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Tower Heist

Ano: 2011

Realizador: Brett Ratner

Actores principais: Ben Stiller, Eddie Murphy, Casey Affleck

Duração: 104 min

Crítica: Quando eu digo que Brett Ratner é um dos melhores realizadores da nova geração, as pessoas riem-se ou coçam a cabeça. A verdade é que os velhos autores estão a ficar velhos e, com as claras excepções de Christopher Nolan e Darren Aronofsky, não surgiu na década de 2000 nenhum grande cineasta americano. Para mim, Ratner pertence a um grupo selecto de novas promessas. A questão, e o motivo pelo qual nem ele, nem eu, somos levados a sério, é que Ratner apenas fez um filme sério (‘Red Dragon’, 2002). Os restantes filmes da sua filmografia são comédias de acção/aventura. Aliás, este é dos poucos realizadores que conseguiu transportar com sucesso para o novo milénio o género tão em voga no final dos anos 1980, início dos anos 1990.

Quando eu digo que Brett Ratner é um dos melhores realizadores da nova geração, as pessoas riem-se ou coçam a cabeça (...) Pode não ser um ‘autor’, mas tem uma qualidade invulgar a lidar com actores (...) e é capaz de pegar em histórias banais blockbusterizadas e torná-las divertidas e dinâmicas"

Ratner pode não ser um ‘autor’, mas tem uma qualidade invulgar a lidar com actores, e essa cumplicidade transporta-se para o ecrã. Para além do mais, ele é capaz de pegar em histórias banais blockbusterizadas e torná-las divertidas e dinâmicas. Mas há um pouco mais do que isto no trabalho de Ratner. É só comparar o péssimo ‘Hannibal’ (2001) do conceituado autor Riddley Scott, que praticamente matou o franchise Hannibal Lector, com o surpreendente ‘Red Dragon’ de Ratner, apenas um ano depois. Se o argumento diz "e então o autocarro explode", sabemos que Michael Bay o vai filmar muito melhor que Godard, Scorcese ou Ozu. O mesmo se passa com as comédias de acção, se forem dirigidas por Ratner.

Começando a carreira como realizador de videoclips, muitas divas como Maddona, Mariah Carey e Jessica Simpson agora dificilmente fazem um videoclip sem ele. O seu trabalho tem sido praticamente todo na televisão (é o produtor, por exemplo, de ‘Prision Break’), mas no grande ecrã realizou praticamente só os três ‘Rush Hour’ (1998, 2001, 2007), bem como o terceiro X-Men (‘Last Stand’, 2006 – o melhor da saga), e o animado ‘After the Sunset’ (2004) com Pierce Brosnan e Selma Hayek. ‘Tower Heist’ é o seu último trabalho (se exceptuarmos ter realizado um dos segmentos do filme 'Movie 43' de 2013).

Ben Stiller é o gerente de uma torre de apartamentos de luxo em Nova Iorque. Lá mora o grande actor (cómico e não só) Alan Alda, que neste filme faz de gestor milionário, aparentemente muito amigo dos seus empregados. Mas Alda é um investidor de risco fraudulento, e quando é indiciado pelo FBI, o staff descobre que todo o seu dinheiro (que de boa fé, mas estupidamente, tinham dado a Alda para investir) foi, supostamente, perdido. Stiller jura vingança, o que faz com que seja despedido. Então, forma um plano: assaltar a própria penthouse da torre (visto que o dinheiro que Alda roubou, e que nem o FBI conseguiu encontrar, só pode estar lá escondido).

"O filme só verdadeiramente despoleta com o passar da primeira hora, quando Murphy entra em cena e 'treina' a equipa de ladrões. A química Murphy-Stiller é hilariante, e trás à memória a dupla Shrek-Donkey."

A pandilha de ladrões invulgares conta também com Casey Affleck, Mathew Broderick (é estranho vê-lo já na meia idade), Gabourey Sidibe (tornada famosa no filme ‘Precious’), e Eddie Murphy, um ladrão fala-barato meia-leca, vizinho de Stiller. Juntos, depois de um planeamento à la 'Ocean's 11', assaltam a torre no último terço do filme.

Este é um filme com mais camadas do que poderá parecer. Verdade que o primeiro acto demora mais de uma hora e é demasiado extenso para o tipo de filme que este pretende ser. Contudo, isso dá uma (certa) profundidade às personagens que é raro ver nestes filmes, e permite dar também umas achegas de consciência social, nestes tempos de crise financeira em que os gestores são tidos como os principais culpados. Contudo, a ‘profundidade’ não passa muito disto, e o resultado é que tempo de filme a mais é perdido nesta construção. O filme só verdadeiramente despoleta com o passar da primeira hora, quando Murphy entra em cena e 'treina' a equipa de ladrões. A química Murphy-Stiller é hilariante, e trás à memória a dupla Shrek-Donkey. Stiller está mais contido do que o habitual, mas forma o contraponto ideal com Murphy, que faz o que sabe fazer melhor, nomeadamente falar desalmadamente com uma piada por segundo. Contudo, o assalto já é menos conseguido. Claro que tem cenas hilariantes, e termina com uma sequência brilhante de suster a respiração, tirando partido da altura elevada a que se passa a acção. Durante toda esta sequência admito que tinha literalmente os olhos colados no ecrã. Mas após uma hora de construção, a verdade é que esta sequência climática é de curta duração e sabe a pouco. Este é um filme que possui uma distribuição normal – vai crescendo, atinge o seu pico a meio e depois volta a descer de intensidade. Os extremos, o início e o fim, estão muito menos trabalhados que o miolo.

"Este é um filme que possui uma distribuição normal – vai crescendo, atinge o seu pico a meio e depois volta a descer de intensidade. Os extremos, o início e o fim, estão muito menos trabalhados que o miolo."

Como de costume nestes filmes, há várias coisas difíceis de acreditar (um elevador suster o peso de várias toneladas, empregados comuns conseguirem ludibriar agentes do FBI), e a maneira como o filme se fecha no final (de uma forma "tudo está bem quando acaba ‘quase’ bem"), denota alguns 'buracos' de consistência argumental. O ‘quase’, como não podia deixar de ser, deixa a janela aberta para a sequela. Apesar destas falhas comuns neste tipo de produtos, este é um filme de acção/comédia que funciona. Não passa disso, mas para o que se propõe ser funciona, e bem. Ratner é sempre uma lufada de ar fresco do género, e o rol de actores secundários (incluindo Tea Leoni como uma agente de FBI, com química romântica com Stiller) é da mais alta qualidade.

Este é um filme que, dois anos volvidos, já quase toda a gente se esqueceu, e facilmente é descartado pelos críticos como 'mais um'. Há muito filme de acção/roubo/comédia por aí, é certo. Contudo, se é este género que procura, caro leitor, então sugiro que veja este. Para o género, está bem acima. Rir-se-á um pouco, agarrar-se-á ao seu assento um pouco, e não terá que pensar muito, enquanto torce pelos zé-ninguéns que atacam o clichézado investidor mauzão. Um reflexo daquilo que a maior parte de nós quererá fazer, no actual estado das coisas. O filme não chega a ser pungente, mas brinca traquinamente com coisas sérias e, como disse, tem personagens mais bem trabalhadas e uma acção menos superficial do que é costume neste tipo de filmes.

"Para o género, está bem acima. Rir-se-á um pouco, agarrar-se-á ao seu assento um pouco, e não terá que pensar muito, enquanto torce pelos zé-ninguéns que atacam o clichézado investidor mauzão. (...) O filme brinca traquinamente com coisas sérias e tem personagens mais bem trabalhadas e uma acção menos superficial do que é costume neste tipo de filmes."

Actualmente, quando se lêem notícias que o próximo filme de Ratner será um épico sobre Hercules (provavelmente em 3D), com Dwayne Johnson no papel principal, espero pacientemente que Ratner fique mais velho uns aninhos, e comece a aplicar as suas capacidade de realização a filmes sérios…


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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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