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Machete Kills

Ano: 2013

Realizador: Robert Rodriguez

Actores principais:  Danny Trejo, Alexa Vega, Mel Gibson

Duração: 107 min

Crítica: Para começar, quero pedir desculpa ao leitor. Toda a gente se engana, é certo, e eu enganei-me desta vez. Há uns dias, quando recordei a crítica ao primeiro ‘Machete’ (2010, pode ser lida aqui), um filme que considero magnífico, escrevi “’Machete Kills’ estreia esta semana. E, tudo o aponta, vai ser bom… vai ser muito bom…”. Bem, ‘Machete Kills’ bom é que não é de certeza. Ou melhor, acaba por ser entretenimento que se aguenta minimamente e que não dá vontade a ninguém de sair da sala a correr, mas quando comparado com o primeiro filme, ‘Machete Kills’ é uma gigantesca decepção. É incompreensível como é que isto poderá ter acontecido, mas a verdade é que aconteceu. ‘Machete Kills’ tem um ritmo muito fraco, poucas sequências gore (aquelas que fizeram as delícias do espectador no primeiro filme), a história é demasiado fraca para suster a acção e, bem, o próprio Machete não é Machete, o Homem, a explosão de testosterona anti-heróica (como lhe chamei na crítica do primeiro filme). É apenas um tipo que se anda ali a arrastar de um lado para o outro e que de vez em quando decapita alguém com uma faca, mas sem uma pinga de espectacularidade. Pior, ‘Machete Kills’ é vítima daquele grande fenómeno que agora afecta a maior parte das trilogias, em que a segunda e a terceira parte são feitas de seguida. O filme não se sustém sozinho, é praticamente uma colagem a cuspo para apresentar os eventos que justificarão o terceiro filme. Portanto o filme nem clímax tem, apenas um “em breve, paguem mais um bilhete para verem como tudo isto acaba. E aí sim, vão ter a acção que estavam à espera”. Porque é que não a puseram neste segundo filme? Não sei. Fazer um filme para promover outro? Isso parece uma estratégia da Marvel, não uma digna do grande Robert Rodriguez.

Contudo, o que é curioso é que é precisamente o terceiro filme que proporciona os únicos momentos de ‘Machete Kills’ que valem a pena ver. Passo a explicar. O filme abre da melhor maneira possível, com mais um ‘fake trailer’. Esse trailer é precisamente o do terceiro filme ‘Machete Kills Again… in Space’, que ainda não tem data de lançamento, visto que Rodriguez está agora ocupado com o segundo Sin City, que estreia em 2014. Mas não é um trailer normal, é um trailer que tem o mesmo tom e a mesma espectacularidade que teve o ‘fake trailer’ de Machete, aquando do lançamento de ‘Grindhouse’, de Tarantino e Rodriguez. Estes 3 minutos são verdadeiramente espectaculares, hilariantes, e fantasticamente kitsch e gore. Todos os fãs de ‘Machete’, ao verem o segundo filme começar assim desta maneira, esfregarão as mãos de contentes, tal como eu esfreguei, e pensarão, tal como eu pensei, que, baseado nesta amostra, o que estava para vir seria, usando as minhas palavras de cima, bom, seria muito bom. Mas há medida que ‘Machete Kills’ se desenrola, comecei a aperceber-me que o melhor do filme esgota-se aos 3 minutos. Não há nada na restante hora e meia que consiga chegar aos calcanhares deste início promissor. A montanha, realmente, pare um rato.

Fazer uma sequela, por definição, e salvo as raras excepções que toda a gente conhece (Aliens, Godfather, Back to the Future, T2), é fazer um filme menor. Fazer uma sequela de um filme de acção também tem regras claras: esquecer a maior parte da história e fazer sequências de pancadaria maiores, mais espectaculares, mais sangrentas, em que morre mais gente e nas quais as mortes sejam mais espalhafatosas. Ora bem, em ‘Machete Kills’ nada disto acontece. O filme até se chama ‘Machete Kills’, mas exactamente ‘kills’ quem? Gostaria que alguém fizesse a contagem. Devem morrer pelo menos o dobro das pessoas em ‘Machete’ do que em ‘Machete Kills’. Em ‘Machete’ havia sequências de acção de 5 em 5 minutos. Em ‘Machete Kills’ o público tem que esperar muito pacientemente para que elas cheguem. Todo o tempo eu estava a pensar que Rodriguez se estava a poupar, que estava a saborear o seu tempo, para um final muito mais espectacular que a batalha épica que encerra o primeiro filme. Mas não, como o filme acaba em suspenso, não há cá batalhas épicas. Portanto, onde foi parar a acção?

Na sequência inicial, Machete (Danny Trejo com uns quilos a mais e sem a faísca do primeiro filme) e a agente Sartana (Jessica Alba) tentam impedir uma venda de armas a um cartel Mexicano. Na escaramuça, Alba acaba por morrer às mãos de um misterioso mascarado. Ok, Jessica Alba morre aos 5 minutos de filme. Seria um estratagema clássico, pensei eu, para introduzir personagens novas e para deixar Machete sem amarras sentimentais, para poder-se vingar com estilo à força bruta e para poder ir para a cama com outras meninas, como fez no primeiro filme. Mas qualquer filme de Stallone ou de Norris dos anos 1980 tem um “vou-me vingar porque mataste a minha mulher” muito mais espectacular que ‘Machete Kills’, o que parece um contra-senso. Nesta sequência inicial, há também quase as únicas mortes à la Machete, com as doses de surrealismo gore a que Rodriguez nos habituou. De resto, se é para disparar tiros e cortar alguém com facas banalmente, isso podemos ver noutros filmes, e não queremos ver neste. Só muito raramente é que Machete decide matar alguém ao seu estilo, e quando o faz a fórmula também já está batida (a cena dos intestinos, por exemplo…). 

De seguida, Machete é recrutado pelo próprio presidente dos Estados Unidos (Charlie Sheen?!), para ir numa missão suicida ao México. Auxiliado pela sedutora agente Miss Saint Antonio (Amber Heard), o seu contacto (demasiado sedutora e artificial para o público não se aperceber que ela é agente dupla), Machete terá que tentar impedir que o revolucionário Mendez (interpretado por Demian Bichir), e que sofre de dupla personalidade (outra estupidez do argumento) lance um rocket que poderá destruir Washington. Machete regressa à fronteira entre o México e os EUA, encontra velhos conhecidos (como a magnífica heroína de acção, já que não tem estofo para ser de outras coisas, Michelle Rodriguez, que regressa no papel de Luz – uma das poucas performances interessantes do filme) e tem no seu encalço assassinos a soldo como a dona de casa de prostitutas Sofía Vergara (só está ali para se divertir) ou o misterioso Camaleão, que é interpretado por várias pessoas como Antonio Banderas, Cuba Gooding Jr. e até Lady Gaga. Infelizmente o filme está mais preocupado em exibir-se, e exibir estas estrelas a fazer coisas semi-espectaculares, também já batidas (como por exemplo Vergara envergar um sutiã de metal cujos mamilos disparam balas) do que propriamente a dar ao público velho e sólido entretenimento do bom, e doses épicas da droga visual que Rodriguez nos tinha viciado no primeiro filme.

Nestas andanças, Machete descobre que o verdadeiro vilão, aquele que está a mexer os cordelinhos por trás, afinal é outro. O milionário cientista Voz (interpretado por Mel Gibson) revela ser um vilão minimamente interessante (é um Gibson a actuar ‘por favor’ mas que ainda consegue cativar), mas foi com surpresa que me apercebi que este vilão, e toda a linha argumental da ida ao espaço, são mais uma vez pouco originais. Voz parece ser uma imitação pouco conseguida de Hugo Drax, o vilão do livro ‘Moonraker’ de Ian Flemming, e do filme de 1979 com o mesmo nome, no qual Roger Moore faz de James Bond. Todo o seu plano, de rockets que destroem a terra e de enviar uma espécie de arca de Noé para o espaço, no qual ele será o líder da nova humanidade, é exactamente o mesmo que o plano de Drax… Uma homenagem? Talvez…

Na base de Voz, há o showdown. Os bons contra os maus. Machete contra Voz. Mas é uma coisinha muito frouxa graças a Deus. Sim, sacam de umas armas valentes, e há umas meninas aos berros a disparar umas metralhadoras, mas sinceramente, depois do que se viu no primeiro filme, sabe tudo a pouco. O filme está sempre a prometer, e depois fica claramente a remeter tudo para o terceiro filme.

No final, ‘Machete Kills‘ é uma grande decepção. Danny Trejo perdeu a chama (quando no primeiro filme diz ‘Machete don’t text’ o público adora; quando agora diz ‘Machete don’t tweet’ simplesmente não é a mesma coisa), o argumento perdeu a sua vivacidade e originalidade (e há tantas coisas que se passam há volta de Machete que ele deixou de ser o fio condutor), e as cenas de acção perderam a sua irreverência e aquela ligeira dose de insanidade que as tornavam transcendentais mas incrivelmente gostosas. O filme arrasta-se a maior parte do tempo, com muita conversa e muita antecipação mas pouco sentido estético e muito poucas set pieces de epicidade gore. Onde estão as mortes com a serra eléctrica, onde estão as coisas gloriosas como a mota com a metralhadora, onde estão os rios de sangue? O mais perto que temos aqui de uma morte cool é quando Machete se agarra ás hélices de um helicóptero ou quando usa umas armas espaciais de ficção científica, mas isto é claramente um passo abaixo em relação ao primeiro filme, e não acima como deveria constar de uma boa sequela. O único sangue que brota às toneladas é quando Machete coloca uns sacos de sangue de um hospital no micro ondas, e suja, quando a coisa explode, umas meninas meias despidas com armas grandes em punho que andam atrás dele.

As personagens procuram ser cools mas acabam por ser só fachada. Há coisas que se atiram para os olhos para supostamente terem piada (o presidente Sheen todo ‘flower power’ que legaliza, por exemplo, a marijuana na América, ou a aparição de Lady Gaga) e há coisas que soam bem no papel (a personagem de Miss Saint Antonio), mas que na realidade não se conseguem materializar convincentemente. O primeiro filme tinha muita parvoíce, sim, mas era parvoíce que no universo surreal do filme tinha lógica. A parvoíce deste segundo filme não tem sentido no universo fílmico. Tem só sentido no universo do espectador, que conhece os actores, que conhece as histórias de James Bond, que conhece as personalidades de Mel Gibson ou de Charlie Sheen. A magia de Machete perdeu-se, porque o filme deixou de existir no seu próprio universo, para se vender ao universo do público. Que outra razão pode haver para a exibição de jovens (supostos) talentos como Vanessa Hudgens ou Alexa Vega (a heroína de Spy Kids), que foram badaladas na comunicação social pela antecipação de aparecerem bem despidinhas, e que realmente assim aparecem, dizendo apenas meia dúzia de linhas e não servindo para nada? Até filmes que têm pouca substância como ‘Machete’ têm que ter alguma linha condutora por detrás, mesmo que essa linha seja uma de insanidade irreverente e sangrenta, do espectáculo pelo espectáculo. ‘Machete Kills’, por seu lado, é só fachada sem conteúdo. É só exibição. E mesmo assim uma exibição pouco interessante e mais preocupada em vender o terceiro filme do que propriamente se focar em si própria. Por estas razões penso que este é um filme perdedor.

Machete só há um. É o filme de 2010. O público não pode, nem deve aceitar imitações nem engodos. E este segundo filme de Machete é um grande engodo. O público foi enganado. Enganado a comprar 2 bilhetes em vez de um. Foi-lhe dada uma promessa, que Machete regressaria para se vingar, para matar toda a gente que lhe aparecesse à frente de uma forma gloriosa, épica e extremamente sumarenta. Mas ‘Machete Kills’ apenas diz: “se querem ver tudo isto, não se esqueçam de comprar um bilhete daqui a um ano ou dois para verem ‘Machete Kills Again… in Space”. E isto não é justo. ‘Machete Kills’ tem muita dificuldade em se suster sozinho como filme. Talvez quando a trilogia estiver completa consiga ser um filme suportável, se o terceiro realmente cumprir a sua missão e conseguir superar o primeiro filme. Senão, sempre teremos o primeiro filme e poderemos esquecer os restantes. ‘Machete Kills’ existirá apenas na memória dos fãs de Rodriguez como o filme que tem o magnífico fake trailer a ‘Machete Kills Again… in Space’, e nada mais. O resto é apenas puro desperdício de gente que, como se provou no grande ‘Machete’ de 2010, sabe e consegue fazer bem melhor.

Eu já vi todos os filmes de Robert Rodriguez menos ‘The Faculty’ (1998) e o quarto Spy Kids (2011), e tenho a dizer que ‘Machete Kills’ é bem capaz de ser o seu pior filme, a par das sequelas de Spy Kids (2002 e 2003). E dizer uma coisa destas não é nada bom… Antes do terceiro Machete, Rodriguez irá apresentar ‘Sin City: A Dame to Kill For’ em 2014. Nesta sequela supostamente não há que enganar, mas também não haveria numa sequela de Machete, por isso temos que esperar para ver…

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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