Ano: 1969
Realizador: Dino Risi
Actores principais: Nino Manfredi, Sylva Koscina, Véronique Vendell
Duração: 114 min
Crítica: Quando se pensa nos grandes realizadores italianos da década de 1960, imediatamente os nomes de Fellini, Antonioni ou Visconti vêm à cabeça. O realizador Dino Risi é, pelo menos internacionalmente, geralmente esquecido. Este realizador, contudo, é bem conhecido dos italianos (alias foi um italiano quem primeiro mo apresentou), e desde a comédia ao drama, realizou dezenas de filmes, curtas e documentários durante quase 6 décadas.
Para mim Risi realizou uma obra incontornável, o filme de 1962 ‘Il Sorpasso’. Este é um filme que recomendo vivamente a todos, uma obra-prima, e um dos melhores filmes da vaga italiana do início dos anos 1960. É um filme que facilmente rivaliza (ou ultrapassa, passe-se o trocadilho), com as obras ‘8 ½’ ou ‘La Dolce Vita’ de Fellini ou ‘L’Aventura’ de Antonioni, feitas na mesma altura, e que, apesar de pouco conhecido, não pode ser perdido por quem se considera um verdadeiro amante da sétima arte.
Já ‘Vedo Nudo’, a sua obra de 1969, detém pouco da profundidade, do realismo emocional, do degredo sentimental, das obras-primas italianas do início dessa década. Em vez disso é, literalmente, uma ‘comédia à italiana’, um género que também se tornou famoso, e para o qual Risi contribuiu como poucos. ‘Vedo Nudo’ apresenta, de uma forma ligeira e humorística, 7 sketches sobre o amor, o sexo e as obsessões e os fetiches sexuais, sendo que o actor principal de cada um destes segmentos é quase sempre o mesmo: Nino Manfredi. Obviamente, é de supor que este filme foi a inspiração mais que certa da obra de 1972 de Woody Allen ‘Every Thing You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask’, mas ao contrário deste, ‘Vedo Nudo’ acaba, infelizmente, por ser um filme muito desequilibrado.
Os segmentos mais longos (de cerca de meia hora) são claramente os piores, o que põe em causa o ritmo e o estilo do filme. Contudo, parece que Risi está perfeitamente ciente disso pois, por exemplo, logo após ‘Ornella’, um destes longos segmentos mais enfadonhos, seguem-se imediatamente duas curtas muito rápidas e muito engraçadas, que voltam a equilibrar o filme. Portanto ‘Vedo Nudo’ balanceia-se entre estes dois estados, entre episódios com ideias mais interessantes e um humor mais bem trabalhado, mas que acabam demasiado depressa (ou melhor, têm um ‘timing’ perfeito para não se auto-estragarem), e outros, mais longos, que insistem mais do que devem na mesma ideia numa tentativa de construir uma curta mais elaborada, mas que não são assim tão bem sucedidos, acabando por arruinar o fluir do filme.
Tudo somado, ‘Vedo Nudo’ é um produto clássico do liberalismo e da abertura sexual presente no cinema europeu dos anos 1960. Cada segmento tem um humor leve fácil de digerir, mas acabam por nunca ser nem muito engraçados, nem muito interessantes. É um filme cheio de pequenos detalhes bem conseguidos mas que rapidamente se diluem, e ao mesmo tempo segmentos pouco interessantes que se arrastam infinitamente. Mesmo assim é um filme que se vê bem, e que flui bem apesar do seu ritmo desequilibrado. Infelizmente, pouco mais tem para oferecer que isto.
Uma dupla sessão ‘Vedo Nudo’ e ‘Every Thing You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask’, 3 horas de curtas-metragens humorísticas sobre amor e sexo, poderia até ser uma boa ideia para uma noite de cinema entre amigos leve, engraçada e bem passada.
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