem, e principalmente quando vê St. John (!!!), decide continuar com o engodo. Noutro twist interessante, Oakes contrata um verdadeiro agente para fazer os seus assassinatos por ele. Contudo, Oakes irá inevitavelmente tropeçar numa conspiração de um vilão insuspeito, e aí terá de provar (mais ou menos) o seu valor. Curiosamente, nada disto é dado como comédia. 'The Liquidator' é um filme de acção/espiões leve, mas não deixa de ser um filme de acção/espiões. Taylor interpreta Oakes com as carradas de charme juvenil que possuía, e é este charme, aliado a uma virilidade que vai sendo encontrada ao longo do filme, que o torna interessante. Esta fusão de um espião invulgar (que até tem medo de alturas) com um argumento diferente, distingue o filme, mas contudo não é suficiente para o tornar memorável. Oakes nunca chega a ser brilhante, Taylor por vezes está visivelmente a divertir-se com o papel, e acaba por ser Jill St. John a roubar o espectáculo, inclusive no final….
6. Napoleon Solo, o 'Man From U.N.C.L.E.' (1964-1968)
O agente da série televisiva americana 'The Man from U.N.C.L.E.', que durou 4 temporadas entre 1964 e 1968, e teve meia dúzia de filmes (cozidos a partir de episódios de duas partes), tem o nome mais espectacular da historia do spy-fi: Napoleon Solo. Simplesmente soa bem, soa épico. Mas não há muito de épico nem em Solo, nem na série. Este é um clássico spy-fi, não muito inventivo, mas que encaixa como uma luva na época e oferece tudo aquilo que um produto destes deveria oferecer, num formato familiar e de matiné; um herói charmoso, acção moderada, algum humor, argumentos de ritmo contido bem explicadinhos, diversas gadgets futuristas, meninas sedutoras, quer boas quer más, a quem o herói de vez em quando dá uns beijinhos, e vilões bem delineados, exagerados e que nos fazem sorrir quando são travados no fim. 'The Man from U.N.C.L.E.' não se tornou de culto por acaso. É o mais próximo que Bond esteve de um formato televisivo semanal, e a série fez, justificadamente, as delícias de milhares de espectadores, cozendo todos os ingredientes familiares, e até contribuindo com mais alguns. Solo é interpretado por Robert Vaughn, suave e sofisticado como um espião deve ser, mas que não me convence totalmente, por às vezes ter uma performance demasiado adormecida, como se estivesse ciente do absurdo do material ou da linha que estava a pisar com alguns one-liners (estamos a falar de um actor que entrou em ‘The Magnificente Seven’, ‘Bullitt’ ou ‘Towering Inferno’). Mas também é duro quando pecisa de ser e é nessas alturas que a qualidade do actor faz o espião brilhar mais (digamos que acorda). Acompanhado por um sideckick russo de nome não menos espectacular Illya Kuryakin (o actor David McCallum) e tendo como chefe o enigmático Waverly (o soberbo Leo G. Carroll), 'The Man From U.N.C.L.E' é o reverso da moeda de 'Get Smart', ambos entretenimento leve e bom, um pela comédia, outro pela ação/aventura, e que oferecem talvez mais fi do que grande spy. Dos filmes, destaco ‘The Spy with My Face’ (1965), que tem o twist clássico dos mauzões substituírem o verdadeiro Solo, que raptam, por um dos seus capangas que fez uma cirurgia plástica para ficar com a cara igual. E por falar em filme, muito em breve irá estrear um remake, com Henry Cavill, (o último Super Homem) como Napoleon Solo, Arnie Hammer (o último Lone Ranger) como Kuryakin, e Hugh Grant (?!) como Waverly. Não sei se hei-de rir ou de chorar, mas certamente irei dar-lhe uma olhadela….
5. Maxwell Smart (1965-1970)
Parodiar é fácil. Fazer comédia é difícil. Felizmente, o cinema sempre teve a sua quota parte de senhores artistas que souberam fazer comédia verdadeira, desde Chaplin a Jerry Lewis, de Groucho Marx a Mel Brooks. Na sua carreira no cinema Brooks fez comédia a partir de vários géneros populares, do western à ficção científica, mas curiosamente nunca fez um filme de gozo a espiões. Provavelmente porque já tinha feito isso, quando ainda trabalhava na televisão em meados dos anos 1960. A série é ‘Get Smart’ e durou 5 temporadas entre 1965 e 1970 num total de 138 episódios. É impossível esquecer o delicioso espião Maxwell Smart, interpretado por Don Adams, que nasceu para o papel, bem como é impossível esquecer a sua sedutora colega, a Agente 99, interpretada por Barbara Feldon, os agentes de CONTROL que lutam diariamente contra a pérfida organização KAOS. Eu vi esta série algures na minha infância quando passou na RTP 2 e voltei a acompanhá-la alguns anos mais tarde nos primórdios da SIC Radial, mas não a tenho tão presente como aos restantes filmes e séries desta lista, pois já passou um bom conjunto de anos. Contudo, a memória que me fica é de uma série divertida sem ser parva, ritmada e bem equilibrada, com humor de sobra e carradas de coração, ou seja, tudo o que para mim significa Mel Brooks. O agente Smart é um pouco lento de raciocínio e algo trapalhão, o que faz aumentar os momentos cómicos, mas é de salientar que nunca é estúpido ou parvalhão, como o interpretou Steve Carrell no remake de 2008. O Smart dos anos 1960 é quase como uma criança que não cresceu, e tem uma enorme alma que passa para o espectador. A sua química com a Agente 99 é óptima, e esta agente dá um cunho de profundidade muito interessante à série, apesar da comédia e dos risos gravados, que hoje soam um pouco datados. Como disse em cima, esta série é como se fosse o reverso da medalha de ‘The Man from U.N.C.L.E’, visto que ambas partilham uma estrutura semelhante de ritmo leve e familiar, personagens boas e más bem definidas, algum exagero saudável, e clássicas cenas ‘no escritório’ com o chefe, no terreno a ‘investigar’ e no lar dos vilões. Enquanto a maior parte dos spy-fi dos anos 1960 estava interessado em parodiar Bond com golpes baixos e usando carradas de clichés, a série ‘Get Smart’ foi a mais inteligente, fazendo comédia pura, sem depender de nenhum estereótipo e com um enorme valor por mérito próprio. A base de Maxwell Smart pode ter sido (dizem) uma mistura de Bond com o Inspector Clouseau, mas Mel Brooks era um génio a pegar em coisas que toda a gente conhecia, virá-las do avesso e criar um produto inovador. Menos inovador terão sido as varias tentativas de revitalizar a série, sempre com Don Adams (nunca vi nenhuma, mas o imdb não mente!), quer em cinema: ‘The Nude Bomb’ (1980) e ‘Get Smart Again’ (1989), quer em TV, numa serie de 1995 que só durou 7 episódios. Nestes casos, o original é sempre o melhor.
4. Harry Palmer (1965-1967)
O espião Harry Palmer é um dos únicos (a par do Santo) que não tem muita lógica estar nesta lista, pois está mais perto dos espiões sérios da guerra fria do que propriamente dos heróis do spy-fi. Mas eu nunca me cingi muito por lógicas (mais por instintos e sentimentos), e para mim Palmer tem mais paralelismos com Bond do que aqueles que se fazem crer. Aliás, para mim Palmer surge como uma resposta natural do novo cinema inglês dos anos 1960 à moda do ‘espião inglês’ made in América. Bond era inglês, era filmado maioritariamente a partir de Inglaterra (os famosos Pinewood Studios) e tinha vários ingleses na equipa de produção, mas o estúdio, a distribuidora, o principal produtor (Cubby Broccoli), a maior parte do elenco e todo o processo de produção e a sua mentalidade eram americanos. Bond não vinha do swinging London, vinha de Hollywood. O Santo vivia em Chelsea mas a sua atitude e personalidade eram universais. O Palmer de um jovem Michael Caine era, acima de tudo, um anti-herói, um anti-espião, um anti-gentleman, mas ao mesmo tempo também um anti-beatnik, apesar de ser inglês até ao tutano e encarnar em toda a sua atitude a essência dessa era. É só ver a deliciosa cena no inicio de ‘The Ipcress File’ (1965), o primeiro filme de Palmer, em que está face a face com o seu chefe, no gabinete. As suas respostas são extraordinárias, com um distanciamento e um sarcasmo que Bond nunca teve, e que claramente demarcam a sua personalidade. Harry Palmer pode ser tão sedutor como o Alfie que Caine interpretaria no ano seguinte, pode ser algo tótó e nerd, e pode ser tão duro como Carter que Caine interpretaria em 1971, mas nunca tenta imitar ninguém, nem ser o que não é. É uma personalidade cinematográfica cativante e única, que Caine encarna na perfeição. Se 'The Ipcress File' tem mais elementos de spy-fi, o espião tornou-se um herói inglês da guerra fria, que bem podia ter saído dos livros de John le Carré. ‘Funeral in Berlin’ (1966), o segundo filme, é uma obra prima do cinema de espionagem e Caine repetiu a dose pela terceira vez em 'Billion Dollar Brain' (1967), bem como, quase trinta anos depois, mais duas vezes em dois telefilmes dos anos 1990, 'Bullet to Beijing' (1995) e 'Midnight in Saint Petersburg' (1996) que eu nunca vi nem tenho grande interesse. Mas só pela sagacidade mordaz de 'The Ipcress File', pela forma como desconstrói o mito do espião ao mesmo tempo que nos dá um filme com todos os melhores elementos que esse género possui, e pela mestria de 'Funeral in Berlin' na categoria filmes de espião de guerra fria, Palmer já é uma figura imortal no mundo a espionagem cinematográfica. E só Caine o poderia interpretar assim. Ainda bem que não o puseram como Bond ou como Santo. Mas como Palmer é daquela alturas em que personagem e actor se conjugam no momento exacto para criar uma lenda. E que lenda. A sua aparição como pai de Austin Powers no terceiro filme deste espião é uma justa homenagem. Palmer na meia idade bem que poderia ser assim se o tom de 'The Ipcress File' se tivesse mantido.
3. Mr. Steed e Mrs. Peel, os Vingadores (1965-1968)
A magnífica série 'The Avengers' teve sete temporadas entre 1961 e 1969, e depois ainda foi revitalizada para mais duas temporadas entre 1976 e 1977. Comum a estas nove temporadas é Mr. Steed, interpretado de uma forma magistral pelo extraordinário Patrick Macnee. Na primeira temporada, Steed era apenas o sidekick do verdadeiro herói, Dr. Keel (Ian Hendry). Mas no fim da primeira temporada, Keel saiu de cena e Steed passou para o papel principal. Desde aí foi sempre emparelhado com uma companheira feminina; Venus Smith (a actriz Julie Stevens) em parte da temporada 2, Catherine Gale (a voluptuosa Honor Blackman) nas temporadas 2 e 3, Tara King (Linda Thorson) na temporada 7, bem como Purdy (Joanna Lumley) e Gambit (Gareth Hunt) - o único sideckick masculino, na série dos Novos Vingadores. Mas foi nas temporadas 4 a 6, entre 1965 e 1968, que os Vingadores atingiram a sua imortalidade. Nestas séries, ao longo de exactamente 50 episódios, Steed foi emparelhado com Emma Peel, interpretada por uma das maiores actrizes do século (e uma das mais belas), Diana Rigg. Se a série dos Vingadores, agentes secretos resolvendo vários casos desde a simples espionagem industrial ou chantagem a vilões com planos maquiavélicos de dominar o Mundo, já era boa, nas temporadas de Mrs. Peel tornou-se algo indescritível. Isto porque as duas personagens estão muito bem escritas, os actores são excelentes e a química que têm em conjunto é maravilhosa. É este o grande trunfo destas temporadas, e o motivo pelos quais são estas que são sempre recordadas quando se fala desta série. Mr. Steed e Mrs. Peel são mais do que uma dupla de agentes secretos, ele um gentleman sempre composto e sempre com uma piada e um sorriso irónico, e ela uma lindíssima mulher com vestidos de cabedal ou fatos de treino justos, com um QI elevadíssimo e que sabe artes marciais. Mr. Steed e Mrs. Peel são como uma gloriosa dupla cómica sarcástica, sempre no "vai não vai", e cujas emoções passam para o público sem que tenham de as verbalizar. E se com o passar dos 50 episódios os argumentos tornaram-se mais fi e menos spy (há um episódio em que Steed encolhe, tipo 'Honey I Shruck the Kids', ou neste caso 'The Incredible Shrinking Man'!!!), a química manteve-se sempre, até mesmo ao seu último episódio em conjunto 'The Forget-Me-Knot' (o primeiro de Tara Reed). Quando Peel desce as escadas do apartamento e Reed sobe, e Peel e Steed partilham um último olhar, dá (mesmo) vontade de chorar. A maior dupla da história da espionagem cinematográfica despedia-se. Ah, e em relação ao remake de 1998 com Ralph Fiennes e Uma Thurman (e Sean Connery como o vilão)... fujam, fujam a sete pés.
2. Simon Templar, o Santo (1962-1969)
A serie ‘The Saint’ produzida pelos estúdios ingleses da ITC entre 1962 e 1969 é a melhor série televisiva alguma vez feita. Ok, está dito, ou melhor, escrito, o que tem ainda mais força. Sim, eu sei que o leitor provavelmente não é da mesma opinião, e que neste momento está viciado numa série qualquer contemporânea. Muito bem, a cada panela o seu testo e o meu testo é ‘The Saint’, que não sei se já disse é a melhor série de todos os tempos! Simon Templar, o Santo, provém dos livros de Leslie Charteris que são, no mínimo, geniais. Pequenos, altamente viciantes e numa linguagem fluída, ritmada e com pitadas de arrogância e sarcasmo, são da melhor literatura policial jamais produzida. O Santo nem deveria estar nesta lista pois é um agente por conta própria, um bucaneiro, um Robin Hood moderno que se envolve em aventuras praticamente para o seu próprio divertimento, embora às vezes as suas acções sirvam os interesses da polícia (ah, o Inspector Teal…) ou do governo. Na sétima arte, o Santo teve direito a uma série de filmes nos anos 1940, protagonizados pelo memorável George Sanders. Mas foi em formato televisivo, nos anos 1960, que Templar atingiu uma imortalidade e uma audiência mundial que os livros, estranhamente, nunca tiveram. A escolha de Roger Moore para o papel foi, no mínimo, inspirada, e é hoje impossível pensar em qualquer outro actor que o possa interpretar. Não foi certamente Val Kilmer, no filme para esquecer de 1997, nem Ian Ogilvy na série ‘Return of the Saint’ entre 1978 e 1979. Não. O Santo só há um, e é Roger Moore. Moore é por vezes acusado de fazer sempre o mesmo papel, mas mesmo que isso seja verdade, este seu 'eu' é o melhor deles todos. É aqui de onde partem o seus futuros Bond, ffolkes, ou Brett Sinclair. É aqui que o balanço entre aquilo que Moore é e a personagem que interpreta está mais equilibrado. Imaginem o seu Bond mas sem as piadinha e com muita mais virilidade. Só levemente é que o Santo está aligeirado em relação à obra de base (Moore aligeirou muito mais o seu Bond em relação aos livros de Fleming), e o possante cabedal do actor, aliado ao seu sorriso matreiro e ao seu charme juvenil, bem como a historias ritmadas, bem construídas e com um rol extraordinário de actores secundários, permitiu conceber um produto invejável nos meandros da televisão. Ao longo de 118 episódios de 50 minutos, o Santo é um herói quase perfeito. Começando os episódios a falar directamente para a câmara ou então oferecendo-nos o seu pensamento em voz off, o Santo avança pelos episódios com um ritmo descontraído, mas inevitavelmente explode, em cenas de acção imbuídas de testosterona. O tom relaxado inicial e final não é cómico (nem Moore o é como foi em Bond), os episódios têm pontadas reais de profundidade e dramatismo no seu cerne, e o Santo quase nunca ou nunca mata ninguém (acaba tudo KO), o que lhe dá a aura de entretenimento dos 8 aos 80. Com episódios em países por esse mundo fora (embora seja quase tudo 'em estúdio'), oscilando entre dramas pessoais e conspirações mais épicas (e ainda algum sci-fi num ou noutro episodio quase para esquecer), uma das maiores características da série é que na sua última temporada há ainda episódios geniais e altamente cativantes. Cada episodio é uma verdadeira aventura e mais não digo, para o leitor os poder descobrir.
1. James Bond (1962-1969)
Não poderia haver dúvidas nenhumas que James Bond iria ocupar o número um desta lista (cuidado leitor, terá uma surpresa pois há um número zero!). Bond não é nem de perto nem de longe o primeiro grande agente secreto da literatura mas foi o que demarcou um estilo muito particular, primeiro nos romances de Ian Fleming ao longo da década de 1950, como depois no cinema, no inicio da época seguinte. Obviamente que ninguém a fazer 'Dr. No' em 1961 iria imaginar a loucura da espionagem que a época traria, nem o inusitado sucesso dos filmes. Nos anos 1960, Bond teve nada menos que seis filmes, 5 em que foi interpretado por Sean Connery, 'Dr. No' (1962), 'From Russia with Love' (1963), 'Goldfinger' (1964), 'Thunderball' (1965) e 'You Only Live Twice' (1967), e um, o último da década, em que foi interpretado por George Lazenby (a sua única aparição como Bond) - o filme já criticado nestas paginas ‘On Her Majesty’s Secret Service’. Bond dispensa comentários. Connnery, sob a batuta do realizador Terence Young (responsável por 3 dos 4 primeiros filmes), aligeirou um nadinha o Bond dos livros, tornando-o mais bon vivant e menos obsessivo e negro. Se cada leitor poderá ter o seu Bond preferido (o meu é Roger Moore por razões que ficam para outro texto), é consensual o poder de Connery como Bond; a sua elegância, o seu charme, o seu poder sedutor sempre envolto numa animalidade prestes a explodir, algo que, pelo menos para mim, constituía o seu segredo. Connery oscilava entre o galã e o herói de acção de uma forma jamais vista em filmes de Bond desde então. E para além do mais os filmes eram o real deal: os cenários magníficos de Ken Adams, os genéricos de Maurice Binder, a gloriosa fotografia, os grandiosos vilões saídinhos dos livros de Flemming (ao contrario de agora) e as Bond-girls escolhidas a dedo. Para quê contentar-se com paródias e imitações se Bond é o original? Revejo os filmes hoje e não são nada datados. 'Thunderball' (para mim o melhor Bond) é um fabuloso filme de espionagem/acção. 'Goldfinger' é intocável. Bond podia falar muito e os filmes podiam não ter o ritmo estonteante de agora, mas tinham, do inicio ao fim, carradas de classe. E que importa se as gadgets de Q agora dêm alguma vontade de rir, e Blofeld pareça uma caricatura de si próprio? Os filmes falavam por si, valiam como um todo e ao centro estava Bond, o original, o melhor, não devendo nada a ninguém e só apenas uma vez (quase) parodiando-se a si próprio. Essa vez foi precisamente no filme de Lazenby. O filme, o primeiro sem Connery, e surgindo no final de uma década com centenas de spy-fi, tem um tom surreal e de auto-gozo, que é enfatizado pela fraca qualidade de actuação de Lazenby (embora seja brilhante nas cenas de acção). Contudo, paradoxalmente, é um dos filmes mais fiéis ao romance original. Se acha que já conhece tudo sobre Bond leitor, termino por o desafiar a rever ‘On Her Majesty’s Secret Service’ para (re)descobrir o Bond de Lazenby. E como guia, sempre tem a minha humilde critica/crónica no link partilhado em cima.
Por fim, termino com uma espia bem diferente, para não acharem que esta coisa dos agentes secretos spy-fi está só reservada ao sexo masculino. Na realidade houveram algumas espias femininas nos anos 1960, como a 'Girl From U.N.C.L.E.', o spin-off da série de Napoleon Solo, a Agente 99 de 'Get Smart' ou as várias companheiras de Mr. Steed. Mas estas restringiram-se praticamente à televisão e ao papel secundário. No grande ecrã e como agente principal quase não houve nenhuma nos anos 1960. A 20th Century Fox apercebeu-se disto e entre 1966 e 1967 fez nada menos que 4 filmes centrados em agentes femininas. Eu só vi um destes, o hoje mais popular, ‘Fathom’, mas desconfio que os restantes três não sejam necessariamente piores (ou melhores). Devem estar todos ao mesmo nível e ser semelhantes, argumental e estruturalmente. Mas ‘Fathom’ tem uma coisa que estes três filmes, e aliás qualquer outro spy-fi da década de 1960 (ou de qualquer outra década subsequente!) não possui: Raquel Welch. No pico da sua popularidade como deusa sexual, Welch, de corpo absolutamente perfeito, entrou em vários filmes, nenhum de grande qualidade artística ou fílmica, mas todos eles em que exibia o seu magnifico corpo com todo o seu esplendor. ‘Fathom’, tal como ‘One Million Years B.C.’ que acabara de fazer no ano anterior, serve simplesmente para a exibir. Mais nada. Numa de 'OK Connery', Fathom nem uma agente é. Se a memoria não me falha é uma assistente dentária, mas que é uma especialista paraquedista. Por isso mesmo, e pelos seus dotes… físicos, é contratada para ‘acidentalmente’ aterrar na casa dos mauzões e infiltrar-se, o que leva a outras peripécias. Um dos actores principais do filme disse mais tarde que a historia era, num trocadilho bem conseguido, ‘hard to fathom’, ou seja, difícil de imaginar/entender. Não percebo qual a dificuldade. Welch anda de biquíni de um lado para o outro a tentar impedir uns vilões de obterem um misterioso artefacto. Agente, biquíni, mauzões. É simples. Contudo, ‘Fathom’ tem um twist final que apreciei bastante. Numa cena climática, Fathom está num comboio com os três homens que a rodeiam ao longo do filme. Ai há reviravoltas e revelações, mas quem sai por cima é Fathom que dá um inesperado ar da sua graça, que eu nunca suspeitei que este filme tivesse categoria para oferecer. Fathom não é a melhor agente secreta do cinema (o cinema moderno está cheia de mulheres agentes muito mais bem construídas), mas é, sem dúvida alguma, a mais sexy, e a melhor agente feminina do original spy-fi dos anos 1960. Deste filme bem que poderia ter havido sequelas, que não me teria importado nada!
Que o spy-fi esteja convosco!
The Brothers Grimsby (2016) HD 1080p
ResponderEliminarhttp://kncpro.blogspot.com/2016/02/the-brothers-grimsby-2016.html?m=1
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