Realizador: Mel Brooks
Actores principais: Mel Brooks, Marty Feldman, Dom DeLuise
Duração: 87 min
Crítica: Extraída de uma crónica sobre a carreira de Mel Brooks que pode ser consultada aqui.
Se ‘Young Frankenstein’ é o filme mais artístico de Brooks, ‘Silent Movie’ é o mais audacioso, embora também um dos menos conseguidos. Se fazer um filme inteiramente mudo em 1976 já é de espantar, então fazer um filme inteiramente mudo em Hollywood sobre um realizador de Hollywood que quer fazer um filme inteiramente mudo é ainda mais surpreendente. A ausência de diálogos permite que a comédia se foque única e exclusivamente no visual, e Brooks tenta recriar os modelos perdidos dos mestres da comédia muda, da delicadeza de Chaplin, à loucura inocente de Lloyd, às set pieces técnicas de Keaton. Para isso recorre a dois actores de expressividade imensa, Dom DeLuise e Marty Feldman. Eles são os assistentes do próprio Brooks, que pela primeira vez assume o papel principal num dos seus filmes. Para vender a sua ideia de um filme mudo ao estúdio, procura contratar um conjunto de estrelas (talvez a técnica usada pelo próprio Brooks na vida real?). Assim sendo, o filme segue as aventuras de três totós desastrados enquanto tentam convencer famosos como Anne Bancroft (a mulher de Brooks na vida real), James Caan, Burt Reynolds, Liza Minelli, Paul Newman, entre outros, a entrar no seu filme. Nestas andanças o famoso mimo Marcel Marceau diz a única palavra do filme todo (irónico, não?). Após vários contratempos, o filme é feito e estreado (numa cena hilariante após a bobina ser roubada pelos mauzões). ‘Silent Movie’ procura dizer muito sobre o próprio cinema, as suas origens, as suas estrelas, e as suas formas de produção. Talvez seja por tentar dizer muito sem dizer nada (literalmente), talvez seja um trabalho demasiado ácido, de piadas internas dirigidas aos clichés da indústria, e por isso perca um pouco da inocência louca, mas incrivelmente consciente de Brooks. Seja pelo que for, ‘Silent Movie’ é uma parada de estrelas levemente engraçada, e não uma grande comédia. Mas mesmo assim é uma pérola, visto ser a primeira e única comédia muda do cinema a ser feita desde o advento do som, e a única mega produção muda até que ‘The Artist’ apareceu em 2011. Trás consigo a nostalgia de uma magnífica era, irremediavelmente perdida.
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