Realizador: Brad Bird
Actores principais: Tom Cruise, Paula Patton, Simon Pegg
Duração: 133 min
Crítica: ‘A tua missão, Tom, caso decidas aceitá-la, é, agora que já não tens carreira e vives da tua reputação, fazer um filme da Missão Impossível de 5 em 5 anos, sempre que quiseres ganhar uma pipa de massa e que o público se lembre que tu ainda estás vivo’.
A coisa mais extraordinária do primeiro filme da Missão Impossível foi tornar o herói de 143 episódios da famosa série de televisão num vilão, só para que a nova personagem de Tom Cruise pudesse ser o herói e continuar a fazer sequelas por aí fora. Só há partida isto denigre qualquer ligação com a série original, mas os filmes da MI foram evoluindo e, sinceramente, tornando-se cada vez melhores. O primeiro (1996), de Brian dePalma, tentou ser um intrincado e inteligente thriller de espionagem, que acabou por ser demasiado confuso e complicado para o seu próprio bem. O segundo (2000) para balançar, tinha uma história banalíssima, e os momentos altos vinham apenas das cenas de acção artísticas coreografadas pelo reputado realizador John Woo. O terceiro (2006), do guru televisivo J.J. Abrahams, foi um filme que resultou muito melhor, não só porque tinha muito menos pretensões artísticas, mas também porque dava ao público aquilo que ele queria: acção, acção e acção. E da boa. Não é por acaso que o melhor pormenor do terceiro filme é o facto de nunca se saber o que é o ‘rabitt’s foot’, o segredo que todos querem roubar. Para a história esse segredo na realidade pouco interessa. O que interessa é a acção e a tensão que o rodeia. É o conceito do ‘McGuffin’ de Hitchcock levado ao extremo. A melhor cena surge então quando Ethan vai roubar a rabbit’s foot. Não se vê o assalto, e isso vai contra toda a suposta premissa estipulada nos filmes anteriores. Não há cá cabos, nem computadores, nem máscaras. Ethan vai roubar o artefacto, e a câmara acompanha a tensão dos membros da equipa à sua espera. Dois minutos depois Ethan aparece num salto, já com o rabbit’s foot. Genial.
O quarto filme parece ter-se esquecido do quão bem resultou esta construção, e assim sendo os seus piores momentos são precisamente os primeiros 20 minutos e os últimos 10, em que a história tem de ser muito bem explicadinha. Isto, claro, dá azo a incongruências para o espectador que pense. Pelo meio existem 3 grandes ‘set pieces’ de acção, em Moscovo, no Dubai e por fim em Bombaim, que misturam a explosividade e o ritmo acelerado bondiano do período Daniel Craig, com os clássicos estratagemas, infiltrações e mascaradas da MI. É nestas três sequências que está concentrado todo o interesse do filme, especialmente quando a história se torna irrelevante e a acção toma conta do espectáculo. O momento mais cativante do filme é a escalada de Cruise pelo exterior do maior edifício do mundo, no Dubai. Mais uma vez o que ele vai roubar não interessa. A tensão da escalada, isolada, é suficiente para agarrar o público às cadeiras. E isto repete-se, em maior ou menor escala, o que dá pontos ao filme, mas mesmo assim estas sequências não conseguem torná-lo em algo propriamente brilhante.
A história tenta pegar nas estratégias clássicas da MI e perguntar: e se falharem? Há uma primeira missão que corre mal, certamente devido a uma traição, e o Kremlin explode. Portanto, a frase clássica ‘se algum dos seus membros for apanhado, o governo não reconhece a vossa existência’ finalmente torna-se realidade, e a equipa que sobra, Cruise, Renner, Simon Pegg (que vem da MI 3, e que é o escape cómico do filme), e Paula Patton (a menina produzida que sempre tem que existir nestas coisas), ficam sozinhos, sem apoio, sem retirada, e sem material. Contudo, a ameaça do lançamento de mísseis nucleares continua iminente, portanto sozinhos têm que salvar o dia, saltando entre 3 continentes. Assim sendo o filme tenta enganar o público, sem o conseguir. Supostamente estão sem apoio, sem dinheiro, e são abandonados pela agência. Contudo, Cruise só tem que fazer um telefonema a ‘amigos’ da candonga e logo arranja o equipamento e uma pipa de massa para as máscaras, para o material ultra-sofisticado, e para arrendar suites no hotel mais caro do mundo. Estão ‘queimados’ mas mesmo assim conseguem arranjar convites para festas, as plantas de tudo o que é palácio ou fábrica, e entrar e sair de condutas de ar sem problemas. Por isso mesmo, o 'estarem sozinhos' nunca parece muito credível. Bem, são os luxos de Hollywood, e na realidade estas partes muito mal explicadas não interessam. Vá, a máquina de fazer máscaras é de má qualidade e não funciona, por isso têm que ir sem elas. Mas isto são pormenores. De novo, o enfoque tem que ser a acção. E essa, MI 4 dá-a muito melhor que qualquer MI anterior.
MI 4: Ghost Protocol, tem muitas incongruências, o argumento é previsível e algo banal, e a construção das sequências, digamos, emocionais não é grande coisa (como por exemplo o explicar do não aparecimento da mulher de Cruise, que foi o centro do filme 3). Mas o que MI 4 dá é acção, e pela acção vale muito. Mais, a introdução de Renner é algo interessante (Renner foi contratado e a sua personagem foi criada do zero, para substituir Cruise no dia em que ele se fartar de fazer de Ethan Hunt), embora, mais uma vez, haja muitos buracos na psicologia desta nova personagem. Pegg (o cómico de Shaun of the Dead, Hot Fuzz e Paul), tem aqui muita mais liberdade para os seus escapes cómicos do que teve no filme 3. E não vale a pena falar de Tom Cruise, está fiel ao seu eu, incluindo o correr daquela maneira hirta e esquisita.
MI 4 pode não é um grande filme, mas é bom entretenimento. Surpreendente se soubermos que foi o primeiro filme com ‘pessoas’ realizado por Brad Bird, o menino da Pixar que realizou ‘The Incredibles’ e ‘Ratatouille’ (e ganhou 2 Óscars de melhor filme de animação por estes). Que transição estranha, mas interessante, e que ajuda a explicar a por vezes super teatralidade das cenas de acção, e também do genérico inicial.
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