tag:blogger.com,1999:blog-6060869956284301652024-03-23T10:14:36.556+00:00Eu Sou CinemaPorque o Cinema é uma viagem pessoal de 12 décadasEu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.comBlogger492125tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-89405167425872477532019-01-08T23:33:00.003+00:002021-04-11T21:19:23.158+01:00New York Movie Song Play List<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEJw1mBILu7y4Id2vzso9mFiTSNDMQZ0ynUD9fh8Utp2CAKgYL0CDL9vF50aEj3QM8sCAb0dS1cpdh0HyDuyAksVdM8snq5_xu4ik7dyxAMF8Uf3Yp2JMJ3Z7zmGPtKw68wHyvhwxT9QEq/s1600/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEJw1mBILu7y4Id2vzso9mFiTSNDMQZ0ynUD9fh8Utp2CAKgYL0CDL9vF50aEj3QM8sCAb0dS1cpdh0HyDuyAksVdM8snq5_xu4ik7dyxAMF8Uf3Yp2JMJ3Z7zmGPtKw68wHyvhwxT9QEq/s640/maxresdefault.jpg" width="640" /></a></div>
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Toda a gente sabe que a meca do cinema americano é Los Angeles. Mas nem toda a gente sabe qual o conjunto de motivos especiais que levaram a que esta cidade florescesse desse modo. Quando o cinema como indústria se começou a conceber na década de 1910, a Califórnia ainda era um território em desenvolvimento, com inúmeras áreas virgens, por urbanizar. Os pioneiros do cinema podiam assim comprar terrenos para construir os seus estúdios a baixo custo. Para além do mais, a Califórnia tem mais de trezentos dias de Sol por ano; crucial para a captação de imagens claras usando as técnicas fotográficas rudimentares então existentes. E para terminar, ao redor de Los Angeles, num raio de menos de uma centena de quilómetros nas várias direcções, os pioneiros do cinema podiam encontrar todo o tipo de paisagens; deserto, florestas, montanhas, praias, o que tornava mais simples e menos dispendiosa as filmagens em "exteriores" para alimentar qualquer género de filme.<br />
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Contudo, apesar de se ter desenvolvido em redor da indústria cinematográfica, a cidade dos anjos nunca conseguiu bater a sua rival do Este, Nova Iorque, em termos de apelo glamoroso para os cineastas. Los Angeles pode ser a meca do cinema, mas a meca da cultura sempre foi e sempre continuará a ser Nova Iorque. As paisagens de Los Angeles nunca seduziram os maiores artistas cinematográficos como seduzem os contornos da Big Apple; a sua arquitectura, o seu carisma, os seus monumentos, a vibrância do seu centro, os segredos dos seus bairros. <b>Woody Allen</b>, <b>Scorsese</b>, <b>Spike Lee</b> e tantos outros ajudaram a pintar o retrato desta cidade, das suas gentes, da sua vida, como nenhuma outra cidade foi amada na história do cinema, nem mesmo Paris.<br />
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Listar os grandes filmes passados em Nova Iorque já foi feito e refeito. Aqui, e inspirado pelas celebrações de ano novo na "cidade que nunca dorme", achei que seria interessante pensar a cidade em termos musicais. Todos conhecemos os grandes standards da indústria musical, as mais populares cartas de amor a Nova Iorque, como "New York, New York" interpretado por <b>Frank Sinatra</b>, "New York State of Mind" de <b>Billy Joel</b> ou até o <i>rip-off</i> "Empire State Of Mind" de <b>Alicia Keys</b> (que apesar das múltiplas citações, não se digna a citar Joel). Mas talvez conheçamos menos bem os grandes hinos à cidade que foram concebidos para obras de cinema, incluindo um bem conhecido tema cujas origens cinematográficas estão esquecidas. Ficam cinco exemplos musicais para nos inspirar neste novo ano, e quem sabe apadrinhar uma viagem em breve à Big Apple (era bom, não era?!). Se conhecer mais, caro leitor, não hesite em partilhar.<br />
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<b><span style="font-size: x-large;">"New York, New York" do filme 'On the Town' (1949)</span></b></div>
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<b>'On the Town'</b>, o mágico musical de <b>Stanley Donen</b> e <b>Gene Kelly</b>, é uma obra-prima do entretenimento. Três marinheiros, <b>Gene Kelly</b>, <b>Frank Sinatra</b> e <b>Jules Munshin</b>, munidos de uma licença de um dia, partem à descoberta de Nova Iorque numa celebração de música, canto, dança, humor e claro, como não podia deixar de ser, amor. A chegada do trio à cidade é marcada pelo animado tema "New York, New York", composto pelo mítico <b>Leonard Bernstein</b>, com letra de <b>Betty Comden</b> e <b>Adolph Green</b>. Passando em revista todos os grandes marcos da cidade (onde os actores realmente estiveram), a música é um compêndio turístico ilustrado, onde o "<i>Bronx é a norte e a Battery a Sul</i>" e as "<i>pessoas andam num buraco no chão</i>" [de metro]. E se a ideia destes três homens é ver, preferencialmente, as vistas femininas, Nova Iorque não deixa de ser, então e sempre, uma "<i>cidade maravilhosa</i>"!!! Sem dúvida alguma.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">"New York, New York" do filme 'New York, New York' (1977)</span></b><br />
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Apesar de ter cantado um "New York, New York" no filme de 1949, essa não é a canção com esse nome mais popular que <b>Frank Sinatra </b>interpretou. O Ol' Blue Eyes ficaria para sempre associado ao tema "New York, New York" composto por <b>John Kander</b> e <b>Fred Ebb</b>, do filme com o mesmo nome de 1977 realizado por <b>Martin Scorsese</b>. Aliás, poucos sabem que <b>Sinatra</b> apenas o interpretou pela primeira vez em 1979, dois anos depois do filme ter estreado. No filme, esse hino ao poder de Nova Iorque para saciar sonhos, onde todos podem acordar numa "<i>cidade que nunca dorme</i>" e descobrir que estão "<i>no topo</i>", é interpretado por <b>Liza Minnelli</b>. Confesso que não são nada fã deste filme extremamente moroso, mas é inegável que deixou um portentoso legado à história da música, mesmo que esse legado tenha passado maioritariamente despercebido na altura do seu lançamento (nem sequer foi nomeada para o Óscar de Melhor Música!). Talvez devamos culpar a fraqueza do filme por isso, não? Felizmente <b>Sinatra</b> tratou de fazer jus ao tema, para sempre...</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">"Best That You Can Do (Arthur's Theme)" do filme 'Arthur' (1981)</span></b><br />
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Curiosamente, <b>Liza Minnelli</b> também estaria associada ao filme que quatro anos depois venceria o Óscar de Melhor Música: 'Arthur'; uma parábola por vezes acutilante mas sempre hilariante passada em Nova Iorque, que conta a história de amor entre um herdeiro rico (<b>Dudley Moore</b>) e uma empregada de restaurante (<b>Minnelli</b>). A música permitiu ao celebrado compositor <b>Burt Bacharach</b> levar para casa ao seu terceiro Óscar (que partilhou com <b>Carole Bayer Sager</b>, <b>Peter Allen</b> e o vocalista <b>Christopher Cross</b>). Se por um lado estrutura-se como uma típica balada dos anos 1980, por outro tem fascinantes factores distintivos. É das poucas músicas a ganhar este prémio em décadas recentes a incidir realmente sobre a história do filme. Neste caso reflecte sobre a personagem de Arthur, sobre a sua personalidade e a sua luta para encontrar um lugar; um lugar que não é apenas físico mas que está intrinsecamente associado à cidade onde vive. É o refrão que melhor o expressa: "<i>Quando estás preso entre a Lua e Nova Iorque, o melhor que tens a fazer é apaixonar-te</i>". Simples.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">"Once Upon A Time In New York City" do filme 'Oliver And Company' (1988)</span></b><br />
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<b>'Oliver And Company'</b> tem a posição algo ingrata de ser o último filme da Disney antes do "renascimento" com a segunda idade de ouro, que começaria logo a seguir com <b>'The Little Mermaid' (1989)</b>, <b>'Beauty and the Beast' (1991)</b> e <b>'Aladdin' (1992)</b>. Assim, como outros filmes da década de 1970 e 1980 deste mítico estúdio de animação, está injustamente um pouco esquecido excepto por aquela geração que o viu em criança (culpado!). Uma re-imaginação de 'Oliver Twist' com um gatinho, o filme troca a Londres de Dickens pela contemporânea Nova Iorque (embora desenhada com um traço estilizado hoje algo datado) e a banda sonora enche-se de composições que enaltecem o ritmo da cidade, como "Why Should I Worry" interpretada por <b>Billy Joel</b>. Mas é a música de abertura, escrita por <b>Barry Mann</b> e <b>Howard Ashman</b>, e interpretada por <b>Huey Lewis</b>, que, à semelhança do tema de 'Arthur', entrecruza a história da personagem com a de Nova Iorque. Ou melhor, representa-a como uma das múltiplas histórias de coragem que só numa cidade como esta se podem tornar realidade. Afinal a cidade pode ser "<i>dura</i>" mas é "<i>sempre Era Uma Vez em Nova Iorque</i>". Portanto, Oliver não pode desistir... nem ninguém, aliás. <i>So eighties</i>, mas um grande tema.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">"Welcome To New York" do filme 'The Secret Life of Pets' (2016)</span></b><br />
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<b>'The Secret Life of Pets'</b> foi um grande sucesso para a Illumination, mas o que passou ao lado de quase toda a gente (incluindo eu numa primeira visualização) são as suas estranhas semelhanças com <b>'Oliver & Company'</b>. Numa segunda visualização de repente tornou-se claro para mim, e a internet confirmou as minhas suspeitas, o que não abona muito a favor da Illumination (pagaram alguma coisa à Disney?!). A estrutura de<b> 'The Secret Life of Pets' </b>é uma cópia do filme da Disney, a começar pela sequência de abertura onde desta vez é um cão, e não um gatinho, que é encontrado abandonado nas ruas da cidade e adoptado por uma rapariga. A diferença é que <b>'The Secret Life of Pets'</b> actualiza a forma de estar, dos datados e mais nostálgicos anos 1980 para a exuberância de 2010. Assim, a balada poderosa de <b>Huey Lewis </b>que acompanhava a luta esperançada de Oliver é substituída pela oca batida techno-pop de <b>Taylor Swift</b>, que acompanha a alegre despreocupação de Max. Ao seu sabor, o filme dá-nos as boas vinda a Nova Iorque e a cidade ganha vida através de uma soberba animação digital.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;"><br /></span></b></div>
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<b><span style="font-size: x-large;">BOM ANO, caro leitor...</span></b></div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-84517475750818121212018-12-27T00:23:00.000+00:002019-01-08T23:34:40.305+00:00Ralph Breaks the Internet<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMm4NJiim3tpy4u8i-1rRGts0350vAbg68jCFs5LynoXArg6UUzgmmoYF3GS6fZWO6K4Q_XpAdXFPxJls-hXFKmKzVSWOvbThOxVOkq104NzJ9Qsu3FVYQk0IRaAKRDsNbipUZpQmfZWW1/s1600/Ralph-Break-the-internet.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1079" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMm4NJiim3tpy4u8i-1rRGts0350vAbg68jCFs5LynoXArg6UUzgmmoYF3GS6fZWO6K4Q_XpAdXFPxJls-hXFKmKzVSWOvbThOxVOkq104NzJ9Qsu3FVYQk0IRaAKRDsNbipUZpQmfZWW1/s400/Ralph-Break-the-internet.jpg" width="268" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2018<br />
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<b>Realizador:</b> Phil Johnston, Rich Moore<br />
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<b>Actores principais (voz):</b> John C. Reilly, Sarah Silverman, Gal Gadot<br />
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<b>Duração: </b>112 min<br />
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<b>Crítica:</b> Há dois anos escrevi nestas páginas um post intitulado <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/07/30-de-junho-de-2016-o-dia-mais-negro-da.html"><b><span style="color: blue;">"30 de Junho de 2016 – O dia mais negro da história recente da Disney”</span></b></a>. Referia-me ao dia, para mim fatídico, em que a Disney anunciou que no final de 2018 lançaria a sequela de <b>‘Wreck-it-Ralph’ (2011)</b>. Para o espectador insuspeito, isto aparentemente não tinha nada de surpreendente. Afinal todos os grandes estúdios de animação americanos, a Pixar, a Dreamworks, o Blue Sky e a Illumination dependem principalmente das sequelas para terem sustentabilidade. O maior ganha pão do Blue Sky são os filmes <b>‘Ice Age’</b>, e quer a Pixar quer a Dreamworks têm receitas de bilheteira muito superiores quando lançam sequelas dos seus grandes sucessos do que quando lançam filmes originais. Nem de propósito, o filme de animação mais visto deste ano (e um dos mais rentáveis de sempre) foi <b>‘Incredibles 2’</b>.</div>
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A questão aqui é que a Disney sempre se distinguiu destes estúdios por manter a sua integridade, como quem diz, sempre se recusando a fazer sequelas dos seus clássicos. Ou melhor, todos sabemos que existe um <b>‘Rei Leão 2’</b> (e 3!) e um <b>‘Cinderella 2’</b> (e 3!) e um <b>‘Bambi 2’</b>, etc, etc, etc. Mas todos estes filmes foram feitos em formato <i>straight-to-video</i>, primeiro para o mercado de VHS dos anos 1990, mais tarde para o mercado de DVDs/Blu-rays e agora para o mercado de streaming ou para suportar a programação do Disney Channel. Estas obras (apesar de algumas terem vendido bastante) sempre foram feitas com este rótulo de inferioridade. A Disney nunca pretendeu enganar ninguém, nunca se baixou ao ponto de as lançar no grande ecrã com enorme alarido só para fazer mais uns trocos, quando estava implícito que a qualidade simplesmente não iria corresponder. Todos sabemos que a Dreamworks parou de fazer ‘Shreks’ porque o quarto filme já nada tinha para oferecer criativamente. Neste momento a saga dos Minions/Despicable Me da Illumination ou a saga ‘Ice Age’ do Blue Sky já estão totalmente gastas, mas a preguiça criativa dos estúdios, e a preguiça comodista dos espectadores que se contentam com estas sequelas, fez com que se tornassem um standard da indústria, em vez de uma excepção.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Num estúdio que não fez sequelas cinematográficas de ‘Tangled’ (2010) ou do massivo ‘Frozen’ (2013) foi incrivelmente surpreendente, à primeira vista, que se tenha decidido pôr em produção uma sequela de ‘Wreck-it-Ralph’. No entanto até faz sentido. ‘Wreck-it-Ralph’ é o filme “mais Pixar” ou “mais Dreamworks” que a Disney alguma vez produziu, pelo que a entrar na rentável luta das sequelas, esta é uma lógica primeira opção."</span></b></div>
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Na realidade, de todos os 56 filmes da lista oficial da Walt Disney Animation, apenas três haviam sido sequelas, por motivos muito particulares. <b>‘Rescuers Down Under’ (1990)</b> entrou em produção como parte da veia revivalista que encabeçada por <b>‘The Little Mermaid’ (1989)</b> e <b>‘Beauty and the Beast’ (1991)</b> originou a segunda idade de ouro do estúdio (o original de 1977 tinha sido o único raio de luz de uma das décadas comercialmente mais negras do estúdio). Idem para <b>‘Fantasia 2000’</b>; depois do mega-sucesso comercial dos filmes da Disney dos anos 1990, a mítica visão de <b>Walt Disney</b> (que sempre havia sonhado criar uma sequela do filme original de 1940) finalmente se pode tornar uma realidade. E por fim <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/11/winnie-pooh.html"><b><span style="color: blue;">‘Winnie the Pooh’ (2011)</span></b></a> surgiu como uma “sequela”, ou pelo menos outra aventura no reino do ursinho Pooh, com o objectivo claro de o introduzir a uma nova geração, visto que desde o filme original de 1977 todas as obras deste universo (como o delicioso <b>‘The Tiger Movie’, 2000</b>) haviam sido produzidas <i>straight-to-video</i>.</div>
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Portanto, num estúdio que não fez sequelas cinematográficas de <b>‘Tangled’ (2010)</b> ou do massivo <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/12/frozen.html"><b><span style="color: blue;">‘Frozen’ (2013)</span></b></a> foi incrivelmente surpreendente, à primeira vista, que se tenha decidido pôr em produção uma sequela de <b>‘Wreck-it-Ralph’</b>. No entanto, se pensarmos mais um pouco, até faz sentido. <b>‘Wreck-it-Ralph’</b> é o filme “mais Pixar” ou “mais Dreamworks” que a Disney alguma vez produziu, pelo que a entrar na rentável luta das sequelas, esta é uma lógica primeira opção. Contudo, não deixa de ser uma decisão crucial na história do estúdio. Todos sabemos que a Disney tentou suster a sua animação “à mão” mais tempo que qualquer outro estúdio (afinal, foram eles que a inventaram!), mas desistiu quando as suas receitas não se comparavam com aquelas que a Pixar e a Dreamworks estavam a ter no início dos anos 2000. Mas também sabemos que quando tentaram ir imediatamente ao extremo oposto com obras como <b>‘Chicken Little’ (2005)</b> ou <b>‘Meet the Robinsons’ (2007)</b>, a coisa não correu muito bem. Uma coisa é imitar a Pixar; a outra coisa é ser a Pixar.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdwasxQin_Diaxpmb6a8QvKmCCpBnB34aUWK0tv1iwoomweQ4mZVEFxpSFO85D8SaV0QSyXOznrPyvvWBYF9TFH9hupTHZ_B4mioi41Hd1rSeH6I81NUAGTfbhnOrOq7oq0SXDUK6q-C-o/s1600/MV5BMTc0MDE0MDY5MF5BMl5BanBnXkFtZTgwNjkwMDk1NDM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="787" data-original-width="1600" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdwasxQin_Diaxpmb6a8QvKmCCpBnB34aUWK0tv1iwoomweQ4mZVEFxpSFO85D8SaV0QSyXOznrPyvvWBYF9TFH9hupTHZ_B4mioi41Hd1rSeH6I81NUAGTfbhnOrOq7oq0SXDUK6q-C-o/s400/MV5BMTc0MDE0MDY5MF5BMl5BanBnXkFtZTgwNjkwMDk1NDM%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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A compra da Pixar permitiu à Disney relaxar um bocado, e finalmente encontrou o seu lugar com <b>‘Tangled’</b> (e depois com <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/12/frozen.html"><b><span style="color: blue;">‘Frozen’</span></b></a> e <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/moana.html"><b><span style="color: blue;">‘Moana’</span></b></a>), ou seja, com um estilo híbrido, cedendo ao CGI mas mantendo a integridade, os valores e até o traço da velha Disney. A mudança de <b>John Lasseter</b> para a direcção da Disney muito contribuiu para isso, bem como para o estúdio encontrar o seu próprio estilo computadorizado fora do “universo das princesas”. <b>‘Wreck-it-Ralph’</b>, <b>‘Big Hero 6’ (2014)</b> e <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/07/zootopia.html"><b><span style="color: blue;">‘Zootopoia’ (2016)</span></b></a> são bons filmes de animação que permitiram ao estúdio ter outra liberdade criativa. Mas também permitiu aos produtores, suponho, ter menos pudor em aprovar sequelas para eles. Ou pelo menos tenha sido mais fácil fazê-lo do que tomar a importante decisão de aprovar uma sequela para um clássico de princesas, historicamente associados ao <i>straight-to-video</i>. Provavelmente quiserem ver como seria a aceitação do público da sequela de <b>‘Wreck-it-Ralph’</b>, antes de passarem para um <b>‘Frozen 2’</b>.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O filme prometia ser uma genial alegoria dos nossos tempos, criticando com inteligência e humor o mundo digital moderno (...) e as convenções do universo Disney (...) Infelizmente, há muita pouca vida para além do trailer, há muito pouco filme para lá da camada superficial; esse ténue chamariz que leva as pessoas a comprar o bilhete"</span></b></div>
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Portanto duas questões existencialistas se colocavam quando me preparei para ver a ‘Ralph Breaks the Internet’ no cinema nesta época natalícia. A primeira era prospectiva: qual seria o impacto desta sequela no rumo criativo do estúdio? Neste momento a Disney está dedicada às “re-imaginações” em imagem real dos seus clássicos. Mas à velocidade que vão, vão esgotar esse filão numa década, portanto as sequelas de animação parecem ser a próxima aposta segura. Se resultam para todos os outros estúdios, resultarão certamente também para a Disney. A segunda questão era para ser respondida no momento: conseguiria a Disney distinguir-se dos outros estúdios, apresentando uma sequela fresca e com capacidade de se suster sozinha (lembram-se o quão bom foi <b>‘Toy Story 2’</b>, apenas o terceiro filme da Pixar…)? Dou a resposta à primeira pergunta no final desta crítica. A segunda posso responder já: NÃO.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKWlc2AnDcGe67m95WdbKb5Ff-Y6WfdxXw17xtRk4teJbG4SrT8qZ3DjoTU9pYFY0EvpPac78gu-ku3vMDw1rsYC7D-ChgHbD0ZKTvHhRbiwatIpfoqdoT2rANh2Qk8_T0LF8111GvuOll/s1600/wreck-it-ralph-2-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="639" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKWlc2AnDcGe67m95WdbKb5Ff-Y6WfdxXw17xtRk4teJbG4SrT8qZ3DjoTU9pYFY0EvpPac78gu-ku3vMDw1rsYC7D-ChgHbD0ZKTvHhRbiwatIpfoqdoT2rANh2Qk8_T0LF8111GvuOll/s400/wreck-it-ralph-2-1.jpg" width="400" /></a></div>
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O primeiro ‘Wreck-it-Ralph’ é um filme bastante interessante. O seu universo de base, passado dentro dos jogos de arcada já um pouco ultrapassados pelo tempo, está excelentemente construído. E se a moral subjacente é um pouco mais do mesmo, o filme ganha pela forma ternurenta como engloba o espectador neste universo e pela forma como articula e faz evoluir as duas personagens principais; o gigante simpático mas trapalhão Ralph, carente de aceitação (o mais que adequado <b>John C. Reilly</b> num papel que não podia ser doutro) e a impetuosa Vanellope, sedenta de aventura (com a extraordinária voz de <b>Sarah Silverman</b>). Ambos estes factores de sucesso (o contexto e a química entre as personagens) seriam difíceis de transportar para um segundo filme, mas não podemos dizer que as expectativas eram más. A sequela foi alvo de uma magistral (sim, chamemos-lhe magistral) campanha de marketing, com trailer hilariante atrás de trailer hilariante. Ralph, o arcaico vilão tornado herói do mundo nostálgico dos videojogos dos anos 1990, iria parar à internet, e o filme prometia ser uma genial alegoria dos nossos tempos, criticando com inteligência e humor o mundo digital moderno; o mundo das redes sociais, do “politicamente correcto”, da indignação comodista, da fama fácil, do conhecimento instantâneo mas não necessariamente fidedigno. E pelo caminho, iria também criticar, com uma suposta madura autoconsciência, as convenções, também elas agora retrógradas, do universo Disney. A cena da visita da Vanellope às princesas da Disney no universo digital Oh My Disney foi vista e revista em tudo o que era trailer e <i>featurette</i>, como se fosse essa e só essa a única grande cena do filme.</div>
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Pois bem, o grande problema, pelo menos para mim, é que muitos críticos neste mundo moderno não olham para além da fachada e parecem escrever as suas críticas baseadas unicamente no trailer. Sim, o trailer é todas essas coisas; sagaz, inteligente, acutilante e hilariantemente alegórico. Mas o filme não é só o trailer, pois não? E no caso de ‘Ralph Breaks the Internet’, como no caso de muitas sequelas que andam para aí (sejam de animação ou não) há muita pouca vida para além do trailer, há muito pouco filme para lá da camada superficial; esse ténue chamariz que leva as pessoas a comprar o bilhete e que só funciona porque no mercado moderno o filme é ganho ou perdido no primeiro fim de semana - não fica três ou cinco meses nas salas de cinema como ficava há vinte anos. Assim, não interessa que o filme seja bom. Só interessa conseguir que o espectador compre aquele bilhete no primeiro fim de semana, antes de se saber a verdade sobre o filme. E a verdade sobre ‘Ralph Breaks the Internet’ não é, na minha opinião, muito famosa.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Estaríamos dispostos a suportar o moroso melodramatismo da primeira parte se na segunda, dentro da internet, o filme correspondesse às expectativas. Mas não corresponde. O percurso emocional e argumental que as personagens percorrem é totalmente espasmódico. Não há propriamente um rumo coerente, antes uma sucessão de ideias desconexas (quer em termos de história e piadas) que o filme vai acumulando enquanto o tempo passa."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi52m7ls1Rf0EUF43vOIRiKbSmNAUemuwEy3y1TFBcKqhahe34Yai11tkwzTR1x1RwZUPr-Ed5U-mJMrY8XchttazX9zfzNPapjK9ND5Xc6E7TY8qN2gd6bvGWbmd1GNgZSv8WKFJeydYT9/s1600/960x410_ec624c70989e8ea4618ca78dbd06bbd9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="960" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi52m7ls1Rf0EUF43vOIRiKbSmNAUemuwEy3y1TFBcKqhahe34Yai11tkwzTR1x1RwZUPr-Ed5U-mJMrY8XchttazX9zfzNPapjK9ND5Xc6E7TY8qN2gd6bvGWbmd1GNgZSv8WKFJeydYT9/s400/960x410_ec624c70989e8ea4618ca78dbd06bbd9.jpg" width="400" /></a></div>
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O início do filme leva-nos de volta à velha arcada de jogos. Se poderá parecer um bocado mais vazia e mais esquecida, as personagens dos jogos mantêm a sua rotina habitual, fazendo o seu trabalho dentro do jogo e depois deslocando-se até à “tomada” (a estação central) para socializarem uns com os outros. Enquanto o velho operador lê as instruções para instalar esta nova coisa chamada "a internet", reencontramos Vanellope e Ralph. Ele está completamente saciado com este dia-a-dia. Ela não. A historieta do costume. Mais jovem e impetuosa, Vanellope está farta do seu jogo; já conhece todas as pistas, todos os atalhos, todos os segredos, todos os níveis, e anseia por mais. Contudo, não explora mais o assunto com medo de ofender o seu grande amigo Ralph. Repito: o costume, tornado ainda mais moroso porque o filme dedica bastante tempo a este enquadramento (pelo menos a primeira meia hora).</div>
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O problema que impele a acção acontece quando Venellope, procurando explorar uma nova pista no seu jogo (criada por Ralph) entra em conflito com a rapariga real que está na arcada a jogá-lo. A jogadora quer ir por um lado, Venellope (a avatar), por outro, o que faz com que o volante se parta. Infelizmente, como o jogo é antigo, o fabricante há muito deixou de produzir as peças. Há um único volante à venda no ebay, mas está a um preço demasiado elevado para o velho dono da arcada poder suportar. Assim toma a decisão de desligar o jogo, felizmente só após Venellope e os seus companheiros conseguirem fugir para a central localizada na tomada. Contemplando a tristeza depressiva da sua amiga, Ralph decide que o que há a fazer é ir à tal internet e ao tal ebay comprar o volante que salvará o jogo. Assim, sem mais delongas (finalmente!), Ralph e Venellope aventuram-se pelo rooter fora e entram de rompante no fantástico mundo da internet.</div>
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Estaríamos dispostos a suportar o moroso melodramatismo da primeira parte se nesta segunda parte, dentro da internet, o filme correspondesse às expectativas. Mas não corresponde. O percurso emocional e argumental que as personagens percorrem dentro da internet é totalmente espasmódico. Não há propriamente um rumo coerente, antes uma sucessão de ideias desconexas (quer em termos de história, quer em termos de piadas) que o filme vai acumulando enquanto o tempo passa. O desconhecimento de ambos leva a uma primeira série de sequências exploratórias onde navegam pelos sites e apps mais populares (não digo icónicos) da internet. O <i>product placement</i> é obviamente brutal, com inúmeras marcas a darem o ar da sua graça... mas a preço de ouro (a Disney deve ter feito uma pipa de massa!). Outras, contudo, claramente devem ter-se recusado a ceder os direitos de imagem, como o Youtube que passa a chamar-se BuzzTube. Isto, a juntar ao estilo de humor adoptado, tornam o filme extremamente datado. Daqui a dez ou quinze anos, quando todos estes sites e apps tiverem sido substituídos por outros, o filme ainda terá o mínimo de apelo? Provavelmente não. O humor sustido na familiaridade do público perder-se-á. Mesmo assim não podemos dizer que, aqui e agora, o filme não é também alegórico e acutilante por esses mesmos motivos. Até acaba por ser, mas só de raspão, porque nunca quer morder a mão que o alimenta. Fica-se sempre pela superficialidade da crítica social.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Daqui a dez ou quinze anos, quando todos estes sites e apps tiverem sido substituídos por outros, o filme ainda terá o mínimo de apelo? Provavelmente não. O humor sustido na familiaridade do público perder-se-á (...) Além disso, a internet existe apenas marginalmente, um escape cómico que não está directamente associado ao desenrolar dos eventos, nem ao desenvolvimento da relação entre Ralph e Venellope"</span></b></div>
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Outra falha imediatamente identificável (comum aos mais recentes filmes de animação) é que as cenas mais hilariantes do filme já tinham sido vistas e revistas no trailer (como Ralph a ir à barra de pesquisa estilo Google), e portanto o filme tem dificuldade em gerar interesse nas cenas não vistas anteriormente. Estas envolvem o encontrar do cobiçado volante, que acidentalmente acabam por comprar por uma quantia astronómica. Assim têm de vaguear pela internet à procura de dinheiro. Enquanto Ralph se tenta tornar uma estrela do Youtube (perdão, do Buzztube) produzindo toda a espécie de vídeos virais, Venellope vai parar a um jogo chamado Slaughter Race onde procura um cobiçado artefacto que poderá vender na “darknet” (outra ideia interessante que não é explorada como deveria).</div>
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Na Slaughter Race Venellope encontra tudo o que sempre quis. Um jogo de corridas diferente, ousado, inovador e sem regras, onde pode encontrar a sua verdadeira vocação sob a tutela de Shank (voz de <b>Gal Gadot</b>). Até acaba por lhe cantar um hino (escrito por <b>Alan Menken</b>!) inspirada pelo seu tête-à-tête com as princesas da Disney. Independentemente disso, o filme usa os ambientes da Slaughter Race para oferecer o dinamismo que a alegoria à internet não tinha conseguido dar, embora talvez por isso exista desgarrado dela. Ou seja, o Slaughter Race poderia ter sido introduzido na película como um novo jogo da arcada, sem que qualquer referência à internet fosse necessária, e resultaria praticamente de igual forma em todos os aspectos emocionais. Ao percebermos isto, deixamos de achar estranho que o filme acabe por ser estruturalmente demasiado semelhante ao primeiro (aliás Shank é muito parecida visualmente com a personagem Calhoun do filme original). </div>
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De igual forma, o último acto, com um vírus muito particular a ameaçar destruir a internet, é também estruturalmente semelhante porque se analisarmos ao detalhe percebemos que de novo a destruição que importa não é a da internet em si, mas a do mundo que faz Venellope feliz (tal como no primeiro filme). Assim a internet existe apenas marginalmente, um escape cómico que não está directamente associado ao desenrolar dos eventos, nem ao desenvolvimento da relação entre Ralph e Venellope (que algures pelo caminho vão ter a habitual desavença para justificar o “drama”). Mas tudo se resolve depressa e está bem quando acaba bem, com cada um a encontrar o seu lugar enquanto aceita os outros como são. A felicidade, a um jogo de computador de distância. Internet? No final nem se lembram que ela existe.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O filme tem pouco ou nada para oferecer para além de bons gráficos e umas piadas fáceis. É uma típica sequela; repete a história do primeiro filme dando-lhe uma nova roupagem (...) não necessariamente mais coerente ou mais bem trabalhada emocionalmente (...) Não é um filme para a intemporalidade. É um filme para o aqui e o agora. (...) É um trailer de 3 minutos transformado em filme, com exactamente o mesmo conteúdo."</span></b></div>
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Assim, o problema para mim com ‘Ralph Breaks the Internet’ não é propriamente a sua moral (embora não acrescente absolutamente nada de novo), nem as suas personagens (Ralph e Venellope pouco evoluem mas continuam a ser – até ver – personagens interessantes), nem mesmo a ousadia de algumas referências internas (as princesas da Disney voltam a aparecer mais para o final e é sempre bom ouvir algo composto por <b>Alan Menken</b>). O meu grande problema é que o filme tem pouco ou nada para oferecer para além de bons gráficos e umas piadas fáceis. ‘Ralph Breaks the Internet’ é uma típica sequela; repete a história do primeiro filme dando-lhe uma nova roupagem; mais épica, mais espalhafatosa e em ambientes mais ambiciosos, mas não necessariamente mais coerente ou mais bem trabalhada emocionalmente. A meio o filme torna-se pura e simplesmente enfadonho. Já percebemos a quilómetros de distância como a relação entre Venellope e Ralph vai terminar e por muito que tente inovar com a crítica contemporânea, reverte para os mesmos lugares comuns uma e outra vez (como no caso da “ameaça” final). O facto das cenas mais distintivas serem já conhecidas faz com que estes elementos, supostamente os pontos altos do filme, se diluam por entre outros mais esquecíveis.</div>
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Apesar da internet começar por ser sempre um meio para um fim nos vários estados deste filme (a busca do volante, a busca por dinheiro, a busca de algo mais na vida), nunca impele realmente os grande saltos aventureiros ou emocionais das personagens. Queda-se por sustentar um conjunto de piadas interessantes, sim, mas fáceis, que perderão o interesse quando esses elementos perderem o seu lugar na vida real com o inevitável passar do tempo. ‘Ralph Breaks the Internet’ não é um filme para a intemporalidade. É um filme para o aqui e o agora. Um produto dos nossos tempos que nunca será recordado como um clássico da Disney pelos filhos dos nossos filhos. Será simplesmente mais um, num universo cinematográfico que nos últimos anos só se digna a oferecer-nos, precisamente, mais um.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUd24iEiV6ho-HmDAJZ-SqmFEMWcKe9ITlk67Neu7Ki3myddo9gvB3nWXPuYbiojrVxzVttkXQEsZBTi-DwhXK95_4WVJmViQpkafEuvZPPXF8nLoNoaJVNykUACPqUwxXNeUNzywVTq07/s1600/1d8cf603-4a8a-4780-adff-88345a94772e-knowsmore.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="550" data-original-width="1000" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUd24iEiV6ho-HmDAJZ-SqmFEMWcKe9ITlk67Neu7Ki3myddo9gvB3nWXPuYbiojrVxzVttkXQEsZBTi-DwhXK95_4WVJmViQpkafEuvZPPXF8nLoNoaJVNykUACPqUwxXNeUNzywVTq07/s400/1d8cf603-4a8a-4780-adff-88345a94772e-knowsmore.jpg" width="400" /></a></div>
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Respondendo à questão que coloquei inicialmente, se todas as vindouras sequelas dos clássicos de animação forem como esta, então o futuro é tão negro quanto eu o já pintei. Este é um filme sem conteúdo, apenas uma fachada que à primeira vista parece apelativa mas depois não tem absolutamente nada que a sustenha. Essa é a ironia suprema que o filme contém, e o maior pedaço de introspecção relativo aos nossos tempos. ‘Ralph Breaks the Internet’ é um trailer de 3 minutos transformado em filme com exactamente o mesmo conteúdo. A Disney pode e deve fazer melhor. O problema é que não parece querer. E o público também não o parece exigir. É o cinéfilo mais dedicado, apanhado no meio desta corrente de comodismo, que fica sempre, sempre, sempre a perder.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-80599143701590502302018-12-15T00:16:00.000+00:002018-12-27T00:23:41.017+00:00We're No Angels<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaC3cgqjzqkZOQKIeyolBb96HYZ5AcnxmLJrI1-RkgES772Boa8s35tTDT83YumR5dl-YDhPq0H2BDsZRWMdu7CkN5ehYMkejPNudJnEQs2FQblu6vGmmQJicMWeNxdvDDDj6VquWnBBC5/s1600/51WZDQ7W4IL.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="384" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaC3cgqjzqkZOQKIeyolBb96HYZ5AcnxmLJrI1-RkgES772Boa8s35tTDT83YumR5dl-YDhPq0H2BDsZRWMdu7CkN5ehYMkejPNudJnEQs2FQblu6vGmmQJicMWeNxdvDDDj6VquWnBBC5/s400/51WZDQ7W4IL.jpg" width="306" /></a></div>
<b>Ano: </b>1955<br />
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<b>Realizador: </b>Michael Curtiz<br />
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<b>Actores principais: </b>Humphrey Bogart, Peter Ustinov, Aldo Ray<br />
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<b>Duração:</b> 106 min<br />
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<b>Crítica:</b> Há filmes de Natal e há filmes de Natal. Há aqueles filmes de Natal que toda a gente conhece e que são revisitados, ano após ano (infelizmente cada vez menos) como parte do imaginário colectivo da cultura popular. Estou a falar de filmes como <b>‘It's a Wonderful Life’ (1946</b>; não há Natal sem ele na América… em Portugal não é bem assim); <b>‘Home Alone’ (1990)</b>, <b>‘Love Actually’ (2003)</b> ou as múltiplas adaptações de <b>'Christmas Carol’</b>, só para citar alguns. Mas depois há os outros filmes de Natal, aqueles que com o passar das décadas caíram um pouco no esquecimento, a não ser para alguns cinéfilos dedicados, ou para famílias que, por um motivo ou por outro, os tornaram parte da sua tradição. Não implica que sejam necessariamente piores do que aqueles que se popularizaram. Talvez simplesmente nunca tiveram uma chance.</div>
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Aqui há uns anos apresentei nestas páginas <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/12/the-bishops-wife.html"><b><span style="color: blue;">‘The Bishop's Wife’ (1948)</span></b></a> como um desses clássicos esquecidos que merece um bom visionamento em família durante a época natalícia. Hoje estou aqui para escrever sobre outro: ‘We're No Angels’ (<u>em português ‘Veneno de Cobra’</u>). Não é que ‘We’re No Angels’ seja propriamente um filme típico de Natal. Não é (e com o título que tem em português ainda menos…). E não é que ‘We’re No Angels’ seja propriamente uma obra prima. Também não é. Na verdade, é apenas uma ligeira e simpática comédia negra com uma premissa simples e uma execução por vezes excessivamente morosa. Contudo, para além de se passar durante a época natalícia, tem uma coisa muito importante, coisa essa que por vezes até falta aos filmes que são ostensivamente sobre o Natal: espírito.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Não é que seja propriamente um filme típico de Natal. Não é. E não é que seja propriamente uma obra prima. Também não é. Na verdade, é apenas uma ligeira e simpática comédia negra com uma premissa simples e uma execução por vezes excessivamente morosa. Contudo, para além de se passar durante a época natalícia, tem uma coisa muito importante (...): espírito."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDFpO9n0q8osJWkl9tH9MLt2VVDo4lBRFhbR8Vp_WzPKg1ZNI0LXm76q3DdEqaNN3Eu5TR0bEP38HDATTo2KlwuR4M_nF4DGc-t_cSvM5mJ8pZ1V8Wo27S6n9cYZsfiKhis7SUKxGSyhyphenhyphenk/s1600/Were_No_Angels_still.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDFpO9n0q8osJWkl9tH9MLt2VVDo4lBRFhbR8Vp_WzPKg1ZNI0LXm76q3DdEqaNN3Eu5TR0bEP38HDATTo2KlwuR4M_nF4DGc-t_cSvM5mJ8pZ1V8Wo27S6n9cYZsfiKhis7SUKxGSyhyphenhyphenk/s400/Were_No_Angels_still.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
‘We’re No Angels’ foi a última das oito colaborações entre o mítico realizador <b>Michael Curtiz</b> e o mítico actor <b>Humphrey Bogart</b>. Se a maior parte destas colaborações se deram nos anos 1930, quando <b>Bogart </b>era ainda um actor secundário, em 1942 <b>Curtiz </b>foi crucial para imortalizar <b>Bogart </b>quando o filmou em <b>‘Casablanca’</b>, voltando a trabalhar com ele em <b>'Passage to Marseille’</b>. Onze anos depois, em 1955, quer <b>Curtiz </b>quer <b>Bogart </b>estavam em fases descendentes das suas carreiras. <b>Bogart </b>faleceria em 1957, pelo que apenas faria mais três filmes depois de ‘We’re No Angels’. Já <b>Curtiz</b>, que para além de <b>‘Casablanca’</b> havia realizado obras primas como <b>‘The Adventures of Robin Hood’ (1938)</b>; <b>‘Yankee Doodle Dandy’ (1942)</b> ou <b>‘Mildred Pierce’ (1945)</b> também faleceria pouco tempo depois, em 1962. Isso não o impediu contudo de realizar ainda mais doze filmes nos seis anos seguintes (sempre foi muito prolífero), como por exemplo <b>‘King Creole’ (1958)</b> com <b>Elvis</b>, ou <b>‘The Comancheros’ (1961)</b> com <b>John Wayne</b>, o seu derradeiro filme, muito embora longe da qualidade e da imortalidade dos seus filmes da década de 1940.</div>
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Assim sendo, ‘We’re No Angels’ surge para ambos, realizador e actor principal, como uma tranquila obra tardia, que raramente merecerá lugar de destaque nas suas filmografias mas que contudo pode ser descoberta como a agradável surpresa que é. <b>Curtiz </b>havia realizado no ano anterior um dos mais icónicos filmes de Natal clássicos, o musical <b>‘White Christmas’ (1954)</b> com <b>Bing Crosby</b> e <b>Danny Kaye</b>, pelo que é curioso que o seu projecto seguinte tenha sido um filme que, pelo menos em forma e aspecto, se distancia do habitual modelo dos filmes de Natal. O genérico de ‘We’re No Angels’ até partilha do garrido Technicolor das obras mais fantasiosas da época, com azuis e vermelhos fortes e uma música simpática, mas depois ocorre uma gigantesca antítese. Não estamos em paisagens gélidas, nem ao redor de aconchegadoras lareiras. Estamos no século XIX na Guiana Francesa, mais precisamente na colónia penal conhecida por Devil’s Island; um local quente e sujo e suado.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT9hfqP88TpwvBlenjZic0D_9Af2JgvI3tD4Oid04DHGJ79Z33kgEpqvF6zidGEMKmkAhsDfSAE2MnebzkJkXFit8IwIrD-jBNXsErowG7vbUzoHtU6umgKEhc5QML4FozgIcVVeWHNGTh/s1600/zKGnM7D.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="368" data-original-width="640" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT9hfqP88TpwvBlenjZic0D_9Af2JgvI3tD4Oid04DHGJ79Z33kgEpqvF6zidGEMKmkAhsDfSAE2MnebzkJkXFit8IwIrD-jBNXsErowG7vbUzoHtU6umgKEhc5QML4FozgIcVVeWHNGTh/s400/zKGnM7D.png" width="400" /></a></div>
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Baseada na peça de teatro de <b>Albert Husson</b> e passado entre a véspera e o dia de Natal, a premissa de ‘We’re No Angels’ é bastante simples e o filme restringe-se praticamente a dois cenários. Primeiro estamos junto ao porto, onde uma pequena cidade proliferou à volta da economia da prisão e onde a sociedade está claramente dividida entre os ex-prisioneiros e os nobres (geralmente empertigados) franceses. Três prisioneiros acabaram de escapar da prisão e tentam passar despercebidos por entre as hordas de ex-presidiários ou presos em liberdade condicional, inevitavelmente condenados a vaguearem pela cidade e pela ilha sem possibilidade de apanharem o tão cobiçado barco para outro país ou de volta à Europa.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"<b>É Bogart que mais brilha (era um excelente actor cómico quando queria, pena não ter tido muitas oportunidades). Momentos memoráveis incluem (...) o envergar de um avental cor-de-rosa. (...) Só por esse momento único, este filme vale a pena, e prova-se também que para proporcionar bons momentos, quer Bogart quer o filme não se importam nada de não se levar totalmente a sério. Na onda do espírito de Natal, faz todo o sentido"</b></span></div>
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Joseph (<b>Humphrey Bogart</b>) é o líder do grupo. Apesar de <b>Bogart </b>o interpretar de forma <i>soft </i>(pelo menos quando comparado com os seus gangsters das décadas anteriores) não deixa de ser um trapaceiro sem escrúpulos que mais tarde descobrimos ser um génio falsificador que adulterava relatórios de contas para seu próprio proveito. Jules (<b>Peter Ustinov</b> com o seu habitual misto de comicidade, nervosismo e subtil ameaça) é um especialista arrombador de cofres (fá-lo de forma hilariante) que foi preso por matar a mulher. Por fim Albert (o menos conhecido <b>Aldo Ray</b>, que não tem tanta energia nem capacidade para a comédia negra como os outros dois actores), também foi preso por matar o tio por dinheiro. Apesar dos três serem assassinos (Joseph lamenta na primeira cena o guarda da prisão não ter morrido quando o tentou matar), são sempre retratados de forma simpática. A sua vilania é geralmente dirigida contra quem “merece” (guardas que abusam o poder ou snobs da alta sociedade) o que ajuda a tornar as suas personalidades mais apelativas para o público. E são. O seu sangue frio e os seus diálogos geralmente sarcásticos não gelam o espectador. Antes geram algumas boas risadas (não necessariamente inconvenientes) como só uma boa comédia negra pode proporcionar.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVKvnGdrEKV9S7sNjo-5l-HxX7rSfg5ouz9_wN3ZbG5mVKcb0Alh3dZHbF-DXx60cxActl_wKkhycwLY5ZPc-0EHahEwQKOcbEPFNiHk6csA8ftRnijDMqsb5bDCGzpjUF8ZWSSAea9KiE/s1600/WereNoAngels8.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="849" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVKvnGdrEKV9S7sNjo-5l-HxX7rSfg5ouz9_wN3ZbG5mVKcb0Alh3dZHbF-DXx60cxActl_wKkhycwLY5ZPc-0EHahEwQKOcbEPFNiHk6csA8ftRnijDMqsb5bDCGzpjUF8ZWSSAea9KiE/s400/WereNoAngels8.jpg" width="400" /></a></div>
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Os três esperam assim arranjar um modo de entrar no barco que acabou de atracar no porto e que regressará a França no dia seguinte. Assim, decidem ir assaltar a loja de conveniência local para arranjarem dinheiro, roupas de civil e material que permita a Joseph falsificar os bilhetes e os documentos de identificação. Neste que é o segundo cenário do filme (no qual ficará praticamente até ao seu final) dão de caras com o dono da loja, Ducotel, uma humilde e nervosa personagem interpretada por<b> Leo G. Carroll</b>. Para sua surpresa Ducotel trata-os bem, e até aceita que eles permaneçam na loja a supostamente “arranjar o telhado” nesta véspera de Natal. Do telhado, os três prisioneiros (e o espectador) ficam a conhecer a família, a Sra. Ducotel (a outrora <i>femme fatalle</i> <b>Joan Bennett</b>) e a filha Isabelle (<b>Gloria Talbott</b>); e ao ouvirem as suas conversas descobrem os seus problemas. Graças à personalidade excessivamente branda e crédula de Ducotel, a loja corre o risco de falência e a família de ruína. Ainda para mais, o dono da loja, o abastado primo afastado de Ducotel, Andre Trochard (o mítico <b>Basil Rathbone</b> num papel típico de vilão empertigado) chegou no barco que acabou de atracar e prepara-se para vir inspeccionar as contas. O seu filho Paul (<b>John Baer</b>), por quem Isabelle está apaixonada, virá com ele.</div>
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Os três prisioneiros ficam tão sensibilizados com a forma como a família Ducotel os trata que decidem proporcionar-lhes uma condigna ceia de Natal antes de serem confrontados nessa noite com a chegada dos Trouchard. Esta é a parte mais tranquila – mas também a mais lenta – do filme, com tudo a passar-se de forma pausada, a história a ser revelada aos poucos e os três prisioneiros com amplas oportunidades para ouvirem os problemas da família e oferecerem os seus comentários incisivos; comentários de quem não está propriamente preso pelas convenções da vida, mas também já viveu o suficiente para se arrepender das escolhas que fez. De forma engraçada estes prisioneiros provam que são mais vítimas do sistema do que propriamente más pessoas, e são decisivos para dar um novo sopro de vida a esta família. É <b>Bogart</b>, como não podia deixar de ser, que mais brilha (era um excelente actor cómico quando queria, pena não ter tido muitas oportunidades). Momentos memoráveis incluem a forma como aldraba clientes para obter dinheiro, como “arranja” um gigantesco manjar para o jantar, e a melhor de todas: a sua abordagem à cozinha, que inclui o envergar de um avental cor-de-rosa. Sim, é verdade, neste filme <b>Humphrey Bogart</b>, o mítico <b>Humphrey Bogart</b>, coloca um avental cor-de-rosa. Só por esse momento único, este filme vale a pena, e prova-se também que para proporcionar bons momentos, quer <b>Bogart </b>quer o filme não se importam nada de não se levar totalmente a sério. Na onda do espírito de Natal, faz todo o sentido.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Não está a tentar ser subtilmente irónico e inteligente, criticando a sociedade através do exagero situacional que apresenta. O filme é demasiado relaxado para tentar atacar ou defender o que quer que seja. Pelo contrário, está apenas a ser levemente divertido. Não tão divertido que faça rir a bandeiras despregadas (nunca é hilariante), mas o suficiente para que disponha bem à custa dos “maus” terem o que merecem nas vésperas de Natal."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZmYta4yEQAtesvCIxcdUN0TV8OvcvmvfXsQ5X4okjTSbnjS7ZQchFU8rWiYZf_HFdr13X5UeH58kblG-lnaIiIGS5as8Neg7W_tk_7VZqqtTB_qvnWj7JHf4GC8EiTnNb0oL_HmKhPi3Y/s1600/wna-4.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="1366" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZmYta4yEQAtesvCIxcdUN0TV8OvcvmvfXsQ5X4okjTSbnjS7ZQchFU8rWiYZf_HFdr13X5UeH58kblG-lnaIiIGS5as8Neg7W_tk_7VZqqtTB_qvnWj7JHf4GC8EiTnNb0oL_HmKhPi3Y/s400/wna-4.png" width="400" /></a></div>
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Depois, quando os Trouchard finalmente chegam e provam ser, quer o pai quer o filho, uns egocêntricos snobs que só se interessam pelo dinheiro que a loja pode render e tratam os Ducotel literalmente “abaixo de cão”, os três “não-anjos” tomam a si a missão de obter duradoira felicidade para esta família neste dia de Natal. Para isso, terão de fazer o que fazem melhor, ou seja, conspirar em conjunto e reverter aos seus “melhores” instintos. Claramente com prazer, Jules tem cofres para arrombar, Joseph tem pessoas para manipular e contas para falsificar e Albert… bem, digamos que a cobra venenosa de estimação de Albert poderá ter um papel crucial, especialmente quando chegam à conclusão que a melhor solução de todas é Trouchard ter um acidente mortal…</div>
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Descrito desta forma, o filme parece ser muito mais macabro do que aquilo que realmente é. Não há dúvidas que a segunda parte da película encaixa no epíteto de “comédia negra”, mas a leveza e naturalidade dos eventos é tanta que quase nem nos apercebemos disso. De facto, há muito pouca acutilância nesta alegoria e sinceramente isso parece ser uma falha propositada. Ou seja, tal como está escrito, filmado e montado, o filme não está a tentar ser subtilmente irónico e inteligente, criticando a sociedade através do exagero situacional que apresenta. É demasiado relaxado para tentar atacar ou defender o que quer que seja. Pelo contrário, está apenas a ser levemente divertido. Não tão divertido que faça rir a bandeiras despregadas (nunca é hilariante), mas o suficiente para que disponha bem à custa dos “maus” terem o que merecem nas vésperas de Natal. Um tema familiar que nos leva de volta à questão do espírito, algo que este filme tem aos magotes. Não é a condição que uma pessoa tem que a define. Os presos ou os pobres Ducotel provam ser muito melhores pessoas que os bem-educados e ricos Trouchard. É o que fazem pelos outros quando os outros mais precisam que os define. É esse sentimento que percorre o filme.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLz1BDNecpYa2ShR2-6S86G_UKlMoiexDTlHaLbnNWBRprgEKjwcWo4lZBd7oloJ0NpQWNf4JRUYHePio5DdAePHD-tnhgUt5Vno5XjHRkRF33251Krlxvh7OmyEA3JB3s-A51oZ6WeaS2/s1600/we%2527re+no+angels+-+bogart+ray+ustinov+tree.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="416" data-original-width="744" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLz1BDNecpYa2ShR2-6S86G_UKlMoiexDTlHaLbnNWBRprgEKjwcWo4lZBd7oloJ0NpQWNf4JRUYHePio5DdAePHD-tnhgUt5Vno5XjHRkRF33251Krlxvh7OmyEA3JB3s-A51oZ6WeaS2/s400/we%2527re+no+angels+-+bogart+ray+ustinov+tree.jpg" width="400" /></a></div>
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Claro que o desenlace parece ser um pouco exagerado e descabido. Não era preciso ser tão macabro quando uma boa lição de moral aos vilões serviria perfeitamente. Mas aí está talvez uma das <i>nuances </i>mais interessantes da obra. Sem nos apercebermos disso entra num reino perigoso para com igual rapidez voltar à placidez habitual das fantasias de Natal. O que se passou pelo meio foi um interlúdio que toma o espectador de surpresa. Isto é uma bem-vinda injecção de energia, num filme que no geral é moroso. Tudo se passa muito lentamente e sentimos que se tivesse 45 minutos em vez de 100, chegaria perfeitamente para contar exactamente a mesma história, com a mesma emoção e os mesmos <i>twists</i>. Porque o filme não se está a construir para inesperadamente fazer rebentar a sua bolha de comédia negra (e não fazer isso é a sua maior falha). Vai-se arrastando com vagar, misturando estes elementos aos pouquinhos, em longas cenas de diálogos que só por breves momentos conseguem ser realmente fascinantes. O final do filme também é desapontante porque é anti-climático, mas não haja dúvidas que ajuda a alimentar a posição alegórica que estes três “não-anjos” assumem no contexto desta história.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"O</b><b> filme não se está a construir para inesperadamente fazer rebentar a sua bolha de comédia negra (e não fazer isso é a sua maior falha). Vai-se arrastando com vagar, misturando estes elementos aos pouquinhos, em longas cenas de diálogos que só por breves momentos conseguem ser realmente fascinantes (...) Se tivesse 45 minutos em vez de 100, chegaria perfeitamente para contar a mesma história, com a mesma emoção e os mesmos twists."</b></span></div>
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Assim sendo, podemos dizer que ‘We’re no Angels’ não é propriamente um grande filme nem uma grande comédia, nem mesmo uma grande comédia negra. Mas é certamente um bom clássico de Natal, porque tem o coração no sítio certo. Substitui o típico anjo ou misterioso benfeitor de inúmeros outros filmes por três prisioneiros, mas o sentimento que prevalece é o mesmo. O facto destes prisioneiros nunca se regenerarem (ou seja, não se tornam “bonzinhos” graças ao espírito de Natal), mas mesmo assim se conseguirem redimir graças à forma como usam os seus “talentos” para servir o bem, é um dos pormenores mais interessantes da obra, e quiçá a sua melhor moral. O que se mantém na memória do espectador é o sentimento de tranquilidade que a noite de Natal em casa dos Ducotel proporciona. É essa chama que arde no nosso coração natalício e esse momento que guardamos do filme. A subsequente comédia negra, e a simplicidade do enquadramento e a estereotipização das personagens (nenhuma é muito profunda apesar de algumas, nomeadamente a de <b>Bogart </b>e a de <b>Ustinov</b>, serem interessantes), são apenas produtos secundários ao qual o filme recorre para aumentar o seu tempo de duração, mas que realmente pouco contribuem para o seu apelo ou longevidade.</div>
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Resta a constatação de que neste mês festivo em que milhares de filmes, ano após ano, tentam captar a magia do Natal, está aqui um de apenas um conjunto limitado de obras que verdadeiramente o consegue fazer. Três prisioneiros proporcionam a ceia de Natal perfeita a uma família em dificuldades. Mais não é preciso. O pacote podia ser mais engraçado do que é. Podia. Podia ser mais acutilante. Também. Podia ser mais interessante e ritmado. Sem dúvida. E podia estar filmado com muito mais inventividade. Certo. Mas nunca se poderá dizer que este não é um filme de Natal, na verdadeira acepção do termo. Uma esquecida comédia de costumes, uma sugestão completamente diferente que deveria figurar em qualquer lista desta quadra festiva. Esqueça a neve, caro leitor. Ver <b>Bogart </b>de avental cor-de-rosa é a melhor prenda que terá este Natal. Bem, talvez não seja, mas não deixa de ser um momento impagável.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-83333123738662612082018-11-02T01:04:00.000+00:002018-12-15T00:17:51.895+00:00Solo: A Star Wars Story<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnrknNlfHU_6tPe87XyHP7qZgJoIXhLPVzUQ50aG910Vl9NsFyCiNvZkZEDmx2WHfSRxnkCnRj0eq2FyqKnBXP97ida4y4AchdFaH6BtgE97Bns1i3eAsbGkeCF_iF9N2JJduVJpQm0mLX/s1600/MV5BOTM2NTI3NTc3Nl5BMl5BanBnXkFtZTgwNzM1OTQyNTM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnrknNlfHU_6tPe87XyHP7qZgJoIXhLPVzUQ50aG910Vl9NsFyCiNvZkZEDmx2WHfSRxnkCnRj0eq2FyqKnBXP97ida4y4AchdFaH6BtgE97Bns1i3eAsbGkeCF_iF9N2JJduVJpQm0mLX/s400/MV5BOTM2NTI3NTc3Nl5BMl5BanBnXkFtZTgwNzM1OTQyNTM%2540._V1_.jpg" width="270" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2018<br />
<br />
<b>Realizador: </b>Ron Howard<br />
<br />
<b>Actores principais: </b>Alden Ehrenreich, Woody Harrelson, Emilia Clarke<br />
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<b>Duração:</b> 135 min<br />
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<b>Crítica:</b> ‘Solo’ é o segundo filme spin-off que a Disney produziu desde que passou a deter os direitos da saga da ‘Guerra das Estrelas’. A primeira “star wars story”, <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><span style="color: blue;"><b>‘Rogue One’ (2016)</b></span></a> foi sinceramente o pior filme da saga que eu tinha visto até então (pode ler tudo na minha crítica), mas infelizmente a Disney não se ficou por aqui. No ano a seguir, o oitavo filme oficial da saga, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/01/star-wars-episode-viii-last-jedi.html"><b><span style="color: blue;">‘The Last Jedi’ (2017)</span></b></a> foi pelo mesmo caminho (o pior filme da nonalogia até agora), provando a verdadeira crise de identidade que esta mítica <i>franchise</i> vive sem a gigantesca capacidade criativa de <b>George Lucas</b> por detrás. Mas não há duas sem três. Após ter visto ‘Solo’ este fim de semana (falhei-o, propositadamente, no cinema – tinha mais em que gastar o meu dinheiro) só há uma coisa que se me apraz dizer: A ‘Guerra das Estrelas’ morreu. Longa vida à (antiga) ‘Guerra das Estrelas’.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Honestamente, não sei porque é que ainda me preocupo. Mas a verdade é que me preocupo. Como milhares e milhares de pessoas pelo planeta fora, e particularmente aqueles que cresceram nos anos 1980, a <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/01/star-wars-episode-viii-last-jedi.html"><b><span style="color: blue;">‘Guerra das Estrelas’</span></b></a> é algo que me diz muito, algo que está intrinsecamente ligado à forma como cresci, e como experienciei o cinema em geral e a ficção científica em particular. O mito dos Jedi faz parte da nossa cultura, mas é muito mais do que isso; faz parte da nossa vida. Todos vimos a trilogia original vezes e vezes sem conta, e fomos arrebatados, vezes e vezes sem conta, pela sua excitante sensação de aventura, pela sua bem construída mitologia, pelas suas soberbas personagens, mas também (e muitos por vezes se esquecem disso) pelo seu magistral poder cinemático. Os filmes da ‘Guerra das Estrelas’ sempre foram filmes de uma incrível mestria técnica, ao nível da realização (os planos de <b>Irvin Kershner</b> em <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/star-wars-episode-v-empire-strikes-back.html"><b><span style="color: blue;">‘Empire’</span></b></a> são inolvidáveis), da fotografia, da montagem (comandada pelo próprio <b>Lucas</b>), da música (<b>John Williams</b> <i>strikes back</i>), e claro, dos então pioneiros efeitos visuais, cortesia da ILM.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"‘Rogue One’ (2016) foi sinceramente o pior filme da saga que eu tinha visto até então, mas infelizmente a Disney não se ficou por aqui. ‘The Last Jedi’ (2017) foi pelo mesmo caminho (o pior filme da nonalogia até agora) (...) Mas não há duas sem três. Após ter visto ‘Solo’ este fim de semana (falhei-o, propositadamente, no cinema) só há uma coisa que se me apraz dizer: A ‘Guerra das Estrelas’ morreu. Longa vida à (antiga) ‘Guerra das Estrelas’."</span></b></div>
</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsaHnZYRqP9MpfsUCHT3_V4ILxfiiEJUU7u8mNClGUDDoRzcsCW7Rlf2FxZHcKyRFmE5YQ8qp3n96RWDUViYbRpa40sq6D02I2qjKnhiRrJ74058uE4JwpsCOyePwsMqyluICkp0-8Njfi/s1600/MV5BMjQ1OTg4MjA5OV5BMl5BanBnXkFtZTgwNzkzNTE1NTM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsaHnZYRqP9MpfsUCHT3_V4ILxfiiEJUU7u8mNClGUDDoRzcsCW7Rlf2FxZHcKyRFmE5YQ8qp3n96RWDUViYbRpa40sq6D02I2qjKnhiRrJ74058uE4JwpsCOyePwsMqyluICkp0-8Njfi/s400/MV5BMjQ1OTg4MjA5OV5BMl5BanBnXkFtZTgwNzkzNTE1NTM%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
Não era propriamente uma questão do argumento. Se olharmos para as primeiras versões dos argumentos de cada um dos filmes originais, percebemos que se eles tivessem sido filmados assim pouco mais seriam do que medianos filmes de ficção científica (aconselho vivamente a leitura dos três volumes The making of… da trilogia original de <b>J.W. Rinzler</b>). O que fez a diferença foi a afinação constante durante o longo processo produtivo, a eficácia editorial de <b>Lucas </b>e a extrema dedicação da equipa de efeitos visuais. Há algo no facto de se demorar seis meses a fazer um efeito óptico que faz com que quem o faça dê tudo o que tem; há uma única hipótese de o concretizar, falhando isso, mais vale eliminar a cena do filme. O mesmo não se passa agora. A tecnologia evoluiu tanto que fazer efeitos especiais se banalizou. E porque se banalizou, já não há a mesma dedicação. O que um argumentista concebe na página pode facilmente ser criado num computador. E graças a isso, inúmeros filmes de ficção científica deixaram de ser exercícios dedicados de pura cinematografia; passaram a ser meras filmagens, enfadonhas, de um argumento – particularmente se esse argumento é mau. ‘Solo’ é um desses filmes.</div>
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Muito se disse mal da trilogia das prequelas que Lucas realizou na viragem para o novo milénio. Mas como cada uma das minhas <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/11/star-wars-episode-i-phantom-menace.html"><span style="color: blue;"><b>críticas</b></span></a> já debateu, e apesar de <b>Lucas </b>ter usado e abusado bluescreen, de bastante mau <i>acting </i>(ai <b>Hayden</b>, <b>Hayden</b>), e de argumentos não tão limados como os dos anos 1980 (porque <b>Lucas </b>os decidiu escrever sozinho e o seu forte sempre foi a produção e a montagem), os filmes detinham – e a meu ver continuam a deter – a essência daquilo que é verdadeiramente a ‘Guerra das Estrelas’. Mas lá está, o único que sabe esse segredo é o senhor George que, graças a uma venda milionária à Disney, está confortavelmente a desfrutar da sua reforma enquanto o seu legado está a ser totalmente dilacerado. E não nos enganemos. Está mesmo a ser dilacerado.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfPZbKHHNku4gYa4qBbqhB4Dqw3tl8a9sDs0rMwfNygy_KWKaM7dZCAt2E13YIaXarR0ZfHPTE0FoQl02k1e6S2G339nHGtp6W02FCe079KJkrg26vvJygXdDXv-Flb-f-3MA2fgNtnzYQ/s1600/photo-han-solo-a-star-wars-story-2018-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfPZbKHHNku4gYa4qBbqhB4Dqw3tl8a9sDs0rMwfNygy_KWKaM7dZCAt2E13YIaXarR0ZfHPTE0FoQl02k1e6S2G339nHGtp6W02FCe079KJkrg26vvJygXdDXv-Flb-f-3MA2fgNtnzYQ/s400/photo-han-solo-a-star-wars-story-2018-2.jpg" width="400" /></a></div>
Eu não sei porque é que ainda me preocupo. Talvez seja por amar tanto, tanto, tanto a trilogia original que me recuso a acreditar, ano após ano, filme após filme, fiasco após fiasco, que a saga morreu mesmo. Talvez seja porque no íntimo tenho a esperança que o próximo filme seja melhor, que o próximo filme recupere, mesmo que por um bocadinho, a magia dos filmes de <b>Lucas</b>. E por isso queremos dar sempre mais uma oportunidade à Disney. Mas honestamente não já não há mais oportunidades a dar. <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/12/star-wars-episode-vii-force-awakens.html"><b><span style="color: blue;">‘The Force Awakens’</span></b></a> não era de todo um bom filme, mas a sua necessidade de se encher de referências visuais e argumentais a <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/12/star-wars-episode-iv-new-hope.html"><b><span style="color: blue;">‘Star Wars’</span></b></a> era suficiente para nos iludir que essa magia estava de volta. Mas a partir daí os filmes caíram a pique, como comecei por referir. E eis que chegamos a ‘Solo’, um filme dedicado a contar as origens de um jovem Han Solo, a mítica personagem interpretada por <b>Harrison Ford</b> na trilogia original. Tinha tudo para correr bem. Mas a começar com a sua produção conturbada (a parelha de realizadores <b>Phil Lord</b> e <b>Christopher Miller</b> foi despedida e substituída por <b>Ron Howard </b>a meio do processo) não correu nada, nada bem.<br />
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"‘Solo’ é um filme sem ‘Star Wars’ (...) Não há qualquer referência aos Jedi ou à Força. É apenas uma aventura-missão; tal como ‘Rogue One’ era, que se passa no seio de universos desinspirados, personagens forçadas e o argumento mais frouxo e batido que se possa imaginar (...). Não é tão mau como o de ‘Rogue One’, e talvez não seja assim tão mau em papel, mas é filmado sem qualquer energia ou paixão."</span></b></div>
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Lord e Miller são realizadores mais cómicos (os seus créditos incluem <b>‘Cloudy with a Chance of Meatballs’, 2009</b>; <b>‘21 Jump Street’, 2012</b>; e o genial <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/04/the-lego-movie.html"><span style="color: blue;"><b>‘The Lego Movie’, 2014</b></span></a>) e provavelmente queriam levar o filme para um plano mais sarcástico-humorístico que, diga-se, bem assentava na personagem (daí ter sempre achado que eram uma escolha acertada). Podemos especular que as “divergências criativas” que levaram ao seu despedimento se prenderam com a imposição da Disney que o produto final tinha de ser comercial para um consumo em massa. Mas é só olhar para a prestação de ‘Solo’ na bilheteira para perceber que os espectadores, neste momento, já estão fartos e fartinhos que a Disney os trate como uns tolos. <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/12/star-wars-episode-vii-force-awakens.html"><b><span style="color: blue;">‘The Force Awakens’</span></b></a> podia ser qualquer tipo de filme que seria um sucesso de bilheteira na mesma. O público mundial só queria a ‘Guerra das Estrelas’ de volta. Mas três anos e quatro filmes depois já não é bem assim. Qualquer coisa já não basta, principalmente se o “qualquer coisa” não tem qualidade, não tem chama, não tem magia, não tem… ‘Star Wars’. E ‘Solo’ é um filme sem ‘Star Wars’. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHi2KoX3VsRQ6H9dKP19gVAdhwNDDO9K1U1QfvnmN3eAkSmgpUYcL0hirVP3c8z72t666wRigFNBrBAZvi-By-GYPkN1DIcZYv18V_ghpTGIa4dzCuFYaoBpYvZO1fE3B5Bp38TFaD0ffm/s1600/SOLO-EW-falcon.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHi2KoX3VsRQ6H9dKP19gVAdhwNDDO9K1U1QfvnmN3eAkSmgpUYcL0hirVP3c8z72t666wRigFNBrBAZvi-By-GYPkN1DIcZYv18V_ghpTGIa4dzCuFYaoBpYvZO1fE3B5Bp38TFaD0ffm/s400/SOLO-EW-falcon.jpg" width="400" /></a></div>
Na realidade não há muitas diferenças entre este ‘Solo’ e o péssimo <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a>. Não é que seja pior (dificilmente algo é pior que <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a>) mas tem todos os seus maus tiques. Pior ainda, ao menos <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a> ainda tinha bastantes referências à mitologia original. ‘Solo’ tem poucas ou nenhuma. Não há qualquer referência aos Jedi ou à Força. É apenas uma aventura-missão; tal como <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a> era, que se passa no seio de universos desinspirados, personagens forçadas e o argumento mais frouxo e batido que se possa imaginar (escrito pelo filho de <b>Lawrence Kasdan</b>). Não é tão mau, mais uma vez, como o de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a>, e talvez não seja assim tão mau em papel, mas é filmado sem qualquer energia ou paixão. O que nos leva de novo ao despedimento de <b>Lord </b>e <b>Miller</b>, com quem a Disney/Lucasfilms estava insatisfeita por improvisar no <i>plateau </i>e se desviar da palavra escrita. Mais valia. Mais valia…</div>
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A história de ‘Solo’ começa num planeta distante governado por um bicharoco gangster (voz de <b>Linda Hunt</b>) – uma espécie de Jabba claro – que usa órfãos para fazer o seu trabalho sujo. Um desses jovens é Solo, rebelde e amante da aventura, e que acalenta o desejo de se ver livre daquele lugar. <b>Alden Ehrenreich</b> (anteriormente visto em <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/09/blue-jasmine.html"><span style="color: blue;"><b>‘Blue Jasmine’, 2013</b></span></a> de <b>Woody Allen</b>; ou <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/09/hail-caesar.html"><span style="color: blue;"><b>‘Hail, Caesar!, 2016</b></span></a>, dos <b>irmãos Coen</b>) apesar de algumas parecenças físicas com um jovem <b>Harrison Ford</b>, não é muito carismático e passa o filme a tentar repetir o beicinho e o balbucio de Ford. A minha esposa saiu-se com esta: “O <b>Harrison Ford</b> era muito Homem, por isso podia fazer beicinho à vontade. Este pateta a fazer beicinho é apenas um pateta a fazer beicinho”. Precisamente. Reza a lenda que a Luscasfilm a meio da produção até lhe contratou um “<i>acting coach</i>” para tentar melhorar a sua performance. Não resultou. Como peça central do filme, <b>Ehrenreich </b>tem muita dificuldade em sustê-lo. É como se fosse o primo afastado de série B do verdadeiro Solo, como aqueles espiões dos spy-fis de menor qualidade dos anos 1960 eram primos muito, muito afastados de James Bond; como este ‘Solo’ e <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a> são primos muito afastados do verdadeiro <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/12/star-wars-episode-iv-new-hope.html"><b><span style="color: blue;">‘Star Wars’</span></b></a>. Ao seu lado está Qi'ra (<b>Emilia Clarke</b>, famosa por outra Guerra, a dos Tronos), uma rapariga que parece partilhar os seus desejos, mas é muito mais realista. <b>Clarke </b>está muito à vontade (bem mais que <b>Ehrenreich</b>), o que é bom, mas apesar das subtilezas da personagem, nunca há muito espaço de manobra, o que condiciona claramente o que ela consegue fazer.<br />
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"A minha esposa saiu-se com esta: “O Harrison Ford era muito Homem, por isso podia fazer beicinho à vontade. Este pateta a fazer beicinho é apenas um pateta a fazer beicinho”. Precisamente. (...) Como peça central do filme, Ehrenreich tem muita dificuldade em sustê-lo. É como se fosse o primo afastado de série B do verdadeiro Solo, como aqueles espiões dos spy-fis de menor qualidade dos anos 1960 eram primos muito, muito afastados de James Bond"</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqWQVRZXEdL3qIuHuepSw1Uy9JWNCPs8w_Q5bzZYSmua0Ty9hm9f7BIk5QrAUVtfq6CsbF9SV5gQD-SUMjbEq1SEbHKj3oAZt0ufkCioq-ujf7wGAi7kTYeFuyRBvWOnOH8-kQ2zY48eMS/s1600/SOLO-EW-han-qira.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="854" data-original-width="1280" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqWQVRZXEdL3qIuHuepSw1Uy9JWNCPs8w_Q5bzZYSmua0Ty9hm9f7BIk5QrAUVtfq6CsbF9SV5gQD-SUMjbEq1SEbHKj3oAZt0ufkCioq-ujf7wGAi7kTYeFuyRBvWOnOH8-kQ2zY48eMS/s400/SOLO-EW-han-qira.jpg" width="400" /></a></div>
Após umas sequências iniciais nocturnas neste planeta (muito mal iluminadas diga-se), Solo e Qi'ra chegam à conclusão que o melhor que têm a fazer é fugir. Contudo, na hora H, Solo consegue safar-se, mas Qi'ra não. Entra o proverbial “nãaaaao” e o proverbial “eu vou voltar para te buscar” e o suposto <i>drive </i>que endurece Solo e guia as suas acções subsequentes. Supostamente. A verdade é que não vemos bem como é que isso o influência, a não ser pelo facto de dizer a toda a gente que quer ser um grande piloto e ganhar dinheiro para poder voltar ao seu planeta natal e resgatar a sua namorada. De resto, a sua atitude entre o fanfarrão infantil e a múmia balbuciante é exactamente a mesma. Nunca sentimos o peso dessa sua “missão” ou o seu sentido de responsabilidade. A personagem nunca pondera o que poderá ter acontecido a Qi'ra de permeio. Assume, parece, que ela está exactamente no mesmo lugar à espera que ele a vá buscar. Que banalidade.</div>
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Assim sendo, para aprender a pilotar, Solo alista-se no Império. UUUUUUUH... Não, nem por isso. Até Finn na nova trilogia sente as implicações de ser um soldado do Império. Não Solo, não neste filme. Alista-se numa cena, está numa batalha na seguinte, em que conhece Beckett (<b>Woody Harrelson</b>) e mais tarde Chewbacca (<b>Joonas Suotamo</b>, repetindo o papel de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/01/star-wars-episode-viii-last-jedi.html"><b><span style="color: blue;">‘The Last Jedi’</span></b></a>), um prisioneiro de guerra. E é isto. Fim de qualquer ramificação para a personagem de pertencer ao Império. Fim, aliás, das referências ao próprio Império. De batalha nada vimos (este filme tem uma notória falta de cenas espectaculares); é um meio para um fim, que nada tem de excitante. A introdução de Chewie é frouxa, a química com Solo é no máximo mediana e se é bom não o terem feito por computador, é mau (muito mau) notar-se em todas as cenas que é um homem dentro de um fato. Mesmo! O seu movimento corporal é totalmente humano, a par (ou pior) daquelas criaturas dos filmes de ficção científica dos anos 1950 feitas com pobres fatos de borracha.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXnzYkGHRApk68gY7KXNJ3EFiNqrOlJVwyIIhWNluM9quIq_0XK59nQ8DveaXLLvJlSEJyvnnWop7ADSSsFkOxkkASMT358L4-xbNLfPR_znd5ThC-T-WS7AsSS5Q3i3j_Z6PGuEnpVbR2/s1600/solo-a-star-wars-story.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="589" data-original-width="1024" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXnzYkGHRApk68gY7KXNJ3EFiNqrOlJVwyIIhWNluM9quIq_0XK59nQ8DveaXLLvJlSEJyvnnWop7ADSSsFkOxkkASMT358L4-xbNLfPR_znd5ThC-T-WS7AsSS5Q3i3j_Z6PGuEnpVbR2/s400/solo-a-star-wars-story.jpg" width="400" /></a></div>
De qualquer maneira, Solo alista-se na equipa de mercenários de Beckett (que inclui uma irreconhecível <b>Thandie Newton</b>) e propõe-se a roubar umas valiosas células de energia para obter dinheiro suficiente para comprar uma nave e voltar ao seu planeta Natal. Na má tradição de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a> a sucessão de mini-missões é introduzida de forma forçada, sem qualquer construção (“agora temos de fazer isto para chegar àquilo”), sendo descartadas imediatamente a seguir em prol de uma outra qualquer mini-missão que é introduzida de forma igualmente repentina para ser esquecida cinco minutos depois. O filme não dá qualquer tempo para sentirmos a tensão inerente aos eventos e todo o perigo é imbuído de uma enorme superficialidade. Idem para várias personagens secundárias; aquelas que, tal como em <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a>, fazem sacrifícios ocos em prol dos nossos heróis sem qualquer <i>gravitas</i>. Veja-se a robô com a voz de <b>Phoebe Waller-Bridge</b>. No papel soa bem, uma androide feminina (e feminista), como antítese à longa lista de robôs masculinos da saga, que funciona também como escape cómico. Mas a sua importância é escassa e rapidamente esquecida. Veja-se Lando (<b>Donald Glover</b>), dono do Millenium Falcon, cuja aparição é pouco mais que um decepcionante, embora bem intencionado <i>cameo</i>, especialmente porque é o único que realmente acreditamos ser a versão mais nova da sua personagem (parabéns a <b>Glover </b>por isso).<br />
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Na má tradição de ‘Rogue One’ a sucessão de mini-missões é introduzida de forma forçada, sem qualquer construção (...) O filme não dá qualquer tempo para sentirmos a tensão inerente aos eventos e todo o perigo é imbuído de uma enorme superficialidade. Idem para várias personagens secundárias; aquelas que, tal como em ‘Rogue One’, fazem sacrifícios ocos em prol dos nossos heróis sem qualquer <i>gravitas</i>."</span></b></div>
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O trabalho é feito para um gangster chamado Dryden Vos (<b>Paul Bettany</b> deturpando o seu charme inglês de forma relativamente eficaz, embora num papel sem carisma) de uma organização criminosa que dá pelo nome de Crimson Dawn. Surpresa, surpresa, Vos emprega a própria Qi'ra, que nunca se sabe bem como foi ali parar. Assim, Qi'ra irá acompanhá-los, a mando de Vos, pelas várias missões, que os levam a um ou dois planetas antes de regressarem ao ponto de partida. Conseguirão obter o que precisam para cobrir a sua dívida perante o poderoso vilão? Que traições e contra-traições espreitam no seio da equipa? Conseguirá Solo derreter a fachada fria desta mais velha Qi'ra, que apesar da sumptuosidade glamorosa da sua nova aparência, parece ter sido derrotada pela dureza da vida e ter feito escolhas inesperadas? E terão os nossos heróis ainda tempo de dar uma ajudinha à resistência? Bem, o filme dá estas respostas, mas sinceramente se não desse para mim era indiferente.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRDKEmzGRDDxMH5dy8tBq3FjyzHH1NDo2-GgyZHqR1vNzQQqSXqm7yw4CPgFJk15-t_bj8zqwizcK7xLkVcWYvcR41lvykocReE_ASjyehqy413WshadKD6Cyp5yMvXNZ1CulDFeOiAiSQ/s1600/solo-a-star-wars-story-new-image-high-res-photos-and-rogue-one-character-spotted12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="671" data-original-width="1600" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRDKEmzGRDDxMH5dy8tBq3FjyzHH1NDo2-GgyZHqR1vNzQQqSXqm7yw4CPgFJk15-t_bj8zqwizcK7xLkVcWYvcR41lvykocReE_ASjyehqy413WshadKD6Cyp5yMvXNZ1CulDFeOiAiSQ/s400/solo-a-star-wars-story-new-image-high-res-photos-and-rogue-one-character-spotted12.jpg" width="400" /></a></div>
Tudo somado ‘Solo’ está longe, bem longe, de ser um filme interessante. Cinematograficamente o filme é enfadonho. Não sabemos ao certo que cenas da dupla <b>Lord </b>e <b>Miller </b>se mantiveram ou aquilo que foi filmado por <b>Ron Howard</b>, mas o filme tem uma enorme falta de energia. A mítica capacidade editorial de <b>George Lucas</b> – aquilo que dava vida às suas composições cinematográficas – é uma memória distante. Não há vida nas cenas, nos cenários, nas personagens. É simplesmente uma filmagem rotineira de um argumento, que não era muito bom para começar. De ‘Guerra das Estrelas’ isto não tem nada, e isso é talvez o maior pecado de todos.</div>
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Se as missões e as parcas cenas de acção parecem apenas um pró-forma, o filme procura assentar a sua veia dramática principalmente na linha do romance forçado entre Solo e Qi'ra. Atrevo-me a dizer que o romance entre Anakin e Padmé estava mais bem trabalhado, o que não abona muito a favor deste filme… Os actores não têm química, e o drive de Solo perde-se a partir do momento em que Qi'ra aparece miraculosamente noutro lugar, noutra posição, como se fosse uma pessoa completamente diferente. Isso supostamente geraria uma tensão entre eles, mas isso parcamente acontece. Solo – um “boneco” sem emoção – pavoneia-se de um lado para o outro, cena após cena, e atira uns pouco convictos lugares comuns a Qi'ra. Não há uma qualquer tentativa da sua parte de perceber a mudança na sua condição. Entre o beicinho supostamente sedutor e rebelde, e a tentativa de compreensão dos problemas do seu verdadeiro amor, ele escolhe o primeiro. Assim até se entende as decisões que ela acaba por tomar. Este Solo não interessa a ninguém. Nem a ela. Nem a nós.<br />
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Tudo somado ‘Solo’ está longe, bem longe, de ser um filme interessante. Cinematograficamente o filme é enfadonho. (...) Não há vida nas cenas, nos cenários, nas personagens. É simplesmente uma filmagem rotineira de um argumento, que não era muito bom para começar. (...) Lucas susteve a magia da sua saga por mais de trinta anos. A Disney está a aniquilá-la em menos de três. (...) Correm o sério risco de arruinar a ‘Guerra das Estrelas’ para as gerações futuras. O sério risco. Pensem nisso."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9qTwbgq99H8_3FizqA7__d7wvTsA9JHmvX3_viwwGJaJaV70HZDC5OMpwh-7cAGpv19bzFp12KdvEytzsxe1PDFEQfZM9Rrbg4aiM8w3-4juP2nekzz419l-kuURcle8s4-hnakHk2lgH/s1600/MV5BMTc5NzEyMDk5OV5BMl5BanBnXkFtZTgwODQzNDUyNTM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="671" data-original-width="1600" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9qTwbgq99H8_3FizqA7__d7wvTsA9JHmvX3_viwwGJaJaV70HZDC5OMpwh-7cAGpv19bzFp12KdvEytzsxe1PDFEQfZM9Rrbg4aiM8w3-4juP2nekzz419l-kuURcle8s4-hnakHk2lgH/s400/MV5BMTc5NzEyMDk5OV5BMl5BanBnXkFtZTgwODQzNDUyNTM%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
E que dizer da aparição surpresa numa das últimas cenas de uma bem conhecida personagem da saga; uma aparição diga-se, que não faz sentido absolutamente nenhum na cronologia cinematográfica. Mas aparentemente, leio na internet, faz sentido se considerarmos o universo expandido das séries de animação <b>The Clone Wars</b> e <b>Star Wars Rebels</b>. Não percebo bem o que isso quer dizer. Está a Disney/Lucasfilms a dar uma de Marvel? <b>George Lucas</b> sempre aceitou novelizações da Guerra das Estrelas, sempre aceitou fazer outros produtos, mas nunca atacou a integridade dos filmes. Mas o <b>George Lucas</b> já não está cá agora, pois não? Por isso vale tudo. Mas quanto vale valer tudo? Por uns momentos pode valer muito. Mas a médio longo prazo de nada valerá.</div>
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George Lucas conseguiu construir a mais bem-amada saga cinematográfica da história do cinema. Construiu-o com o suor do seu trabalho, uma gigantesca dedicação e uma enorme paixão pela arte de fazer cinema. O dinheiro foi um bem-vindo produto secundário, que o permitiu fazer sequelas, criar o império da Luscafilms, construir o seu rancho, produzir e ajudar a inovar o cinema até à era do digital. Mas agora após a venda à Disney, só o dinheiro parece imperar. <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/12/star-wars-episode-vii-force-awakens.html"><b><span style="color: blue;">‘The Force Awakens’</span></b></a> foi um massivo sucesso de bilheteira. Outra coisa não seria de esperar porque era o universo da ‘Guerra das Estrelas’ de volta. Mas a partir daí foi sempre a descer. <b>Lucas </b>susteve a magia da sua saga por mais de trinta anos. A Disney está a aniquilá-la em menos de três. Com um orçamento bem acima dos 250 milhões de dólares, ‘Solo’ fez apenas cerca de 350 milhões na bilheteira mundial, ou seja, não foi nem de perto nem de longe um sucesso de bilheteira, o que é um escândalo para um filme ‘Star Wars’. E enquanto escrevia esta crítica saiu a notícia que a produção do terceiro “<i>star wars story</i>”, um spin-off sobre Boba Fett, foi cancelado.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfNmI24ZnR-BdPqYCKAQoUuDl1Y6BomX_VRXKVWnprBT2YEihK8DBiHIDLsc6eb8lRb-l2IQrfPsITW5D-Tbb1TKhrkxR89xSjsh9saoilfQG1lgX5B0aTAP6iL71uG79qobFzVwDMwbjn/s1600/tcsd9kdr_o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="714" data-original-width="1600" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfNmI24ZnR-BdPqYCKAQoUuDl1Y6BomX_VRXKVWnprBT2YEihK8DBiHIDLsc6eb8lRb-l2IQrfPsITW5D-Tbb1TKhrkxR89xSjsh9saoilfQG1lgX5B0aTAP6iL71uG79qobFzVwDMwbjn/s400/tcsd9kdr_o.jpg" width="400" /></a></div>
Há um forte motivo para tudo isto. O público ama a ‘Guerra das Estrelas’ e está farto destes filmes de treta, está farta desta preguiça criativa, está farto destas histórias de série B, feitas atabalhoadamente, que não parecem compreender a essência dos filmes originais e que de semelhante a eles só têm o nome de algumas personagens. A ‘Guerra das Estrelas’ não está no mesmo comprimento de onda que estas distopias futuristas, ou aventuras de ficção científica que invadiram o cinema de Hollywood nos últimos dez anos. Não está nem nunca estará. Portanto para quê rebaixa-la a esse ponto? A única diferença entre ‘Solo’ ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/rogue-one.html"><b><span style="color: blue;">‘Rogue One’</span></b></a> e aqueles filmes foleiros de ficção científica dos anos 1950 e 1960 é que os efeitos especiais são muito melhores. Mas é só isso; algo que o dinheiro pode comprar. Em termos criativos e argumentais estão a par, porque isso é algo que o dinheiro não pode. É preciso talento. A Disney preocupou-se em lançar “qualquer coisa” para criar uma <i>franchise </i>da ‘Guerra das Estrelas’ como se criou da Marvel. Mas com a ‘Guerra das Estrelas’ o “qualquer coisa” não pega. A fasquia está alta desde 1977. Lançar nos cinemas uma coisa destas é um insulto para os fãs. Mais valia um straight-to-video, como aquelas sequelas dos Ewoks dos anos 1980.</div>
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Os espectadores falaram, voltando as costas a ‘Solo’. Pode ser que desta vez a Disney aprenda e não volte a repetir a gracinha. O episódio IX já espreita. Façam qualquer coisa de jeito, por favor, e se não for pedir muito, esqueçam esta parvoíce das “star wars stories”. Se for para fazer filmes destes, mais vale estar quieto. Porque correm o sério risco de arruinar a ‘Guerra das Estrelas’ para as gerações futuras. O sério risco. Pensem nisso.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-66840468882074935312018-10-28T09:12:00.000+00:002018-11-02T01:07:49.686+00:00Meu Amigo, o Dragão (Pete's Dragon) (1977) – o único DVD da Disney a NÃO adquirir em Portugal<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCDSlhhMEmyH-CjQW2JbuPsuXvKQgwxTDEMRiG8Ws5uB7CtCihCNI4XO4SgSZYLwKTaEYeY4PnRPe-_4F5XYJnNCMGI78pDDwgCvNhdkYR_owV34jgtx2tzrzkHLJ69zcAGF2dKuP5xzXc/s1600/Meu-Amigo-O-Dragao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="340" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCDSlhhMEmyH-CjQW2JbuPsuXvKQgwxTDEMRiG8Ws5uB7CtCihCNI4XO4SgSZYLwKTaEYeY4PnRPe-_4F5XYJnNCMGI78pDDwgCvNhdkYR_owV34jgtx2tzrzkHLJ69zcAGF2dKuP5xzXc/s400/Meu-Amigo-O-Dragao.jpg" width="400" /></a></div>
O caro leitor, se tem por hábito acompanhar estas páginas, sabe perfeitamente que nutro, e sempre nutri, uma grande paixão pela obra dos estúdios Disney. É inegável a gigantesca importância deste estúdio para a história do cinema em geral (em termos criativos, técnicos, sentimentais) e para a história do cinema de animação em particular, que virtualmente não existiria sem ele. Não é apenas o facto da Disney ter sido a pioneira na animação americana, e o primeiro estúdio a produzi-la a grande escala e em formato de longas-metragens. É o facto de quase sempre ter produzido obras de incrível beleza e pureza, emocional e cinematográfica. Desde os primeiros acordes de <b>‘Plane Crazy’</b> às <b>Silly Symphonies</b>, de <b>‘Snow White and the Seven Dwarves’</b> a <b>‘Mary Poppins’</b>, de <b>‘Beauty and the Beast’</b> a <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/01/moana.html"><b><span style="color: blue;">‘Moana’</span></b></a>, o valor do legado do velho <b>Walt</b>, e de tantos outros nas suas pisadas; <b>Ub Iwerks</b>, os “nove velhos” (se não sabem quem são, pesquisem), ou <b>Clements</b> e <b>Musker</b>, é incalculável. Constitui a infância, os sonhos de fantasia, as promessas de esperança, o sorriso no rosto de gerações e gerações. </div>
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Por esse motivo, sempre tive um especial carinho pela parcela da minha estante dedicada aos filmes da Disney. Sempre gostei de coleccionar filmes e tenho uma gigantesca colecção (estamos a falar de números da ordem do milhar) criada desde os bons velhos tempos do VHS quando era uma criança a crescer nos anos 1980. Nesse formato, os filmes da Disney em Portugal eram em brasileiro e claro, num horripilante 4:3 ‘pan scan’ (vejam a minha <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/05/tirem-me-deste-filme-ep-v-o-pan-scan.html"><span style="color: blue;"><b>crónica</b></span></a> contra esta “invenção”). Mas a verdade é que satisfaziam na mesma, pelo menos um rapaz que então não percebia nada de cinema e só queria desfrutar de bons filmes, de boa animação. Mais tarde, já na faculdade, comecei a ter o prazer de redescobrir todas as obras da Disney, quando substituí estas caixas VHS retrógradas por edições muito mais satisfatórias. Lentamente, a Disney começou a produzir os DVDs do seu espólio, particularmente em edições especiais definitivas que apelidou de ‘Edições Douradas’. Estes DVDs deram a possibilidade a inúmeras gerações de passar a deter os filmes nas versões originais, nos rácios correctos e com uma qualidade de imagem que o VHS nunca teve.</div>
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E depois, uma década mais tarde, chegaram os Blu-rays. A colecção de James Bond em Blu-ray usou como frase publicitária algo como “Bond nasceu para o Blu-ray”. Concordo perfeitamente, visto que para mim os filmes de imagem real que melhor ficam em Blu-ray são os dos anos 1960 (cortesia das técnicas de fotografia a colorização utilizadas na altura), e portanto todo o espólio de <b>Sean Connery</b> em Blu-ray é extraordinário. Mas na minha opinião há algo que ainda fica melhor em Blu-ray: um grande filme de animação. As chamadas ‘Edições Diamante’ dos clássicos Disney em Blu-ray são absolutamente soberbas, não só pela quantidade e qualidade dos extras, mas principalmente pela qualidade de imagem: é o filme como era suposto ser visto, como foi concebido nas folhas em branco pelos grandes desenhadores e animadores do estúdio.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpuXdn561yEIS5Cr0k4W7HGdbT-TByFM1hlDFItAmRxmuJeZI7fPexi5ymezUHdfNHBLrs_CGGCjJNTycMIH1WuhIusvyjf3AVWy5gwMGbyeIKv0rbcKQH1v3YhAD-AxsJIkWbnZxsvPPG/s1600/petes_dragon.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="619" data-original-width="1100" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpuXdn561yEIS5Cr0k4W7HGdbT-TByFM1hlDFItAmRxmuJeZI7fPexi5ymezUHdfNHBLrs_CGGCjJNTycMIH1WuhIusvyjf3AVWy5gwMGbyeIKv0rbcKQH1v3YhAD-AxsJIkWbnZxsvPPG/s640/petes_dragon.jpg" width="640" /></a></div>
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Assim sendo, entre ‘Edições Douradas’ e ‘Edições Diamante’ fui construindo a minha definitiva colecção Disney. Não sei, obviamente, mas suponho que devo ter uma das colecções mais completas em Portugal de filmes originais de animação da Disney, pois não só possuo em suporte físico praticamente todos os filmes do Disney Animation Studios e muitos outros do Disney Toons, como a colecção completa dos míticos Walt Disney Treasures; as curtas-metragens dos anos 1930, 1940, 1950 e 1960 de Mickey, Pluto, Donald, Pateta, Tico e Teco, Silly Symphonies e aí por diante. Mesmo que a tendência do mercado se vire agora para o digital, o online e o on-demand, continuei a construir esta colecção em suporte físico (tal como na literatura e na música, sou um fã do físico), para mim como é óbvio, mas também para o meu filho. Cada vez que me sento a ver com ele qualquer filme penso com tristeza que ele deve ser das poucas crianças em Portugal que está a ver uma <b>Silly Symphony</b>, que está a ver um <b>‘Fantasia’ (1940)</b>, que está a ver um <b>‘Bedknobs and Broomsticks (1971)</b>.</div>
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Pessoalmente acho que é nossa obrigação, como membros de anteriores gerações, de passar o conhecimento sobre a grande arte às gerações seguintes. Assumir que as crianças e os jovens de hoje em dia, lá por terem acesso à Internet e ao Youtube desde tenra idade, vão ter muito mais contacto com a grande arte e a grande cultura do que nós tivemos é errado. Ter a possibilidade de acesso a ela não implica necessariamente que a irão aceder, principalmente porque a Internet está inundada de um sem número de distracções mais fáceis mas menores, que poderão dar satisfação no momento mas que nunca dão satisfação a longo prazo, como dá um grande livro, um grande álbum, um grande filme. É nossa obrigação dar a conhecer esses grandes livros, álbuns, filmes, pinturas, peças de teatro, aos nossos filhos, não lhes forçando é claro, mas simplesmente dando-lhes a possibilidade de os encontrarem. Quem sabe se não irão descobrir algo pelo qual se irão apaixonar para a vida? O problema é que para lhes darmos a conhecer a eles, temos nós de os conhecer primeiro, e infelizmente cada vez menos pais os conhecem.</div>
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Pela minha parte, de forma natural, e sem lhe negar a gigantesca oferta de produtos e programas modernos para crianças que hoje existe na televisão por cabo e na Internet, tenho introduzido lentamente vários filmes de animação clássicos ao meu filho, e particularmente filmes Disney. Ele não faz ideia se o que lhe estou a mostrar é de 2018 ou de 1930. Não chegou à idade em que percebe a diferença e por isso mesmo observa tudo com um espírito aberto, livre do generalizado preconceito que hoje existe contra tudo o que é “antigo”, só porque é “antigo”. Assim, sem lhe forçar nada, ele começou a ver e a amar, e a pedir para repetir. Começou a desfrutar das mesmas obras, da mesma forma, que eu desfrutei quando tinha a idade dele. Desfrutar imenso. Porque a magia de inúmeros destes clássicos sempre foi e sempre vai continuar a ser intemporal. E por isso mesmo, não parei de completar a minha colecção Disney, e nunca tive desapontamentos. Isto é, até a semana passada e a compra do<b> ‘Pete’s Dragon’</b> (‘Meu Amigo o Dragão’) original de 1977.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7J3XPrErXl8S1efKHfqqW9Am9YtxnioGIsskRZ2rn7yDXXprZcJQtETb4RiXhZI_8_5kuDRc7krgkiI8Fz8poObxM0YjjxB8OeTMQdVlEXaerNxnS5VKiCi5PXiGBUKjtBohXpyB8-i7z/s1600/classicos+de+sempre+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7J3XPrErXl8S1efKHfqqW9Am9YtxnioGIsskRZ2rn7yDXXprZcJQtETb4RiXhZI_8_5kuDRc7krgkiI8Fz8poObxM0YjjxB8OeTMQdVlEXaerNxnS5VKiCi5PXiGBUKjtBohXpyB8-i7z/s640/classicos+de+sempre+2.jpg" width="640" /></a></div>
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<b>‘Pete’s Dragon’</b> é o último filme de uma trilogia não oficial da Disney a juntar, de forma pioneira na história do cinema, imagem real com animação, depois dos soberbos <b>‘Mary Poppins’ (1964)</b> e <b>‘Bedknobs and Broomsticks (1971)</b>. Numa época em que a Disney vivia um período mais negro (muito embora o seu mais bem-sucedido filme de animação da década tenha sido desse ano – <b>‘The Rescuers – Bernardo e Bianca’</b>), o filme foi apenas um moderado sucesso de bilheteira e não satisfez completamente os críticos. Contudo, tornou-se um filme de culto com o passar dos anos e tem a grande distinção de ter sido o primeiro filme da Disney a ser lançado em VHS no início da década de 1980. Um VHS em inglês sem legendas que me recordo vivamente de ter visto e revisto na minha infância (o meu irmão mais velho poderá ter ficado com ele, creio), de um filme que acarinhei como tantos outros mas que fiquei muitos anos – demasiados – sem rever.</div>
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Muitas décadas depois, o interesse por <b>‘Pete’s Dragon’</b> foi reavivado nos média, quando a Disney produziu em 2016 o remake de imagem real com <b>Bryce Dallas Howard</b> e <b>Robert Redford</b>, eliminando as músicas e concebendo o dragão em CGI (até dá arrepios de pensar como tiveram coragem de fazer semelhante coisa!). Eu próprio reavivei o meu interesse desta vaga memória da minha infância, e não hesitei quando tive a oportunidade de ver a edição definitiva desta obra em blu-ray num hotel durante uma viagem que fiz há um par de anos ao estrangeiro. Foi mágico rever, talvez vinte anos depois, o dragão animado por <b>Don Bluth</b>, o terno exagero interpretativo de <b>Mickey Rooney</b> e claro, as músicas, incluindo o mágico "Candle on the Water", que na altura havia sido nomeado para o Óscar de Melhor Música. Obviamente, com a Internet podemos facilmente encontrar o filme, mas pessoalmente, e fã do físico, sempre achei que era mais uma obra que devia adicionar à minha colecção de DVDs e Blu-rays Disney, quando tivesse uma oportunidade. E a semana passada, essa oportunidade surgiu-me.</div>
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Estava precisamente com o meu filho a olhar para filmes de animação numa das grandes lojas multimédia deste belo país quando vi uma única cópia da Edição Dourada de ‘Pete’s Dragon’ a um preço irrisório (menos de 5 euros). Visto que as Edições Douradas constituíram lançamentos limitados, há muito poucas lojas que hoje ainda as têm, apenas esgotando os seus stocks. Peguei neste precioso item e mostrei-o ao meu filho, que se agarrou imediatamente a ele, dissipando qualquer dúvida que podia ter de que aquela caixa ia voltar connosco para casa. E assim foi. Mal chegamos a casa acomodei-me no sofá enquanto o meu filho brincava no tapete e pus o filme a dar. E então, numa das primeiras cenas em que o dragão animado surge com todo o seu esplendor animado a contracenar com um rapaz real (estávamos em 1977 recorde-se), deu-se magia. O meu filho sentou-se no sofá e ficou mesmerizado, a ver o filme. Quarenta anos depois, a incrível beleza desta cena tem ainda a capacidade para cativar. Não interessa se estamos no século XXI, crianças serão sempre crianças e boas cenas como esta serão sempre boas cenas. Idem para quando chegamos à canção “Brazzle Dazzle Day”. O meu filho, que nunca tinha visto tal cena, pediu para a ver outra vez. Cheguei “a fita” atrás e revimos em conjunto, cantarolando. Momentos memoráveis.</div>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRI82FqcBTJm9p61lmBcHtUHDcGEOWdhoM-IjWkC5EKlzOF_bTQrfzy_Rl2FrtERSUC2NBCLt-vpsbT4AtxyYrundPNA8oPfUzjsjSEjSQ09jNUYVkvH_iSyOhtje75uurHNHiMeddfrdO/s1600/6Petes_Dragon_Gold_Collection.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="850" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRI82FqcBTJm9p61lmBcHtUHDcGEOWdhoM-IjWkC5EKlzOF_bTQrfzy_Rl2FrtERSUC2NBCLt-vpsbT4AtxyYrundPNA8oPfUzjsjSEjSQ09jNUYVkvH_iSyOhtje75uurHNHiMeddfrdO/s640/6Petes_Dragon_Gold_Collection.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma Edição Dourada em língua inglesa: o tempo de duração é de 129 min</td></tr>
</tbody></table>
Contudo, algo começou a não soar bem na minha cabeça, e a bela experiência que estava a ter começou a deturpar-se. Faltava qualquer coisa ao filme. Parecia pequeno demais. E porque é que a cena da mítica canção “Candle on the Water” nunca mais aparecia? Era estranho. Mais estranho foi aperceber-me que o filme tinha pouco mais de 1h40 quando a versão que tinha visto em Blu-ray tinha, achava eu, mais de duas horas. Com uma séria suspeita do que poderia ter acontecido, liguei o computador e após uma rapidíssima pesquisa na Internet descobri. Pois bem, graças ao fraco sucesso crítico do filme na altura do seu lançamento, algumas versões truncadas do filme, com 20 minutos a menos e sem a famosa canção, circularam no cinema em alguns países europeus e foram até usadas, nesses países, nos originais lançamentos em VHS no início dos anos 1980. Contudo, o site imdb.com afirma que essas edições dilaceradas há muito desapareceram do mercado, nomeadamente com o surgimento dos DVDs e Blu-rays. Embora isto não seja totalmente verdade para a Europa (há ainda umas edições truncadas a circular - é só ver algumas críticas iradas no amazon.uk), a esmagadora maioria das versões vendidas internacionalmente têm à volta de 125 minutos. Em Inglaterra, por exemplo, existem os dois tipos de versões no mercado. Mas neste cantinho da Europa, em pleno 2018, não temos essa possibilidade de escolha. Esta edição cortada não só existe, como é a única que está disponível. Pior (e o que me induziu em erro), está a ser vendida como se fosse a "versão definitiva".</div>
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A Edição Dourada de <b>‘Pete’s Dragon’ </b>que está à venda em Portugal parece-se assim em tudo com a edição definitiva do filme que existe no estrangeiro. A própria ideia por trás das Edições Douradas é precisamente essa. Ainda para mais, o disco ostenta que esta é a ‘High Flying Edition’ da obra, o nome dado nas versões inglesas à edição definitiva do filme em DVD, com uma tonelada de extras e obviamente a versão integral da película. No Brasil, a ‘High Flying Edition’ até foi traduzida, imagine-se, para ‘Edição Expandida’. Ora esta versão portuguesa, supostamente também ‘High Flying Edition’, possui exactamente os mesmos extras que essas versões definitivas vendidas no estrangeiro. <i>So far so good</i>. O grande problema é que o filme não é o mesmo. É mais pequeno. O que nos leva à questão: porquê?</div>
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Como um bom investigador que sou, vou usar o método dedutivo. Este é um disco muito particular. Só possui legendas em inglês, português e espanhol, e áudio somente em inglês e espanhol. Quem tem muita experiência em analisar o mercado do cinema em casa, sabe perfeitamente que muitas das edições que temos aqui por Portugal são produzidas em Espanha, às quais simplesmente são acrescentadas legendas (e por vezes áudio) em Português. Será então de supor que a versão cortada do filme foi usada para a concepção da Edição Dourada em Espanha (e consequentemente em Portugal) somente porque era essa a versão para o qual o áudio em Espanhol existia, cortesia de há quarenta anos ter sido essa a versão que passou nos cinemas espanhóis e foi lançada em VHS? É mais do que provável, na minha cabeça pelo menos, que tenha sido essa a justificação. E se assim é, não é nada menos que um escândalo. Como é possível que em 2018, quando todo o mundo, especialmente após o remake de imagem real de 2016, tem direito a comprar a versão definitiva de 2h, nós só temos acesso nas lojas portuguesas a uma versão totalmente retrógrada da película, somente porque ninguém se deu ao trabalho de fazer novas dobragens. Ninguém achou esquisito a cena onde é cantada a música nomeada para o Óscar – que inclusive a sinopse na parte de trás do DVD nos convida a desfrutar – não estar em lado nenhum? </div>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYeTQK5jf9uWAYhrLc5iNHTRi7TOKGjbbnmi3Hpv7AbE2-1mVNtnwVHD9EeDnBu2Z38wCQpXn-pf5lRigPBjlQiefXH71RzHItRNUobkSq37r3p93m_tMiFzcCNKDplD5nai_sg0s_N9Pi/s1600/pete_s_dragon_petar_i_njegov_zmaj_serbian_dvd_by_credomusic-d80q55a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="688" data-original-width="1024" height="430" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYeTQK5jf9uWAYhrLc5iNHTRi7TOKGjbbnmi3Hpv7AbE2-1mVNtnwVHD9EeDnBu2Z38wCQpXn-pf5lRigPBjlQiefXH71RzHItRNUobkSq37r3p93m_tMiFzcCNKDplD5nai_sg0s_N9Pi/s640/pete_s_dragon_petar_i_njegov_zmaj_serbian_dvd_by_credomusic-d80q55a.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma 'High Flying Edition' em cirílico: o tempo de duração é de 124 min</td></tr>
</tbody></table>
A loja não me aceita a devolução do artigo porque já está aberto, mas na verdade admito que estão no seu perfeito direito. Eles nada têm a ver com esta questão das versões, são apenas intermediários da venda do produto. O responsável é a Disney. O DVD é um produto oficial Disney. As Edições Douradas são uma colecção oficial Disney. E o disco é propriedade da Disney Enterprises. Assim, diligentemente, procurei queixar-me à Disney Portugal desta situação. O problema é que no site da Disney Portugal só há um único email disponível, o da Disney UK. Não rogado, para lá escrevi, em inglês. Primeiro não perceberam, depois mandaram-me tratar com o lojista, depois mandaram-me contactar a Disney Portugal. Após explicar tudo o que já expliquei em cima finalmente fecharam-me a porta, alegando que o produto não foi comprado numa loja Disney. Ridículo. Basicamente, a Disney está a dizer que só tem responsabilidade por um produto que ela própria criou se o produto for comprado na sua própria loja oficial. Loja essa que quem conhece sabe perfeitamente que, pelo menos em Portugal, de filmes não tem quase nada, apenas alguns lançamentos recentes. Nunca iria conseguir comprar a Edição Dourada de <b>‘Pete’s Dragon’</b> lá. É uma pescadinha de rabo na boca.</div>
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Não desistindo, finalmente contactei há uns dias a Disney Portugal através de uma rede social. Pediram-me mais informações. Enviei. Aguardo neste momento qualquer tipo de resposta. A verdade é que não me interessa o dinheiro. O filme foi baratíssimo. É uma questão de princípio. Esta edição não devia existir em DVD. Não existe noutros países, ou se existe há igualmente a possibilidade de comprar a versão expandida. Portanto quem a comprou aqui em Portugal foi vítima de publicidade enganosa e de uma forte negligência por parte das sucursais ibéricas que produziram esta caixa e permitiram que ela fosse comercializada nestas condições. Recordo que o pacote faz parte da Colecção Dourada. Recordo que o disco diz ‘High Flying Edition’. O consumidor não pode ser assim tratado com tanto desrespeito. Mas o pior, e mais incrível, é que a própria Disney está a desrespeitar o seu próprio espólio, ou então a demonstrar um profundo desconhecimento da sua própria história. Não têm respeito pela versão integral do filme? Não querem partilhá-la com o público? É-lhes igual que os espectadores portugueses vejam uma versão ou outra? Se é, não devia ser. O velho <b>Walt</b> certamente não ficaria orgulhoso.</div>
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Como é óbvio, gostaria de ser compensado por ter tido este gasto num DVD que não me serve para nada (e que de bom grado devolverei se mo pedirem). Mas no fundo, não é o dinheiro que me interessa. O que me interessa é juntar este <b>‘Pete’s Dragon’</b> à minha colecção de DVDs e Blu-rays. Mas não me contento com meio filme. Quero ter o filme completo. Quero ouvir a <b>Helen Reddy</b> a cantar “Candle on the Water” sem ter que ir ao youtube. Para quê ter meia magia quanto posso ter magia por inteiro com uma simples compra no amazon? Tivesse eu sabido disto de antemão, certamente nunca teria comprado este DVD em Portugal. E tenho muita pena de todas as pessoas que o fizeram, e ainda hoje vêm e revêm o filme com as suas famílias, sem saberem que não estão a ver o filme completo. A ignorância é uma bênção e provavelmente poupou à Disney Portugal muitos emails indignados como o meu. Por sorte, detectei esta situação e acho meu dever denunciá-la, porque sou um apaixonado pela Disney, mas acima de tudo sou um historiador apaixonado pelo bom cinema, e o que mais odeio – mais do que ver um mau filme – é ver uma obra de arte dilacerada. E este filme é uma obra de arte.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/VGbsrrkZm1s" width="749"></iframe>
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<span style="font-size: 12.8px;">A mágica cena que os compradores da "versão curta" não têm o direito de ver</span></div>
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Estive agora a contar. Possuo mais de 50 filmes de animação Disney em DVD ou Blu-ray original (e nem estou a contar a Disney/Pixar), mais umas 15 caixas, todas elas originais, dos Walt Disney Treasures. Foi um grande investimento, mas também que já me deu um grande retorno, que se multiplica, agora que o meu filho começa a descobrir estas obras. Mas esta compra bem que poderá ter sido a minha última, porque sinto que a companhia que sempre respeitei não me retribui esse respeito, depois dos anos de devoção que lhes dei. Que o <b>‘Pete’s Dragon’</b> cortado seja banido das lojas e que quem o comprou como se fosse a “versão definitiva” seja compensado. Que a Disney Portugal produza uma caixa de DVD e Blu-ray com a versão integral, com legendas (e quiçá áudio) em português, para que os mais novos possam desfrutar deste clássico. Que esta minha demanda não caia em orelhas moucas. Que não se olhe apenas para o futuro mas também para o passado. O espólio da Disney é riquíssimo, não pode ser tratado de qualquer maneira. Tem de ser acarinhado e perpetuado. Tem de ser passado às gerações seguintes. Eu fiz a minha parte, e continuo a fazer. Que a própria Disney, e a Disney Portugal em particular, se esforcem por fazer o mesmo. São os meus votos. A bola está do lado deles. Vamos ver como me respondem.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-74665907737361302952018-10-13T00:50:00.000+01:002018-10-28T09:13:49.538+00:00Bend of the River<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGZw2pAzj5thwB30NRzFy1ODTDoIad5BjHDjbjkV7jJ4Sdj3P7_dh9cNwiZ2HxLgWErN4A-7BYQIoXBqsD7N-RJp6Xva1xW74pFkMVrjafkyitCB1KB_VDNsBMhVp5NdKntuADIwSdIQgU/s1600/MPW-459.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="390" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGZw2pAzj5thwB30NRzFy1ODTDoIad5BjHDjbjkV7jJ4Sdj3P7_dh9cNwiZ2HxLgWErN4A-7BYQIoXBqsD7N-RJp6Xva1xW74pFkMVrjafkyitCB1KB_VDNsBMhVp5NdKntuADIwSdIQgU/s400/MPW-459.jpg" width="260" /></a></div>
<b>Ano: </b>1952<br />
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<b>Realizador: </b>Anthony Mann<br />
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<b>Actores principais:</b> James Stewart, Rock Hudson, Arthur Kennedy<br />
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<b>Duração: </b>91 min<br />
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<b>Crítica:</b> Há westerns e há westerns. E depois há os westerns especiais. Os de <b>Sergio Leone</b> com <b>Clint Eastwood</b>. Os de <b>John Ford</b> com <b>John Wayne</b>. E, sem dúvida alguma os de <b>Anthony Mann </b>com <b>James Stewart</b>.</div>
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O western, como género, passou por várias iterações. Foi considerado um género menor, de série B, durante grande parte da era do cinema mudo e dos anos 1930, década dos cowboys cantantes e das simples <i>first features</i>. Tudo isso mudou em 1939 com <b>‘Stagecoach’</b> de <b>John Ford</b> e <b>‘Union Pacific’</b> de <b>Cecil B. DeMille</b>, dois filmes que deram uma nova maturidade ao western e abriram as portas para uma década onde, em período de Guerra, começou a representar algo mais profundo; a essência dos valores americanos e a luta para os manter, como em obras primas como <b>‘The Ox Bow Incident’ (1943)</b> ou <b>‘My Darling Clementine’ (1946)</b>. Gradualmente, o western foi abandonando a alegria despreocupada e aventureira que tinha na década de 1930 para se tornar progressivamente mais duro, acompanhando as alterações morais e sociais da sociedade americana do pós Guerra.</div>
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No limite, nas décadas de 1960 e 1970, através de trabalhos de realizadores como <b>Sergio Leone</b>, <b>Sam Peckinpah</b> ou <b>Andrew V. McLaglen</b>, o western ficaria cada vez mais alheado, violento e decadente, simbolizando a quebra de valores com o passado de uma sociedade dilacerada pela Guerra do Vietnam e escândalos como o Watergate. Mas uma década antes, nos anos 1950, em plena era do mccarthismo e do início da guerra fria, o realizador mais influente de todos a alterar a face do western – e sem o qual <b>Leone</b>, <b>Peckinpah</b>, <b>McLaglen </b>e tantos outros nunca teriam existido, foi <b>Anthony Mann</b>. Depois de vários <i>thrillers </i>e <i>noirs </i>de série B pouco recordados durante a década de 1940, <b>Mann </b>tornou-se, inesperadamente, o pai do western psicológico, com uma sequência de filmes intensos, focados em temas de vingança, redenção e obsessão, que se tornaram ainda mais impactantes pela presença de um também inesperado actor principal: <b>James Stewart</b>.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"</span></b><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>Extraordinariamente filmado nas montanhas do Oregon (...) </b></span></span><b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">‘Bend of the River’ é um puro filme de acção antes do termo existir. Numa compacta e muito bem escrita narrativa, a acção do filme – e as personagens – estão sempre em movimento, numa corrida contra o tempo, contra a natureza e, claro está, contra os homens (perseguindo ou sendo perseguidos), não deixando o espectador – e as próprias personagens – tomar fôlego um único segundo."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxM1xc9t1NOKnelbAxmXoaaOZz1Ne5BA3Fg9o7B2vqAXS00U-mz-NBYJ18U0xvGfngUYdd923FfM-paOFBA9qz8j3kF_I0QuOd_Cp10dnl1UCSTmuIknK8MNvagWKhH_uNUoC_hFBQzDhz/s1600/125471.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="783" data-original-width="1024" height="305" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxM1xc9t1NOKnelbAxmXoaaOZz1Ne5BA3Fg9o7B2vqAXS00U-mz-NBYJ18U0xvGfngUYdd923FfM-paOFBA9qz8j3kF_I0QuOd_Cp10dnl1UCSTmuIknK8MNvagWKhH_uNUoC_hFBQzDhz/s400/125471.jpg" width="400" /></a>Outrora a epítome do <i>all-american</i>, o herói de <b>‘Mr. Smith Goes to Washington’ (1939)</b> ou <b>‘It's a Wonderful Life’ (1946)</b>, Stewart já tinha demonstrado uma surpreendente dualidade para <b>Hitchcock </b>em <b>‘The Rope’ (1948) </b>(que ainda mais a exploraria em <b>‘Vertigo’, 1958</b>). Mas foi <b>Mann </b>o primeiro a perceber o poder cinematográfico e alegórico de deturpar a imagem e o simbolismo que este grande actor (um dos meu preferidos) possuía até então. Até <b>‘Winchester 73’ (1950)</b>, o seu primeiro western com <b>Mann</b>, <b>Stewart </b>apenas tinha entrado num único western, o mais leve <b>‘Destry Rides Again’ (1939)</b>. Mas é só vê-lo em <b>‘Winchester 73’</b>, uma história de perseguição e vingança, para perceber que Stewart iria encarnar uma faceta do western que John Wayne, por exemplo, nunca teria conseguido. A mítica cena do saloon, em que <b>Stewart </b>revela pela primeira vez o seu lado negro, é magnífica. Os seus intensos olhos azuis, agora visíveis graças ao Technicolor, enchem a tela de um misto de vida, desejo, obsessão e prazer macabro pela violência. É puro cinema. É a pura representação que não há homens bons nem homens maus. Há apenas homens que caminham perigosamente esse limbo, movidos quer pelo sentido de dever quer pelo desejo, e que só conseguirão encontrar paz e a redenção se enterrarem o passado. E isso, muitas vezes, só se obtém com vingança… e violência.</div>
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Para um actor que chegou ao western tão tarde, <b>Stewart </b>tornar-se-ia uma das suas mais icónicas figuras, somente atrás de <b>Wayne</b>. Trabalharia com <b>John Ford</b>, com <b>Andrew V. McLaglen </b>extensamente nos anos 1960 (incluindo em <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/04/bandolero.html"><b><span style="color: blue;">‘Bandolero!’</span></b></a> já criticado nestas páginas), mas tudo começou com os seis westerns que fez em apenas cinco anos para <b>Mann</b>. Depois de <b>‘Winchester '73’</b> seguiu-se este ‘Bend of the River’ (<u>em português ‘Jornada de Heróis’</u>), um filme que poderá não ter a profundidade psicológica de outros westerns de <b>Mann/Stewart</b>, nem o poder alegórico de outros que começavam a surgir (<b>‘High Noon’, 1952</b>; ou <b>‘Johnny Guitar’, 1954</b>), mas tem uma extraordinária vitalidade cinematográfica. ‘Bend of the River’ é um puro filme de acção antes do termo existir. Numa compacta e muito bem escrita narrativa com menos de 90 minutos, a acção do filme – e as personagens – estão sempre em movimento, numa corrida contra o tempo, contra a natureza e, claro está, contra os homens (perseguindo ou sendo perseguidos), não deixando o espectador – e as próprias personagens – tomar fôlego um único segundo.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE5OfNXgBVDSxPsbWpjH4hDiLSIPBLOJmw1Ji8WdFZW09cgFi9M8ixO8JmeY9kwgFZ60IimRw_2YD3WUW0GFXd44VoNipli-EhpwKNiXpk7qRsiuirmu3FKR7KnQ1zSw1pgG_l_bKpPUwl/s1600/MV5BNjFiNzk2ZjQtZWU3MC00NTgyLWE5YTEtODU5NmE3YjVkMDM0XkEyXkFqcGdeQXVyMjUxODE0MDY%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="754" data-original-width="930" height="323" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE5OfNXgBVDSxPsbWpjH4hDiLSIPBLOJmw1Ji8WdFZW09cgFi9M8ixO8JmeY9kwgFZ60IimRw_2YD3WUW0GFXd44VoNipli-EhpwKNiXpk7qRsiuirmu3FKR7KnQ1zSw1pgG_l_bKpPUwl/s400/MV5BNjFiNzk2ZjQtZWU3MC00NTgyLWE5YTEtODU5NmE3YjVkMDM0XkEyXkFqcGdeQXVyMjUxODE0MDY%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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Extraordinariamente filmado nas montanhas do Oregon (a localização é mais uma personagem, magistralmente captada em Technicolor), o filme tem, propositadamente, uma história linear; uma proverbial viagem de um ponto A para um ponto B. Um conjunto de colonizadores humildes vindos do Missouri viaja em caravana com todos os seus pertences rumo às planícies para lá das montanhas do Oregon, onde esperam criar uma nova comunidade num território fértil e virgem, uma terra de novas oportunidades. Mas a forma como o filme escolhe contar esta viagem é extremamente inteligente, condensando todos os grandes temas do Oeste em seu redor e centrando-a, não nos agricultores, mas no homem que contrataram para os guiar; Glyn McLyntock (<b>James Stewart</b>).</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"Há momentos de puro brilhantismo no retrato da intrínseca dualidade de Stewart (...) Na fantástica cena em que é traído por Cole e jura vingança, por exemplo, Stewart consegue manter simultaneamente uma fria calma calculista, expressa nos seus vibrantes olhos azuis, e uma nervosa ânsia desesperada, alimentada por um prazer macabro, como se não conseguisse esperar pelo momento para começar a executar a sua vingança</b><b>"</b></span></div>
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Como faria daqui para a frente, <b>Stewart</b> é extremamente convincente na sua dualidade. Por um lado mantém o enorme charme e apelo que haviam feito dele um dos actores mais bem amados da história de Hollywood. Por outro possui uma intrínseca dureza. Não precisa de disparar uma arma para sentirmos que o fará mais rápido que qualquer outro pistoleiro. Rapidamente, sentimos que ele não é tão inocente quanto inicialmente parece, e o seu passado inclui uma faceta negra (qual, só mais à frente saberemos) que ele procura esquecer e redimir. Aliás, aceitar conduzir estes agricultores é a sua forma de redenção. Espera ter forças para se juntar a eles numa vida humilde uma vez chegados ao Oregon, e quem sabe assentar com Laura (a fogosa <b>Julie Adams</b>), filha do líder da comunidade Jeremy (o simpático e crédulo <b>Jay C. Flippen</b>).</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM4DMDTzVUl9VZAfEim6HsL2C1Ak1ut-8UepyLLB7b7TTg4E_iGwQSFrYmfd7ss41moe7-eSDhOabqNPCute1BTrhZzileMwhmEvYhMiPptF7B-L5llOubCJmlmVD3MeNOJTAe0zYrDJ3p/s1600/bend+river+-+too+much+smiling+creepy.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="782" data-original-width="1062" height="293" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM4DMDTzVUl9VZAfEim6HsL2C1Ak1ut-8UepyLLB7b7TTg4E_iGwQSFrYmfd7ss41moe7-eSDhOabqNPCute1BTrhZzileMwhmEvYhMiPptF7B-L5llOubCJmlmVD3MeNOJTAe0zYrDJ3p/s400/bend+river+-+too+much+smiling+creepy.jpg" width="400" /></a></div>
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Contudo, a odisseia nunca será fácil. Logo nos primeiros minutos McLyntock salva o duro pistoleiro Emerson Cole (o suave <b>Arthur Kennedy</b>) de ser linchado por um conjunto de <i>desperados</i>. Logo a seguir, ambos têm de defender os colonos de um ataque de índios. Cole parece ser o outro lado do espelho de McLyntock. Também ele pode oscilar facilmente entre o charmoso e o viperino, mas não está tão empenhado como McLyntock em redimir-se. De momento, não se importa em acompanhar a caravana, não só porque tem uma dívida de vida para com McLyntock, como também ficou interessado em Laura, que acaba por ser ferida pelos índios.</div>
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Após as várias adversidades da primeira etapa do percurso, a caravana chega a Portland, então uma tranquila cidade. Depois, alugam um barco, comandado pelo bêbado mas simpático Mello (<b>Chubby Johnson</b>) – já agora cujo criado negro, extremamente bronco, é um típico estereótipo que hoje dá arrepios de tão racista que é – e seguem rio abaixo. Laura, ferida, permanece na cidade, juntamente com Cole que, pouco interessado na colonização, vê possibilidades nesta cidade em expansão onde também conhecemos um charmoso jogador profissional chamado Trey (um jovem <b>Rock Hudson</b> que é presença e pouco mais). O plano é que Laura, quando se curar, faça o resto da viagem e leve consigo os mantimentos comprados em Portland a Hendricks (<b>Howard Petrie</b>). Sem esses mantimentos os colonos dificilmente conseguirão sobreviver ao primeiro inverno, antes do cultivo dar os seus primeiros frutos.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Em teoria, ‘Bend of the River’ teria todo o enquadramento necessário para ser mais um extraordinário western psicológico (...) Contudo, o filme acaba por nunca aprofundar devidamente esta luta interna, nem a forma como ela condiciona a relação de McLyntock com as outras personagens. O segredo do seu passado é apenas algo ao qual o filme volta confortavelmente de vez em quando em diálogos cíclicos e sem grande consequência."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg81zyq6eDuOIgyO5lCD7C8LzLgHVea3rNDTmKmM7GUFszbGelNjBqw42D5ZW8FeLROdZjSI8NNEEMQQocrD_1ojOocGzC2s7-nKpGJA8Vv0SHWrKwmSIIFua6EdlCfQiwfUsBrxhgHkoKJ/s1600/bend+river+-+lipstick.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="786" data-original-width="1068" height="293" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg81zyq6eDuOIgyO5lCD7C8LzLgHVea3rNDTmKmM7GUFszbGelNjBqw42D5ZW8FeLROdZjSI8NNEEMQQocrD_1ojOocGzC2s7-nKpGJA8Vv0SHWrKwmSIIFua6EdlCfQiwfUsBrxhgHkoKJ/s400/bend+river+-+lipstick.jpg" width="400" /></a>O filme tem dinamismo no próprio movimento da caravana, nesse constante rumar em frente por terra ou por mar, montanha acima e montanha abaixo, mas isso é muito menos importante que a disputa que está para vir. Daí haver um imediato salto temporal para alguns meses mais à frente, quando vemos já a nova comunidade em funcionamento, mas a sentir a sombra da chegada do inverno, visto que Laura e os mantimentos nunca apareceram. Assim, começa a verdadeira odisseia do filme, a odisseia de McLyntock para descobrir o que se passou e conseguir salvar a vida e o sonho dos colonos. E pode ser que ao fazê-lo, consiga salvar-se também a si próprio.</div>
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Desta forma, regressa a Portland, para descobrir o verdadeiro motivo pelo qual os mantimentos nunca foram enviados. Novos interesses reinam agora na cidade, e os preciosos mantimentos têm muito valor para várias facções. McLyntock, com a ajuda de Cole, Tray e Mello, consegue começar uma segunda caravana para transportar os mantimentos, mas a tarefa é ainda mais árdua. Hendricks não está disposto a abdicar deles tão facilmente; os garimpeiros das montanhas também estão interessados em obtê-los, por qualquer meio possível, para eles próprios poderem sobreviver ao Inverno; e a tentação do dinheiro fácil pode corromper até os melhores amigos. Mas não pode corromper o próprio McLyntock, custe o que custar, não importa o sacrifício. Contudo, para poder terminar o seu trabalho e salvar os colonos, precisa de todos os seus velhos instintos de volta….</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNFJyTDY9j9Ti46Ftid_v5clORFuw5aMdcScHYuRAq7P6pI-WnLRF1ySWmw0Cb_B4xN1r6fJtiODkoGmnszkDs2jXj98uvupRw3oxylM38ZaX89RYcTQ6sIxqrvAdgKrv-8raet_69-Mt7/s1600/j0YuhRb1Ilz3TrjQ3qeGv2Q8Rtt.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="830" data-original-width="1475" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNFJyTDY9j9Ti46Ftid_v5clORFuw5aMdcScHYuRAq7P6pI-WnLRF1ySWmw0Cb_B4xN1r6fJtiODkoGmnszkDs2jXj98uvupRw3oxylM38ZaX89RYcTQ6sIxqrvAdgKrv-8raet_69-Mt7/s400/j0YuhRb1Ilz3TrjQ3qeGv2Q8Rtt.jpg" width="400" /></a></div>
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Em teoria, ‘Bend of the River’ teria todo o enquadramento necessário para ser mais um extraordinário western psicológico. Aliás, há momentos de puro brilhantismo no retrato da intrínseca dualidade de <b>Stewart</b>, à imagem do que havia acontecido em <b>‘Western ‘73’</b>. Na fantástica cena em que é traído por Cole e jura vingança, por exemplo, <b>Stewart</b> consegue manter simultaneamente uma fria calma calculista, expressa nos seus vibrantes olhos azuis, e uma nervosa ânsia desesperada, alimentada por um prazer macabro, como se não conseguisse esperar pelo momento para começar a executar a sua vingança. Contudo, o filme acaba por nunca aprofundar devidamente esta luta interna, nem a forma como ela condiciona a relação de McLyntock com as outras personagens. O segredo do seu passado é apenas algo ao qual o filme volta confortavelmente de vez em quando em diálogos cíclicos e sem grande consequência. As outras personagens ou não sabem quem ele era, ou aceitam-no rapidamente quando o descobrem; e nunca há a questão de se McLyntock alguma vez irá abandonar os colonos a troco do dinheiro. O único drama que ele vive é o de reactivar os seus instintos de novo, e se pode fazê-lo e ter a redenção ao mesmo tempo. Mas essa resposta é fácil de obter, para o filme e para o espectador.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O que falta ao filme do ponto de vista emocional e psicológico é largamente compensado, do ponto de vista do drama cinematográfico, pelo extraordinário encadeamento das suas sequências e pelo intenso ritmo que Mann imprime em todas elas. Não há praticamente um segundo de descanso. As personagens saltam constantemente da frigideira para o fogo, enquanto todas as lendas do Oeste (...) convergem para o epicentro desta aventura."</span></b></div>
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Do mesmo modo, as várias relação cruzadas, quer as amorosas (o triângulo McLyntock-Laura-Cole, e a relação entre Trey e a irmã mais nova de Laura), quer as de amizade (McLyntock com Cole; McLyntock com Jeremy) nunca são realmente desafiadas pelos eventos nem pelos fantasmas do passado. É tudo preto no branco, ninguém foge à sua verdadeira natureza, mesmo que o argumento de quando em quanto procure – sem grande convicção – enganar o espectador que sim. E portanto o desfecho emocional é bastante claro, e bastante previsível, para todas as personagens.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivxeMf8wp__fxEX-2d78MZiunVKVzgShUqOHPzpDHGiuvYZi0UfIotFQm6yqU0temFdiTXrgQKpc4VEafQn9zfDQHxvHkX3eBlLzX6-5yx41j8XqsReH20N1JYyP8mscli2tUfUi5eS56W/s1600/river.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="638" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivxeMf8wp__fxEX-2d78MZiunVKVzgShUqOHPzpDHGiuvYZi0UfIotFQm6yqU0temFdiTXrgQKpc4VEafQn9zfDQHxvHkX3eBlLzX6-5yx41j8XqsReH20N1JYyP8mscli2tUfUi5eS56W/s400/river.png" width="400" /></a>Talvez por estes motivos, ‘Bend of the River’ tenha sido um filme recebido de forma relativamente morna pelos críticos contemporâneos. No entanto, não escapa a ninguém o motivo pelo qual foi cimentando a sua reputação com o passar das décadas, principalmente, digo eu, quando anos mais tarde os filmes de acção se começaram a reger pelas mesmas regras estruturais. O que falta a ‘Bend of the River’ do ponto de vista emocional e psicológico é largamente compensado, do ponto de vista do drama cinematográfico, pelo extraordinário encadeamento das suas sequências e pelo intenso ritmo que <b>Mann </b>imprime em todas elas. Não há praticamente um segundo de descanso. As personagens saltam constantemente da frigideira para o fogo, enquanto todas as lendas do Oeste – os índios, os garimpeiros, os cowboys, os <i>desperados</i>, os colonos, os jogadores – convergem para o epicentro desta aventura.</div>
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Não é que hajam propriamente cenas grandiosas (não há estampadas de búfalos ou a chegada da cavalaria, e até o ataque dos índios é invisível, sempre visto da perspectiva dos colonos). Mas <b>Mann </b>é um mestre a gerir a cadência das tensões no seio deste conjunto confinado de personagens. Para McLyntock há sempre mais um obstáculo a vencer, há sempre um elemento (humano ou da natureza) a trabalhar contra ele. E mesmo nos breves momentos de pausa (uma conversa à fogueira, um olhar para a natureza no dorso de um cavalo) há uma subjacente noção de perigo que nunca abandona as personagens. Elas sabem que há sempre um risco em vias de se materializar. E o espectador sente esse risco, através do enquadramento, é certo, mas principalmente – e isto é o mais importante – através das personagens.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Tudo funciona à superfície; as excelentes localizações, a brilhante fotografia, as convincentes actuações e o argumento acelerado e bem montado. E a aventura assenta num pilar de entretenimento cujo objectivo é manter o espectador seduzido, cena a cena, diálogo a diálogo (...) Não está aqui uma grande alegoria do Oeste, e essa é talvez a sua maior falha. Mas está aqui uma pura aventura"</span></b></div>
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Tudo somado ‘Bend of the River’ é um filme que surpreende. Pessoalmente, acho-o fantástico. Talvez não seja o pacote completo de outros grandes westerns de <b>Mann </b>mais duros como <b>‘Winchester ‘73’</b> e os subsequentes <b>‘The Naked Spur’ (1953)</b> ou ‘<b>The Man from Laramie’ (1955)</b>, mas é um filme que tem garra e virtuosidade cinematográfica. Como filmes de acção de décadas seguintes, está menos preocupado com o conteúdo e mais com a forma. Mas que forma! Tudo funciona à superfície; as excelentes localizações, a brilhante fotografia, as convincentes actuações e o argumento acelerado e bem montado. E a aventura assenta num pilar de entretenimento cujo objectivo é manter o espectador seduzido, cena a cena, diálogo a diálogo, para que ele mal possa esperar para saber o que vai acontecer a seguir. O filme ataca, continuamente, com novas reviravoltas, sem precisar para isso de abdicar da sua coesão e qualidade visual. Não está aqui uma grande alegoria do Oeste, e essa é talvez a sua maior falha. Mas está aqui uma pura aventura, uma fantasia heróica assente no espírito e nas lendas do velho Oeste. Não precisa de efeitos visuais. Só precisa de uma inerente força motriz assente nos princípios básicos do grande cinema. E isso é suficiente para 90 minutos bem passados, mais de meio século depois.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-79503227377631933302018-09-29T12:56:00.000+01:002018-10-13T00:50:48.707+01:00Hacksaw Ridge<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzIPwM6qvHn992Wt6KMQecgwPZAvMBLhhbzS9OrO4ffnq7ZmhgyccY7pR3AKNvn3K4zmcxEFGqXMGSPBNDfFN8HDklKaXu_OYsTymemGcyqg15Ple_jdjddeu7bxHvkfHcjdeNegag6qBm/s1600/81HyISZsFsL._SY679_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="679" data-original-width="440" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzIPwM6qvHn992Wt6KMQecgwPZAvMBLhhbzS9OrO4ffnq7ZmhgyccY7pR3AKNvn3K4zmcxEFGqXMGSPBNDfFN8HDklKaXu_OYsTymemGcyqg15Ple_jdjddeu7bxHvkfHcjdeNegag6qBm/s400/81HyISZsFsL._SY679_.jpg" width="257" /></a></div>
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<b>Ano:</b> 2016</div>
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<b>Realizador: </b>Mel Gibson</div>
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<b>Actores principais:</b> Andrew Garfield, Sam Worthington, Luke Bracey </div>
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<b>Duração:</b> 139 min</div>
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<b>Crítica:</b> A época dos Óscares do final de 2016 e início de 2017 foi a primeira em muitos anos, por motivos familiares, em que não fui extensamente ao cinema ver os filmes nomeados. De todos os filmes nomeados nesse ano (no qual <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/02/la-la-land.html"><span style="color: blue;"><b>‘La La Land’</b></span></a> foi o grande vencedor mas foi <b>‘Moonlight’</b> que ganhou Melhor Filme), aquele que mais tive pena de não ir ver ao cinema foi ‘Hacksaw Ridge’. Não pelas críticas que teve ou pelos prémios que recebeu, mas porque sempre fui um fã, e continuo a ser, de <b>Mel Gibson</b>.</div>
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Para mim, <b>Mel Gibson</b> foi o melhor actor de comédias de acção da sua geração, mas também provou ser um grande artista cinematográfico, não só quando passou a fazer filmes de teor mais intenso, mas principalmente quando começou a realizar. Não parecem haver dúvidas que <b>‘Braveheart’ (1995)</b> é um dos melhores filmes da década de 1990 (e é um dos meus filmes preferidos), e <b>‘Passion of the Christ’ (2004)</b> e <b>‘Apocalypto’ (2006)</b>, independentemente das controvérsias que rodearam um e outro, são visualmente ousados, desafiando as convenções de uma morna e rígida Hollywood. Assim, foi com grande pena que assisti, a partir de 2006, ao fechar de portas a este grande artista quando, no meio de outras histórias de abuso doméstico e várias declarações infelizes, foi divulgada na internet uma gravação de um <b>Gibson </b>bêbado a dizer ao polícia que o parou na estrada que a culpa das guerras do mundo era dos judeus.</div>
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Obviamente que não considero correcta esta atitude de <b>Gibson</b>, mas como cidadão do mundo compreendo que as pessoas com problemas de alcoolismo e também bipolaridade (como provou mais tarde ser o caso), têm, precisamente, um problema, e merecem uma segunda oportunidade. Para além disso, apesar das várias histórias que circularam sobre <b>Gibson</b>, não estamos a falar de crimes de muito maior gravidade como aqueles que o movimento #MeToo agora denuncia. Recordemos que <b>Robert Downey Jr.</b>, por exemplo, até chegou a estar na prisão no início dos anos 2000 quando a sua dependência das drogas atingiu o pico, mas agora é o actor mais popular e mais bem pago de Hollywood. Recordemos que as gravações dos insultos de <b>Christian Bale</b> a um técnico no <i>plateau </i>foram rapidamente esquecidas pelo público. Drogas e insultos anónimos Hollywood parece tolerar e perdoar, mas xenofobia não. Assim sendo, foram precisos muitos anos – e inúmeras desculpas públicas e <i>meas culpas</i> depois – para <b>Gibson </b>conseguir voltar a cair nas boas graças dos estúdios e do público mundial.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Por um lado é um relativamente satisfatório, embora não transcendente, filme de guerra, que sabe carregar nos botões certos para manter o espectador interessado. Por outro, tem muitos dos (maus) tiques que associamos a estas histórias inspiracionais, o que lhe tira credibilidade e intensidade dramática"</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDd4DhXIvJbDGwb9R-suCrVv6H5FkeBdyAC0O4fHNkCJVghXXE2TEkGWZIBzzHFHiirt9Hv49HdBMCJt9qZ8BjjRxt2HnXUFKYCjYuzAugwPtvXx1YIAbh4MoOx5tTPjn_Xm1iXQTbSfVr/s1600/0c86c624-54c8-11e6-a718-005056b70bb8.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="625" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDd4DhXIvJbDGwb9R-suCrVv6H5FkeBdyAC0O4fHNkCJVghXXE2TEkGWZIBzzHFHiirt9Hv49HdBMCJt9qZ8BjjRxt2HnXUFKYCjYuzAugwPtvXx1YIAbh4MoOx5tTPjn_Xm1iXQTbSfVr/s400/0c86c624-54c8-11e6-a718-005056b70bb8.jpg" width="400" /></a></div>
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Não sabemos se <b>Gibson </b>se arrependeu verdadeiramente das suas palavras, ou se apenas o fez publicamente para poder regressar. Queremos acreditar que a primeira hipótese é a verdadeira, especialmente tendo em conta a sua qualidade como artista cinematográfico. Pessoalmente, acho que se deve fechar a porta a famosos que cometeram crimes graves (afinal são criminosos), embora não possamos, nem devamos apagar o seu legado. Por exemplo, não ponho em questão nunca mais voltar a ver <b>‘The Ususal Suspects’</b> só porque <b>Kevin Spacey</b> provou ser um filho da… Claro que o verei porque é um grande filme. Mas não me importarei nada se ele não voltar a fazer outro filme. Contudo, sempre achei o caso de <b>Gibson</b>, e de outros como ele, diferente. E portanto sempre aguardei pelo momento em que pudesse reconhecer o que fez de errado, pelo momento do seu perdão e pelo momento do seu regresso. É só ver o seu filme de regresso como actor, o fantástico <b>‘Edge of Darkness’ (2010)</b> para percebermos que seis anos foi demasiado tempo para estarmos sem <b>Mel Gibson</b>. Mesmo assim, justamente, a sua integração tem sido lenta, em filmes de acção externos aos grandes estúdios, como <b>‘Get the Gringo’ (2012)</b>, <b>‘Machete Kills’ (2013)</b>, <b>‘The Expendables 3’ (2014)</b> ou <b>‘Blood Father’ (2016)</b> onde está mais a cumprir um estereótipo do que verdadeiramente a inovar. Mas faltava ainda mais uma coisa. Faltava o regresso do <b>Gibson </b>realizador. E isso finalmente se deu em 2016, dez anos depois de <b>‘Apocalypto’</b>.</div>
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Quando ‘Hacksaw Ridge’ começou a ser promovido, apercebi-me que o nome de <b>Gibson</b>, provavelmente por causa desta longa polémica, não estava a ser mencionado em lado nenhum. No trailer e no poster lia-se “Do galardoado realizador de ‘Braveheart’”, mas não o seu nome explicitamente. Ao mesmo tempo, o filme teve um orçamento bastante baixo para o que é norma num grande épico bélico (apenas 40 milhões) e foi principalmente produzido e filmado na Austrália natal de <b>Gibson</b>. Ou seja, não era inteiramente claro se <b>Gibson </b>estava ou não a ceder às convenções do ‘filme comercial’, que as seis nomeações que eventualmente recebeu para os Óscares (ganhou duas estatuetas: montagem e som) pareciam fazer querer que sim. E, como não vi o filme na altura, foi uma dúvida que mantive durante dois anos. Era ‘Hacksaw Ridge’ mais um filme ousado de um realizador com um estilo visual bem vincado; ou era apenas mais um dos “filmes inspiracionais, baseados em factos verídicos” que todos os anos inundam os Óscares com a sua superficialidade banal? Pois bem, agora que vi finalmente ‘Hacksaw Ridge’, considero que a resposta a esta pergunta não é ainda clara, porque o filme articula os dois estados. Por um lado é um relativamente satisfatório, embora não transcendente, filme de guerra, que sabe carregar nos botões certos para manter o espectador interessado. Por outro, tem muitos dos (maus) tiques que associamos a estas histórias inspiracionais, o que lhe tira credibilidade e intensidade dramática.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX5Ovwb_lKdEgVg-rigdrR7J9bVu_Hn9UR3W9sx1RsseVf5qUgvFJ4PYmrgp5KDlMZXEKEWcOGEoLcI6tS93JejIXPnCjjUV3Qv7qXO66uTpbT3dF2icQxZRmqIHuriWynz4OZHOie9Jad/s1600/MV5BMTU3NDgxNDcyN15BMl5BanBnXkFtZTgwODQwNDU0MDI%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX5Ovwb_lKdEgVg-rigdrR7J9bVu_Hn9UR3W9sx1RsseVf5qUgvFJ4PYmrgp5KDlMZXEKEWcOGEoLcI6tS93JejIXPnCjjUV3Qv7qXO66uTpbT3dF2icQxZRmqIHuriWynz4OZHOie9Jad/s400/MV5BMTU3NDgxNDcyN15BMl5BanBnXkFtZTgwODQwNDU0MDI%2540._V1_.jpg" width="400" /></a>‘Hacksaw Ridge’ conta a história de Desmond Doss (<b>Andrew Garfield</b>) que, ao contrário do que o filme afirma, nem foi o primeiro nem o último objector de consciência a servir no exército americano, embora tenha sido certamente o mais heróico e o mais galardoado. Após uma sequência que nos mostra o inferno da guerra em câmara lenta, vemos alguns quadros representativos da sua infância. Estes quadros não estão particularmente bem trabalhados em termos emocionais (que épico moderno os trabalha?) mas servem para estabelecer um conjunto de pontos que darão jeito mais à frente. O primeiro é que Doss é atlético e corajoso. Claro, se fosse apenas um <i>nerd </i>plácido e religiosamente devoto, seria muito mais difícil para o público aceitar os seus futuros actos de heroísmo. Assim, quer seja verdade ou não, o filme estabelece que ele pode ser todas essas coisas num único pacote de (quase) perfeição. O “quase” está no facto de em criança ter tido uma veia violenta. Numa natural escaramuça, fere gravemente o irmão, o que o tornará, por entre os remorsos, muito mais consciente das consequências da violência. Isso ajuda a justificar a sua escolha de mais tarde se recusar a usar armas.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"Garfield tem um charme desarmante como o campónio simplório; uma espécie de Forest Gump mas com uma verdadeira inteligência que por qualquer motivo esconde em prol desse charme. Contudo, o seu romance [<i>com Dorothy</i>] parece bastante incredível (...) </b><b>Este é um daqueles filmes em que as personagens secundárias têm propósitos claros: dizer “<i>frases trailer</i>” ao herói para justificar as suas acções, antes de desaparecerem sem deixar rasto."</b></span></div>
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Igualmente, o filme apoia essa justificação no facto do seu pai, um traumatizado veterano da Primeira Grande Guerra que há muito cedeu ao vício da bebida (<b>Hugo Weaving</b>), recorrer de vez em quando à violência contra a sua família. Isso não impede contudo que seja esta personagem, em pouco naturais momentos de lucidez (apesar da qualidade da interpretação de <b>Weaving</b>) a oferecer alguns discursos emotivos e introspectivos sobre os horrores da guerra, particularmente quando a Segunda Guerra Mundial se inicia e os jovens da cidade, incluindo Desmond e o seu irmão, correm para se alistar. Este é um daqueles filmes em que as personagens secundárias têm propósitos mais do que claros: dizer “frases trailer” ao herói para justificar as suas acções, antes de desaparecerem sem deixar rasto.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXeOFuecUgcx_aDsRnfRJVvjTPgstNVjNshUD3_TuYub_l9Gs5zKvKpf51xkIZYjxbkusrAbx_YDN5jmSN3yyDQzxQ9vVBD2UDwSlQwSGjY0wWKAFE2WaRlpGk7BUZrWwfRN0As93u44BD/s1600/andrew-garfield-and-teresa-palmer-in-hacksaw-ridge-2016.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1497" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXeOFuecUgcx_aDsRnfRJVvjTPgstNVjNshUD3_TuYub_l9Gs5zKvKpf51xkIZYjxbkusrAbx_YDN5jmSN3yyDQzxQ9vVBD2UDwSlQwSGjY0wWKAFE2WaRlpGk7BUZrWwfRN0As93u44BD/s400/andrew-garfield-and-teresa-palmer-in-hacksaw-ridge-2016.jpg" width="400" /></a></div>
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Do mesmo modo, o filme perde algum tempo a contextualizar o romance entre Desmond, agora adulto, e a enfermeira Dorothy (<b>Teresa Palmer</b>, talvez no melhor papel da sua jovem carreira). É verdade que <b>Andrew Garfield</b> tem um charme desarmante como o campónio simplório; uma espécie de Forest Gump mas com uma verdadeira inteligência que por qualquer motivo esconde em prol desse charme. Contudo, o seu romance parece bastante incredível. Em circunstâncias normais Dorothy acharia bastante estranho e incomodativo este rapaz “persegui-la” e olhar para ela de forma tão intensa. Se ele fosse feio seria simplesmente <i>creepy</i>. Mas como é o <b>Andrew Garfield</b> o filme pretende que houve ali algum tipo de química que nunca é bem sentido. Pior ainda, apesar destas cenas servirem para humanizar Desmond, justificar as suas razões e provar mais uma vez a sua espectacularidade como ser humano, a verdade é que este enquadramento não tem consequência. Dorothy é mais uma personagem, tal como o pai, que não voltamos a ver (nem mesmo no final do filme), uma vez Desmond obtém o que quer, ir para a Guerra.</div>
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Entretanto, Desmond recebeu o seu treino militar em típicas cenas em que ficamos a conhecer os soldados da sua companhia (cada um com a sua “alcunha” e servindo um estereótipo), o seu capitão Glover (<b>Sam Worthington</b>) e o seu sargento (uma surpreendente interpretação de <b>Vince Vaughn</b>, que claramente adora estar a berrar ordens aos seus inferiores). O problema é que Desmond, apesar de querer servir, recusa-se a empunhar uma arma, nem mesmo para treinar. Assim, a primeira metade do filme aborda extensamente a forma como é maltratado e excluído, e as pressões que sofre para desistir do exército. Mas com uma força de vontade inaudita (e extremamente conveniente, do ponto de vista cinematográfico) Desmond persiste. E mesmo perante o tribunal militar manterá a sua convicção, que acaba por a aceitar.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"</b><b>Hacksaw Ridge’ é gerido com a segurança de um grande realizador, que o monta com coerência e dinamismo (...) Contudo, há uma desapontante simplicidade neste, chamemos-lhe, conto de fadas bélico. (...) A história que lhe dá origem pode ser contada de uma forma tão simples e linear (...), que o filme tem manifesta dificuldade em criar uma história fílmica interessante, personagens que transcendam a tela, e um enquadramento bélico intenso e credível."</b></span><b>"</b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyRXYXzDDNYREtcTI3ETTlFGMGMr6N6slAixNiMBcPwvkFNw513K7jOrwLw7n8mjDOkGkMDjx_rvlF7qoakFEOMSBJKs6f6pb1MVl_pv_Ub2pd5jXkOWhR-5372LZTh4_e5VzPA3u5Mz_x/s1600/MV5BMTg0ODc2NTUyOV5BMl5BanBnXkFtZTgwODEwNjc0MDI%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyRXYXzDDNYREtcTI3ETTlFGMGMr6N6slAixNiMBcPwvkFNw513K7jOrwLw7n8mjDOkGkMDjx_rvlF7qoakFEOMSBJKs6f6pb1MVl_pv_Ub2pd5jXkOWhR-5372LZTh4_e5VzPA3u5Mz_x/s400/MV5BMTg0ODc2NTUyOV5BMl5BanBnXkFtZTgwODEwNjc0MDI%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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Assim, na segunda metade, Desmond ruma mesmo à guerra e quer o destino que vá parar precisamente a um dos cenários mais sangrentos do final do conflito no Pacífico: a Batalha de Okinawa. Este contexto nunca é explicado e talvez deveria, visto que tudo o que o filme nos mostra é o planalto de Hacksaw. Os soldados americanos têm de subir uma gigantesca escarpa por uma corda e lá em cima, obviamente, são carne de <i>p’ra canhão</i> dos japoneses. Porque é que os japoneses nunca cortaram a corda e deixam os americanos subir uma e outra vez nunca é explicado. Porque é que os americanos têm de subir sempre por ali também não (não havia outro caminho)? Sem justificações (que provavelmente havia) o que o filme mostra parece uma gigantesca e incredível parvoíce militar (dos dois lados), que mais uma vez funciona contra o filme como obra de ficção.</div>
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Mas corda acima vão Desmond e o seu pelotão, para uma vibrante, mas estranhamento pouco intensa e sangrenta cena de guerra, que mesmo assim constitui, obviamente, a melhor parte do filme. No meio do inferno, e enquanto seguimos pequenas tramas dos vários soldados na sua luta pela sobrevivência (por vezes perdemos o rasto de Desmond por alguns minutos), este irá mais do que cumprir o seu papel. O filme não o mostra a hesitar, nem a temer, nem a vacilar. É um herói fílmico, mais do que um herói humano (esse que supostamente estaria a ser homenageado). Um médico sempre presente, faz escolhas que salvam vidas. Mais tarde, quando por via das circunstâncias fica no topo da escarpa quando a companhia bate em retirada, conceberá o feito heróico que o levaria a ser condecorado e relembrado para a posteridade. Começa a procurar os feridos abandonados, e por meio de cordas e ao coberto da noite, começa a baixá-los, um a um, para a segurança. O filme faz querer que é esse acto heróico que inspira as tropas a fazerem na manhã seguinte mais um grande assalto, para tomarem definitivamente Hacksaw, e mudarem o curso da Guerra…</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2CdADlL1iYrlmg9Og2biQEHYrnW1eMdn2uOthgLLTqUrNOZNqcS3zN6hkCWaslceIpfugaPAwRt6U_Q2_22Pj1rxWrlp_cuMIZu2HEwVzsivsq-EvfMlDv2gnm-WwoBgxu2Kb4wAHihr5/s1600/Hacksaw_Ridge-103924117-large.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="1040" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2CdADlL1iYrlmg9Og2biQEHYrnW1eMdn2uOthgLLTqUrNOZNqcS3zN6hkCWaslceIpfugaPAwRt6U_Q2_22Pj1rxWrlp_cuMIZu2HEwVzsivsq-EvfMlDv2gnm-WwoBgxu2Kb4wAHihr5/s400/Hacksaw_Ridge-103924117-large.jpg" width="400" /></a></div>
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No global, ‘Hacksaw Ridge’ é um filme que é gerido com a segurança de um grande realizador, que o monta com coerência e dinamismo suficiente para manter o espectador atento durante as suas duas horas de duração. Contudo, ao mesmo tempo, percebe-se perfeitamente porque é que este foi o filme que permitiu o regresso de <b>Gibson </b>à ribalta de Hollywood. Longe da pura ousadia visual de <b>‘Braveheart’</b> ou da intensidade emocional de outros filmes de guerra onde o próprio <b>Gibson </b>havia entrado como actor (particularmente <b>‘Gallipoli’, 1981</b>, e o mais esquecido <b>‘We Were Soldiers’, 2002</b>), há uma desapontante simplicidade neste, chamemos-lhe, conto de fadas bélico. Embora haja intensas cenas de guerra, o filme não é bem, bem, um filme de guerra. A história que lhe dá origem é real (isso é indiscutível), mas é tão invulgar, digamos assim, e pode ser contada de uma forma tão simples e linear (é o primeiro dia “de guerra” de Desmond e pronto), que o filme tem manifesta dificuldade em criar realmente uma história fílmica interessante, personagens que transcendam a tela, e um enquadramento bélico intenso e credível.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"A</b><b>s circunstâncias argumentais não permitem que o filme seja muito mais do que um documentário sobre o lendário soldado Doss (...) </b><b>A sua contextualização emocional nunca é tão cativante quanto deveria ser (...) as outras personagens não têm uma existência individual (...) e há um estranho vazio no final do filme, porque não fecha, ou pelo menos não completa, o arco da personagem. É como se esta tivesse deixado de existir após o dia fatídico em que se tornou um herói. </b><b>Isso, obviamente, é um contrassenso"</b></span></div>
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Ou seja, por mais talento que <b>Gibson </b>tenha como realizador (e aqui prova-o que ainda o tem), as circunstâncias argumentais não permitem que o filme seja muito mais do que um documentário sobre o lendário soldado Doss. Aliás, na sequência final ouvimos os verdadeiros heróis (incluindo o verdadeiro Doss) a prestar testemunhos directamente para a câmara de uma forma que nos fascina tanto (ou mais) do que aquilo que o filme nos havia mostrado nas duas horas anteriores. Precisamente por isso, porque é pouco mais que uma reconstituição, há uma enorme artificialidade na trama que o filme nunca consegue sacudir, e várias incongruências gritantes, como aquelas que já mencionei em cima, entre outras, como por exemplo nenhum soldado se lembrar de subir ao planalto para ajudar quando vê, ao longo de uma noite inteira, quase cem soldados feridos a serem baixados, um a um, por uma corda. A realidade por vezes é mais estranha que a ficção, e porque o filme aborda cegamente o percurso de Doss, apenas focado em alimentar a sua lenda, não parece notar na estranheza de inúmeros pormenores que, fosse o filme totalmente fictício, certamente os argumentistas limariam antes das filmagens.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvT8XQwCA-G45FhyphenhyphenVBiVWuQYGH8PQtng9zt5KvHn9iso4uGWIP_Dz77A9YbqYu62V6OWvoXCqsOZ3l07IxDrl1yFtt6An4IExVPvdwrQ4asb7lQAiPFb7Li6EnqfY6u9zdVtmy1KEAYADk/s1600/Hacksaw-Ridge.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="500" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvT8XQwCA-G45FhyphenhyphenVBiVWuQYGH8PQtng9zt5KvHn9iso4uGWIP_Dz77A9YbqYu62V6OWvoXCqsOZ3l07IxDrl1yFtt6An4IExVPvdwrQ4asb7lQAiPFb7Li6EnqfY6u9zdVtmy1KEAYADk/s400/Hacksaw-Ridge.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo isso concorre para que este ‘Hacksaw Ridge’, que devia ser uma grande celebração do heroísmo americano, seja um filme algo desapontante. Na superfície, mais do que cumpre o seu papel, visto que está bem fotografado, possui boas actuações, tem uma maravilhosa palete sonora (um Óscar há muito devido para <b>Kevin O'Connell</b> na sua 21a nomeação) e até tem interessantes sequências bélicas, muito embora, verdade seja dita, após <b>‘Saving Private Ryan’</b> e <b>‘The Thin Red Line’</b> tudo passou a parecer frouxo em comparação no cinema americano. Contudo, o filme tem uma poderosa afinidade ao padrão do “filme inspiracional”, padrão esse que continuamente se impõe para dominar as cenas. E este <b>Gibson </b>deixa-o placidamente. Duvido que o antigo <b>Gibson </b>o deixaria. Este é sem dúvida o seu pior filme dos cinco que já realizou.</div>
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A contextualização emocional de Desmond nunca é tão cativante quanto deveria ser (sendo ele um herói); é tão imaculada, a sua personalidade é tão simples e terra-a-terra, e a sua atitude perante os horrores da guerra é tão plácida que praticamente deixa de ser humana. Ao mesmo tempo, as outras personagens não têm uma existência individual; existem apenas para alimentar o heroísmo de Desmond. E por fim, há um estranho vazio no final do filme, porque o filme não fecha, ou pelo menos não completa, o arco da personagem. É como se esta tivesse deixado de existir após o dia fatídico em que se tornou um herói. É como se a sua existência só tivesse sentido até àquele dia. Isso, obviamente, é um contrassenso, porque o objectivo de uma lenda de heroísmo é precisamente que se perpetue, que inspire outras gerações. Como este filme está feito, há uma enorme dificuldade em que isso possa acontecer.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"Na superfície, mais do que cumpre o seu papel, visto que está bem fotografado, possui boas actuações, tem uma maravilhosa palete sonora e até tem interessantes sequências bélicas (...) Mas p</b><b>reso aos factos e menos à emoção, nunca consegue ter o grau de intimidade para tocar emocionalmente (...) E não conseguindo isso (...), nunca consegue ser tão excitante ou cativante ou até inspirador quanto supostamente deveria ser. É o paradoxo de ‘Hacksaw Ridge’.</b></span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFqxWBfomJZUWlyQ8apkihgYeTpHNw4wHyHN1wAUgOkNkJHK-0QqxK80-BqECFfggvf4oAnzvfGiEsuX_snRRxxFlG34PyHkDnI5zZiyNivdh8p19P5FWI5lsTTQJdPtxuu9IBDf6usxCi/s1600/hacksawridge-mv-15.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="1040" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFqxWBfomJZUWlyQ8apkihgYeTpHNw4wHyHN1wAUgOkNkJHK-0QqxK80-BqECFfggvf4oAnzvfGiEsuX_snRRxxFlG34PyHkDnI5zZiyNivdh8p19P5FWI5lsTTQJdPtxuu9IBDf6usxCi/s400/hacksawridge-mv-15.jpg" width="400" /></a></div>
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<b>‘Sully’</b>, de <b>Clint Eastwood</b>, do mesmo ano, é um filme com propósitos semelhantes e uma estrutura fílmica análoga. Mas aí sentimos a glória do feito, acreditamos nele, sentimos o seu peso cena após cena, e por causa disso sentimo-nos inspirados. ‘Hacksaw Ridge’ até pode ter a maior parte dos elementos para ser um dos mais interessantes filmes de guerra “comerciais” dos últimos anos, mas possui essa falha suprema. Não consegue tornar cinematicamente credível esta história invulgar. O filme inspira por definição, porque a maior parte dos espectadores ficou a conhecer esta história pela primeira vez, e é uma história realmente tocante. Mas a verdade é que esse poder é externo ao filme. Já existia na lenda de Desmond. O filme em si não consegue reproduzi-lo com sucesso, através da forma como escolhe recriar o feito cinematograficamente. Fosse esta uma história fictícia, o filme seria desconsiderado como mero sentimentalismo heróico, com pouca profundidade.</div>
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Muitos críticos actuais criticam os filmes clássicos baseados em histórias verídicas por tomarem demasiadas liberdades argumentais. É verdade que podiam “inventar” a maior parte dos eventos, mas não mexiam um milímetro na essência das personagens que estavam a retratar, ao mesmo tempo que se construíam com classe e qualidade cinematográfica. Hoje em dia, há muita necessidade de abrir os filmes com as letras “baseado em factos verídicos”, mas os produtores esquecem-se que isso não é suficiente para criar uma obra de cinema duradoira. Para fazer um bom filme é preciso muito mais. E este ‘Hacksaw Ridge’ não o tem. Preso aos factos e menos à emoção, nunca consegue ter o grau de intimidade para tocar emocionalmente, ao contrário de muitos filmes baseados em histórias fictícias. E não conseguindo isso, e visto que a personagem principal não consegue encher a tela (não é um problema da actuação de <b>Garfield</b>, é um defeito da personagem), nunca consegue ser tão excitante ou cativante ou até inspirador quanto supostamente deveria ser. É o paradoxo de ‘Hacksaw Ridge’.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoID4mNAjkmDj1qidtZI_1hUKH-WX1dLj3GbRWH84Tc26Bvx2HUVAnIu12pwedvsX0NxbZ41cGdZqiV_YD1eezCwmt9ZAniv-SQ83fvgpEXJ__jTj-lM-jUjIdwXmcBIGdujv2G1jV-9xd/s1600/MV5BMTk1NjAyNzc5NF5BMl5BanBnXkFtZTgwMjQ0MTc5OTE%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1143" data-original-width="1600" height="285" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoID4mNAjkmDj1qidtZI_1hUKH-WX1dLj3GbRWH84Tc26Bvx2HUVAnIu12pwedvsX0NxbZ41cGdZqiV_YD1eezCwmt9ZAniv-SQ83fvgpEXJ__jTj-lM-jUjIdwXmcBIGdujv2G1jV-9xd/s400/MV5BMTk1NjAyNzc5NF5BMl5BanBnXkFtZTgwMjQ0MTc5OTE%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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Neste momento, de regresso aos grandes palcos, <b>Mel Gibson</b> está associado à realização de dois filmes: a sequela de <b>‘Passion of the Christ’</b> (é mesmo verdade!) e o <i>remake </i>de <b>‘The Wild Bunch’</b>. Num ou noutro estará certamente muito mais à vontade para mostrar todos os seus talentos como realizador e terá certamente mais liberdade criativa, fora das amarras do comercialismo. Ou pelo menos assim o esperamos. Podemos considerar ‘Hacksaw Ridge’ como um ponto de paragem obrigatório para um realizador que precisava de voltar a encontrar o seu norte e o seu público. Mas ficaremos muito mais interessados para ver o que fará a seguir. Ou pelo menos eu ficarei.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-2320024157476347132018-09-15T09:49:00.000+01:002018-09-29T12:57:35.673+01:00A tragédia dos “filmes perdidos”<div style="text-align: justify;">
De vez em quando, quando refiro a alguém a tragédia dos “filmes perdidos”, essa pessoa não sabe de que é que eu estou a falar. É normal que quando às vezes me descuido e começo a falar – quiçá monologar – ao pormenor sobre Cinema, as pessoas se sintam enfadadas, talvez por eu ser uma pessoa enfadonha ou talvez porque é um tema que não lhes interessa particularmente. Cada um tem as suas paixões (se gostássemos todos do mesmo seria uma boa seca), mas tenho pena de descobrir cada vez mais que até os mais dedicados cinéfilos que vou conhecendo nos dias de hoje têm uma visão algo limitada do cinema clássico. Eu sei que o tempo avança, que já passaram 100 anos desde que <b>D.W. Griffith</b> e <b>Chaplin</b> iniciaram as suas carreiras, e que em breve passarão 100 anos desde que <b>Great Garbo</b>, <b>John Ford</b>, <b>Bogart</b>, <b>Howard Hawks</b> e outros tantos eram reis de Hollywood. Mas ser moderno e contemporâneo nunca implicou imediatamente ser bom, e perder o conhecimento do cinema clássico é como deixar de ler <b>Shakespeare</b>, apreciar quadros de <b>Leonardo DaVinci</b> ou ouvir música de <b>Mozart</b>. A boa arte é eterna. A arte má pode ser mediática por uma semana, mas não passa à posteridade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Mas estou a divagar. Estava a falar de “filmes perdidos”, um termo que é geralmente desconhecido para o público que não é um cinéfilo dedicado ou um historiador de cinema. Pois bem, o que é um filme perdido? Um filme perdido é um filme que hoje ninguém pode voltar a ver, pois não sobreviveu qualquer cópia – em qualquer formato que seja – até ao presente. É talvez quase impossível ao espectador contemporâneo conceber que houve uma altura em que não havia, literalmente, acesso a um filme a não ser num ecrã de cinema ou na sala de projecção de um estúdio. Houve uma altura em que o conceito de “cinema em casa” era inexistente ou apenas uma prerrogativa de milionários excêntricos, e onde obviamente não havia televisão, VHS, DVDs, Blu-rays, 4Ks ou a boa e “velha” internet para manter as cópias dos filmes acessíveis, vivas e a circular. Praticamente ninguém podia rever um filme, corrente ou passado, depois de ele sair de exibição.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIiYAAKoRaUAc83gy4Z6QvW31VhHwt_Fx9UluFx1yt8UZOz5jV-ZQsLfSl-iCCDHaL8i950RyzrLTMVfPFM-MjIyblcDYu7gh5C8LimgPIr1kiRrHKF4stxPP2gP9PBGZxjrt5urBsMEWI/s1600/london-after-midnight.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="954" data-original-width="1600" height="380" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIiYAAKoRaUAc83gy4Z6QvW31VhHwt_Fx9UluFx1yt8UZOz5jV-ZQsLfSl-iCCDHaL8i950RyzrLTMVfPFM-MjIyblcDYu7gh5C8LimgPIr1kiRrHKF4stxPP2gP9PBGZxjrt5urBsMEWI/s640/london-after-midnight.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">'London After Midnight' (1927) de Tod Browning com Lon Chaney é um dos mais famosos "filmes perdidos". Em 2002, o canal TCM fez uma reconstituição inteira do filme, baseada no argumento original, utilizando exclusivamente as fotografias de produção sobreviventes</td></tr>
</tbody></table>
Assim sendo, os estúdios não concebiam que um filme pudesse ter alguma utilidade, uma vez terminado o seu período de exibição nos cinemas. Portanto, para quê guardá-los? Os grandes estúdios ainda guardavam as bobinas originais de muitos filmes nos seus gigantescos cofres, mas por motivos meramente interesseiros. Numa altura em que um estúdio precisava de ter uma injecção de capital, os seus maiores sucessos podiam assim ser repostos nas salas de cinema. <b>‘Gone with the Wind’ (1939)</b>, por exemplo, foi oficialmente relançado uma série de vezes (1942, 1947, 1954, 1961, 1967, 1971, 1974…), mas também, se não fosse isso, não havia outra maneira das pessoas reverem este épico clássico, ou partilharem-no com as novas gerações. Contudo, já os pequenos produtores não tinham a mesma prática, principalmente quando os filmes não tinham sido um grande sucesso. Desta forma, a triste verdade é que a maior parte destes filmes não voltava a ver a luz do dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Qualquer cinéfilo (ou pelo menos eu!) tem uma enorme dor no coração quando pensa na quantidade infindável de bobinas de filmes clássicos que foram propositadamente destruídas, por estes motivos, nestas primeiras décadas do século XX. Algumas foram destruídas para libertar espaço nos armazéns dos estúdios. Outras foram derretidas para extrair o valioso nitrato do celuloide (mais uma maneira dos estúdios fazerem dinheiro às custas de um filme). E outros ainda arderam, visto que o material de que a fita era feita era altamente inflamável. Alguns armazéns de estúdios foram vítimas de notórios incêndios (como o da MGM em 1965) que levaram à perda irrecuperável de inúmeros filmes, cujas únicas cópias sobreviventes lá se encontravam. E outros ainda foram simplesmente destruídas só porque sim, porque o cinema era uma arte do momento, não uma arte com uma promessa de longevidade.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desta forma, muitos filmes, incluindo alguns inicialmente dados como perdidos, só sobreviveram até aos dias de hoje porque cópias não originais, muitas vezes de menor qualidade, foram encontradas na propriedade de colecionadores privados, nos cofres de antigos realizadores, produtores ou atores, ou em bibliotecas de velhos cinemas ou de cinematecas que entretanto, com o popularizar da arte do cinema, foram aparecendo. Mesmo assim, estima-se que mais de 75% (sim, é verdade, 75%!!!) dos filmes mudos (pré-1927) estão perdidos para sempre, e há ainda um número considerável de filmes sonoros feitos nas décadas de 1930 e 1940 (estima-se perto de metade) que nunca iremos poder ter a oportunidade de rever.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic6-JuYGSIboEwaQVOFrRWcz7kAJymPZLXpYkOwpzl9WquudqrtacWUPIr3TKWLRjeYm4Y79M9oOcUy3e_lcqUCD-D-m05iLPWM1WrQCDdgPs1eYVb9MI_kUa-n4sF5JZcHLIEAlwtlgg1/s1600/Marx_Brothers_1921.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic6-JuYGSIboEwaQVOFrRWcz7kAJymPZLXpYkOwpzl9WquudqrtacWUPIr3TKWLRjeYm4Y79M9oOcUy3e_lcqUCD-D-m05iLPWM1WrQCDdgPs1eYVb9MI_kUa-n4sF5JZcHLIEAlwtlgg1/s640/Marx_Brothers_1921.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Os irmãos Marx em 'Humor Risk' (1921), há muito considerado perdido. Até há uma lenda que especula que foi o próprio Groucho que destruiu o negativo original</td></tr>
</tbody></table>
Um cinéfilo ou um historiador sabe que inúmeros filmes existiram. Sabe-o porque os registos da sua produção permaneceram, nos arquivos dos estúdios, nas notícias de jornal, nas revistas da especialidade. Sabe-o porque sobreviveram fotografias da produção, ou algumas vezes até o trailer. Mas isso é uma pobre consolação perante a impossibilidade de ver o filme, hoje, agora, tantos anos depois. As pessoas que assistiram a estes filmes nessas décadas do início do século XX certamente não imaginaram, numa noite rotineira, que estavam a ter um privilégio raro, que as gerações futuras não teriam direito. A mim, que tenho uma paixão pelo cinema clássico, é algo que me capta a imaginação. Ser essas pessoas. Assistir a esses filmes. Deter esse conhecimento, agora impossível de obter, de o possuir na palma da mão, ou melhor dizendo, nos olhos, perante uma tela. É fascinante.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Contudo, os cinéfilos também sabem que há sempre o brilho de uma ténue esperança. A esperança do reencontro. A esperança de que algures, esquecido num cofre de uma cinemateca, no armário de um excêntrico colecionador que não faz ideia do conteúdo de todas as bobinas que outrora comprou ou herdou, ou até num celeiro (já aconteceu), possa estar mais uma obra do cinema clássico até hoje considerada perdida, possa estar mais uma peça do puzzle para completar mais um bocadinho do retrato de um artista, de um realizador, de uma era. Recordemo-nos que a versão parcial de <b>‘Metropolis’</b> que sempre conhecemos deu lugar, nem há dez anos, há versão definitiva, cortesia de uma bobina encontrada na Argentina e outra na Nova Zelândia. Recordemo-nos que o <b>‘Oliver Twist’ </b>de 1922 foi reencontrado na Jugoslávia na década de 1970. Recordemo-nos que o primeiro filme de <b>Orson Welles</b>, <b>‘Too Much Johnson’</b>, foi reencontrado em 2013 em Itália. O clássico <b>‘The Old Dark House’ (1932) </b>foi descoberto num cafundo de um cofre nos estúdios Universal. E quando o British Film Institute publicou em 2010 a sua lista dos 75 filmes perdidos mais desejados, isso levou a que pessoas se chegassem à frente com eles: muitas não faziam ideia das raridades que detinham em mãos.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez um dia, desta forma, todos os outros possam ser encontrados. Talvez um dia tenhamos a possibilidade de ver, por exemplo, <b>'Humor Risk' (1921)</b>, uma curta metragem, há muito considerada perdida, que marcou a estreia dos irmãos Marx. E nessa altura, o cinéfilo reencontrará um bocado de si, da sua história, porque a sua história é o cinema que vive e respira. É como se uma parte de nós, cinéfilos, estivesse perdida, à deriva, sem possibilidade de ser encontrada. É como se uma parte de nós não tivesse um lar. Mas pode ser que um dia regresse a casa, e nos possa contar os contornos da sua viagem. Ainda recentemente queria ver se encontrava um filme chamado <b>‘Beware of Blonds’ (1928)</b>. Mas descobri que tudo o que sobreviveu até aos dias de hoje foi este trailer de 40 segundos. Não é bem a mesma coisa. E nada pode colmatar esse vazio, a não ser o reencontro pleno com a obra completa.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="439" src="https://www.youtube.com/embed/dd9vnrvlpD4" width="732"></iframe>
</div>
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Os “filmes perdidos” são uma verdadeira tragédia. A maior de todas, desta arte maior. Mas através da diligência dos grandes historiadores de cinema que não desistem de pesquisar, e se o público ainda continuar interessado, para que essa pesquisa não seja abandonada, pode ser que aos poucos se reconstituam todas as peças deste grande puzzle que foi a história do cinema clássico. E nesse dia, sim, talvez fiquemos um pouco mais completos. Não é apenas uma questão de preservação de uma memória cultural. É a preservação de um legado artístico, e um eterno tributo de reconhecimento aos homens e às mulheres que foram os pioneiros desta arte. Por vicissitudes históricas estão hoje longe de ter o reconhecimento que outrora tiveram, o reconhecimento que tanto merecem. Mas um a um pode ser que o obtenham. A modernidade não é a detentora exclusiva da qualidade. Esta não tem tempos nem eras. Cada novo filme que é encontrado prova-nos isso. Que as buscas prossigam. Os cinéfilos agradecem.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-18737433980493660202018-09-06T01:03:00.000+01:002018-09-15T09:50:43.061+01:00The Guns of Navarone<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUX2B2oO9bIZoshf4pLHMgdSvEnmw7RZsHJE5bZoyh8esVUXo8HFlUmfqrppudDe_XmWAn3f5hGaOLO6R038qMBz9uFsyl6EFC3J7Dfz6w2ewYxfvCSEvfxjB-liMLnFT1IuULUTTJn9Lz/s1600/the-guns-of-navarone-520764l.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1509" data-original-width="961" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUX2B2oO9bIZoshf4pLHMgdSvEnmw7RZsHJE5bZoyh8esVUXo8HFlUmfqrppudDe_XmWAn3f5hGaOLO6R038qMBz9uFsyl6EFC3J7Dfz6w2ewYxfvCSEvfxjB-liMLnFT1IuULUTTJn9Lz/s400/the-guns-of-navarone-520764l.jpg" width="252" /></a></div>
<b>Ano: </b>1961<br />
<br />
<b>Realizador:</b> J. Lee Thompson<br />
<br />
<b>Actores principais:</b> David Niven, Gregory Peck, Anthony Quinn<br />
<br />
<b>Duração:</b> 158 min<br />
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<b>Crítica:</b> Durante a Segunda Guerra Mundial, Hollywood produziu uma série considerável de filmes de guerra, mas cujo intuito, salvo raras excepções, era maioritariamente moralista, por mais heróicas ou dramáticas que fossem as histórias. Na década de 1950, o número de filmes bélicos decresceu, provavelmente porque a sociedade americana, então a iniciar um dos seus maiores períodos de expansão e prosperidade económica, quis voltar as costas aos verdadeiros horrores do conflito, que começavam aos poucos a ser conhecidos. Contudo, com a chegada da década de 1960, o género ‘filme de guerra’ regressou em força, com algumas das maiores entradas da sua história.</div>
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Houve um grande motivo para este regresso, nomeadamente a explosão do género épico, que surgiu com o intuito de atrair o público às salas de cinema depois da massificação da televisão; um último “hurrah!” dos estúdios clássicos em fase decadente e a poucos anos de ou serem desmantelados ou serem absorvidos pelos grandes conglomerados corporativistas da década de 1970. Nestes anos gloriosos de dramas e musicais de longa duração, elencos de luxo e com a melhor fotografia da história do cinema (na minha opinião) surgiu também um género muito particular do cinema de guerra: o filme-missão. Com o conflito a quase duas décadas de distância, Hollywood sentiu que que já podia regressar a esta temática sensível de um modo que praticamente nunca tinha experimentado antes. Não de uma forma moralista. Não de uma forma excessivamente dramática. Mas num modo épico, aventureiro e explosivo. Ou seja, no modo blockbuster, antes do termo realmente existir.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Uma obra decisiva para marcar o ritmo do que seriam os filmes-missão dos anos 1960, ‘The Guns of Navarone’ (...) alia à boa história e à intensa cadência das suas sequências, muito mais do que boas personagens; alia fortes personalidades com quem o espectador imediatamente se identifica e não se importa nada de acompanhar, vivendo a aventura através dos seus olhos ao longo de umas extraordinárias duas horas e meia."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsp3zTJxkKtGcB5grweHC5KLXjiV99kgdW61mIXwZsRR6iyeqX4HCgWu9N4LWjzopW2JjU9AfLJR43tymk4UViNIIdcbFooZ3jXgbV2QXkgKr_2RUmruQxLm0f3iCEAT0dSNkZOS0KuXKy/s1600/1961-Guns-of-Navarone-The-01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="1529" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsp3zTJxkKtGcB5grweHC5KLXjiV99kgdW61mIXwZsRR6iyeqX4HCgWu9N4LWjzopW2JjU9AfLJR43tymk4UViNIIdcbFooZ3jXgbV2QXkgKr_2RUmruQxLm0f3iCEAT0dSNkZOS0KuXKy/s400/1961-Guns-of-Navarone-The-01.jpg" width="400" /></a></div>
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Como o próprio nome indica, os filmes-missão da Segunda Guerra Mundial contavam a saga de um pequeno grupo de soldados aliados (geralmente interpretados por um leque invejável de actores famosos) que em plena Guerra algures no interior da Europa, eram incumbidos de uma missão suicida, crucial para os destinos do conflito. Fosse roubar uns planos, salvar um conjunto de prisioneiros ou arrebentar com uma ponte, o espectador estava seguro de ter montanhas de adrenalina numa aventura máscula (muitas vezes a roçar o machista) com tensão, intensidade e heroísmo de sobra, e até algum humor pelo caminho. Numa década em que se fizeram obras como <b>‘The Longest Day’ (1962)</b>, <b>‘The Great Escape’ (1963)</b>, <b>‘Von Ryan's Express’ (1965)</b>, <b>‘The Dirty Dozen’ (1967)</b> ou <b>‘Where Eagles Dare’ (1968)</b>, um dos melhores filmes-missão (pelo menos um dos meus preferidos) foi logo um dos primeiros: ‘The Guns of Navarone’ <u>(em português ‘Os Canhões de Navarone’</u>).</div>
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Uma obra decisiva para marcar o ritmo do que seriam os filmes-missão desta década, ‘The Guns of Navarone’ foi um massivo sucesso, com 7 nomeações para o Óscar incluindo Melhor Filme (ganharia apenas Melhores Efeitos Especiais) e arrecadando mais de quatro vezes aquilo que custou na bilheteira americana (ou seja ainda mais na bilheteira mundial). Tudo isto é inteiramente justificado. Desde o primeiro segundo, ‘The Guns of Navarone’ prende o espectador à cadeira. Pode não ter o ritmo acelerado ou a montagem frenética que associamos aos filmes de acção modernos, mas todos os cinéfilos sabem que isso não é condição para um filme ser excitante. ‘The Guns of Navarone’ resiste perfeitamente ao teste do tempo, porque à boa história e à intensa cadência das suas sequências alia muito mais do que boas personagens; alia fortes personalidades com quem o espectador imediatamente se identifica e não se importa nada de acompanhar, vivendo a aventura através dos seus olhos ao longo de umas extraordinárias duas horas e meia.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPuDx6uYE79atkShuwCu7j5Rt82QunN1duE0ZH91iosROxqMYMX3eWJilzYrbFiMFT7MmCiWps2o0uqvCRCAf-DLzBQHx9fGaRrrqtiPtOJboKzuANCaIllQ2GilLRRNfNV0oAAj7gD6NR/s1600/8ip9JSKeTNe1DKRO9h8T8xhgP4L.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPuDx6uYE79atkShuwCu7j5Rt82QunN1duE0ZH91iosROxqMYMX3eWJilzYrbFiMFT7MmCiWps2o0uqvCRCAf-DLzBQHx9fGaRrrqtiPtOJboKzuANCaIllQ2GilLRRNfNV0oAAj7gD6NR/s400/8ip9JSKeTNe1DKRO9h8T8xhgP4L.jpg" width="400" /></a></div>
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A sequência pré-créditos, narrada por <b>James Robertson Justice</b> (interpretando Jensen, o oficial dos Aliados responsável pelo plano), enquadra-nos tudo o que precisamos de saber, enquanto assistimos a imagens bélicas reais projectadas sobre as belas ruínas da Grécia. Algures durante a Guerra, dois mil soldados britânicos estão cercados pelas tropas nazis na ilha grega de Kiros no mar Égeu. A única forma de aceder de barco à ilha, ou seja, a única forma de resgatar os soldados, é através de um estreito vigiado por dois potentes canhões instalados numa falésia rochosa na ilha vizinha de Navarone. Todas as tentativas dos Aliados de destruir os canhões pelo ar e pelo mar provaram ser infrutíferas, pois entranhados na rocha, os canhões são demasiado poderosos e demasiado inacessíveis. Assim, quando os Aliados recebem informações de que dentro de uma semana os nazis irão enviar um conjunto de tropas a Kiros para exterminar os soldados britânicos, Jensen urde um derradeiro plano para destruir os canhões, de forma a que os barcos para a evacuação possam passar. É a história dos seis dias seguintes que o filme narra.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O que se segue é uma sucessão dinâmica de sequências, extremamente bem realizadas e com um mais que satisfatório toque de cor local (...) Mesmo num formato que para o espectador actual poderá parecer algo recatado (...), o filme consegue encontrar, graças ao virtuosismo da sua realização, montagem e argumento, a fórmula perfeita para ser intenso e excitante sem precisar de estar constantemente a encher o ecrã de violência."</span></b></div>
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Após um brilhante genérico de abertura, com o excitante e memorável tema musical de Dimitri Tiomkin (uma das grandes marchas heroicas da história do cinema), a sequência seguinte revela logo ao espectador qual é esse plano, sem mais delongas. O capitão Keith Mallory (um possante e consciente <b>Gregory Peck</b>, um ano antes de vencer o Óscar de Melhor Actor por <b>‘To Kill a Mockingbird’</b>) é chamado para uma reunião de emergência. Jensen e o Major Roy Franklin (<b>Anthony Quayle</b>) revelam-lhe que só há um único ponto em toda a costa de Navarone que os nazis não vigiam, uma falésia rochosa tida como impossível de escalar. Ora Mallory era precisamente um dos maiores alpinistas mundiais antes da Guerra, pelo que lhe é pedido que lidere, juntamente com Franklin, uma pequena equipa de homens, todos eles especialistas numa área particular, primeiro para aceder à ilha, escalando a falésia, e depois para avançar por qualquer meio possível até à fortaleza que alberga os canhões, para os dinamitar. É um plano suicida com poucas probabilidades de sucesso, mas sem escolha, Mallory tem de aceitar.</div>
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Para além de Mallroy e Franklin, o resto da equipa é a <i>crème de la crème</i> do exército. John Miller (o grande <b>David Niven</b> numa interpretação “<i>oh so british</i>”, entre o cómico e o dramaticamente sarcástico como só ele sabia fazer) é um génio com explosivos. Brown, conhecido como o Carniceiro de Barcelona (<b>Stanley Baker</b>) é uma máquina assassina, um especialista em mortes silenciosas com facas. E depois há ainda dois gregos, para ajudar na infiltração. Andrea Stravos é interpretado por um surpreendentemente intenso <b>Anthony Quinn</b>, o actor mexicano que é tão convincente no papel que três anos depois seria a escolha natural para interpretar Zorba o grego em <b>‘Alexis Zorbas’ (1964) </b>– e ainda hoje muitos cinéfilos acham que ele era realmente grego! E por fim Spyros Pappadimos (<b>James Darren</b>), o mais jovem e inexperiente da equipa (dentro e fora do ecrã) é útil visto o seu pai ser o líder da resistência em Navarone. Resignados e conscientes dos seus destinos, estes seis homens iniciam a sua missão.</div>
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O que se segue é uma sucessão de grandes set pieces de acção e tensão que nunca dão muito tempo ao espectador para descansar. Quando revêm o plano num quarto de Hotel antes da partida, alguém pode estar à escuta. Quando estão no barco a caminho da ilha, uma patrulha alemã tenta detê-los. Quando se aproximam da ilha, um temporal faz com que o navio se despenhe nas rochas. Depois há toda a tensão da escalada nocturna. E uma vez na ilha, os nazis estão sempre à espreita, constantemente atrás deles, enquanto a equipa vai-se alternadamente escondendo, atacando e avançando, auxiliados por duas mulheres da resistência, Maria, a irmã de Pappadimos (a grega <b>Irene Papas</b>), e Anna (<b>Gia Scala</b>) que supostamente se tornou muda depois de ter sido torturada pelos nazis.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Uma das mais valias do filme é não exibir a acção pela acção; é assentá-la numa soberba gestão das personagens. Todos sabemos que neste tipo de odisseias bélicas as personagens são geralmente unidimensionais, representando estereótipos específicos. Neste filme, mesmo que cada uma corresponda a um determinado perfil, há classe e subtileza na forma como são introduzidas <i>nuances </i>para cada uma delas."</span></b></div>
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Veja-se a sequência da escalada nocturna. Mesmo que alguns planos tenham sido obtidos claramente em estúdio (embora o Óscar de Efeitos Especiais seja mais que merecido) cada pé posto em falso, cada metro que é ascendido faz o espectador suster a respiração. O mesmo acontece a cada momento em que uma patrulha nazi se aproxima e os nossos heróis têm de se escapulir ou enfrentá-los mais uma vez. Quando um deles, ferido, tem de ficar para trás, sentimos o peso do seu destino. E a sequência de diálogos entre todos após se materializar a desconfiança de que um dos membros da equipa afinal é um traidor pode ser longa mas nenhum espectador irá notar isso, tão embrenhado que está na história.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"É indubitavelmente um dos mais excitantes filmes-missão que alguma vez foi realizado. Principalmente, porque sabe apertar os botões certos (...) com inteligência, usando o drama entre as personagens para aumentar a tensão, e utilizando o constante apertar do cerco das tropas nazis e a luta contra o tempo (indicações de quanto tempo falta até ao ataque nazi abundam), para gerar uma sensação de relativa claustrofobia."</span></b></div>
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Franklin é um homem que, por própria admissão, fica cego pelo sentido do dever, e isso pode fazê-lo perder o foco. Brown começa a ficar com remorsos dos múltiplos assassinatos que já cometeu no decorrer da guerra e começa a hesitar. Stravos tem uma vendetta privada com Mallroy, visto que há uns anos, graças a uma má decisão estratégica deste, a sua mulher e filhos foram mortos pelos nazis. Miller, que sempre recusou ser promovido no exército, revolta-se com a frieza dos seus superiores, capazes de jogar sem remorsos com a vida dos seus soldados. A segue de vingança de Pappadimos pelo mau trato do seu povo é tão impetuosa como a sua juventude. Maria tem o peso da liderança da resistência depois da morte do seu pai. E a enigmática Anna terá sofrido horrores nas mãos dos nazis que nenhum dos outros poderá compreender. Não é que o filme perca muito tempo a explorar estas ramificações emocionais. Mas aborda-as com subtileza e inteligência, o suficiente para as personagens se humanizarem aos olhos do espectador. Por exemplo, a sequência em que se escondem num casamento e Pappadimos começa a cantar na sua língua materna, revela uma lírica pungência; um inesperado momento de pausa antes de serem capturados pelos nazis. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7f0c-7tV3NOC5tAavwRHnOdYf0p7ZT2KnWssE4q59kgsRFxY9e0FKMqgkmoFwzG4ROyqsKIsgZ3t6K36mZpPhZ5lDPEw-9NTbTTPCvAhogutD3FL5n_YsJWN5ftzNLFAF1fSG1mWDP7Wq/s1600/vlcsnap-2012-02-21-16h26m03s145.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="544" data-original-width="1280" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7f0c-7tV3NOC5tAavwRHnOdYf0p7ZT2KnWssE4q59kgsRFxY9e0FKMqgkmoFwzG4ROyqsKIsgZ3t6K36mZpPhZ5lDPEw-9NTbTTPCvAhogutD3FL5n_YsJWN5ftzNLFAF1fSG1mWDP7Wq/s400/vlcsnap-2012-02-21-16h26m03s145.JPG" width="400" /></a>Ao contrário de inúmeros filmes de Guerra, em que o fio condutor é a missão, em ‘The Guns of Navarone’ sem que nos apercebamos bem disso, as lutas internas entre as personagens começam a tornar-se mais importantes, sustentando o desenrolar dos acontecimentos e as escolhas, sacrifícios e traições que cada um acaba por fazer. Isso dá ainda mais consistência à trama e torna o drama deste pequeno grupo ainda mais apelativo. Assim, mais cedo ou mais tarde, o filme encaminha-se para a fortaleza impenetrável onde se dá o grande clímax. Não temos dúvidas que a missão irá ser cumprida (senão o filme não tinha razão de existir) mas resta, para nos cativar, o como, o quando e por quem (obviamente alguns terão que se sacrificar para outros saírem vitoriosos). E a resposta a cada uma dessas peguntas cativa-nos, sem dúvida alguma.</div>
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Tudo somado, ‘The Guns of Navarone’ pode não ser o mais realista, nem o mais acutilante, nem o mais dramático, nem sequer o mais intenso filme de Guerra, mas é indubitavelmente um dos mais excitantes filmes-missão que alguma vez foi realizado. Principalmente, porque sabe apertar os botões certos, mesmo tendo em conta as restrições ao nível dos efeitos especiais e de pirotecnia da década em que foi feito (ou pelo menos comparado com o cinema moderno). E aperta-os com inteligência, usando o drama entre as personagens para aumentar a tensão, e utilizando o constante apertar do cerco das tropas nazis e a luta contra o tempo (indicações de quanto tempo falta até ao ataque nazi abundam), para gerar uma sensação de relativa claustrofobia.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Não podemos considerar ‘The Guns of Navarone’ propriamente uma obra prima. (...) Mas o seu inovador argumento, a sua dinâmica realização, e a forma como se apresenta como um blockbuster bélico que se recusa constantemente a negligenciar as suas personagens, tornando-as sempre o centro dos enquadramentos mesmo perante algumas impressionantes set pieces de acção e tensão, garantem a sua imortalidade"</span></b></div>
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A missão tem um objectivo físico – a destruição dos canhões – mas no fundo o filme aborda-a como tendo um objectivo pessoal para cada um dos intervenientes. Se por um lado esta escolha tira explosividade à trama, por outro transforma-a numa aventura de apelo universal, porque está assente em credíveis arcos emocionais. Talvez a sua maior falha seja precisamente não conseguir conciliar em pleno estas duas vertentes. Por exemplo, tirando o oficial das SS que os questiona numa única cena, os soldados nazis são apenas um alvo anónimo ou uma ameaça anónima; e nos momentos de pausa essa ameaça é de certa forma esquecida em prol das tensões entre os membros da equipa e da trama do agente infiltrado. Mesmo assim, ‘The Guns of Navarone’ demonstra perfeitamente a sua influência para todo um género que vigoraria até à década de 1980 (por exemplo <b>‘Escape to Athena’, 1979</b>). É difícil encontrar um filme-missão desde então, como <b>‘Inglourious Basterds’ (2009) </b>de Tarantino, que de certa forma não recupere ou homenageie a bem concebida fórmula estrutural e argumental que este filme contém.</div>
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Não podemos considerar ‘The Guns of Navarone’ propriamente uma obra prima. Está condicionado pelas próprias restrições da sua condição como espectáculo de entretenimento. Mas o seu inovador argumento, a sua dinâmica realização, e a forma como se apresenta como um <i>blockbuster </i>bélico que se recusa constantemente a negligenciar as suas personagens, tornando-as sempre o centro dos enquadramentos mesmo perante algumas impressionantes <i>set pieces</i> de acção e tensão, garantem a sua imortalidade. Aqueles que não são fãs de filmes de Guerra até poderão encontrar motivos para o apreciar numa perspectiva dramática. Mas os fãs dos filmes de Guerra clássicos encontrarão sempre, mesmo após repetidas visualizações (desde a adolescência que já vi o filme pelo menos uma dezena de vezes), mais que motivos para ficar satisfeitos.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzd6bK7JL0Q8XK_5PSjRDBay_R-43MMdOe3e66KB4iAJ6mXvsjk23xQPKSxnHwWL6JbwYKoKwQMJ9KgdpIYwHBfCh6TDlWfoiPM0UmAUH0E0D5k0pVQq4Ev3MfA0YlrzXRHY6Y-EUCxgH8/s1600/5c690ee6fe93d507ce577c6131dc37d8_3x3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="515" data-original-width="916" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzd6bK7JL0Q8XK_5PSjRDBay_R-43MMdOe3e66KB4iAJ6mXvsjk23xQPKSxnHwWL6JbwYKoKwQMJ9KgdpIYwHBfCh6TDlWfoiPM0UmAUH0E0D5k0pVQq4Ev3MfA0YlrzXRHY6Y-EUCxgH8/s400/5c690ee6fe93d507ce577c6131dc37d8_3x3.jpg" width="400" /></a></div>
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O sucesso do filme foi tanto, não só nas salas como em posteriores reposições no cinema e na televisão, que o estúdio adiou continuamente fazer a planeada sequela (a lógica contrária à que hoje impera). Quando esta finalmente chegou, em 1978, já nenhum dos actores do filme original fazia parte do elenco. <b>Robert Shaw</b> ficou com o papel de Mallory, <b>Edward Fox</b> com o de Miller e um jovem <b>Harrison Ford</b> (que acabara de filmar <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/12/star-wars-episode-iv-new-hope.html"><b><span style="color: blue;">‘Star Wars’</span></b></a>) dá também o ar da sua graça. Contudo <b>‘Force 10 from Navarone’</b>, consensualmente, é um filme que não chega aos calcanhares do original. ‘The Guns of Navarone’ só há um; um que todos os cinéfilos, principalmente os fãs do cinema bélico, deveriam ver. E desafio alguém a terminar o filme e resistir a trautear o majestoso tema principal pelo resto do dia…</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-26047585182500333552018-08-31T00:32:00.000+01:002018-09-06T01:04:46.001+01:00"Cheek to Cheek" no cinema<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6ZFiI-WIz3nrcm70jYO8SOvvwkqutCq2HWNe_j-UICcBp198tB3__yfB0LDBu90XdCyutMPSJixBz2bPeaEofiJJZQ3WsLNiCYm4qxOlWhMO5A9rRmR2jrO_bYRfnEL40GawHlgTD7NHe/s1600/tophat_cheektocheek_FC_470x264_020920160631.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="264" data-original-width="470" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6ZFiI-WIz3nrcm70jYO8SOvvwkqutCq2HWNe_j-UICcBp198tB3__yfB0LDBu90XdCyutMPSJixBz2bPeaEofiJJZQ3WsLNiCYm4qxOlWhMO5A9rRmR2jrO_bYRfnEL40GawHlgTD7NHe/s640/tophat_cheektocheek_FC_470x264_020920160631.jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">"</span><i style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: x-large;">Heaven, I'm in Heaven, and my heart beats so that I can hardly speak, and I seem to find the happiness I seek, when we're out together dancing cheek to cheek</i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">".</span></div>
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Assim começa a divinal canção "Cheek to Cheek" composta por<b> Irving Berlin</b> em 1935. A canção foi composta propositadamente para o filme <b>'Top Hat'</b>, a mais conhecida de todas as parcerias musicais entre<b> Fred Astaire</b> e <b>Ginger Rogers</b>. O momento alto da película, a canção é a declaração de amor de <b>Fred</b>, e embala o par para um fantástico número de dança, que ajuda a consumar o seu entendimento romântico. Apesar de até ter perdido o Óscar de Melhor Música desse ano para a mais esquecida "Lullaby of Broadway" do filme <b>'Gold Diggers of 1935'</b> a canção - a mais bem sucedida de 1935 - tornou-se um dos grandes <i>standards</i> da história da música, tendo sido interpretada por ilustres como <b>Bing Crosby</b>, <b>Louis Armstrong</b>, <b>Ella Fitzgerald</b>, <b>Shirley Jones</b>, <b>Frank Sinatra</b> ou mais recentemente <b>Tony Bennett</b> e <b>Lady Gaga</b> (num álbum precisamente intitulado "Cheek to Cheek") ou <b>Andrea Bocelli</b>. Contudo, a versão de <b>Astaire</b> é ainda hoje a mais universal, tendo sido incluída no Grammy Hall of Fame em 2000.<br />
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Assim, muito naturalmente, na sua forma original ou através de várias <i>covers</i>, a canção foi reaparecendo de forma regular na sétima arte. O imdb lista mais de cem obras do cinema e da televisão em que a canção foi utilizada na banda sonora. Inspirado por recentemente ter voltado a assistir a <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/09/the-boss-baby.html"><span style="color: blue;"><b>'The Boss Baby' (2017)</b></span></a>, onde a música é utilizada de forma soberba no genérico de abertura, recordo um conjunto de ocasiões onde "Cheek to Cheek" foi homenageada ou utilizada para enriquecer emocionalmente cenas com múltiplos significados, em grandes obras da sétima arte que esta extraordinária canção torna ainda melhores. É a forma do cinema procurar a felicidade que procura, e do espectador fazer o mesmo.<br />
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<b><span style="font-size: x-large;">Top Hat (1935)</span></b><br />
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Palavras para quê. O original é sempre o melhor. Divinal. Ou melhor dizendo, celestial.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/ILxo-TUkzOQ" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">The Purple Rose of Cairo (1985)</span></b></div>
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<b>Woody Allen</b> nunca escondeu a sua paixão pelo cinema clássico e esse amor sempre esteve presente nos seus filmes. Mas no delicioso melodrama de época <b>'The Purple Rose of Cairo'</b>, onde realidade e cinema confluem, esse amor é materializado sem rodeios, sem subtileza; está patente em todas as cenas, e o filme não se acanha nem tem vergonha em perder largos minutos com a reprodução de cenas de películas clássicas, algo que hoje seria praticamente impensável. Para a personagem de <b>Mia Farrow</b> estes filmes são a sua única forma de escapar à realidade e encontrar a felicidade. A cena em que assiste ao original "Cheek to Cheek" é ainda mais intensa e impactante porque é o seu poder, o poder de<b> 'Top Hat'</b>, o poder de<b> Fred & Ginger</b>, que cinquenta anos depois ainda domina. <b>Farrow</b> não precisa de dizer uma palavra. Só precisa de assistir, E por o fazer, mesmerizada e comovida, entendemos os seus sentimentos, porque nós, espectadores de ambos os filmes, conseguimos sentir o mesmo.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">The English Patient (1996)</span></b><br />
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O grande vencedor dos Óscares de 1996, com 9 estatuetas arrecadadas, é um grande épico melodramático "à antiga", pelo que as referências clássicas abundam. O gramofone é uma importante parte da trama, representado o poder da música em várias dimensões. Quando o final da guerra é anunciado, a festa subsequente de aclamação da liberdade - simbolizada por uma dança à chuva - é acompanhada da versão smooth jazz de "Cheek to Cheek" interpretada por <b>Ella Fitzgerald</b>. Felicidade e momentos íntimos <i>cheek to cheek</i>. Que outra música, realmente, os poderia acompanhar?</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">The Green Mile (1999)</span></b><br />
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A cena em que a personagem de <b>Michael Clark Duncan</b> vê <b>'Top Hat'</b> em <b>'The Green Mile' </b>funciona de certa forma como a cena em <b>'The Purple Rose of Cairo</b>'. Mas a emotividade é diametralmente oposta. A personagem de<b> Mia Farrow</b> está habituada a ver filmes como uma escapatória à sua vida deprimente. Para a personagem de <b>Duncan</b>, um prisioneiro prestes a ser executado, a satisfação deste desejo é a primeira, e última vez na sua vida que verá um filme. Fica mesmerizado e comovido de igual forma, nas o pormenor importante é que, visto que não repetirá a experiência, para ele a emoção que sente a ver <b>'Top Hat'</b> e a beleza de "Cheek to Cheek" simbolizam a emoção de toda a humanidade perante a beleza da sétima arte, bem como o poder libertador e esperançoso desta, mesmo perante a morte. Não há palavras para descrevê-lo. Só o visionamento de grandes filmes e o momento de intimidade entre espectador e tela o pode fazer.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/d1IfNbJZ5zY" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Love's Labour's Lost (2000)</span></b><br />
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A última obra shakespeariana de <b>Kenneth Branagh</b> a ser lançada no grande ecrã até hoje constitui uma experiência ousada, talvez injustamente desconsiderada quer por críticos quer pelo público. A acção relocaliza-se para a década de 1930 e <b>Branagh</b> entrecruza os diálogos do bardo com os grandes <i>standards</i> musicais da época. Paradoxalmente, para quem ama uma e outra coisa, até é uma experiência que resulta, embora se entenda o fiasco generalizado desta obra. "Cheek to Cheek" não podia faltar a este repertório. Esqueça, caro leitor, os diálogos em espanhol (não encontrei outro vídeo no youtube) e salte para os 2'30'' onde <b>Branagh</b> inicia (sem dobragem) a canção. Talvez os actores não sejam os melhores cantores nem dançarinos do mundo, talvez os números musicais sejam singelos e talvez a sua inclusão seja algo forçada. Mas <b>Branagh</b> concebe, de forma temerária, momentos únicos na história do cinema shakespeariano. E isso tem o seu mérito.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/k85DrqF7Sos" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">The Boss Baby (2017)</span></b><br />
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<a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/09/the-boss-baby.html"><b><span style="color: blue;">'The Boss Baby'</span></b></a>, um dos mais recentes filmes de animação da Dreamworks, é uma bem conseguida alegoria sobre o crescimento e a aceitação de um irmão mais novo, tal como já descrevi na minha crítica. O fabuloso genérico de abertura (a melhor cena do filme) leva-nos à "fábrica" onde os bebés são produzidos, e assistimos ao processo que leva à sua criação (para as famílias ou para a gerência) ao som da voz de<b> Fred Astaire</b> que se ajusta como uma luva com a sua cristalina simpatia. Este vídeo do youtube tem alguns cortes (provavelmente por motivos de copyright) mas já dá para ficar com uma ideia. Nas míticas palavras de<b> Richard Attenborough</b> em<b> 'A Matter of Life and Death' (1946)</b>: "<i>Heaven, isn't it?</i>"</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/MnwZlnIc7ys" width="759"></iframe>
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Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-35959122617367746572018-08-14T00:21:00.000+01:002018-08-31T00:35:04.228+01:00Mission: Impossible - Fallout<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDDZi-eyJepGFekQLotLSNfkzyIMujTJJapXKBTogbK-wMMV9EBrLu0GFyKosSuOW0FsAe3IhfZCKWzf-Vd-JVVPgupt6mJGFn3z6xmcc19TTaibAOGzsTNXHazExsV_Kc0BXgfISJS47J/s1600/mission_impossible__fallout_ver3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="513" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDDZi-eyJepGFekQLotLSNfkzyIMujTJJapXKBTogbK-wMMV9EBrLu0GFyKosSuOW0FsAe3IhfZCKWzf-Vd-JVVPgupt6mJGFn3z6xmcc19TTaibAOGzsTNXHazExsV_Kc0BXgfISJS47J/s400/mission_impossible__fallout_ver3.jpg" width="271" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2018<br />
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<b>Realizador:</b> Christopher McQuarrie<br />
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<b>Actores principais:</b> Tom Cruise, Henry Cavill, Ving Rhames<br />
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<b>Duração:</b> 147 min<br />
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<b>Crítica:</b> Um ano depois de um dos Verões menos sucedidos da carreira de <b>Tom Cruise</b> (aquele <b>‘The Mummy’</b> não correu muito bem, pois não?) não havia dúvidas nenhumas que, se era para voltar ao topo dos <i>blockbusters </i>de acção, só havia uma coisa a fazer: mais um filme da Missão Impossível. Quando em 2015 critiquei o último filme, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/08/mission-impossible-rogue-nation.html"><b>‘Mission: Impossible - Rogue Nation’</b></a> citei o crítico Stephen Whitty do Daily News que escreveu “<i>Isto é o que os filmes da Velocidade Furiosa querem ser, e o que os filmes do James Bond costumavam ser</i>”. Precisamente. A <i>franchise </i>da Missão Impossível é, incontestavelmente (digo eu), a melhor saga de <i>blockbusters </i>de acção que hoje existe. E o novo filme, o sexto, ‘Mission: Impossible – Fallout’ (sem tradução para português), apesar de não ser tão bem-sucedido como o anterior, é a prova de que ainda continua a ser.</div>
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<b>Tom Cruise</b>, apesar dos seus 56 anos de idade (e provavelmente de algumas plásticas que estão a tornar o seu rosto cada vez artificial) é o último sobrevivente de uma era perdida: é a última grande estrela de cinema “à antiga” que Hollywood possui. Os seus filmes são criteriosamente concebidos para se adequarem à sua <i>persona </i>e continuarem a acalentar o culto da sua personalidade, como os velhos estúdios da era clássica faziam com os seus mais famosos actores. Quando isto não acontece (veja-se <b>‘The Mummy’</b>) o apelo de <b>Cruise </b>já começa a esmorecer. Mas quando acontece (e não é por acaso que <b>Cruise </b>é também produtor dos filmes da Missão Impossível) então aí está na sua praia. Não interessa muito ao espectador se está a ver Ethan Hunt ou Jack Reacher; interessa-lhe se está a ver ou não <b>Tom Cruise</b> em todo o seu esplendor. Quando os filmes de acção modernos se tornaram distopias de adolescentes, odisseias de super-heróis inundadas de efeitos especiais, ou então mornas aventuras de ultrapassados dinossauros com violência excessiva e maus argumentos; o esplendor de Tom Cruise é precisamente esse: ser uma estrela de cinema “à antiga” em obras feitas ao estilo clássico mas com toda a excitação do cinema moderno.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"A franchise da Missão Impossível é, incontestavelmente, a melhor saga de blockbusters de acção que hoje existe. E o novo filme (...) apesar de não ser tão bem-sucedido como o anterior, é a prova de que ainda continua a ser. (...) É como se fosse mais um episódio da série, porque não precisa de construir personagens nem ser propriamente inventivo em termos argumentais. Só precisa que a acção seja espectacular. E não nos importamos nada com isso."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBcEg6oWMS9DUHvSnNfNHuHLVN9TN6koFPVBAj61Dd-eRMeaYj4P-uh9QH6pA-aiWIgBWF2DW7GT_lFgWOr6PO7t2VoD8Pzw5upelfoPpJZ_jPFOh2p5lcslkiL5dOmF9edG9qS0fIPZYc/s1600/stK0yDKK_o.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1260" data-original-width="1600" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBcEg6oWMS9DUHvSnNfNHuHLVN9TN6koFPVBAj61Dd-eRMeaYj4P-uh9QH6pA-aiWIgBWF2DW7GT_lFgWOr6PO7t2VoD8Pzw5upelfoPpJZ_jPFOh2p5lcslkiL5dOmF9edG9qS0fIPZYc/s400/stK0yDKK_o.jpeg" width="400" /></a></div>
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Há um motivo pelo qual a saga da Missão Impossível singrou quando praticamente todas (senão todas) as adaptações de séries de espionagem dos anos 1960 falharam. Nunca tentou recriar a datada aura <i>kitsch </i>ou cómica dessa era. Nunca tentou ir ao extremo oposto, deturpando a essência da série e das personagens em prol de uma estética modernista que até hoje, na minha opinião, ainda não provou ser melhor. Recriou-se, isso sim, a essência da aventura. Depois do excessivamente intrincado primeiro filme de <b>Brian DePalma</b> (1996), e do excessivamente estilizado segundo de <b>John Woo</b> (2000), a saga encontrou o seu equilíbrio, distanciando-se de praticamente todos os outros filmes do seu género, à excepção da veia revivalista de Bond (<b>‘Casino Royale’</b> ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/11/spectre.html"><span style="color: blue;"><b>‘Spectre’</b></span></a>). Um equilíbrio assente, como escrevi na crítica a <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/06/jurassic-world.html"><b><span style="color: blue;">‘Jurrasic World’</span></b></a>, no “<i>entretenimento da espectacularidade e na espectacularidade do entretenimento</i>”, onde a história não precisa de ser particularmente bem trabalhada, mas tem de ser vivida com doses iguais de intensidade e <i>panache</i>, em glamorosas localizações reais à volta do Mundo (o <i>bluescreen </i>praticamente não existe nesta forma de cinema). Um filme de acção é tão bom quanto a sua capacidade de cativar o espectador para a aventura. E este sexto filme, tal como anterior, é exímio a fazê-lo.</div>
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Mais uma vez realizado por <b>Christopher McQuarrie</b>, o argumentista oscarizado de <b>‘The Usual Suspects’ (1995)</b> que se tornou o argumentista e realizador <i>par excellence </i>de <b>Tom Cruise</b> (realizou <b>‘Jack Reacher’, 2012</b>; e <b><a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/08/mission-impossible-rogue-nation.html"><span style="color: blue;">‘Rogue Nation</span>’</a></b>; e escreveu <b>‘Valkyrie’, 2008</b>; <b>‘Edge of Tomorrow’, 2014</b>; e até <b>‘The Mummy’</b>); <b>‘Mission: Impossible – Fallout’</b> prossegue não só a história do filme anterior (tornando-se na primeira sequela directa da saga) como mantém o estilo visual e estrutural revivalista que <b><a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/08/mission-impossible-rogue-nation.html"><span style="color: blue;">‘Rogue Nation</span>’</a></b> – o mais fiel à série original – havia introduzido. Assim, a primeira cena explica logo 90% da trama, quando Ethan recebe a proverbial cassete com a mensagem contendo a sua missão. Não nos importa que o método seja datado, embora questionemos quem é que na sede da CIA perdeu tempo a fazer todas aquelas animações que Hunt (e o espectador) vêem, ilustrando a missão e a história (um estagiário talvez?). Importa sim que o filme, tal como o anterior, não tenha necessidade de perder tempo com o supérfluo. Porque sabe perfeitamente que só precisa de desculpas contextuais suficientemente credíveis para justificar a montanha russa de adrenalina que vai injectar no espectador pelas duas horas seguintes. É como se fosse mais um episódio da série, porque não precisa de construir personagens nem ser propriamente inventivo em termos argumentais. Só precisa que a acção seja espectacular. E não nos importamos nada com isso.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiIbq0aYS7SYLBiLNWmcUSy6hyphenhyphenoWsH32VMUR8jOECxNnIoJVobMla0W6q_u7uUS8p_fPheugcTM4UzF4BlTzyAMawuSy8JedMLVdAtZ5kFaj7WIeU7fpvhVwX8fEn49dbMtWzDuenthXg-/s1600/large.mission-impossible-fallout.jpg.ab20545a77b99af9382c5b4d61daad8e.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiIbq0aYS7SYLBiLNWmcUSy6hyphenhyphenoWsH32VMUR8jOECxNnIoJVobMla0W6q_u7uUS8p_fPheugcTM4UzF4BlTzyAMawuSy8JedMLVdAtZ5kFaj7WIeU7fpvhVwX8fEn49dbMtWzDuenthXg-/s400/large.mission-impossible-fallout.jpg.ab20545a77b99af9382c5b4d61daad8e.jpg" width="400" /></a>Na sequência do filme anterior, Ethan continua no encalço do ‘Sindicato’, uma poderosa organização criminosa, e de Lane, o seu cabecilha (<b>Sean Harris</b> está mais apagado que no filme anterior, mas continua uma presença poderosa). Ambos podiam estar perfeitamente num filme de James Bond, o que constitui mais um elogio a esta saga. Depois de Lane ter sido travado pela equipa da Missão Impossível no filme anterior, o ‘Sindicato’ dispersou-se para formar um novo grupo, ‘Os Apóstolos’ comandados pelo misterioso John Lark, cuja verdadeira identidade é desconhecida. A missão de Hunt é descobrir quem é Lark e travar a venda de três cápsulas de plutónio capazes de gerar três bombas nucleares. Tudo indica que Os Apóstolos estão intentos em usá-las para lançar o caos no Mundo, depois de terem originado, como teste, um surto infeccioso em Caxemira.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"A missão levará a equipa primeiro a Paris, onde Cruise e McQuarrie aumentam a parada das sequências de acção a cada quarto de hora, num ritmo frenético que mantém o espectador na ponta da cadeira. O salto do avião e a extensa perseguição pelas ruas do centro de Paris são mais duas obras de arte cinematográficas em termos do intenso realismo que possuem (100% credível porque é 100% real)."</span></b></div>
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Logo no início Hunt e a sua equipa; Benji (<b>Simmon Pegg</b> num tom menos cómico que nos filmes anteriores) e o possante Luther (<b>Ving Rhames</b>, <i>cool</i> como sempre mas visivelmente mais pesadão) ficam muito perto de recuperar o plutónio. Contudo, a missão corre mal e os vilões conseguem escapar com a preciosa mercadoria. De notar que Brand (<b>Jeremy Renner</b>) nem aparece nem é mencionado neste filme, supostamente porque o actor não conseguiu conciliar a sua agenda de filmagens com o último filme dos Vingadores. A sua falta não é contudo muito sentida, embora tire coerência interna à saga, principalmente porque este filme se irá ligar muitas vezes ao passado como a única forma de suportar o arco emocional das personagens.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-CoONoV65wQJtzE46L1lPCgcZX0Ep1QE3BCKklbF0I_x1NC4OBJLXC26whJi2il_rLCsFvrXl-bbMLtNLImcxTuFCC4jRAqfPWNncmPDVTQG3hVIvV_NIvYBFXmJblQgEy5gkGf1S0IBB/s1600/MV5BMjMzNjU5NTYxNF5BMl5BanBnXkFtZTgwOTI3MTE3NDM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="840" data-original-width="1600" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-CoONoV65wQJtzE46L1lPCgcZX0Ep1QE3BCKklbF0I_x1NC4OBJLXC26whJi2il_rLCsFvrXl-bbMLtNLImcxTuFCC4jRAqfPWNncmPDVTQG3hVIvV_NIvYBFXmJblQgEy5gkGf1S0IBB/s400/MV5BMjMzNjU5NTYxNF5BMl5BanBnXkFtZTgwOTI3MTE3NDM%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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Apesar do erro inicial, a equipa não se irá dar, obviamente, por vencida e inicia a sua missão de recuperar o plutónio com um truque quiçá previsível, mas que certamente faria os criadores da série original orgulhosos. Com apenas um par de dias até ao anunciado holocausto, o chefe interpretado por <b>Alec Baldwin </b>(dará o ar da sua graça mais tarde embora temos pena que não tenha sido mais aproveitado) dá à equipa carta branca para avançarem. Mas devido ao seu falhanço inicial são obrigados a levar consigo um duro agente do CIA chamado August Walker (o “SuperHomem” <b>Henry Cavill</b>). Obviamente, Walker não se dará nada bem com Hunt, já que os dois homens têm métodos e filosofias de trabalho completamente diferentes. A sua rivalidade é algo que o filme até explora de forma produtiva para o desenrolar da história e, principalmente, das cenas de acção.</div>
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Assim, a missão levará a equipa primeiro a Paris, onde <b>Cruise</b> e <b>McQuarrie</b> aumentam a parada das sequências de acção a cada quarto de hora, num ritmo frenético que mantém o espectador na ponta da cadeira. O salto do avião e a extensa perseguição pelas ruas do centro de Paris são mais duas obras de arte cinematográficas em termos do intenso realismo que possuem (100% credível porque é 100% real). Pelo meio há sequências de pancadaria (como a da casa de banho da discoteca – só não achei grande piada ao suposto momento de humor); um reencontro inesperado com Ilsa (<b>Rebecca Ferguson</b>) que poderá ser (ou não) uma aliada; a viperina presença sedutora de uma intermediária conhecida como a Viúva Branca (uma interessante <b>Vanessa Kirby</b>); e a presença diabolicamente ameaçadora de Lane que de presa pode rapidamente passar a predador.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Cada sequência supera a anterior em termos de adrenalina e prova, com cada frame que passa, que os efeitos especiais não precisam de dominar a tela para o resultado final ser espectacular (...) McQuarrie realiza num estilo da velha escola; a edição foca-se sem pressa no rosto dos actores, no movimento dos veículos e enquadra ambos na beleza dos locais de filmagens escolhidos. Infelizmente, isso é muito raro de ver hoje em dia."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvU-FloephRLm3k05_KZPW75Rvilkihvm7Ak9G67RUXQ875l6Pl7hJiFRrfU0eiKGvWQYbE6FbEMEy7tDe4MU16gXPf1VJpPMGcbhFDvjJmu2ior7OmYDkYc47ZAyMR0d1-b_87IGw9GrL/s1600/mission-impossible-fallout.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="378" data-original-width="800" height="188" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvU-FloephRLm3k05_KZPW75Rvilkihvm7Ak9G67RUXQ875l6Pl7hJiFRrfU0eiKGvWQYbE6FbEMEy7tDe4MU16gXPf1VJpPMGcbhFDvjJmu2ior7OmYDkYc47ZAyMR0d1-b_87IGw9GrL/s400/mission-impossible-fallout.jpg" width="400" /></a></div>
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De Paris rumamos a Londres, perseguindo Lark cuja identidade é finalmente revelada. Destaque tem de ser dado, obviamente, para mais uma longa sequência de perseguição onde <b>McQuarrie</b> não desaponta os fãs de <b>Cruise</b> mostrando-o a correr de todo e qualquer ângulo possível. E por fim rumamos às cordilheiras asiáticas em Caxemira para a mega sequência de acção final. Aqui Ethan, com a ajuda da sua equipa e de um reencontro muito especial (o badalado regresso de <b>Michelle Monaghan</b> à saga) tem de fazer literalmente o impossível para conseguir cumprir o destino de todos os heróis: desarmar a bomba antes do contador chegar ao zero.</div>
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Em termos de acção não há absolutamente nada que se possa dizer contra esta entrada mais recente da saga da Missão Impossível. Cada sequência supera a anterior em termos de adrenalina e prova, com cada <i>frame</i> que passa, que os efeitos especiais não precisam de dominar a tela para o resultado final ser espectacular. Cruise anda de mota, barco, camião e helicóptero, para além de saltar de um avião, e a câmara desfruta desse realismo, permitindo como consequência o espectador desfrutar dele. <b>McQuarrie</b> realiza, tal como já o fizera anteriormente, num estilo da velha escola; a edição foca-se sem pressa no rosto dos actores, no movimento dos veículos e enquadra ambos na beleza dos locais de filmagens escolhidos. Infelizmente, isso é muito raro de ver hoje em dia. Até nos filmes de James Bond já não conseguimos sorver a cor local, tão frenético é o estilo de montagem. Não é por se estar sempre a mudar de plano que uma sequência de acção se torna mais intensa; ‘Fallout’ é a prova disso.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwYRP3yfEXD6lPGCuqwxdfCheqhWKe4RZxbJCjBmnpKXof_-MQZVYrJlmVWO4Z5Voc894n5-VUfA3cJdzwF-rCzL9y6K8RLJIhUB_IwPVjmHbEneO4FGffVIyXmueyJ_sJj8yYYoSgwHRw/s1600/mission-impossible-fallout-posters-and-stills-2018-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="670" data-original-width="1440" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwYRP3yfEXD6lPGCuqwxdfCheqhWKe4RZxbJCjBmnpKXof_-MQZVYrJlmVWO4Z5Voc894n5-VUfA3cJdzwF-rCzL9y6K8RLJIhUB_IwPVjmHbEneO4FGffVIyXmueyJ_sJj8yYYoSgwHRw/s400/mission-impossible-fallout-posters-and-stills-2018-6.jpg" width="400" /></a></div>
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Veja-se a perseguição de motas. Não precisamos de estar sempre a ver <i>zooms</i> de rodas a girar ou de mãos a rodar o volante como acontece noutros filmes. Vemos a mota inteira a fugir a alta velocidade e isso é que nos dá adrenalina. E veja-se a perseguição final de helicóptero. Algum <i>bluescreen</i> é utilizado obviamente, por motivos de segurança, mas a sua demanda por realismo, e o facto do espectador o sentir, torna-a muito honestamente na melhor sequência de acção com helicópteros da história do cinema – ou pelo menos que eu me consiga recordar. Do mesmo modo, já não se via um filme com tão bem construídas cenas de acção desde – precisamente – o último filme da Missão Impossível. É por isso que estes filmes continuam a singrar mesmo indo contra a corrente de todos os restantes filmes de acção. Os espectadores modernos reagem positivamente a grandes efeitos especiais, disso não há dúvidas. Mas um verdadeiro cinéfilo, seja de onde for, seja qual for o seu gosto particular (cinema de acção ou não) irá sempre reagir ainda mais positivamente a bom cinema. E os filmes da Missão Impossível neste momento são bom cinema. </div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Claro que não é tudo um mar de rosas. (...) O argumento deste filme é menos conseguido do que o do anterior (...) Os clássicos truques da equipa da MI já não conseguem nesta fase, seis filmes e centenas de episódios depois, ser obtidos sem previsibilidade. Os grandes <i>twists</i> ao nível de personagens (...) estão também pouco mascarados. (...) e este é um filme inconstante na forma como tenta recuperar a intensidade dramática e emocional em redor de Ethan.</span></b><b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"</span></b></div>
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Claro que não é tudo um mar de rosas. Para conseguir singrar na sua vertente de espectáculo de acção/aventura, naturalmente ‘Fallout’ tem falhas noutros departamentos. O argumento deste filme é menos conseguido que o do anterior, não propriamente por ser menos inventivo em termos de história-base (andam mais ou menos a par), mas porque as surpresas são menos surpreendentes. Os clássicos truques da equipa da Missão Impossível (notavelmente o uso das máscaras) já não conseguem nesta fase, seis filmes e centenas de episódios da série depois, ser obtidos sem previsibilidade. Do mesmo modo, os grandes <i>twists</i> ao nível de personagens (quem é quem e de que lado – bons ou maus – está) estão também pouco mascarados. Confesso que adivinhei a identidade de John Lark não no início do filme, mas quando vi o primeiro trailer há mais de seis meses. Quando isso acontece não é nada bom.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxub5ZeNz5PprqFAUabg9La7gZxpQPOQxOA2-0EE1mRizHqHGeVzZzY4rcSCfrmL-R_tfmNNa4_f_DCuxsfoHUEfVumSCPTvInPgxq8C0QQd7aYdEkp4aPthRV7-jG2VBB6CfQ77He16G-/s1600/2fc8126a214b3aefe8d77b76c5f51c45.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="810" data-original-width="1080" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxub5ZeNz5PprqFAUabg9La7gZxpQPOQxOA2-0EE1mRizHqHGeVzZzY4rcSCfrmL-R_tfmNNa4_f_DCuxsfoHUEfVumSCPTvInPgxq8C0QQd7aYdEkp4aPthRV7-jG2VBB6CfQ77He16G-/s400/2fc8126a214b3aefe8d77b76c5f51c45.jpg" width="400" /></a></div>
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Por fim, este é um filme inconstante na forma como tenta recuperar a intensidade dramática e emocional em redor da personagem de Ethan Hunt. A subtileza da sua ligação à personagem de Ilsa no filme anterior tinha sido muito bem construída, algo que infelizmente não se repete aqui. A sua inclusão na história é algo forçada e depois tem de ceder passagem a um muito aguardado reencontro entre Ethan e o seu verdadeiro amor. Sem querer revelar muito mais, tenho a dizer que a cena em que essas duas personagens se reencontram é um momento absolutamente extraordinário (o melhor momento emocional de toda a saga), porque possui um pungente realismo e sentimos realmente os sentimentos entre elas (sim, até mesmo da parte de <b>Tom Cruise</b>). Contudo, o filme deita tudo isso a perder no final, com uma resolução emocional francamente pobre e até algo machista (argumentos escritos por homens…), com o intuito não só de justificar as escolhas de Hunt, com resolver linhas argumentais pendentes tirando personagens do caminho ao mesmo tempo que se abre caminho para outras… Aquela cena perto do final na tenda do hospital é para mim o pior momento do filme, por estes motivos.</div>
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Mesmo assim, tudo somado, não nos podemos queixar muito. Este tipo de filmes tenta ter sempre algum conteúdo dramático para humanizar as suas personagens, mas nunca estamos à espera que esse conteúdo seja transcendental, porque pagamos o bilhete para ver outra coisa. E isso que queremos ver, ‘Mission: Impossible – Fallout’ dá-nos. Em grande estilo. Com quase duas horas e meia é o filme mais longo da <i>franchise</i>, mas nem damos pelo tempo a passar, tamanha é a intensidade do seu encadeamento de cenas excitantes. É verdadeiramente uma luta contra o tempo. É verdadeiramente um filme que se desenrola como o mítico rastilho do genérico da série de televisão. Está a faiscar o tempo todo com a iminência do perigo até à épica explosão final.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"É verdadeiramente um filme que se desenrola como o mítico rastilho do genérico da série de televisão. Está a faiscar o tempo todo com a iminência do perigo até à épica explosão final. (...) É um filme de acção/espionagem com a aura da mítica série dos anos 1960; o rigor cinematograficamente realista que caracterizou os filmes de acção dos anos 1990; e a epicidade do <i>blockbuster</i> pós moderno, em pleno 2018. Fixe!"</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQDyeBboQYlIKBgJj7MG1oZlLokK2fhFFeSFHsM_9vSrRB-LCo0hAxFlFe92yD9k8rSlJ_TS8WG6F5Moaw8SER3cT1VUYWjxaoF9a1LSxuDv1q_YyzFrQlIUqYc9nwBYVF13GUh_K_N7FP/s1600/MI-6-Stills-007-e1524702838966-1150x500.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="501" data-original-width="1150" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQDyeBboQYlIKBgJj7MG1oZlLokK2fhFFeSFHsM_9vSrRB-LCo0hAxFlFe92yD9k8rSlJ_TS8WG6F5Moaw8SER3cT1VUYWjxaoF9a1LSxuDv1q_YyzFrQlIUqYc9nwBYVF13GUh_K_N7FP/s400/MI-6-Stills-007-e1524702838966-1150x500.jpg" width="400" /></a></div>
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Termino parafraseando o final da minha crítica ao filme anterior. ‘Fallout’ é um filme de acção/espionagem com a aura da mítica série dos anos 1960; o rigor cinematograficamente realista que caracterizou os filmes de acção dos anos 1990; e a epicidade do <i>blockbuster</i> pós moderno, em pleno 2018. Fixe! Que mais se pode querer? Pela minha parte absolutamente nada. Que venham mais destes, porque nós iremos estar cá para vê-los.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-48517207942842322842018-08-06T23:00:00.001+01:002021-04-11T21:19:44.440+01:00Andy Hardy's Blonde Trouble <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Yxz2R-8CDGQiBmSdSvIE3TLGpBGgz0RGVWBd4YrRgisqWxBQ9tyWt5dQ5LwbAWJm1h0nUkn59BpfY0XJFUDWRC2lj1j1CTWq0-j-CfLvcoVvb_zsZfhNgjbjNuLtAoUDnu_k9i4PZ76O/s1600/51gg18RAijL.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="376" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Yxz2R-8CDGQiBmSdSvIE3TLGpBGgz0RGVWBd4YrRgisqWxBQ9tyWt5dQ5LwbAWJm1h0nUkn59BpfY0XJFUDWRC2lj1j1CTWq0-j-CfLvcoVvb_zsZfhNgjbjNuLtAoUDnu_k9i4PZ76O/s320/51gg18RAijL.jpg" width="240" /></a><b>Ano:</b> 1944<br />
<br />
<b>Realizador:</b> George B. Seitz<br />
<br />
<b>Actores principais:</b> Lewis Stone, Mickey Rooney, Fay Holden<br />
<br />
<b>Duração:</b> 107 min<br />
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<b>Crítica: </b>E então, após treze filmes em sete anos, Andy Hardy, o adolescente mais universal da história do cinema – genialmente interpretado pelo supremo <b>Mickey Rooney</b> – finalmente rumou à Faculdade em ‘Andy Hardy's Blonde Trouble’ (<u>em português ‘A Loira de Andy Hardy’</u>). </div>
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Toda a gente que viu os treze filmes anteriores (todos eles já foram criticados em EU SOU CINEMA) percebe a importância crucial deste momento, aguardado e temido em partes iguais. Ao longo de tantas aventuras desde <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/09/a-family-affair.html"><b><span style="color: blue;">‘A Family Affair’ (1937)</span></b></a>, Andy, o membro mais novo da família Hardy da pequena cidade de Carvel, foi-se tornando cada vez mais central. Aos poucos, a saga foi-se libertando da sua repetitiva fórmula inicial, onde cada membro da família representava um estereótipo particular, para se transformar numa das mais puras e honestas representações de sempre (senão a mais pura e a mais honesta) do crescimento de um adolescente.</div>
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<br /></div>
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Tal como interpretado por <b>Mickey Rooney</b>, que apenas tinha 18 anos quando a saga começou (e que rapidamente, graças a esta continua sequência de filmes, se tornou o actor mais popular e mais rentável de Hollywood), Andy seduziu uma geração inteira no período conturbado das vésperas da Segunda Guerra Mundial. Percorrendo as fases de crescimento através dos seus olhos, o espectador riu-se com a sua jovial inocência adolescente em divertidos filmes como <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/02/love-finds-andy-hardy.html"><span style="color: blue;"><b>‘Love Finds Andy Hardy’ (1938)</b></span></a> ou <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/06/judge-hardy-and-son.html"><span style="color: blue;"><b>‘Judge Hardy and Son’ (1939)</b></span></a> (para além de ser a epítome do <i>boy next door</i>, <b>Rooney </b>foi acima de tudo um grande actor cómico); sentimos a nostalgia do primeiro amor em <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/05/andy-hardy-gets-spring-fever.html"><b><span style="color: blue;">‘Andy Hardy Gets Spring Fever’ (1939)</span></b></a>; ou rejubilamos quando terminou o liceu em <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/08/andy-hardys-private-secretary.html"><span style="color: blue;"><b>‘Andy Hardy's Private Secretary’ (1941)</b></span></a>. De uma forma inesperada, a comédia moralista transformou-se numa universal lição de vida. A saga atingiu um surpreendente equilíbrio emocional, preparando Andy, e os seus milhares de jovens fãs, para a vida adulta – incluindo para a Guerra, que se aproximava a passos largos. </div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"Após treze filmes em sete anos, Andy Hardy finalmente rumou à Faculdade (...) Só que infelizmente, a saga não se reinventou. (...) </b><b>É incrível, tendo em conta a qualidade da maior parte dos treze filmes anteriores, mas a grande verdade é que 'Andy Hardy's Blonde Trouble' é um filme desinteressante e sem chama. (...) A aura mágica que tinha tornado a saga tão especial esfuma-se perante os nossos olhos e nada toma o seu lugar."</b></span></div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXfdwdWZKyYhHrhE2U_IvNqW5uYqTMW0af8FF2ZLal5_pDPNdEXzG6HGFyAX4EiMdtnEaBtZL-ifUh510Vm_Np2_91EXhBlN4oOLudjxo3veJH4LfNqLVKOsMDdggPwV5dWF3kRLnTT8D0/s1600/image-w1280.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXfdwdWZKyYhHrhE2U_IvNqW5uYqTMW0af8FF2ZLal5_pDPNdEXzG6HGFyAX4EiMdtnEaBtZL-ifUh510Vm_Np2_91EXhBlN4oOLudjxo3veJH4LfNqLVKOsMDdggPwV5dWF3kRLnTT8D0/s400/image-w1280.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando tudo já parecia ter sido dito depois de <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/08/andy-hardys-private-secretary.html"><b><span style="color: blue;">‘Andy Hardy's Private Secretary’</span></b></a>, a saga ganhou uma nova vida com aquela que eu apelidei em críticas anteriores de ‘trilogia de Verão’; os três filmes que retratam o período temporal entre Andy terminar o liceu e finalmente apanhar o comboio para a universidade no final de <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/02/andy-hardys-double-life.html"><b><span style="color: blue;">‘Andy Hardy's Double Life’ (1942)</span></b></a>. Este Verão que se recusava a passar foi obviamente consequência do medo que os produtores tinham de que a partida de Andy de Carvel pudesse ditar o final desta bem-sucedida saga: quando o adolescente eterno deixasse de o ser, a saga ainda poderia continuar a existir? Mas o surpreendente é que os filmes não se limitam a ganhar tempo. Estão eximiamente construídos para aproveitar ao máximo este enquadramento, traçando, quase em tempo real, a entrada de Andy na idade adulta.</div>
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<br /></div>
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Em <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/09/life-begins-for-andy-hardy.html"><b><span style="color: blue;">‘Life Begins for Andy Hardy’ (1941)</span></b></a> Andy ruma a Nova Iorque para a sua primeira experiência laboral, e assistimos aos primeiros rasgos da sua maturidade como adulto no filme mais consciente e pesado da saga. Em <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/11/the-courtship-of-andy-hardy.html"><b><span style="color: blue;">‘The Courtship of Andy Hardy’</span></b></a>, de volta aos ambientes de Carvel, existe uma sentida nostalgia e uma ênfase propositada nos valores familiares que haviam marcado o início da saga. Por fim, <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/02/andy-hardys-double-life.html"><b><span style="color: blue;">‘Andy Hardy's Double Life’</span></b></a> concebe-se como a despedida. Passado nos poucos dias antes do tão aguardado comboio, é um filme que não tem pressas em avançar, onde tudo é tranquilo e consciente como um sorriso que baila num rosto, mas que ao mesmo tempo possui uma grande inevitabilidade. Depois de várias subtis homenagens aos momentos mais marcantes da saga, na última sequência tudo se encaixa no seu devido lugar. Tudo é imbuído de uma ternura subtil que afecta honestamente todos aqueles que aprenderam a amar esta série de filmes e esta família. Definitivamente marca o final de uma era. É o adeus que, infelizmente, não era para ser.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2F05IaX2OYnTtMEvyn84kFAoUgZtdOEtq027yf4nPW03ikoRjplLnfYKrrCZoeuu3yxJrnvz3hObihpYvz9FmHY8INC18AnNWEkiFSAH0EeL1zg3n2UD8tda0BPd5u5K-dDPOm_8Zx9Mu/s1600/-1365540666298145589.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="753" data-original-width="957" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2F05IaX2OYnTtMEvyn84kFAoUgZtdOEtq027yf4nPW03ikoRjplLnfYKrrCZoeuu3yxJrnvz3hObihpYvz9FmHY8INC18AnNWEkiFSAH0EeL1zg3n2UD8tda0BPd5u5K-dDPOm_8Zx9Mu/s400/-1365540666298145589.jpg" width="400" /></a>Quando 1943 se tornou no primeiro ano desde 1937 sem o lançamento de um filme da saga Andy Hardy, parecia mesmo que esta tinha terminado de vez. Contudo, tal como agora, parece haver uma grande relutância dos produtores de Hollywood em deixarem uma grande saga terminar, incluindo aquelas que já deram tudo o que tinham para dar e que até já se despediram dos seus fãs, como era o caso desta. Os cifrões parecem sempre falar mais alto que a lógica criativa, uma lógica que neste caso parecia estar completamente contra um novo filme. Para iniciar um novo ciclo de histórias na universidade a saga tinha de se reinventar, tendo em conta o crescimento de Andy e a mudança, não só dos enquadramentos cénicos, mas das personagens-base (não podíamos esperar que todas seguissem Andy para a universidade, pois não?). Só que infelizmente, a saga não se reinventou. Pelo contrário, pareceu ficar hesitante e perdida, sem saber realmente que rumo dar a Andy.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"É um filme incrivelmente morno, lento e monocórdico, onde muitas das personagens parecem ser desadequadas e onde o próprio Andy (e Rooney) não têm convicção. Melhor dizendo, Andy tem extrema dificuldades em existir como personagem fora do seu meio habitual e nunca encontra (ou nunca lhe dão) as condições ideais para fazer brilhar a sua energia cómico-dramática neste novo enquadramento. É um gigantesco desperdício."</span></b></div>
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É incrível, tendo em conta a qualidade da maior parte dos treze filmes anteriores, mas a grande verdade é que 'Andy Hardy's Blonde Trouble' é um filme desinteressante e sem chama. Sem dúvida alguma, é o filme mais desinteressante e mais sem chama desde aquelas sequelas iniciais (o segundo, o terceiro ou o quinto filme) que eram mais coisa menos coisa meros <i>remakes </i>do primeiro <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/09/a-family-affair.html"><b><span style="color: blue;">‘A Family Affair’</span></b></a>. A aura mágica que tinha tornado a saga tão especial esfuma-se perante os nossos olhos e nada toma o seu lugar. E mais incrível ainda é não podermos culpar o contexto. A saga Hardy já tinha demonstrado anteriormente que conseguia perfeitamente equilibrar as duas vertentes do cinema do período de Guerra: o sóbrio moralismo e o entretenimento puramente escapista. O filme anterior, por exemplo, havia concebido uma pungente alegoria do “jovem que parte” (Andy ruma à universidade, mas bem que podia ir para a Guerra), ao mesmo tempo dava rédea livre a <b>Rooney </b>para demonstrar todo o seu poder cómico. Ao contrário do que seria de esperar o mesmo não acontece em 'Andy Hardy's Blonde Trouble'.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTK36mOgH86tIBuARRWc5kksH84Gy2ClE2hNLEmROURJy3I5JaP5nvafV8z_tFyLWtqGHVuJ0IyUsJBGqxGyCZz3xxulKROTtp-LTeyMJCl28M0yLeZiPcrEcRJu4hqA_tyqozEsG7A2P9/s1600/andyhardysblondetrouble1944_022720130303.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="420" data-original-width="645" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTK36mOgH86tIBuARRWc5kksH84Gy2ClE2hNLEmROURJy3I5JaP5nvafV8z_tFyLWtqGHVuJ0IyUsJBGqxGyCZz3xxulKROTtp-LTeyMJCl28M0yLeZiPcrEcRJu4hqA_tyqozEsG7A2P9/s400/andyhardysblondetrouble1944_022720130303.jpg" width="400" /></a></div>
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O problema parece ser sobretudo argumental. Apesar de fazer parte da série especial dos Prémios da Academia e de ter sido exibido nas tournées de entretenimento para os soldados, é difícil de acreditar que os soldados tenham sido entretidos por um obra destas, e que a moral que o filme contém (se é que se lhe pode chamar isso) lhes tenha tocado de alguma maneira. 'Andy Hardy's Blonde Trouble' é um filme incrivelmente morno, lento e monocórdico, onde muitas das personagens parecem ser desadequadas e onde o próprio Andy (e Rooney) não têm convicção. Melhor dizendo, Andy tem extrema dificuldades em existir como personagem fora do seu meio habitual e nunca encontra (ou nunca lhe dão) as condições ideais para fazer brilhar a sua energia cómico-dramática neste novo enquadramento. É um gigantesco desperdício.</div>
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'Andy Hardy's Blonde Trouble' é o último filme da saga realizado por <b>George B. Seitz</b>, que havia realizado todos os filmes até então excepto <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/05/andy-hardy-gets-spring-fever.html"><b><span style="color: blue;">‘Andy Hardy Gets Spring Fever’</span></b></a>. Infelizmente, este seu 13º filme ao comando dos destinos da família Hardy acabou por ser azarado e uma injusta e inglória despedida. O filme começa repetindo, com ligeiras alterações, a cena final do anterior. Andy acaba de se despedir da família na estação e pouco depois do comboio arrancar conhece Kay. Só que esta já não é interpretada pela bela <b>Susan Peters</b> (que apenas aparecera cerca de 30 segundos no final do filme anterior) mas por <b>Bonita Granville</b>, mais uma jovem actriz das fileiras da MGM que tinha tido algum sucesso como Nancy Drew numa série de filmes no final da década anterior.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Apesar de Bonita Granville ter apenas 21 anos de idade (para os 24 anos de Rooney), a sua voz, aparência e atitudes muito mais maduras fazem-na sempre parecer muitos anos mais velha do que ele. O filme faz querer que é por Kay ser uma rapariga mais adulta e por a sua relação com Andy poder ser muito mais séria. Mas sinceramente, o que passa é um contraste evidente entre ambos que soa forçado, estranho e desconfortável desde o princípio."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi230xGJEDUml-Tx-pLcUPGYna5-K6aYSUzEzGoPypinDdMK5qrOhFVRY9Zx_T6evRbdTPgpOpdiLaYzz20f67WbVUZgvkbkdiozjN2aA-q-Wbk74WUmREjtSv72I4U6VZjDBLmRYYKhyq8/s1600/Andy+Hardy%2527s+Blonde+Trouble.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi230xGJEDUml-Tx-pLcUPGYna5-K6aYSUzEzGoPypinDdMK5qrOhFVRY9Zx_T6evRbdTPgpOpdiLaYzz20f67WbVUZgvkbkdiozjN2aA-q-Wbk74WUmREjtSv72I4U6VZjDBLmRYYKhyq8/s400/Andy+Hardy%2527s+Blonde+Trouble.JPG" width="400" /></a></div>
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Esta mudança representa, inadvertidamente, a mudança que a saga experienciou neste filme. Há imediatamente algo que não resulta com neste pedaço de <i>casting </i>e que irá condicionar todo o filme. Andy constantemente se rodeou das mais belas e mais jovens actrizes da MGM, com quem manteve sempre uma grande química (<b>Judy Garland</b>, <b>Lana Turner</b>, <b>Ester Williams</b>, <b>Ann Rutherford</b>, <b>Donna Reed</b>). Mas de repente, aqui está ele pelo beicinho por uma rapariga pouco vibrante, que é totalmente o oposto das anteriores e com quem não tem química absolutamente nenhuma. Apesar de <b>Bonita </b>ter apenas 21 anos de idade (para os 24 anos de <b>Rooney</b>), a sua voz, aparência e atitudes muito mais maduras fazem-na sempre parecer muitos anos mais velha do que ele. O filme faz querer que é por Kay ser uma rapariga mais adulta e por a sua relação com Andy poder ser muito mais séria do que as paixonetas passadas deste. Mas sinceramente, o que passa para o espectador é um contraste evidente entre ambos que soa forçado, estranho e desconfortável desde o princípio.</div>
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Ainda mais desconfortável é a presença de um misterioso senhor que parece intrometer-se sempre entre eles no comboio, e que mais tarde revelará ser o director da faculdade. Primeiro porque o actor <b>Herbert Marshall</b> nunca está, compreensivelmente, à vontade com o papel. Segundo porque o filme insinua que os seus motivos se prendem com o facto de ter – ele sim – uma química com a muito mais nova Kay que, diga-se de passagem, não a refuta. Aliás, vai ser algo que vai manter ambos incomodados durante grande parte do filme, e que teoricamente teria ramificações muito maiores do que aquelas que o filme acaba por considerar (e mais tarde rapidamente desconsiderar). E terceiro porque o verdadeiro motivo do estranho interesse em Andy ser tão previsível e desinspirado que quando é revelado no final, não constitui a surpresa que o filme esperaria.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO6t_x-FmtXe7FMxW82nuAGq7MQ6XAQLDZfw45sT6xcDFdP2HlZK_3Q968X4_HlyyvkY7FeAmnpvwsP7DqiYjk09cjcq8p45l3FW7DaUOlGwn3vD7WT8tJSiREnZn1HFEO73hUZOE3BOka/s1600/Poster+-+Andy+Hardy%2527s+Blonde+Trouble_03.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="978" data-original-width="1300" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO6t_x-FmtXe7FMxW82nuAGq7MQ6XAQLDZfw45sT6xcDFdP2HlZK_3Q968X4_HlyyvkY7FeAmnpvwsP7DqiYjk09cjcq8p45l3FW7DaUOlGwn3vD7WT8tJSiREnZn1HFEO73hUZOE3BOka/s400/Poster+-+Andy+Hardy%2527s+Blonde+Trouble_03.jpg" width="400" /></a></div>
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Para tornar as coisas ainda mais contrastantes, Andy tem efectivamente uma grande chama com outras duas raparigas que partilham a mesma carruagem: as gémas Walker, interpretadas pelas gémeas <b>Lee e Lyn Wilde</b>, cantoras de relativo sucesso que tiveram uma curta carreira no cinema na década de 1940. Sublimes e luminosas ambas, constituem o elo de ligação ao Andy Hardy passado, ou seja, têm a energia das melhores Hardy-girls (aquela que falta a <b>Bonita</b>) e oferecem ao filme (e a Andy) oportunidades para sacudirem o marasmo em que se colocaram com esta história fraca. Não é de estranhar, portanto, que a sua história supostamente “secundária” – e a sua presença secundária relativamente a Kay – acabe por tomar grande parte do tempo do filme e que sejam elas a dar o título à obra (o problema com as loiras). Mais isso ainda mais enfatiza a incerteza e falta de confiança que toda a obra possui.</div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"A longuíssima e extremamente morosa sequência do comboio demora quase 45 min como se o filme continuasse com receio da chegada de Andy ao seu destino. (...) Quando finalmente chega à universidade (...) o</b><b> filme poderia ter feito pelo ano de caloiro o que ‘Andy Hardy's Private Secretary’ havia feito pelo último ano do liceu. Contudo não é isso que acontece (...) Toda a energia cómica e bons momentos que Rooney poderia ter oferecido são desperdiçados."</b></span></div>
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Quando Andy as encontra, as gémeas Walker vivem um dilema. O pai delas quis separá-las (uma era suposto ir para a universidade, a outra para casa de uma tia distante) por isso decidiram ir ambas para a universidade, fingindo ser a mesma pessoa. No comboio enquanto uma sai a outra esconde-se no compartimento e mantêm a charada perante um incrédulo Andy. As interacções com ele logo nas primeiras cenas são excelentes, porque a sua confusão e atrapalhação é genuinamente hilariante. Enquanto Lynn é mais contida e recatada, Lee é basicamente uma versão feminina de Andy; uma atrevida e extrovertida rapariga que não hesita em fazer olhinhos ao nosso herói, e com quem partilha uns momentos electrizantes como outras raparigas haviam feito no passado. Como consequência, Andy terá uma enorme dificuldade em acompanhar as mudanças de humor do que pensa ser a mesma pessoa. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbmZA8IsEhMgPYDllcbePRqy6tMftSWNK5jrtn_EZ3hacMerLIX5_Ub1qSG_Zab8SeaxIziSx1WqgM9UWO_iX9DvXCWx6fjFgua6JWaPs7W2dHVIymhhwB5j272VQ8xMmX-GoPv-y31RKI/s1600/714c166d33cc60a44e8df331f521610b.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="620" data-original-width="526" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbmZA8IsEhMgPYDllcbePRqy6tMftSWNK5jrtn_EZ3hacMerLIX5_Ub1qSG_Zab8SeaxIziSx1WqgM9UWO_iX9DvXCWx6fjFgua6JWaPs7W2dHVIymhhwB5j272VQ8xMmX-GoPv-y31RKI/s400/714c166d33cc60a44e8df331f521610b.jpg" width="338" /></a></div>
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Este é de longe melhor Andy do filme, e é pena que esta energia cómica não se perpetue pelo resto da obra. Do mesmo modo, os momentos com as gémeas são os mais interessantes da longuíssima e extremamente morosa sequência a bordo do comboio, que demora quase 45 minutos como se o filme continuasse com receio da chegada de Andy ao seu destino. A sequência nem acompanhamento musical tem, o que resulta em inúmeros silêncios desconfortáveis. É com dificuldade que o espectador acorda para a segunda parte do filme. Esta sequência inclui ainda outros momentos que nunca se articulam devidamente, como os apuros em que Andy se mete quando descobre que o pai se esqueceu de lhe dar o dinheiro para o bilhete, ou quando colegas mais velhos, para o enganar, convencem-no que caloiros endinheirados terão problemas. Assim, Andy acaba por “emprestar” o dinheiro que eventualmente recebe do pai a Lee. O problema vai ser tê-lo de volta mais tarde… </div>
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Quando finalmente o comboio chega à universidade, o espectador ainda tem a ténue esperança que é nesse momento que o filme vai realmente começar. Mas de novo volta a desapontar. O filme poderia ter feito pelo ano de caloiro o que <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/08/andy-hardys-private-secretary.html"><b><span style="color: blue;">‘Andy Hardy's Private Secretary’</span></b></a> havia feito pelo último ano do liceu. Contudo não é isso que acontece. Aos olhos do espectador, Andy é um universitário apenas em conceito. Só vemos de fugidia numa única aula e não há qualquer interacção de Andy com os restantes caloiros, por isso toda a energia cómica e bons momentos que Rooney poderia ter oferecido são desperdiçados. De facto, nas sequências na universidade, Andy só fala praticamente ou com o director ou com uma das três raparigas, Kay, Lee e Lyn. Todo o filme girará à volta das duas comédias semi-dramáticas de enganos que rodeiam estas personagens.</div>
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Por um lado, a relação de Andy e Kay é totalmente monocórdica. Apesar do filme assumir a sua seriedade, falta dinâmica argumental às cenas, que pouco mais são do que breves conversas entre aulas. Nunca se percebe o que cada um vê no outro (o amor verdadeiro é cego talvez…), visto que há pouca compatibilidade nas personagens e nos seus objectivos de vida. A “tensão” entre eles provém dos ciúmes de Andy quando passa a ver o director como um rival, mas isso pouco ou nada dura já que as coisas são rapidamente esclarecidas. Idem para a indecisão de Kay. Não há nada no desabrochar da relação entre estas duas personagens que seja convincente e muito menos algo com que o espectador se possa identificar e extrair morais interessantes.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Não conseguimos acreditar no arco emocional de Andy por causa da sua indefinição como personagem (...) As suas oscilações são forçadas e súbitas (...) Andy (e Rooney) estão hilariantes (como de costume) ao lado das gémeas; mas Andy (e Rooney) estão frouxos e apagados ao lado de Kay, o que é inacreditável se assumirmos, como o filme insinua, que em Kay encontrou o amor da sua vida. É quase como se Andy fosse duas pessoas diferentes.</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOt3ysS0sFpryAJBqO6rGYcucXo0WBuHrnqXqKMKWAeBJUbXcFcqFmMPjMwuQ8HZsvfrnytklgCohRIGvaXmgowniJbw4q9JBRG3wyockINpP-myQQqY2RnqtfuWfgjzpQq71FcR7Z3swm/s1600/Annex+-+Rooney%252C+Mickey+%2528Andy+Hardy%2527s+Blonde+Trouble%2529_NRFPT_02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1003" data-original-width="1317" height="303" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOt3ysS0sFpryAJBqO6rGYcucXo0WBuHrnqXqKMKWAeBJUbXcFcqFmMPjMwuQ8HZsvfrnytklgCohRIGvaXmgowniJbw4q9JBRG3wyockINpP-myQQqY2RnqtfuWfgjzpQq71FcR7Z3swm/s400/Annex+-+Rooney%252C+Mickey+%2528Andy+Hardy%2527s+Blonde+Trouble%2529_NRFPT_02.jpg" width="400" /></a></div>
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Já os males entendidos em redor das gémeas são bastante mais engraçados e um bem-vindo escape cómico à morosidade entre Andy e Kay. A cena em que ele descobre que afinal elas são duas pessoas diferentes, quando as segue até um café fora do campus e as ouve a cantar é vintage Rooney. Depois delas lhe contarem a sua história, Andy decide ajudá-las a ficar juntas. Infelizmente isso resume-se simplesmente a um telefonema ao pai delas fingindo ser o director. Rooney é exímio a demonstrar os seus talentos vocais numa cena genuinamente engraçada na boa tradição da saga, mas mais uma vez é pena que, pelo menos conceptualmente, seja apenas um aparte. Apesar das cenas com as gémeas até chegarem a demorar mais tempo que as partes com Kay, o filme parece sempre recusar-se a explorá-las mais a fundo. Provavelmente para não eclipsarem o resto do filme (note-se que as gémeas não trocam uma única palavra com Kay em todo o filme), mas o próprio título é prova que o fazem.</div>
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Por fim, e talvez porque há muito pouca dinâmica nesta aventura de Andy, o filme não diz totalmente adeus a Carvel nem às personagens do passado como deveria. De quando em quando, lá regressa à pequena cidade, para mostrar duas rábulas simples. Uma envolve o antigo carro de Andy e a irmã de Beasey (ver filmes anteriores). A outra a rouquidão do Juiz (que o deixa algo incapacitado) e do novo médico que o cura, um chinês-americano. A inclusão destas sequências é forçada, mas as morais de tolerância social e racial não são, numa era em que o ódio aos orientais escalava na América. Infelizmente, mais uma vez são linhas argumentais desgarradas da história principal que podem fazer o espectador recordar-se dos “bons velhos tempos” da saga, mas não contribuem muito para melhorar a história aqui apresentada.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBG-t-2HMy4qLYcfQmd2aatkgbdoWyqjCoXQbrv_1s6Zqo4iuxtSMYJIwgODZCxleiRJg3iR5p66ba-ND93hQD4bISApz4s0apt_dHeKc6mCYZbOUbJU03YLYF-lA5eyiECk3y-uxWv_WL/s1600/932d06ffcf2fb04d95ca0d01c2c4c18e.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="500" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBG-t-2HMy4qLYcfQmd2aatkgbdoWyqjCoXQbrv_1s6Zqo4iuxtSMYJIwgODZCxleiRJg3iR5p66ba-ND93hQD4bISApz4s0apt_dHeKc6mCYZbOUbJU03YLYF-lA5eyiECk3y-uxWv_WL/s400/932d06ffcf2fb04d95ca0d01c2c4c18e.jpg" width="400" /></a></div>
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No último acto, o Juiz irá mesmo rumar ao campus, para ajudar Andy a resolver os seus problemas, que parecem sempre muito mais simples do que o retrato dramático que o filme (e Andy) pintam. Com uma simplória linearidade o filme ruma a uma fácil resolução destes dilemas e a um final expectável. Como de costume, tudo está bem quando acaba bem. Não é inteiramente credível como todas as personagens aceitam o final, porque, lá está, são peões do argumento com pouca personalidade própria. Até Andy e Lee misteriosamente se esquecem um ao outro à medida que, tudo aponta, Andy avança vertiginosamente para uma relação mais séria com Kay. Mas isso não quer dizer que Andy esteja mais maduro. Ao contrário dos filmes anteriores, não conseguimos traçar nem acreditar no seu arco emocional por causa da sua indefinição como personagem. O filme tenta manter elementos clássicos (como o seu excitado gritinho final), mas as suas oscilações são forçadas e súbitas, e já não surgem na sequência natural dos eventos. Claro que é natural que ele ainda esteja divido (ou pelo menos o filme tenta que esteja), entre a folia adolescente que ainda o caracteriza e a iminente idade adulta. Mas a verdade é que estas duas vertentes, representadas neste filme pelas gémeas e por Kay, são diametralmente opostas. Andy (e <b>Rooney</b>) estão hilariantes (como de costume) ao lado das gémeas; mas Andy (e <b>Rooney</b>) estão frouxos e apagados ao lado de Kay, o que é inacreditável se assumirmos, como o filme insinua, que em Kay encontrou o amor da sua vida. É quase como se Andy fosse duas pessoas diferentes, passando constantemente de um estado para o outro, ora luminoso ora apagado, sem que <b>Rooney</b>, <b>Seitz </b>e o filme saibam o que fazer para o contrariar ou pelo menos controlar.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"‘O filme prova que Andy nunca deveria ter deixado de ser um adolescente de liceu (...) Andy tenta demasiado ajustar-se num determinado padrão pré-concebido, à custa da perda da sua própria individualidade. Falta discernimento à obra, mas principalmente falta classe. Nenhum filme pode ser bom se no final ainda torcemos para que o herói fique com uma das loiras secundárias e não com o desinspirado interesse romântico principal."</span></b></div>
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Com 1h50min, ‘Andy Hardy's Blonde Trouble’ é de longe o maior filme da saga Hardy em termos de duração, o que é outra grande incongruência. O ritmo do filme é tão pausado que parece que tem duas vezes mais do que isso, principalmente na sequência inicial do comboio. A energia dos filmes anteriores é uma memória distante e a realização é apagada. Tudo isto talvez porque o argumento é extremamente desinteressante. As pequenas aventuras são enfadonhamente lineares, e não compensam essa falha com boas morais e boas doses de entretenimento como os filmes anteriores. É um mini-drama, semi-adulto, sem rumo aparente, sem coesão interna, que se arrasta como uma pálida imagem do que a saga havia sido, e nem sequer consegue capitalizar nessa memória. É quase como se fosse um filme de uma outra qualquer saga.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK6kUijLL2K94o9vlHXlko-HZrxAG9WX1GJO4rSDkRy8Nb1q2mBrPar2nlFCtA5PL57WfhQzZCZDz6bHjw-0FOwTdPK0bWmK48E-vDPdL0VzxBl9V1XFTluvH46hkzG9-I_V_d1T5rl-Xg/s1600/MPW-81131.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="304" data-original-width="380" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK6kUijLL2K94o9vlHXlko-HZrxAG9WX1GJO4rSDkRy8Nb1q2mBrPar2nlFCtA5PL57WfhQzZCZDz6bHjw-0FOwTdPK0bWmK48E-vDPdL0VzxBl9V1XFTluvH46hkzG9-I_V_d1T5rl-Xg/s400/MPW-81131.jpg" width="400" /></a></div>
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‘Andy Hardy's Blonde Trouble’ prova, infelizmente, que Andy nunca deveria ter deixado de ser um adolescente de liceu em Carvel e que a saga deveria ter acabado ao 13º filme. A mística, a essência que constitua a <i>raison d'être</i> da saga, perde-se com o comboio que é apanhado para uma nova vida. A esperança que o espectador tinha de ver Andy tornar-se homem desvanecesse com esta história. Andy sente de mais o peso da sua maturidade e tenta demasiado ajustar-se num determinado padrão pré-concebido, à custa da perda da sua própria individualidade. Falta discernimento à obra, mas principalmente falta classe. Nenhum filme pode ser bom se no final ainda torcemos para que o herói fique com uma das loiras secundárias e não com o desinspirado interesse romântico principal. E esta constatação resume a essência do filme. Nem as pequenas risadas que <b>Rooney </b>proporciona têm força suficiente para aquecer o espectador, como acontecera no final de quase todos os filmes anteriores. É uma pena.</div>
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Haveriam ainda mais dois filme da saga Hardy, mas depois deste, nenhum espectador fica com muito interesse de vê-los. Muito melhor chegar a fita atrás, e começar a ver a saga a partir de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2016/09/a-family-affair.html"><b><span style="color: blue;">‘A Family Affair’</span></b></a> de novo. Andy é o mais extraordinário e mais universal adolescente da história do cinema. E sempre irá ser. Por isso só funciona assim. Adolescente. A faculdade já não é a sua praia.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-14134425525122193182018-08-01T13:50:00.000+01:002018-08-01T13:52:03.973+01:00Histoire(s) du Cinema: o Cinema Nun’Alvares no Porto<div style="text-align: justify;">
O Cinema Nun’Alvares no Porto é um dos cinemas da minha infância. O cinema “de bairro” mais perto de minha casa, como já escrevi noutra <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/07/histoires-du-cinema-dragonheart-1996-ou.html"><span style="color: blue;"><b>Histoire du Cinema</b></span></a>, era o Estúdio Foco, mas um jovem a crescer nesta zona no final dos anos 1980, início dos anos 1990, tinha o privilégio de estar perto de salas como o cinema Charlot (no centro comercial Brasília), o Pedro Cem na Rua Júlio Dinis ou, claro está, o cinema Nun’Alvares, um dos mais prestigiados.</div>
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Situado na rua de Guerra Junqueiro, curiosamente (ou não) numa das extremidades daquele que é chamado o bairro Hollywood do Porto (um bairro residencial de grandes vivendas e ruas arborizadas), o cinema Nun’Alvares abriu portas em 1959. Com uma única sala de 192 lugares, rapidamente se tornou um dos grandes centros cinéfilos da cidade. Não sei dizer exactamente quantos filmes vi aqui na infância (as minhas memórias estão naturalmente mais associadas ao Estúdio Foco) mas não tenho dúvidas que foram uns quantos. Sempre o recordei como um espaço agradável numa rua agradável. </div>
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Contudo, depois da glória dos anos 1980 e 1990, com a chegada dos centros comerciais e dos multiplexes (o centro comercial Arrábida abriu as suas 20 salas em 1996; o Norteshopping e as suas 8 salas seguiram-se em 1998) todos os cinemas de bairro do Porto (e de todas as outras cidades) foram lentamente perdendo a sua clientela, o seu prestígio e a sua capacidade para sobreviver. Muitas das salas fecharam de vez ou reconverteram-se para outros usos. As que se mantiveram abertas encontraram outras distribuidoras, mais pequenas, mais focadas em filmes europeus, independentes, alternativos ou documentais. O próprio Nun’Alvares, que a partir de 1996 começou a ser explorado pela distribuidora Medeia, passou a exibir precisamente este género de filmes, para o bem ou para o mal.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVAADf5VBfLoNmt2C1b8K0t1PzU46RjaOnnU12mxDjyVoXWNHmlKRYCAl_7iQjqEAxRUfh5xSUst0-y5g-6QgnKE9TQKPLUGBmNOf7LpuucrJugiOntJjET5A2Q4gV4hgAVebQqwY-4PbE/s1600/cinemanunalvares_dr1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="229" data-original-width="305" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVAADf5VBfLoNmt2C1b8K0t1PzU46RjaOnnU12mxDjyVoXWNHmlKRYCAl_7iQjqEAxRUfh5xSUst0-y5g-6QgnKE9TQKPLUGBmNOf7LpuucrJugiOntJjET5A2Q4gV4hgAVebQqwY-4PbE/s400/cinemanunalvares_dr1.jpg" width="400" /></a></div>
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Para o bem porque há sempre cinéfilos cansados da desinspiração de Hollywood. Para o mal porque estes não se comparam às enchentes que fazem fila para ver os maiores blockbusters, e portanto é muito difícil um cinema destes ter retorno do seu investimento. Mesmo assim, quando finalmente fechou portas em Janeiro de 2006 após ter exibido <b>‘Oliver Twist’</b> de <b>Polanski</b>, o Cinema Nun’Álvares era um bastião de resistência. Era a única sala de cinema tradicional do Porto que ainda mantinha uma programação regular. Mas foi demais para a Medeia que decidiu não renovar o contrato que tinha com a empresa proprietária do espaço, a Ciura (Imobiliária Agrícola Urbana). Segundo fontes noticiosas da época que encontrei na Internet, o défice na altura de fecho rondava os 50 mil euros, quase três vezes mais do que a empresa tinha sustido no ano anterior. O número médio de espectadores por sessão não passava, aparentemente, das três ou quatro pessoas. Uma triste realidade para uma casa aberta há quase 50 anos. A imprensa muito especulou posteriormente qual seria o futuro do Nun’Alvares, mas a realidade é que nada aconteceu.</div>
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Confesso que na altura, como um jovem estudante universitário habituado há anos a ir a centros comerciais com os amigos, aceitei esta notícia como uma inevitável inevitabilidade, passe a redundância. Sempre gostei do ambiente do cinema de bairro, mas quando as grandes produções de Hollywood deixaram de ter lugar aí, e consequência da minha idade, fui-me afastando. Continuei a visitar estas salas tradicionais para eventos específicos (lembro-me que vi <b>‘My Darling Clementine’ </b>de <b>John Ford</b> no Charlot por exemplo) mas não posso dizer que era propriamente um espectador assíduo. Tudo isso, contudo, estava prestes a mudar. Em meados de 2009, agora um jovem trabalhador solteiro, fui morar sozinho precisamente para bem perto do Nun’Alavares. Quis o destino que um par de meses mais tarde tenha sido anunciada a grande notícia que o cinema iria reabrir.</div>
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Três anos depois de ter fechado portas, o Nun’Alvares voltou a abri-las em Dezembro de 2009. E não foi uma abertura qualquer. A Malayka Cinemas fez uma aposta avultada (e na minha opinião acertada) para quebrar com o modelo de reabilitação que havia sido norma noutros cinemas de bairro (ou seja apelar a um público fora do <i>mainstream</i>) e em vez disso ir directamente à jugular. Mantendo a sua ocupação de cerca de 200 lugares, a sala foi completamente remodelada. As cadeiras novas eram incrivelmente confortáveis. Foram instalados sistemas de som e imagem digitais. E no mês de saída de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/04/avatar-uma-critica-curta-e-honesta-e.html"><b><span style="color: blue;">‘Avatar’</span></b></a>, foi instalado um dos mais modernos sistemas de projecção 3D em Portugal. As salas não eram melhores nos centros comerciais, e era essa precisamente a ideia. A grelha de programação manteve alguns travos de cinema independente, principalmente em matinés, mas apostou-se seriamente, de novo ao contrário da maior parte dos cinemas de bairro reabilitados, na exibição dos grandes êxitos comerciais nas sessões nocturnas. Nas palavras do responsável Elias Macovela a ideia era que estes filmes “pagassem as contas”; as contas de um investimento inicial de 150 mil euros e de uma despesa mensal estimada em 5 mil.</div>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoB0oKeEfWLRAWRzb2SywK8ZWQJMBuB56JmduMdVgzc2w0H-_GH0S1Ppz43pA58vMYASeNbCcJXqhvGLnf1tVjXNhXgM6IvT5b6ruc8ZnEFZ94Cv7dT2BciztXgKSETGyIJm24NvBKcmJ9/s1600/10117.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="266" data-original-width="400" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoB0oKeEfWLRAWRzb2SywK8ZWQJMBuB56JmduMdVgzc2w0H-_GH0S1Ppz43pA58vMYASeNbCcJXqhvGLnf1tVjXNhXgM6IvT5b6ruc8ZnEFZ94Cv7dT2BciztXgKSETGyIJm24NvBKcmJ9/s400/10117.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Elias Macovela, o promotor do renascimento breve do Nun'Alvares entre o final de 2009 e o início de 2011</td></tr>
</tbody></table>
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Com esta estratégia montada, o cinema arrancou logo com duas grandes estreias, a de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/07/alice-in-wonderland.html"><span style="color: blue;"><b>‘Alice in Wonderland’</b></span></a> de <b>Tim Burton</b> e <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/04/avatar-uma-critica-curta-e-honesta-e.html"><span style="color: blue;"><b>‘Avatar’</b></span></a> de <b>James Cameron</b>, e notícias da altura mostram um cenário risonho de salas cheias para estas duas estreias. Eu próprio fui experimentar este “nuovo cinema paradiso”. Recordo-me perfeitamente de sair do trabalho um pouco mais cedo numa sexta-feira de tarde para apanhar a sessão de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/07/alice-in-wonderland.html"><span style="color: blue;"><b>‘Alice in Wonderland’</b></span></a> algures pelas 18h. Deram-me uns óculos 3D para a mão e abriram-me as portas para uma sala extraordinária que já não visitava há mais de uma década. O velho espírito do cinema, que os centros comerciais de certa forma deturparam, estava de repente a ganhar vida no quarteirão onde moro. Foi uma experiência fantástica. Mais fantástico ainda (mais do que o filme) foi sair da sala não para um centro comercial abafado e apinhado de pessoas, mas para a rua, e poder ir a pé até casa, tranquilamente sentindo a brisa do início da noite no rosto e matutando sobre o filme.</div>
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Com o passar dos meses essa seria para mim a epitome da experiência Nun’Alvares nesta sua reencarnação no início da década de 2010. A experiência de ter uma sala de cinema mesmo ali ao virar da esquina; a possibilidade de poder ir e vir a pé; a capacidade de poder decidir sair do sofá e ver um filme numa sala de cinema tradicional em menos de cinco minutos. Perfeito. Morando sozinho, muitas foram as noites em que o fiz. Lembro-me que vi lá filmes como <b>‘Invictus’ (2009)</b>, <b>‘The Imaginarium of Doctor Parnassus’ (2009)</b>, <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/11/brothers.html"><span style="color: blue;"><b>‘Brothers’ (2009)</b></span></a>, <b>‘Iron Man 2 (2010)</b> ou <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/03/robin-hood.html"><b><span style="color: blue;">‘Robin Hood’ (2010)</span></b></a>. Aliás, tenho ideia que vi tudo, ou praticamente tudo o que o Nun’Alvares tinha para oferecer nas suas sessões nocturnas à excepção dos filmes de animação (<b>‘Toy Story 3’</b> por exemplo), pois preferi ir ver as versões originais ao <i>shopping</i>, e não as dobradas que o Nun’Alvares decidiu exibir. Mas confesso que a minha frequência no Nun’Alvares deveu-se muito, precisamente, ao facto de morar no bairro e ir lá geralmente sozinho. Quando ia ao cinema com grupos maiores, dificilmente ia ali; um local sem possibilidade imediata de fazer compras e comer antes ou depois da sessão. O Nun’Alvares, orgulhosamente, nem pipocas tinha para vender nas sessões nocturnas (de acordo com mais uma notícia que encontrei), para supostamente não incomodar e manter o espírito tradicional. Bem, não concordo nada com isso. Não foram os <i>shoppings</i> que inventaram as pipocas, e se queriam mesmo atrair as famílias do bairro (afinal exibiram o <b>‘Toy Story 3’</b> em português!) então deveriam ter pipocas, não? E lucro é lucro, não se deviam ter dado a esse e a outros luxos se queriam sobreviver.</div>
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Mas esse para mim nem era o maior problema. Para mim o maior problema era a pouca rotatividade dos filmes. Com uma única sala, não há grande escolha. Entre a matiné e o serão só se pode ver um ou dois filmes diferentes por semana. Antigamente, os cinemas de bairro concorriam uns com os outros somente até certo ponto. Como há sempre várias estreias por semana, os cinemas podiam reparti-las. Mas isso acabou quando os centros comerciais passaram a ter numerosas salas. Todos puderam passar a exibir (quase) todos os filmes. O problema que eu comecei a sentir com o Nun’Alvares foi que, depois de ir ver o novo filme no seu fim de semana de estreia, tinha que esperar várias semanas até que ele saísse de exibição e chegasse um novo. Consegue um cinema destes sobreviver se cada cliente só lá vai uma ou duas vezes por mês? Lá está, dificilmente. E de permeio, se o cliente gosta de ver um filme por semana, ou se quer ver um filme diferente daquele que a sala está a exibir, aonde vai? Obviamente, ao centro comercial. Assim, nunca se habitua a “perder o mau hábito” em prol de um “regresso ao bairro”.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZfPmIhlTdLFXsrcxcq_i4PNirDE_xu7QsZU2K8tCXbcM0ciZkp65H2A1uzlaHCSGFl14uXcR_io07f1zcnABdoQ7V3g-wjn7Ubcj07WilaYWFc4hYFLozRIPdw4bjyREV2Avmw64PeLA6/s1600/IMG_0418.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="213" data-original-width="320" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZfPmIhlTdLFXsrcxcq_i4PNirDE_xu7QsZU2K8tCXbcM0ciZkp65H2A1uzlaHCSGFl14uXcR_io07f1zcnABdoQ7V3g-wjn7Ubcj07WilaYWFc4hYFLozRIPdw4bjyREV2Avmw64PeLA6/s400/IMG_0418.JPG" width="400" /></a></div>
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Digam o que disserem, para mim esta foi a razão do “fiasco”. Não havia rotatividade suficiente dos <i>blockbusters</i> para suster um público constante que pudesse pagar as contas do resto. Se o bairro inteiro ia ver o <b>‘Iron Man 2’</b> no fim de semana de estreia, para quê ter o filme em exibição mais duas ou três semanas? Claro que rodar filmes é caro, mas um acordo qualquer podia ter sido orquestrado com uma grande distribuidora. “<i>Vocês dão-nos a capacidade para mudar de filme todas as semanas e nós em troca damos-vos uma percentagem dos lucros</i>”. Mas em Portugal ninguém pensa desta forma integrada. Cada um faz o seu negócio para o bem ou para o mal. Cada um é uma ilha, mas depois culpa tudo e mais alguma coisa (os DVDs, a internet, os centros comerciais) se o negócio não corre bem.</div>
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Sinceramente, sempre achei que um acordo de rotatividade de filmes com uma distribuidora maior era a única estratégia viável para um cinema de bairro voltar a singrar. “<i>Não precisa de ir ao shopping, caro espectador. O filme que você quer ver está aqui à beira de sua casa. Venha ver esta sexta feira o <b>‘Black Panther’</b>. E para a semana teremos o ‘<b>Jurassic World 2’</b>. E na a seguir o <b>‘Mission Impossible 6’</b>. Todas as sextas-feiras um blockbuster diferente para si</i>”. Isto mesmo mantendo o cinema “independente” nas sessões da tarde para uma classe de público completamente diferente. Basicamente, o melhor de dois mundos. Mas se calhar estou a ser excessivamente ingénuo e utopista. E a distribuidora maior iria querer uma grande fatia dos lucros para aceitar este esquema (de novo a falta de visão integrada a longo prazo) o que provavelmente inviabilizaria o negócio logo à cabeça…</div>
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Seja como for, a verdade é que a nova glória do Nun’Alvares, para muita pena minha, foi sol de pouca dura. Rapidamente chegamos ao início de 2011 e o cinema já estava a passar por dificuldades. Os dois últimos filmes em exibição foram <b>‘José e Pilar’</b> e <b>‘Com que Voz’</b>. Os posters de ambos ainda se encontram hoje, mais de sete anos depois, na vitrina do cinema (incrível!) e sempre que os vejo (passo a pé à sua porta várias vezes por semana) sinto sempre uma pequena nostalgia a apertar-me o coração. Associo à reencarnação deste cinema em 2010 muitas e boas memórias da minha vida de jovem profissional, e associo-lhe também um pedaço importante da minha história de amor. Mas principalmente, sinto pena por haver um bom e moderno espaço de cinema, tão pertinho de casa, que está a ser completamente desaproveitado. E esse é o sacrilégio maior de todos.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhguDbBwF8TFQdvt4iMWPlJygrRdiTmMqjIsDhJcHqosSxMum-2gTcrz9X18Zbbt3m1o9dH59E8OSaFSUo_hjG6DIls2n0n9c7TX0T8kMSCPH6Jwgr_u3dB86QCRkq8aFDAA1NGdM7QmFvy/s1600/Logo+CNA+little.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="205" data-original-width="992" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhguDbBwF8TFQdvt4iMWPlJygrRdiTmMqjIsDhJcHqosSxMum-2gTcrz9X18Zbbt3m1o9dH59E8OSaFSUo_hjG6DIls2n0n9c7TX0T8kMSCPH6Jwgr_u3dB86QCRkq8aFDAA1NGdM7QmFvy/s640/Logo+CNA+little.jpg" width="640" /></a></div>
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O espaço não está completamente abandonado. Todos os dias, os senhores do café ao lado guardam dentro do foyer de entrada do cinema as mesas e as cadeiras da sua esplanada, e de quando em quando vê-se que está a ocorrer um evento qualquer com muitos pais e crianças, provavelmente associado a uma das várias escolas nas imediações (nunca me dei ao trabalho de perguntar). Mas esse não é o propósito de um CINEMA, tal como soletram as gigantescas letras verdes que o edifício ainda ostenta. Quem salvará o Nun’Alvares, se é que algum dia poderá ser salvo? Faço essa pergunta a mim mesmo todos os dias, quando passo à sua porta. Talvez um dia, se tiver capital, possa ser eu.</div>
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O último post do blog do Cinema Nun'Alvares, datado de Março de 2011, possui uma emotividade desgarrada, ao afirmar de uma forma fria e com uma contrastante simplicidade: “AVISO. Informamos que o Cinema Nun'Álvares se encontra encerrado por tempo indeterminado. As nossas desculpas por qualquer inconveniente. Esperamos voltar em breve”. Nós, espectadores, esperamos o mesmo.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikKzOr-91OaWBzaoKtXbUHc_1rf_mk_JOsKEaCMnLz61xDhShmLf2UDfDt4xCSeG0OIk45X3PmeF7BueTc3eJZp6e4eZPc99J8qXJ5YTiJrT4BByC9lC9SUiadQ-VF_YUt0rdsabIq391f/s1600/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="337" data-original-width="737" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikKzOr-91OaWBzaoKtXbUHc_1rf_mk_JOsKEaCMnLz61xDhShmLf2UDfDt4xCSeG0OIk45X3PmeF7BueTc3eJZp6e4eZPc99J8qXJ5YTiJrT4BByC9lC9SUiadQ-VF_YUt0rdsabIq391f/s400/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" width="400" /></a></div>
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Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-79550894549298434022018-07-07T01:07:00.000+01:002018-08-01T13:52:10.643+01:00Os livros da minha estante: ‘Little Book of John Wayne in the Movies’ de Timothy Knight<div style="text-align: justify;">
Depois de ter apresentado os livros <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/11/os-livros-da-minha-estante-film-music.html"><span style="color: blue;"><b>'Film Music: From Violins to Video' de James L. Limbacher</b></span></a> e <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/05/os-livros-da-minha-estante-animazone-de.html"><span style="color: blue;"><b>‘Animazione’ de Gabriele Lucci</b></span></a>, chega a vez de introduzir ao caro leitor outra obra prima literária que descansa confortavelmente na minha estante, ‘Little Book of John Wayne in the Movies’ da autoria <b>Timothy Knight</b>.</div>
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Eu comprei este pequeno grande livro sobre o Duke numa feira do livro que costuma haver regularmente num mercadinho perto de minha casa. O preço foi ridículo, uns meros 6,50€. Depois de descobrir o quão bom era o livro tentei comprá-lo para oferecer a um familiar, mas já não o encontrei. Só muitos meses depois é que o voltei a ver, no mesmo local, desta vez a cerca de metade do preço. Comprei-o claro, e que rica prenda foi. Não o voltei a ver desde então, pelo menos ao vivo (no amazon só está à venda em segunda mão).</div>
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O preço barato é mais do que adequado àquilo que é o típico livro desta série ‘Little Books’ da editora G2 Entretainment e distribuído pela DemandMedia. São livros pouco maiores do que a palma de uma mão e que constituem compêndios acessíveis de várias facetas das artes e do espectáculo, do desporto e da história. Eu próprio comprei mais tarde o ‘Little Book of Westerns’ de <b>Sophie Samuel </b>(por 4 euros, creio) e fiquei extremamente desapontado. É pouco mais que uma listagem dos <i>westerns </i>da história do cinema (vale por isso), visto que muitas imagens são de péssima qualidade e os textos se limitam à sinopse detalhada do filme com um ou outro pedaço de <i>trivia</i>. Já folheei numa loja o ‘Little Book of Horror’ e fiquei com a impressão que poderia estar a correr um risco semelhante.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwQ9iMaJ5F3Z-A4YE1sRa0XLOvV99fVNobgk4wNtF7Zrw3akC7z1PW_j7AAfvRMZhd7Gx8dOkbmAj1XnIqi90ZxcKeBxrp8Rt7rdR9KfmkE9tZrW-2q0ouATl3EuYm2_G67puDlMROCimz/s1600/9781782812678.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="400" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwQ9iMaJ5F3Z-A4YE1sRa0XLOvV99fVNobgk4wNtF7Zrw3akC7z1PW_j7AAfvRMZhd7Gx8dOkbmAj1XnIqi90ZxcKeBxrp8Rt7rdR9KfmkE9tZrW-2q0ouATl3EuYm2_G67puDlMROCimz/s640/9781782812678.jpg" width="640" /></a></div>
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Mas há algo que distingue os livros desta série escritos por <b>Timothy Knight</b>, ou pelo menos este de <b>John Wayne</b> em particular, visto que não li nem folheei os restantes livros que ele escreveu, nomeadamente sobre <b>Audrey Hepburn</b>, <b>Marilyn Monroe</b> e <b>Elvis</b>. E o que os distingue é a exaustiva dedicação e a perspicácia dos textos. Mesmo não sendo propriamente grande ensaios cinematográficos, são textos sóbrios, sintéticos e inteligentes, que acima de tudo possuem uma grande paixão: pelo Duke, pela sua <i>persona</i>, pela sua aura, pelos seus filmes. Para um leitor que desconhece <b>John Wayne</b>, esta perceptível paixão de <b>Knight </b>é um enorme incentivo para começar a descobri-lo, filme a filme. Para quem o conhece, folhear estas páginas é uma viagem que vale sempre a pena percorrer; para revisitar filmes, cenas e frases icónicas, e claro, ficar com vontade de os rever. Como não me canso de dizer, é esse o objectivo de um grande livro sobre cinema: incentivar-nos a rever grandes filmes, e dar-nos a conhecer novas pérolas cinematográficas.</div>
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Precisamente, o livro foi lançado para fazer par com um documentário de DVD igualmente intitulado ‘John Wayne in the Movies’ do mesmo autor. Ambos, livro e documentário, pretendem ser uma grande viagem pela vida e obra desta lenda do cinema americano cujo nome de nascimento foi Marion Michael Morrison. E pelo menos este livro (nunca vi o documentário) consegue-o. É apenas um livro, mas é mais do que uma viagem visual. É uma viagem cinematográfica… que cabe na palma da mão.</div>
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A introdução é breve mas encapsula aquilo que será o livro. Não é um retrato histórico do homem, nem é uma análise puramente cinéfila: é uma análise da carreira de um artista, dos filmes que o moldaram e dos filmes que ele ajudou a moldar. As páginas estão fortemente ilustradas (não nos cansamos de ver a cara de <b>Wayne</b>), vão surgindo várias citações em letra maior (do próprio <b>Wayne</b>, de personagens que interpretou, ou de celebridades sobre ele) e na parte inferior da página temos um pequeno rectângulo com aquelas que são, para o autor, as seis maiores interpretações da sua carreira, completas com uma pequena imagem e meia dúzia de linhas descritivas. A letra é diminuta, sim, mas é incrível a quantidade de texto que se conseguiu pôr em páginas tão pequenas. É sem dúvida um livro cheio de conteúdo. As seis interpretações são as de <b>‘Red River’ (1948)</b>, <b>‘Sands of Iwo Jima’ (1949)</b>, <b>‘The Quiet Man’ (1952)</b>, <b>‘The Searchers’ (1956)</b>, <b>‘True Grit’ (1969)</b> e <b>‘The Shootist’ (1976)</b>. Não podemos deixar de concordar (embora para mim <b>‘Rio Bravo’</b> deveria ter tido lugar nesta lista), o que mais nos liga à visão do autor.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjF-zDUU_UEi3GwnQTHt5xsiVN7rerH_tT9GUUcnvlV9i4Sh9eKZQa1jnyaeqsloQv41EJfuyzAQg3bkGiRrhhe-n79ftxmcdH-mGnb7WeSafbZ1y2XFjjnl8IkPoZRQ_qoVLhKpwICZ2v/s1600/s-l1000.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="883" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjF-zDUU_UEi3GwnQTHt5xsiVN7rerH_tT9GUUcnvlV9i4Sh9eKZQa1jnyaeqsloQv41EJfuyzAQg3bkGiRrhhe-n79ftxmcdH-mGnb7WeSafbZ1y2XFjjnl8IkPoZRQ_qoVLhKpwICZ2v/s640/s-l1000.jpg" width="563" /></a></div>
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O único senão deste livro é o facto de não percorrer, efectivamente, toda a carreira de <b>Wayne</b>. O Duke entrou em mais de 150 filmes (que se encontram listados, com letra ainda mais pequena, na última página) não só porque sempre foi um prolífero e dedicado actor, mas principalmente porque, antes de atingir o estrelato em 1939 com <b>‘Stagecoach’</b>, entrou em dezenas e dezenas de filmes de série B ao longo da década de 1930. Estes filmes menores, de baixo orçamento e curta duração estão hoje maioritariamente esquecidos (alguns até perdidos), e não seriam de todo relembrados, como centenas de outros desta altura, se não fizessem parte da filmografia de <b>Wayne</b>. Neste livro, <b>Knight </b>decide passá-los à frente, apenas com uma brevíssima referência à sua existência na introdução.</div>
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Assim, assumidamente, o livro começa em <b>‘Stagecoach’</b> – o primeiro grande filme de <b>Wayne </b>e a sua primeira memorável interpretação – e vai até <b>‘The Shootist’</b>, o seu último filme, filmado quando <b>Wayne </b>já estava a morrer de cancro. Um a um, são descritos ao todo cinquenta filmes, muito embora no período retratado <b>Wayne </b>tenha feito quase mais três dezenas. São contudo estes cinquenta que para o autor constituem a quintessência de <b>Wayne</b>. E mais uma vez, não podemos deixar de concordar no geral, embora (mais uma vez) ache um pouco escandaloso uma ou outra ausência (<b>‘Hatari!’, 1962</b> por exemplo).</div>
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O livro encontra-se assim dividido em quatro partes, respeitantes a cada uma das décadas da sua actividade pós <b>‘Stagecoach’</b>: 1939-1949 (18 filmes analisados); 1950-1959 (12 filmes analisados); 1960-1969 (12 filmes analisados); e 1970-1976 (8 filmes analisados). Cada parte é introduzida por um texto de quatro páginas que contextualiza o período na carreira de <b>Wayne </b>em termos profissionais, pessoais e da sua aceitação, quer perante a crítica, quer perante o público. Cada texto é acompanhado pelas citações e imagens mais marcantes de <b>Wayne</b> nesse período, bem como, num rectângulo inferior (análogo àquele que continha as seis melhores interpretações), pela apresentação das seis principais <i>leading ladies</i> de <b>Wayne </b>em cada período. É uma interessante ideia de <b>Knight</b>,<b> </b>não muito comum de ver em livros sobre uma determinada celebridade, já que momentaneamente vira o foco para outros profissionais. Assim temos oportunidade de ler um curto parágrafo sobre grandes atrizes como <b>Marlene Dietrich</b>, <b>Susan Hayward</b>, <b>Lauren Bacall</b>, <b>Angie Dickinson</b>, a mítica <b>Maureen O’Hara</b>, <b>Ann Margret</b>, <b>Katherine Hepburn</b> e tantas outras deusas de Hollywood que contracenaram com <b>Wayne </b>em determinados momentos das suas carreiras.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhulVxmw5hgVeCe1jEvytTbA1uea5CFh_gTiWuL49gqPf7wvaciHrzSceFUuvxZu4GPI-rBlW3Hap-yhGDKMwvw48DyB-Af-NV21IPDk2JaOHZb8KPLYuhnGgETi3466LVw6SLyDJc3GiHd/s1600/273347028_da2e2aec-e5f0-4897-97d1-5e7d67308f29.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhulVxmw5hgVeCe1jEvytTbA1uea5CFh_gTiWuL49gqPf7wvaciHrzSceFUuvxZu4GPI-rBlW3Hap-yhGDKMwvw48DyB-Af-NV21IPDk2JaOHZb8KPLYuhnGgETi3466LVw6SLyDJc3GiHd/s640/273347028_da2e2aec-e5f0-4897-97d1-5e7d67308f29.jpg" width="640" /></a></div>
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E depois, claro, vêm os filmes. Os filmes menos relevantes são descritos ao longo de duas páginas, enquadrados por quatro imagens. Os filmes mais importantes são descritos ao longo de quatro ou seis páginas, com um correspondente aumento no número de imagens. Os textos de <b>Knight</b>, apesar de não serem muito extensos (é um livro de fácil leitura) percorrem a contextualização do filme, algumas notas de produção, a sinopse, a sua recepção crítica e importância (ou não) na carreira de <b>Wayne</b>. O autor é no entanto algo comedido a dar a sua opinião como crítico. Nota-se o seu entusiasmo por alguns filmes, mas não faz grandes juízos de valor nem positivos ou negativos, optando por citar em vez disso excertos das críticas da época. Mas talvez seja uma abordagem adequada. O autor coloca-se numa posição de historiador, reflectindo a importância e o legado de <b>Wayne </b>na sua influência, década a década, no público, nos críticos e no próprio cinema. </div>
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Página a página, filme a filme, vamos revisitando os grandes marcos da sua carreira. Somos relembrados de grandes actrizes com quem contracenou, de grandes realizadores que o dirigiram, de grandes cenas, de grandes filmes. Acima de tudo, somos relembrados da presença maior que a vida deste possante actor, e da forma como foi amadurecendo, foi limando a sua arte – algo brusca inicialmente e depois progressivamente mais subtil – sem esquecer o seu multifacetado talento; herói de guerra, cowboy, um portento a dar um soco bem dado, mas também alguém sem medo de abertamente parodiar a sua própria imagem. Página a página, filme a filme, o autor é eficaz a salientar estas várias <i>nuances </i>da personalidade cinematográfica de <b>Wayne</b>. Voltamos à questão inicial da paixão e do prazer. Pelo homem e pelos seus filmes. Pela glória do entretenimento. Pela glória do espírito americano, que na sua pureza - que Wayne representa - é um espírito universal. Aí reside o seu verdadeiro apelo cinematográfico. Um livro sobre <b>Wayne </b>só resultaria se o captasse. E esse capta.</div>
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Tudo somado, ‘Little Book of John Wayne in the Movies’ é um livro de bolso fascinante sobre a carreira de <b>John Wayne</b>. As suas 176 páginas ricamente ilustradas (embora nem todas as fotografias tenham boa resolução) permitem que seja folheado com um tranquilo à vontade, saboreando a carreira de <b>Wayne </b>através das suas poses mais icónicas, das suas cenas mais marcantes e da beleza das suas co-actrizes. Ao mesmo tempo, a qualidade sintética mas tematicamente abrangente dos textos, e a ousadia de percorrer individualmente cinquenta obras, permite que o livro se foque naquilo que é importante: no actor e no cinema. É isso que queremos. Um livro imperdível, que não ocupa espaço nenhum e que cumpre a sua função: honrar o legado de <b>John Wayne</b>. Ideal quer para velhos fãs, quer para novos cinéfilos, curiosos por passar a conhecer esta figura maior do cinema de Hollywood. E depois é só escolher o filme por onde (re)começar. Um livro destes torna essa escolha fácil e apetecível.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-20781316642834547952018-07-01T01:15:00.000+01:002018-07-07T01:08:15.883+01:00Shutter Island<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrwfbDD0HGHazxpbBKa727Y2rnrugq-0ZKlM3Pyj3bLonejyjHP7nywtXE3ypE3atTFOEYNwJ7KK24kzxZYLJfbTDTMGfTk7WB9QnwhpSdzm0UUT2ec-0CjiRU0Ec8g20gVUY5l0EUMVoN/s1600/2009-shutter_island-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1060" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrwfbDD0HGHazxpbBKa727Y2rnrugq-0ZKlM3Pyj3bLonejyjHP7nywtXE3ypE3atTFOEYNwJ7KK24kzxZYLJfbTDTMGfTk7WB9QnwhpSdzm0UUT2ec-0CjiRU0Ec8g20gVUY5l0EUMVoN/s400/2009-shutter_island-2.jpg" width="282" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2010<br />
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<b>Realizador:</b> Martin Scorsese<br />
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<b>Actores principais:</b> Leonardo DiCaprio, Ben Kingsley, Mark Ruffalo<br />
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<b>Duração: </b>138 min<br />
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<b>Crítica:</b> Esta semana vi ‘Shutter Island’ pela segunda vez na minha vida. A primeira foi há oito anos, quando o filme estreou no cinema, em circunstâncias muito peculiares que já resumi na minha crónica <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/09/o-clube-dos-cinefilos-viajantes-volta.html"><b><span style="color: blue;">‘O Clube dos Cinéfilos Viajantes - A volta ao Mundo em salas de cinema’</span></b></a>. Vi o filme numa enorme sala de cinema em Edimburgo na Escócia, numa manhã de domingo quando tinha umas horas para matar antes de apanhar um comboio. Se por um lado foi uma experiência angustiante, principalmente no início (porque, como já relatei mais a fundo, experienciei mais de 45 minutos de trailers e publicidade!), por outro foi uma experiência surpreendente. Sim, surpreendente, porque gostei muito do filme, algo que sinceramente não achei que iria acontecer.</div>
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Talvez esteja a cometer um sacrilégio perante o leitor se disser que nunca fui grande fã de <b>Martin Scorsese</b>. Para mim é um pouco como <b>Francis Ford Coppola</b>. Não os posso apelidar de génios porque já fizeram tantos ou mais filmes maus (ou pelo menos que não gostei nada) do que aqueles que apelido sem vergonha nenhuma de obras primas. Realizadores americanos como <b>Steven Spielberg</b>, <b>Clint Eastwood</b> ou <b>Woody Allen</b> podem fazer filmes mais ou menos conseguidos, mas têm todos um incrível selo de qualidade. Nunca nenhum fez filmes intragáveis como <b>‘New York, New York’ (1977)</b> ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/03/hugo-decomposicao-de-um-dos-filmes-mais.html"><b><span style="color: blue;">‘Hugo’ (2011)</span></b></a>, nem filmes que se admite que tiveram um importante significado cultural na altura do seu lançamento mas que, se formos honestos e virmos para lá da lenda mediática e de uma ou outra cena que toda a gente sabe citar, se tornaram algo datados e inconsequentes (sim, estou a falar de <b>‘Taxi Driver’</b>). E a maioria dos fãs fingiu que não viu alguns dos seus grandes fiascos nos anos 1980 e 1990; fizeram de conta que não existiram para não manchar a ilusão dessa tal lenda mediática que <b>Scorsese </b>acalenta desde os anos 1970. Idem aspas aspas para <b>Coppola</b>.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Provavelmente, ‘Shutter Island’ é o melhor filme de Scorsese, porque é um filme que vale por si próprio. Não precisa dos típicos excessos de Scorsese (asneiras, violência, vícios) para seduzir, para ser apelativo, para ser eficaz. (...) Mas é muito mais cinema porque tem a tal intimidade que na minha opinião sempre faltou às grandes obras de Scorsese. As personagens cativam pelo que são, não pelo que simbolizam. E o argumento (...) é um trabalho de classe."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXYDBwOWr4WY0yh6m_STFALexamvPIQl-yqonWCbLUBKNj-SB-_IQhLpFD4fUZo4g9R9lpeT_z9hb2_M3AcXQ9XHRv2X-T2Azz9A1h8lLkCA4cqzwEKckFImP4JhuMA6f5ExhbSbzxu0KH/s1600/xjyn1shdlrn89aqgp70s.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXYDBwOWr4WY0yh6m_STFALexamvPIQl-yqonWCbLUBKNj-SB-_IQhLpFD4fUZo4g9R9lpeT_z9hb2_M3AcXQ9XHRv2X-T2Azz9A1h8lLkCA4cqzwEKckFImP4JhuMA6f5ExhbSbzxu0KH/s400/xjyn1shdlrn89aqgp70s.jpg" width="400" /></a></div>
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Para mim o grande filme de <b>Scorsese </b>sempre havia sido <b>‘Goodfellas’ (1990)</b>, mais pela sua virtuosa dinâmica cinematográfica do que propriamente pelo seu conteúdo. Aliás, esse é para mim o segredo do sucesso de <b>Scorsese</b>, a forma como ele oferece ao espectador algo que satisfaz os seus desejos pecaminosos; a mórbida paixão de ver violência, sexo ou excessos (drogas e crime) no grande ecrã; e os consegue misturar com a arte de fazer bom cinema a nível técnico. Mas é a mistura destes dois elementos suficiente para fazer um bom filme? Pessoalmente nunca achei que sim. Um filme não vale por uma cena altamente citável, ou por um bailado de violência. O próprio <b>‘Goofellas’</b> existe nesta dualidade mas não tem uma pinga de intimidade. E de que vale um filme sem intimidade, a não ser que seja uma acéfala comédia ou um filme explosivo de acção?</div>
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Depois de uma época mais recatada, <b>Scorsese </b>voltou às boas graças dos críticos e atingiu novos picos de popularidade nos anos 2000 com a sua bem-sucedida série de colaborações com <b>Leonardo DiCaprio</b>. É inegável que foi ele quem ajudou <b>DiCaprio </b>a tornar-se no grande actor que é hoje (embora para mim o filme de viragem definitiva tenha sido <b>‘Blood Diamond’, 2006</b>, de <b>Edward Zwick</b>) mas os filmes, pelo menos na minha perspectiva, nunca se soltaram do típico marasmo Scorsese. <b>‘Gangs of New York’ (2002)</b>, <b>‘The Aviator’ (2004)</b> e <b>‘The Departed’ (2006)</b>, são virtuosos trabalhos cenográficos ao qual falta conteúdo para lá da apelativa estética. Se o primeiro ainda é o mais bem conseguido (e <b>Daniel Day Lewis</b> está brutal), o segundo é um "digno" precursor de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/03/hugo-decomposicao-de-um-dos-filmes-mais.html"><b><span style="color: blue;">‘Hugo’</span></b></a>: fogo de vista e adulteração histórica para satisfazer o comercialismo da lenda, uma novela requintada que não deixa de ser uma novela. Foi apenas aplaudido só porque é de <b>Scorsese</b>. Idem para <b>‘The Departed’</b>. Depois de ter perdido o Óscar por <b>‘The Aviator’</b> qualquer conhecedor ficou seguro que <b>Scorsese </b>iria ganhar o prémio pelo seu filme seguinte, qualquer que ele fosse. Nem a própria Academia fez segredo disso. Lembra-se quem apresentou o prémio de Melhor Realizador nesse ano, caro leitor? De forma inédita foi apresentado por três pessoas, curiosamente (ou não) os três grandes amigos de <b>Scorsese </b>da geração dos anos 1970: <b>Steven Spielberg</b>, <b>George Lucas</b> e <b>Francis Coppola</b>. Em doze anos desde então nunca mais se voltou a apresentar esta categoria desta forma. Como se eles não soubessem quem iria ganhar…</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1JSqa7FPa5W-cf0Y_7ABZ29iBu9jxipNaxbACg-cLGBB2ap41Fev-kdiMrydIUAxcnqM1F75l82HC_E5qwx0HEzzePKk1MFUedowCl9Ckmgr9Li2BnLkcWUbDYK_4KuYumgrTTrHs-CMZ/s1600/b5ecfbffd4d30029e73ed1845335d826.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="435" data-original-width="1024" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1JSqa7FPa5W-cf0Y_7ABZ29iBu9jxipNaxbACg-cLGBB2ap41Fev-kdiMrydIUAxcnqM1F75l82HC_E5qwx0HEzzePKk1MFUedowCl9Ckmgr9Li2BnLkcWUbDYK_4KuYumgrTTrHs-CMZ/s400/b5ecfbffd4d30029e73ed1845335d826.jpg" width="400" /></a></div>
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Enfim, teorias da conspiração à parte, é preciso dar crédito onde o crédito é devido. Nunca gostei muito de <b>Scorsese</b>, e não gostei muito dos seus filmes da década de 2000, particularmente <b>‘The Aviator’</b>. Portanto cheguei a <b>‘Shutter Island’</b> sem qualquer perspectiva. Isso é bom, porque se pode ver um filme relaxado, desfrutando do que surge no ecrã sem qualquer preconceito, a favor ou contra. E o que surgiu no ecrã eu desfrutei, quer há oito anos quer agora. Provavelmente, ‘Shutter Island’ é o melhor filme de <b>Scorsese</b>, porque é um filme que vale por si próprio. Não precisa dos típicos excessos de <b>Scorsese </b>(asneiras, violência, vícios) para seduzir, para ser apelativo, para ser eficaz. Não precisa de ter aquelas frases que ficam bem num poster de um quarto de um jovem, nem é um hino à rebeldia ou à violência. Mas é muito mais cinema porque tem a tal intimidade que na minha opinião sempre faltou às grandes obras de <b>Scorsese</b>. As personagens cativam pelo que são, não pelo que simbolizam. E o argumento, baseado no romance de <b>Dennis Lehane</b> (o mesmo escritor dos romances <b>‘Mystic River’</b> ou <b>‘Gone Baby Gone’)</b>, é um trabalho de classe.</div>
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<br /></div>
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<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Subtilmente (muito mais subtilmente que outros filmes de Scorsese) o filme joga com o conhecimento que o espectador tem das convenções do género e com a forma como é suposto reagir a elas. De forma puramente cinematográfica, este é um filme cheio de planos de câmara oblíquos, cenas que aparentam começar a meio e música tensa, reminiscente de Bernard Herrmann, que surge de forma acutilante a um volume alto em momentos chave da trama."</span></b></div>
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A acção passa-se em 1954. Dois agentes federais, Teddy Daniels (<b>Leonardo DiCaprio</b>; talvez não a sua melhor interpretação embora a sua ‘paranóia’ seja convincente), e Chuck Aule (<b>Mark Ruffalo</b>, num papel meramente reactivo), chegam à praticamente inacessível ilha de Shutter Island, ao largo de Boston. A ilha detém em exclusivo um Hospital psiquiátrico para criminosos, gerido pelo suave Dr. Cawley (<b>Ben Kingsley</b>) e o convencido e perspicaz médico alemão, quiçá ex-nazi, Dr. Naehring (<b>Max von Sydow</b> num papel que faz de olhos fechados). O próprio Teddy foi soldado na Segunda Guerra Mundial, e esteve presente na libertação de campos de concentração. As imagens fatídicas desse dia ainda o atormentam, mas cedo descobrimos que não é a única coisa. Visões da sua falecida esposa Dolores (<b>Michelle Williams</b>) surgem-lhe em flashbacks intermitentes, tal como frases desgarradas de outros eventos que vamos reconstituindo aos poucos.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioyGLL6DpIx_hka1Df6OqPzoLgyF-IE5tiet5wpGLttgPjZFqDCCSdZZcWCxqjs114xVo4IJEMMEmN6PUsDipVxlKIDN4jqojxfnJkdEj0eifcz_VvaECg-tGhnLG62ZHMBq4koBvxY3BB/s1600/64.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="435" data-original-width="1024" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioyGLL6DpIx_hka1Df6OqPzoLgyF-IE5tiet5wpGLttgPjZFqDCCSdZZcWCxqjs114xVo4IJEMMEmN6PUsDipVxlKIDN4jqojxfnJkdEj0eifcz_VvaECg-tGhnLG62ZHMBq4koBvxY3BB/s400/64.jpg" width="400" /></a></div>
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Os dois agentes foram chamados à ilha para investigar o misterioso desaparecimento de uma paciente chamada Rachel, que aparentemente havia assassinado os seus filhos. Mas rapidamente nos apercebemos que nem tudo o que parece é. Parece haver uma natural relutância por parte dos chefes do Hospital e muitas incongruências por explicar. Aos poucos, o próprio Teddy confessa a Chuck que a sua presença ali não é fruto do acaso. Há anos que anda a investigar o Hospital, porque acredita que se passa ali qualquer tipo de conspiração, uma ideia que lhe foi passada por um antigo paciente (<b>Jackie Earle Haley</b> tem apenas uma única cena mas é tão impactante como de costume). Quem é o misterioso paciente nº 67 que não consta dos registos? Estará algures na ilha Andrew Laeddis, o homem que supostamente matou a esposa de Teddy? Onde está Rachel? E o que se passa no remoto farol? Experiências ao cérebro? Lobotomias para silenciar supostos pacientes que sabem de mais? Ou há algo de mais profundo, uma enorme conspiração de proporções inimagináveis?</div>
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<br /></div>
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Como não pode escapar (o ferry é a única possibilidade e só chega no dia seguinte), Teddy tem de tentar descobrir os segredos da ilha, manobrando-se destramente por entre os olhos que controlam os seus movimentos, ao mesmo tempo que tem de resolver os segredos dentro de si próprio. Aos poucos, estas duas realidades começam a unir-se. Então Chuck desaparece, e os médicos negam que tal pessoa existiu. E Rachel, ou pelo menos alguém que diz chamar-se Rachel, reaparece. Qual é o segredo de Shutter Island e qual é o papel de Teddy, cada vez mais paranóico, no meio desta “conspiração”?</div>
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<br /></div>
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<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O grande feito deste thriller psicológico é que não é injusto com o espectador (...) Este sabe que está a ser propositadamente desorientado e desencaminhado pelos artifícios cinematográficos (...) É importante que o twist nos deixe de boca aberta, mas não é o mais importante. ‘Shutter Island’ até se dá ao luxo de ser um pouco displicente, (...) porque sabe que o mais importante é a viagem que nos leva até lá. E esta viagem vale a pena ser percorrida."</span></b></div>
</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheu8teBuNK36Nlm42-oQsifwgDF4Tijlos-5u5PV7YiPqbKTDCFOeZcwPzAeFV8saCF_vL04xMue22wi_eFFpZbx_sOUdEixYocLwWjHzbs-r9VrbZ6lTipZJARV_QwvhS99bGVVaBfc8y/s1600/shutter_island_A-00468.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="390" data-original-width="584" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheu8teBuNK36Nlm42-oQsifwgDF4Tijlos-5u5PV7YiPqbKTDCFOeZcwPzAeFV8saCF_vL04xMue22wi_eFFpZbx_sOUdEixYocLwWjHzbs-r9VrbZ6lTipZJARV_QwvhS99bGVVaBfc8y/s400/shutter_island_A-00468.jpg" width="400" /></a></div>
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Logo depois do enquadramento, não é surpresa nenhuma para o espectador que ‘Shutter Island’ é um filme de verdades escondidas. Os planos iniciais de Teddy e Chuck a chegarem no barco ou os flashbacks estão imbuídos de uma estranha artificialidade que mais enfatiza a ilusão, que pode estar a ser criada na ilha em prol de Teddy, mas que também está, obviamente, a ser criada em prol do espectador. <b>Scorsese</b>, que sempre se rodeou de grandes editores e directores de fotografia, cria propositadamente este ambiente com uma enorme segurança, de novo sem necessitar de artifícios externos (salvo um ou outro exagero em termos de “visões”) para ser eficaz. Subtilmente (muito mais subtilmente que outros filmes de <b>Scorsese</b>) o filme joga com o conhecimento que o espectador tem das convenções do género e com a forma como é suposto reagir a elas. De forma puramente cinematográfica, este é um filme cheio de planos de câmara oblíquos, cenas que aparentam começar a meio (como é que uma personagem conseguiu passar do ponto A para o ponto B?) e música tensa, reminiscente de <b>Bernard Herrmann</b>, que surge de forma acutilante a um volume alto em momentos chave da trama.</div>
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Mas o grande feito deste <i>thriller </i>psicológico é que não é injusto com o espectador, como acontece noutros filmes de <b>Scorsese</b>. Não é um filme pedante e superior que trata o espectador de forma condescendente. Não é um filme que engana o espectador com pistas falsas, argumentais ou visuais. Não é um filme que obriga o espectador a ter determinadas reacções como se fosse um animal amestrado. O espectador sabe que está a ser propositadamente desorientado e desencaminhado pelos artifícios cinematográficos, tal como Teddy sabe que está a ser propositadamente desorientado e desencaminhado pelos artifícios da ilha. O próprio segredo final acaba por não ser assim tão secreto à medida que a trama avança, porque o realizador envolve-nos na sua teia e dá-nos pistas suficientes para descobrirmos aos poucos a verdade. Mas isso é diferente de ser previsível. Como todos os grandes thrillers psicológico, é importante que o <i>twist </i>nos deixe de boca aberta, mas não é o mais importante. ‘Shutter Island’ até se dá ao luxo de ser um pouco displicente, talvez revelando em demasia antes do grande discurso final, porque sabe que o mais importante é a viagem que nos leva até lá. E a viagem de ‘Shutter Island’ vale a pena ser percorrida.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRcfthhmN1YlPwWYKezbtA6I-U88kFHb015_DZyWeiZCIp0TWnLZCrvTvvwEvL7-VtJJ6ULTXcPJveyf348Z7oR16O5YHXcAGOActgZrhlNwvXO6xWdovd4t9PQ8YTfcoR9sxokqdTOZU4/s1600/plottwists_small.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="620" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRcfthhmN1YlPwWYKezbtA6I-U88kFHb015_DZyWeiZCIp0TWnLZCrvTvvwEvL7-VtJJ6ULTXcPJveyf348Z7oR16O5YHXcAGOActgZrhlNwvXO6xWdovd4t9PQ8YTfcoR9sxokqdTOZU4/s400/plottwists_small.jpg" width="400" /></a></div>
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‘Shutter Island’ é um daqueles filmes que se tem vontade de rever no segundo em que rolam os créditos finais. Uma vez descoberta toda a verdade, o espectador só quer chegar a bobina atrás para revisitar todas as cenas e notar todos os pormenores à luz da solução final. Mas mesmo na primeira visualização é um filme surpreendente. Parece o oposto do mais clássico Scorsese, mas com toda a sua segurança cénica. O passo é lento e cauteloso, e a própria revelação demora o seu tempo, dando ao espectador espaço suficiente para ponderar as suas implicações. Os flashes de intensidade não vêm propriamente da história de base ou dos eventos, mas sim da exímia dinâmica das personagens e das actuações excitantes. Não diria tanto de <b>DiCaprio</b> (que sente o peso da sua personagem), mas de todos os secundários que o rodeiam.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Parece o oposto do mais clássico Scorsese, mas com toda a sua segurança cénica. O passo é lento e cauteloso, e a própria revelação demora o seu tempo, dando ao espectador espaço suficiente para ponderar as suas implicações. Os flashes de intensidade não vêm propriamente da história de base ou dos eventos, mas sim da exímia dinâmica das personagens e das actuações excitantes."</span></b></div>
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Não seria, contudo, um filme de <b>Scorsese </b>se a emotividade final não estivesse um nada exagerada. Há uma excessiva ênfase no momento dramático final, não só (parece) para o tornar mais credível, como para capitalizar no seu impacto. Um filme com esta classe não precisava disso, gerando assim aquele que é para mim o momento menos conseguido, que mais destoa nesta obra. Mesmo assim, o filme é rápido a contrabalançar. A última sequência, particularmente a última frase de diálogo que estabelece o futuro das personagens, é fantástica. É daquelas icónicas frases finais que facilmente passam para a posteridade, não pela mestria da frase em si (também o que há de extraordinário num “<i>Here’s looking at you, kid</i>”?!), mas pelo que ela representa no xadrez fílmico e psicológico que <b>Scorsese </b>montou. São frases destas que nos levam a reconsiderar tudo o que ouvimos, tudo o que vimos, tudo o que sentimos. São frases destas que nos ligam ao cinema.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC2OuimocCVbtApRKIm2KmaZGJuHD3LBn7q4LanTljk3qcDLWe6njHgoK6KtbV8W5iUia53OUkAuPs7U9zHxtM_yItvD_ebqeX4RVVUrQE2PjxaTLIBBnOdf_4Luq_NfFiqc_hed4DL282/s1600/shutter_island_2_thumb.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="431" data-original-width="956" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC2OuimocCVbtApRKIm2KmaZGJuHD3LBn7q4LanTljk3qcDLWe6njHgoK6KtbV8W5iUia53OUkAuPs7U9zHxtM_yItvD_ebqeX4RVVUrQE2PjxaTLIBBnOdf_4Luq_NfFiqc_hed4DL282/s400/shutter_island_2_thumb.png" width="400" /></a></div>
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Como disse no início, apesar de reconhecer a mestria de <b>Scorsese</b>, nunca gostei muito dos seus produtos finais. Mas admiro imenso o seu trabalho em ‘Shutter Island’. Não é certamente o filme com o melhor dos <i>twists</i>. Nem é certamente o melhor <i>thriller </i>psicológico da década. Mas é um filme que sabe o que quer e atinge-o com uma incrível segurança cinematográfica. Arrisca que o espectador se sentirá seduzido pela ilusão e aceita jogar o jogo, mesmo sabendo que é uma ilusão. E arrisca bem. É uma aposta ganha, o que ajuda a compreender e aceitar as propositadas falhas estruturais que o filme aparenta conter, bem como a sua variabilidade emocional. Acima de tudo, ‘Shutter Island’ é sobre a viagem de um homem. Apesar do seu “segredo” e dos seus artifícios visuais (as visões, os flashbacks, os esporádicos sustos, os esporádicos momentos de acção), ‘Shutter Island’ nunca perde esse foco basilar, numa perde essa “intimidade”. Para mim, é o que faz a diferença. </div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"É um filme que sabe o que quer e atinge-o com uma incrível segurança. Arrisca que o espectador se sentirá seduzido pela ilusão e aceita jogar o jogo, mesmo sabendo que é uma ilusão. É uma aposta ganha, o que ajuda a aceitar as propositadas falhas estruturais que o filme aparenta conter (...). Acima de tudo, é sobre a viagem de um homem. Apesar do seu “segredo” e dos seus artifícios visuais (...), nunca perde essa “intimidade”."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUSbDv573Bu6vyrKVvJujUYewNF0mkLCW_XRzoLUqXlPo3x3Rm4HvMaeHGNdBjKzM8taLYYwIRNp_tGdF3KNDDLIvo0HMeq9Od3856TiNPhqyHLz15tD46agFIesfH_q_x5LJECd8X7C3i/s1600/shutterisland-lighthouse1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="544" data-original-width="1280" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUSbDv573Bu6vyrKVvJujUYewNF0mkLCW_XRzoLUqXlPo3x3Rm4HvMaeHGNdBjKzM8taLYYwIRNp_tGdF3KNDDLIvo0HMeq9Od3856TiNPhqyHLz15tD46agFIesfH_q_x5LJECd8X7C3i/s400/shutterisland-lighthouse1.jpg" width="400" /></a></div>
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Não me parece então de espantar que tenha sido o maior sucesso comercial de <b>Scorsese </b>na América e o seu filme mais rentável até <b>‘Wolf of Wall Street’ (2013)</b>. Contudo, é inacreditável que não tenha sido nomeado para um único Óscar, o que só prova o quão política e comercial é a cerimónia. A estreia do filme foi adiada do final do ano de 2009 para Fevereiro de 2010 – a época morta – porque o estúdio Paramount já não tinha mais orçamento para promover o filme na “<i>award season</i>”, visto que já estava a “impingir” nesse ano <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/03/up-in-air.html"><b><span style="color: blue;">‘Up in the Air’ (2009)</span></b></a> e <b>‘The Lovely Bones’ (2009)</b>. E claro, um ano depois, já ninguém se lembra de nomear um filme de Fevereiro, por melhor que seja. Simplesmente não é prática corrente. Considerando que o filme seguinte de <b>Scorsese</b>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/03/hugo-decomposicao-de-um-dos-filmes-mais.html"><b><span style="color: blue;">‘Hugo’</span></b></a>, foi nomeado para 11 Óscares e ganhou 5… bem, enfim, um cinéfilo só pode abanar a cabeça. São coisas como esta que certamente impediram <b>Scorsese </b>de fazer mais filmes como ‘Shutter Island’. O que é uma enorme pena, pelo menos na minha perspectiva. Não vi melhor filme de <b>Scorsese </b>desde então.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-58684376272725810372018-06-22T01:18:00.000+01:002018-07-01T01:15:51.025+01:00The Faculty<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitJfAO0TYEJOHtNiC4rZ3wCxxdIH10n6j-81D8uscI47AP4MFqvd8SfaXHooKgQmeJYo6WHTeniVx6c3Wsg1F36Wt1V2sb82n3mutCkKrtwSHek_RuaKLDrJYQ3ARwXNm7AiozS7yj-l0z/s1600/51LmncCZw5L.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="338" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitJfAO0TYEJOHtNiC4rZ3wCxxdIH10n6j-81D8uscI47AP4MFqvd8SfaXHooKgQmeJYo6WHTeniVx6c3Wsg1F36Wt1V2sb82n3mutCkKrtwSHek_RuaKLDrJYQ3ARwXNm7AiozS7yj-l0z/s400/51LmncCZw5L.jpg" width="270" /></a></div>
<b>Ano: </b>1998<br />
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<b>Realizador:</b> Robert Rodriguez<br />
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<b>Actores principais: </b>Jordana Brewster, Elijah Wood, Laura Harris<br />
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<b>Duração: </b>104 min<br />
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<b>Crítica: </b>Ultimamente tenho estado a publicar várias críticas de filmes de acção dos anos 1990 (<a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/01/speed.html"><b><span style="color: blue;">‘Speed’</span></b></a>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/03/crimson-tide.html"><b><span style="color: blue;">‘Crimson Tide’</span></b></a>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/03/cutthroat-island.html"><b><span style="color: blue;">‘Cutthroat Island’</span></b></a>). Foi a década em que fui adolescente e em que descobri o cinema, por isso é natural que tenha um fraquinho pelos grandes espectáculos que Hollywood proporcionou nesta altura, principalmente nos géneros de acção, comédia e “filme para a família”, todos a viverem épocas douradas neste período. Mas há outro género que também singrou nestes anos, embora o aprecie menos; o dos <i>thrillers </i>de adolescentes, fossem do tipo mistério, <i>slasher </i>ou sobrenatural. </div>
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Os anos 1980 foram, esses sim, a época de glória dos filmes de adolescentes, com a génese do <i>brat pack</i> e dos filmes<i> high school</i> e <i>mall</i>. Os filmes dos anos 1990 não conseguiram propriamente fazer jus esse legado, no sentido em que não conseguiram tornar universal a forma como captaram a condição do adolescente. E talvez por isso tiveram que recorrer ao exagero, e a alguma autoconsciência conceptual (enriquecida por uma nova geração de realizadores, cientes da história do cinema), para conseguirem criar os seus próprios elos com o adolescente dos anos 1990. Pensemos na superficialidade de mega-sucessos cómicos como <b>‘There's Something About Mary’ (1998)</b> ou <b>‘American Pie’ (1999)</b>. Ou pensemos na forma como os <i>thrillers </i>de adolescentes singraram.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O que se nota é que Rodriguez está muito mais contido do que era (e continuaria a ser) o seu habitual, uma inegável consequência do produto que este filme tinha de ser e do seu público alvo. Claro que ‘The Faculty’ é ousado em certos momentos (os mais memoráveis), claro que tem um estilo apelativo, e claro que é um <i>thriller </i>sobrenatural bem construído. Mas não é tão ousado quanto poderia ser e esse é um dos seus maiores <i>turn offs</i>."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-847QOBqHo5txMHkeT8u_ofsZPO11kjExe2rfkagP64ww80U7dCWb2b49m_u9eEpQIcDTFof6foVTbdeq6hFVsKHmQ38TWpuOPURAYK4H0XjtAx5p-1pG4Cbh6EftOTuwdXv0XKvtBkDw/s1600/Fight-with-Mr-Furlong-the-faculty-21341857-1024-548.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="548" data-original-width="1024" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-847QOBqHo5txMHkeT8u_ofsZPO11kjExe2rfkagP64ww80U7dCWb2b49m_u9eEpQIcDTFof6foVTbdeq6hFVsKHmQ38TWpuOPURAYK4H0XjtAx5p-1pG4Cbh6EftOTuwdXv0XKvtBkDw/s400/Fight-with-Mr-Furlong-the-faculty-21341857-1024-548.jpg" width="400" /></a></div>
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Se <b>‘Buffy the Vampire Slayer’</b> trilhou caminho, <b>‘Scream’ (1996)</b>, com a forma como recriou o imaginário do filme de terror, incandesceu Hollywood e pôs os produtores a ver cifrões. De repente, estava aqui ouro de bilheteira, filmes relativamente baratos que podiam ter um bocadinho de sustos, um bocadinho de humor e um bocadinho de sensualidade (cortesia de jovens talentos bem-parecidos); produtos ideais para grandes grupos de jovens poderem ir ver ao cinema (e quantos não vi com os meus colegas de liceu…). Nada de novo, obviamente, mas cada geração tem de encontra-lo à sua própria maneira. <b>‘Scream’</b> foi o cartão de entrada da minha. <b>‘I Know What You Did Last Summer’ (1997)</b> apareceu logo depois (mais um que vi no cinema) e 1998 viu surgir <b>‘Urban Legend’ </b>ou <b>‘Halloween H20: 20 Years Later’</b>; todos se tornando moderados sucessos de bilheteira e atingindo um certo estatuto de culto, pelo menos para esta geração adolescente que os apanhou.</div>
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Nesse mesmo ano surgiu também uma das mais interessantes variações deste género, ‘The Faculty’ (<u>em português ‘Mistério na Faculdade’</u>) pela mão de <b>Robert Rodriguez</b>. <b>Rodriguez </b>havia feito até esta altura os dois primeiros filmes da trilogia Mariachi (<b>‘El mariachi’, 1992</b> e <b>‘Desperado’, 1995</b>), bem como um dos segmentos de <b>‘Four Rooms’ (1995)</b> e <b>‘From Dusk Till Dawn’ (1996)</b>, ambos em parceira com <b>Quentin Tarantino</b>, com quem obviamente sempre partilhou semelhanças temáticas e visuais e com o qual faria <b>‘Grindhouse’ (2007)</b>. Para um realizador com um estilo visual bem vincado, que faria filmes como <b>‘Sin City’ (2005) </b>ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/10/machete.html"><b><span style="color: blue;">‘Machete’ (2010)</span></b></a>, este ‘The Faculty’ é atípico na sua carreira, quanto mais não seja por ser o filme mais ‘de estúdio’, mais ‘comercial’ que concebeu (mais até, digo eu, que os próprios <b>‘Spy Kids’</b>). Este era um argumento que já andava a circular pelos estúdios desde o inicio da década de 1990 e que finalmente foi comprado pela Miramax após o sucesso de <b>‘Scream’</b>. Foi portanto a pedido pessoal dos <b>Weinsteins </b>que <b>Rodriguez </b>o realizou.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifUt-ffqh441l4doq2VbBOgsxCeRCTjBDB9O0NzeXxCCXKQMcx6qRl-53gFOL_CQDmLCrnirfOUjOukY2STqzQRSrJ_zcXZDEaR2f6ueh73TnboifBvzYOrKn5F7B42JXIc7E5Hx32YZEj/s1600/Movie-Stills-the-faculty-27875435-800-450.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifUt-ffqh441l4doq2VbBOgsxCeRCTjBDB9O0NzeXxCCXKQMcx6qRl-53gFOL_CQDmLCrnirfOUjOukY2STqzQRSrJ_zcXZDEaR2f6ueh73TnboifBvzYOrKn5F7B42JXIc7E5Hx32YZEj/s400/Movie-Stills-the-faculty-27875435-800-450.jpg" width="400" /></a></div>
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À primeira vista fazia todo o sentido. Este é um filme de mistério em que a tensão é um dos principais elementos, e que tem, como todos os filmes de mistério, de se construir muito lentamente, mas sem perder a atenção do espectador, até chegarmos às surpreendentes revelações finais. Um <i>thriller </i>tem de valer tanto pelo final como pelo caminho que leva até lá. Mas <b>Rodriguez </b>não podia fazer o mesmo que fez em <b>‘From Dusk Till Dawn’ (1996)</b>, onde um argumento riquíssimo explorava na perfeição as personagens apenas para ganhar tempo para a mega-explosão de <i>gore </i>no último terço do filme no bar dos vampiros. O que se nota é que em ‘The Faculty’ <b>Rodriguez </b>está muito mais contido do que era (e continuaria a ser) o seu habitual, uma inegável consequência do produto que este filme tinha de ser e do seu público alvo.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Por incrível que possa parecer, ‘The Faculty’ até consegue ser muito bom a enquadrar os vários tipos de personalidades existentes num liceu. A representatividade multifacetada de ‘The Breakfast Club’ (1985) vem à memória (...) Sentimos as personalidades subjacentes e os diálogos são também naturalistas (como quem diz, credíveis) (...) Só é pena que mais tarde, quando estabelece a sua premissa, o filme se esqueça de continuar esta construção."</span></b></div>
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Claro que ‘The Faculty’ é ousado em certos momentos (os mais memoráveis), claro que tem um estilo apelativo, e claro que é um <i>thriller </i>sobrenatural bem construído. Mas não é tão ousado quanto poderia ser e esse é um dos seus maiores <i>turn offs</i>. A justificação está talvez no facto dos <b>Weinsteins </b>também terem feito mais um pedido. Foi <b>Kevin Williamson</b>, o argumentista de <b>‘Scream’</b>, <b>‘Scream 2’</b> e <b>‘I Know What You Did Last Summer’</b>, que escreveu a versão final deste argumento. Nota-se. A história existe mais ou menos nesse cumprimento de onda e parece não ter muita ambição para ir além dele, quando facilmente o poderia ter conseguido, especialmente com <b>Rodriguez </b>a bordo.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTuyckSb2dsfyVRkyVKizjkLan-FSijl4vg2Gvu-1ggcrYgMsGN9Ei9TDv89_1xz1dY0a1vBjLMGdDhC9xmBk5VxedweyXwqbci6d-7W-ykythEAUH3WUevUZ-RZuqdsjjyhHSMkrFNyML/s1600/Movie-Stills-the-faculty-27875479-800-450.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTuyckSb2dsfyVRkyVKizjkLan-FSijl4vg2Gvu-1ggcrYgMsGN9Ei9TDv89_1xz1dY0a1vBjLMGdDhC9xmBk5VxedweyXwqbci6d-7W-ykythEAUH3WUevUZ-RZuqdsjjyhHSMkrFNyML/s400/Movie-Stills-the-faculty-27875479-800-450.jpg" width="400" /></a></div>
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A aura de <b>‘Scream’</b> é facilmente reconhecida na primeira cena. Depois de um treino, o treinador de futebol americano de um liceu de uma pequena cidade no Ohio (o mítico <b>Robert Patrick</b> de <b>‘Terminator 2: Judgment Day, 1991</b>, que aqui recria algumas das suas mais famosas poses, no primeiro de muitos toques autoconscientes), é atacado por algo que não vemos. Pouco depois, é a directora da escola (<b>Bebe Neuwirth</b>) e outra professora mais idosa (<b>Piper Laurie</b>) que estão sob ataque. Com a clássica música tensa (a banda sonora é de Marco Beltrami), Rodriguez dá-nos logo uma cena de cortar a respiração enquanto a directora foge até ser finalmente apanhada e apunhalada. Contudo, na manhã seguinte, lá está ela, com os outros dois professores. O seu comportamento é inquestionavelmente estranho e têm uma grande necessidade de beber água. Estão também muito interessados em apanhar os restantes professores sozinhos, que depois do encontro começam a comportar-se da mesma forma estranha (estes incluem pequenas aparições de <b>Salma Hayek</b>, a <i>sexy </i>enfermeira viciada em comprimidos; <b>Famke Janssen</b>, a reprimida professora; ou até <b>Jon Stewart</b>, um professor de ciências chamado Edward Furlong… para quem entender a piada). Obviamente, começamos a suspeitar que há aqui algo que não é deste mundo…</div>
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Entretanto vamos conhecendo os jovens do liceu. Por incrível que possa parecer, ‘The Faculty’ até consegue ser muito bom a enquadrar os vários tipos de personalidades existentes num liceu, bem mais que <b>‘Scream’</b>. A representatividade multifacetada de <b>‘The Breakfast Club’ (1985) </b>vem à memória, ou seja, estes arquétipos não são, pelo menos nestas primeiras cenas, meramente superficiais, ao contrário do que acontece na maior parte dos filmes <i>high school</i>. Sentimos as personalidades subjacentes e os diálogos são também naturalistas (como quem diz, credíveis) de novo ao contrário da maior parte dos filmes de adolescentes. Só é pena que mais tarde, quando estabelece a sua premissa, o filme se esqueça de continuar esta construção. Deixa de explorar as facetas das personagens, que estagnam, porque obviamente passa a estar muito mais interessado no mistério, nos sustos e no jogo de gato e do rato entre os adolescentes e as misteriosas criaturas que os perseguem.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O que se segue é uma até excitante odisseia com tensão, gore e humor suficiente (nunca em demasia, mas suficiente) para satisfazer o seu público-alvo (...). Talvez não seja adequado para os fãs de Tarantino ou do próprio Rodriguez, mas também não tem a superficialidade morosa do típico thriller de adolescente. A história não tem propriamente grandes ramificações (...) mas consegue sempre proporcionar momentos de tensão e surpresa"</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdWzT1_jz7ltg1GZy4BuPMafq_1Tb6KMDCi3IBud9opByZwDkBotW7nTmcf3AxxIN_rtSU6PJLXqEoyFN_Ll8ENZimv3PmIZf9WgleKhGx2ZmtRhkQLOE6hjM4KM3SB8rD1tUByco6JMD9/s1600/Movie-Stills-the-faculty-27875449-800-450.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdWzT1_jz7ltg1GZy4BuPMafq_1Tb6KMDCi3IBud9opByZwDkBotW7nTmcf3AxxIN_rtSU6PJLXqEoyFN_Ll8ENZimv3PmIZf9WgleKhGx2ZmtRhkQLOE6hjM4KM3SB8rD1tUByco6JMD9/s400/Movie-Stills-the-faculty-27875449-800-450.jpg" width="400" /></a></div>
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O grupo-base é formado por seis adolescentes. Delilah é a popular mas convencida <i>cheerleader</i>, a típica menina-bem que também é a editora do jornal da escola (<b>Jordana Brewster</b> na sua estreia cinematográfica). O seu namorado Stan (<b>Shawn Hatosy</b>) é a estrela da equipa de futebol, mas está farto de que isso interfira com os seus estudos e pondera desistir. Stokely (<b>Clea DuVall</b>) é a clássica gótica solitária enquanto Casey (um novinho <b>Elijah Wood</b>) é o tímido nerd constantemente vítima de <i>bullying</i>. Zeke (<b>Josh Hartnett</b>, igualmente no seu ano de estreia) é o charmoso repetente, que apesar de ser muito inteligente prefere baldar-se e ganhar dinheiro como o contrabandista de serviço da escola. Por fim Marybeth (<b>Laura Harris</b>) é a rapariga que veio de outra cidade, que não conhece ninguém e procura orientar-se no seu primeiro dia na nova escola.</div>
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Primeiro isoladamente, depois aos pares e por fim todos juntos, estes seis vão começar a suspeitar do estranho comportamento dos professores e, à medida que o tempo vai passando, de um maior número de colegas. Depois será a mal, numa série de encontros assustadores (quando Stan toma banho tem uma visita inesperada; Delilah e Casey vão assistir a um assassinato; e todos são quase vítimas do ataque de um professor), que vão descobrir, ou pelo menos supor o que se está a passar, embora o achem extremamente difícil de acreditar.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ8_9IbxpY-GMZuUwnfsZFZHfH0Rtd97CpAnPgi3TjXtMt2uiMf7vA1mkgqDyC3ZrA7F9aIjNzSIiiKQd72ZyHa8I-CN3eQKT9jXMxq_v-M5sZe1euJsBdNNaLtXOvu9qvt2PHMpT2tQX4/s1600/the-faculty-robert-patrick1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="516" height="217" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ8_9IbxpY-GMZuUwnfsZFZHfH0Rtd97CpAnPgi3TjXtMt2uiMf7vA1mkgqDyC3ZrA7F9aIjNzSIiiKQd72ZyHa8I-CN3eQKT9jXMxq_v-M5sZe1euJsBdNNaLtXOvu9qvt2PHMpT2tQX4/s400/the-faculty-robert-patrick1.jpg" width="400" /></a></div>
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Stokely refere-se ao filme <b>‘Invasion of the Body Snatchers’ (1956)</b>, o brilhante <i>thriller </i>no qual extraterrestres lentamente se vão apoderando dos seres humanos, tomando as suas identidades. Este é mais uma aberto pedaço de autoconsciência (afinal, esta é apenas uma re-imaginação dessa história), mas não há, claro, a mesma classe. <b>‘Invasion of the Body Snatchers’</b> é uma poderosa alegoria sobre a identidade humana, mas acima de tudo é uma poderosa alegoria sobre a situação política que se vivia na América (o mccarthismo e a perseguição da liberdade individual). ‘The Faculty’ não tem nenhum destes nobres objectivos (apesar de alguns discursos finais apontarem nesse sentido, adaptados algo atabalhoadamente à condição de ser adolescente no mundo moderno), e perde talvez excessivo tempo com jargão técnico desnecessário.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"</span></b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>O filme transita habilmente entre estes géneros (Rodriguez é um realizador seguro com um propósito bem definido) que aponta quer para o jovem de liceu à procura de entretenimento escapista quer para o <i>connoisseur </i>que até se diverte com estes bem-intencionados <i>remakes </i>de clássicos. Ajuda que as personagens sejam apelativas, os actores satisfatórios nos seus papeis e que o argumento tenha sobriedade suficiente para não descer baixo para obter um susto."</b></span></div>
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Casey encontra um bicharoco de espécie desconhecida no campo de futebol que o grupo irá analisar ao microscópio e depois testará num rato para perceber o que o parasita faz quando ataca uma vítima. Justificação a mais! Mais tarde, o grupo descobre que a droga caseira que Zeke fabrica e vende na escola é suficiente para matar os humanos possuídos. Mais explicações científicas são dadas, sem que isso dê propriamente maior credibilidade ao filme, embora provavelmente satisfaça os fãs de ficção científica. O filme finalmente encontra a sua melhor passada quando os jovens decidem munir-se da droga para tentar encontrar e matar o líder dos extraterrestres, na esperança que matando-o todos os outros sucumbirão e os seus amigos, professores e familiares voltarão ao normal.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZgfZW-0zSRuqYuCbhqUe69Tr703nEvmnBkHUQ_L4sW5Wb0G2TO7kHisk4GfKOPcTo2ETHGtqUKVYIGaTHBkaz-RYvyoci809jMn68L1l0VGcuq2ru0Q5Qc7FoLaH7wz-2OLxc1_1-n6BS/s1600/The-gang-at-Zeke-s-house-the-faculty-21342361-1024-548.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="548" data-original-width="1024" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZgfZW-0zSRuqYuCbhqUe69Tr703nEvmnBkHUQ_L4sW5Wb0G2TO7kHisk4GfKOPcTo2ETHGtqUKVYIGaTHBkaz-RYvyoci809jMn68L1l0VGcuq2ru0Q5Qc7FoLaH7wz-2OLxc1_1-n6BS/s400/The-gang-at-Zeke-s-house-the-faculty-21342361-1024-548.jpg" width="400" /></a>O que se segue é uma até excitante odisseia com tensão, gore e humor suficiente (nunca em demasia, mas suficiente) para satisfazer o seu público-alvo adolescente e outros espectadores mais velhos com um fraquinho por este tipo de produções. Talvez não seja adequado para os fãs de <b>Tarantino </b>ou do próprio <b>Rodriguez</b>, mas também não tem a superficialidade morosa do típico <i>thriller </i>de adolescente. A história não tem propriamente grandes ramificações – fogem para casa de Zeke para buscar a droga e rumam de novo à escola – mas consegue sempre proporcionar momentos de tensão e surpresa, assentes no mistério de quem será o líder dos extraterrestres (spoiler: não é quem achamos que é), e também nos <i>twists </i>de identidade (há alguém do grupo que já foi possuído sem os outros saberem?). Para apimentar as coisas, Zeke obriga os colegas a snifarem a droga de quando em quando, só para todos garantirem aos restantes que não estão possuídos, o que os leva a estarem ganzados nos momentos mais inconvenientes. É talvez o toque mais ousado da história (o toque <b>Rodriguez</b>), mas é minimizado quando Zeke confessa que a droga é maioritariamente cafeína em pó. Não se pode ferir susceptibilidades num grande <i>blockbuster</i>…</div>
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No <i>showdown</i> no pavilhão desportivo da escola, os jovens que sobram vão descobrir o segredo (um <i>twist </i>que até é inesperado) e têm de fazer o que todos os heróis adolescentes antes deles já fizeram para salvar a escola, a cidade e a humanidade: encontrar a sua verdadeira identidade para além da estereotipada condição da sua personagem. Contudo, se os efeitos especiais do extraterrestre revelado em todo o seu esplendor até são bastante bem conseguidos para a altura, já a veia humana e emocional do filme é algo coxa. As personagens realmente não avançaram depois das cenas iniciais e passada a pouco inventiva batalha final o filme simplesmente não sabe como acabar. O final de <b>‘Invasion of the Body Snatchers’ </b>seria demasiado pesado para o público alvo deste filme e totalmente desadequado aos anos 1990. A solução encontrada é simplista, pouco convincente e até incredível. Ou seja, assenta como uma luva no género de entretenimento escapista dos anos 1990, mas isso não significa que resulte hoje em dia.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Um filme para ver mais pelo seu ambiente do que pelos sustos; mais pela sua reverência a um grande clássico do que pela originalidade da trama e irreverência; mais pelo <i>twist</i> e pela forma como se constrói até ele do que propriamente pelos heroísmos finais; mais pelos jovens actores então a desabrochar do que aquilo que as personagens acabam por se tornar; mais pelo entretenimento “de grupo” do que pela memorabilidade da obra como um todo."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPJDNZ8wmuIIe1hxFFexKj1Se1TeMbdonCPivzU70-L2Sls6siidtPFE2yC6i6hmKuqxYlYzNXiI1FTNPho5GqvkaXeZTshbqVUTZPI9RZLAb8pxmcycRXzRZHmVUNw-HnwU-dN5d-SSQH/s1600/Movie-Stills-the-faculty-27875456-1280-720.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPJDNZ8wmuIIe1hxFFexKj1Se1TeMbdonCPivzU70-L2Sls6siidtPFE2yC6i6hmKuqxYlYzNXiI1FTNPho5GqvkaXeZTshbqVUTZPI9RZLAb8pxmcycRXzRZHmVUNw-HnwU-dN5d-SSQH/s400/Movie-Stills-the-faculty-27875456-1280-720.jpg" width="400" /></a></div>
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Tudo somado ‘The Faculty’ não é de todo um mau filme. Aliás, dentro deste género de <i>slasher </i>de adolescentes até é dos melhores, ao mesmo nível de <b>‘Scream’</b>. Ao contrário dos filmes deste género, ‘The Faculty’ não aposta muito no humor nem em cenas de sexualidade (os casalinhos só se formam no fim com uns beijinhos rápidos), o que lhe dá credibilidade, mas ao mesmo tempo também não aposta muito nas cenas de acção/tensão (o assassinato pré-créditos é o momento mais intenso do filme, o que não abona muito a favor da sequência final). Em vez disso, o filme transita habilmente entre estes géneros (<b>Rodriguez </b>é um realizador seguro com um propósito bem definido) que aponta quer para o jovem de liceu à procura de entretenimento escapista quer para o <i>connoisseur </i>que até se diverte com estes bem-intencionados <i>remakes </i>de clássicos. Ajuda que as personagens sejam apelativas, os actores satisfatórios nos seus papeis e que o argumento tenha sobriedade suficiente para não descer baixo para obter um susto.</div>
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Mas aqui é que a porca torce o rabo. Estamos mais que habituados que um <i>slasher </i>comercial se cinja por certas regras, tenha típicas peculiaridades argumentais e rodeie familiares lugares comuns. Mas ‘The Faculty’ construiu-se, salvo um ou outro pormenor, com muito mais sobriedade, pelo que é desapontante que depois não extravase a sua condição de base. <b>Rodriguez </b>podia ter inserido muito mais <i>gore</i>. Podia ter brincado muito mais com a “possessão” dos extraterrestres. Podia ter explorado muito mais a capacidade ameaçadora de actores como <b>Robert Patrick</b>. Podia ter tornado os sacrifícios finais muito mais épicos. Em suma, poderia ter feito o mesmo que fez em filmes de <b>‘From Dusk Till Dawn’</b> a <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/10/machete.html"><b><span style="color: blue;">‘Machete’</span></b></a>. Mas talvez tenha estado demasiado condicionado pelo estúdio, que apenas queria um novo <b>‘Scream’</b>.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoARwYScWHLyPoEpddGZH65AbUnU5uD4k_3hxpsDYPRbTK78dIpEzD-vYiyasxBndS2yRunWjmDvjI9ItbnHowAZhQjf9FtJqWX3Mnof4jt6i7f7nYZa9Bw2xHs5tJeg2bQtzUVUK5ZPWz/s1600/The-Faculty-the-faculty-22914337-1920-1080.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoARwYScWHLyPoEpddGZH65AbUnU5uD4k_3hxpsDYPRbTK78dIpEzD-vYiyasxBndS2yRunWjmDvjI9ItbnHowAZhQjf9FtJqWX3Mnof4jt6i7f7nYZa9Bw2xHs5tJeg2bQtzUVUK5ZPWz/s400/The-Faculty-the-faculty-22914337-1920-1080.jpg" width="400" /></a></div>
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Um filme para ver mais pelo seu ambiente do que pelos sustos; mais pela sua reverência a um grande clássico de ficção cientifica do que pela originalidade da trama e irreverência; mais pelo <i>twist </i>e pela forma como se constrói até ele do que propriamente pelos heroísmos finais; mais pelos jovens actores então a desabrochar do que aquilo que as personagens acabam por se tornar; mais pelo entretenimento “de grupo” do que pela memorabilidade da obra como um todo. Contudo, não deixa de ser um dos expoentes de um movimento cinematográfico especial, e certamente sempre encontrará nos adolescentes e pós-adolescentes um mercado para ser revisto e redescoberto. Só nunca terá tanto impacto como naqueles que o viram nesse momento no tempo. Um bocadinho mais de sangue, ou pelo menos viscosidade alienígena podia ter ajudado (como em <b>‘Alien’</b>). Mas não se pode ter tudo…</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-85028609870021368432018-06-07T16:27:00.000+01:002018-06-22T01:21:33.639+01:00Murder on the Orient Express<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQUhXS9S2Tynzjw8a_MQlTXyBdjT2AXl2eY7XeINa7BvlcIODX6-XqGDqp6g87eULTvk24j7c5Q7T8kQhtOVxQ9fco38qhVBPJdvpTzEa-NANteCOHLm_1BvnKj43cVXOBEq7KZruCyMOq/s1600/Murder-on-the-Orient-Express-poster-3-600x888.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="888" data-original-width="600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQUhXS9S2Tynzjw8a_MQlTXyBdjT2AXl2eY7XeINa7BvlcIODX6-XqGDqp6g87eULTvk24j7c5Q7T8kQhtOVxQ9fco38qhVBPJdvpTzEa-NANteCOHLm_1BvnKj43cVXOBEq7KZruCyMOq/s400/Murder-on-the-Orient-Express-poster-3-600x888.jpg" width="270" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2017<br />
<br />
<b>Realizador:</b> Kenneth Branagh<br />
<br />
<b>Actores principais:</b> Kenneth Branagh, Penélope Cruz, Willem Dafoe<br />
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<b>Duração:</b> 114 min<br />
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<b>Crítica:</b> Tal como já mencionei na crónica <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/06/poirots-no-cinema-uma-lista-de-actores.html"><span style="color: blue;"><b>‘Poirots no cinema - uma lista de actores, filmes e bigodes!’</b></span></a> ou na crítica a <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/08/desyat-negrityat.html"><b><span style="color: blue;">‘Desyat negrityat’ (1987)</span></b></a>, eu sempre fui um grande fã de <b>Agatha Christie</b>. Foi a minha primeira paixão literária, e na adolescência devorei todos (todos!) os seus livros. Consequentemente, sempre devorei todos os seus filmes. Assim, quando por vicissitudes das modas cinematográficas se começou a falar que Hollywood ia voltar em força às adaptações da obra de <b>Christie</b>, fiquei atento. <b>‘Witness for the Prosecution’</b> de <b>Ben Affleck</b> já foi anunciado para 2019 ou 2020 e o ano passado tivemos duas adaptações, <b>‘Crooked House’ </b>com <b>Glenn Close</b> e o filme que despoletou esta nova sofreguidão mediática por <b>Christie</b>: ‘Murder on the Orient Express’, que inicialmente iria ser realizado e protagonizado por <b>Angelina Jolie</b>, mas que acabou nas mãos de <b>Kenneth Branagh</b>.</div>
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Neste momento preciso de fazer três pontos prévios. O primeiro é que, embora seja por definição contra <i>remakes</i> de filmes originais (claro, há excepções) não sou de todo contra <i>remakes</i> de obras literárias. Afinal, um livro pode ter tantas interpretações quantas as pessoas que o lêem. Por isso cada realizador, cada argumentista, tem o direito de partilhar com o espectador a sua própria visão da história e das personagens. Isto é, desde que não adultere a essência da obra original. Eu próprio sempre achei que se algum dia fizesse um filme baseado numa obra de <b>Christie</b>, faria uma adaptação 100% fiel de ‘Ten Little Niggers’ algo que nunca houve, apesar do livro já ter sido adaptado uma dezena de vezes ao grande ecrã. Nunca percebi como é que há argumentistas e realizadores que se acham mais sagazes que os próprios autores nos quais baseiam as suas obras. Porquê mudar personagens? Porquê mudar frases de diálogo? Porquê mudar sequências de eventos? Porquê mudar <i>twists</i>? Para isso mais valia escreverem eles próprios um argumento original, não? Senão para quê “adaptar” a história? Pelo título?</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Agatha Christie é a escritora que mais vendeu na história da literatura (...) Mas o Sr. Green, cujo ‘Green Lantern’ foi um fiasco de bilheteira e cujos argumentos medíocres para ‘Alien: Covenant’ ou ‘Blade Runner 2049’ eu já critiquei, certamente é muito mais inteligente do que ela. Certamente. E por isso pode adulterar à vontade um dos livros mais perfeitos que ela escreveu, que certamente fará muito melhor... Ou não."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcQx5g8AGP1p8cAVLhvhc7texei_1Ah41Jyi8pssV2vgedizQpET41fFA_Klq8IJvL9BZhyK1UnfDL0oGQfrIRe_b9SBeEATGLUjPHlVQgOBELf6Bwi3VC5iWrz7WTpSqIWSUd-fevD9pz/s1600/Murder-on-the-Orient-Express-2017-murder-on-the-orient-express-40541981-1503-1000.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1503" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcQx5g8AGP1p8cAVLhvhc7texei_1Ah41Jyi8pssV2vgedizQpET41fFA_Klq8IJvL9BZhyK1UnfDL0oGQfrIRe_b9SBeEATGLUjPHlVQgOBELf6Bwi3VC5iWrz7WTpSqIWSUd-fevD9pz/s400/Murder-on-the-Orient-Express-2017-murder-on-the-orient-express-40541981-1503-1000.jpg" width="400" /></a></div>
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São perguntas que fiz recorrentemente a mim próprio quando este fim de semana me sentei no sofá de minha casa a ver esta nova adaptação de ‘Murder on the Orient Express’, pela mão de <b>Michael Green</b>, cujos créditos de argumentista incluem <b>‘Green Lantern’ (2011)</b>, <b>‘Logan’ (2017)</b>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/06/alien-covenant.html"><b><span style="color: blue;">‘Alien: Covenant’ (2017)</span></b></a> ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/10/blade-runner-2049.html"><b><span style="color: blue;">‘Blade Runner 2049’ (2017)</span></b></a>. <b>Agatha Christie</b> é a escritora que mais vendeu na história da literatura. Só a Bíblia vendeu mais cópias do que os livros dela. Mas o Sr. <b>Green</b>, cujo <b>‘Green Lantern’</b> foi um fiasco de bilheteira e cujos argumentos medíocres para <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/06/alien-covenant.html"><span style="color: blue;"><b>‘Alien: Covenant’</b></span></a> ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/10/blade-runner-2049.html"><b><span style="color: blue;">‘Blade Runner 2049’</span></b></a> eu já critiquei em EU SOU CINEMA, certamente é muito mais inteligente do que ela. Certamente. E por isso pode adulterar à vontade um dos livros mais perfeitos que ela escreveu, que certamente fará muito melhor.... Ou não.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo ponto prévio é que, mesmo havendo alguma legitimidade em fazer novas adaptações de velhos clássicos, há ocasiões em que isso é totalmente proibido. Nomeadamente, quando a adaptação definitiva já foi feita. Nunca ninguém se atreveu a fazer uma nova adaptação de ‘<b>Gone with the Wind’ (1939)</b>, nem nunca ninguém se atreveu a fazer uma nova adaptação de <b>‘To Kill a Mockingbird’ (1962)</b>, porque é impossível fazer melhor do que as bem-amadas adaptações que já existem. O mesmo se passa com ‘Murder on the Orient Express’. Apesar de já terem havido adaptações televisivas posteriores (<b>David Suchet </b>filmou esta história em 2006 como parte da sua mítica série, e há um telefilme horrível com <b>Alfred Molina</b> de 2001), todos os cinéfilos sabem que só há uma e uma única versão desta história: aquela filmada em 1974 por <b>Sidney Lumet</b>.</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTOGYcOV6SKAclwQgjb_EZh7-lDVHkMXYAEtaasGUimTlgKTBBWdAYNFXNUsRgJ06D_aDdovTgznZTa1YB5SBGlpsHOy9v0bxYu1WWye_7RpmpwkOe7hrNfMSTggqqXtPgO8gV6jBY3Mp4/s1600/Murder-on-the-Orient-Express-2017-murder-on-the-orient-express-40541980-1498-1000.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1498" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTOGYcOV6SKAclwQgjb_EZh7-lDVHkMXYAEtaasGUimTlgKTBBWdAYNFXNUsRgJ06D_aDdovTgznZTa1YB5SBGlpsHOy9v0bxYu1WWye_7RpmpwkOe7hrNfMSTggqqXtPgO8gV6jBY3Mp4/s400/Murder-on-the-Orient-Express-2017-murder-on-the-orient-express-40541980-1498-1000.jpg" width="400" /></a></div>
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A primeira das quatro épicas adaptações que os produtores <b>Richard B. Goodwin</b> e <b>John Brabourne</b> fariam nas décadas de 1970 e 1980, esse ‘Murder on the Orient Express’ é um trabalho de classe do início ao fim; um filme requintado e sumptuoso, com uma profundidade de personagens incrível, protagonizadas por actores fabulosos (de <b>Lauren Bacall</b> a <b>Sean Connery</b>, de <b>Vanessa Redgrave</b> a <b>Anthony Perkins</b>) e enfatizadas pela íntima câmara de <b>Lumet</b>. Mas acima de tudo, esse filme vale pelo melhor Poirot da história da sétima arte: <b>Albert Finney</b>, que perdeu injustamente o Óscar de Melhor Actor. <b>Finney</b> electriza o ecrã com um magnetismo animalesco; um Poirot pouco subtil, com um brilho felino no olhar e por vezes ameaçador que prende o espectador a cada palavra, a cada sílaba, a cada inflexão da sua voz, a cada subtil artimanha dos seus interrogatórios. Dificilmente haverá outro igual, e certamente não seria <b>Branagh</b> a sê-lo.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Com o seu típico exagero (...) Branagh diverte-se à grande e à francesa (perdão, à belga) a interpretar o famoso detective. Sentimos o deleite que tem a mover-se, a saborear cada palavra com sotaque francês, e a extravasar as idiossincrasias desta personagem. É bom sentir esse deleite (...) I</span></b><b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">nfelizmente, enquanto Finney conseguia manobrar a personagem no fino limbo entre a caricatura e a necessária intensidade dramática, Branagh não consegue."</span></b></div>
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O que nos leva ao último ponto prévio: o próprio <b>Branagh</b>. Em adolescente, nos anos 1990, tinha uma grande paixão por <b>Branagh</b>, o jovem génio do teatro, e posteriormente do cinema shakespeariano; um artista que nunca se levou completamente a sério e que por isso dispensou do elitismo geralmente associado à “grande arte” para a tornar acessível, sem contudo ceder um milímetro em termos de qualidade. Mas as suas obras primas como <b>‘Henry V’ (1989)</b>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/04/much-ado-about-nothing.html"><b><span style="color: blue;">‘Much Ado About Nothing’ (1993)</span></b></a> ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/05/hamlet.html"><b><span style="color: blue;">‘Hamlet’ (1995)</span></b></a> contrastam com as obras que protagonizou ou realizou quando deixou de fazer <b>Shakespeare</b> e abraçou o seu estatuto de <i>character actor</i> em blockbusters.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3Jr11uky9B2KmCG6ZF2jOfQKrAj-o7cUANnH1f_LIyFS6xhE-fgmRzdDGvmLdWvJIOFNGd1Jya-kHcTli4628BCA53oRhuVTQA6JWBN64bUa8Ly7em78NR6T5dDs29O44BKFGe55-3Rd5/s1600/murder-on-the-orient-express.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="377" data-original-width="670" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3Jr11uky9B2KmCG6ZF2jOfQKrAj-o7cUANnH1f_LIyFS6xhE-fgmRzdDGvmLdWvJIOFNGd1Jya-kHcTli4628BCA53oRhuVTQA6JWBN64bUa8Ly7em78NR6T5dDs29O44BKFGe55-3Rd5/s400/murder-on-the-orient-express.png" width="400" /></a></div>
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De <b>‘Wild Wild West’ (1999)</b> em diante, <b>Branagh</b> passou a parecer bastante mais interessado em divertir-se e ganhar dinheiro para poder produzir as suas peças de teatro do que propriamente continuar a qualidade do seu legado cinematográfico. Veja-se o seu papel na saga <b>‘Harry Potter’</b>. Veja-se o seu <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/07/jack-ryan-shadow-recruit.html"><b><span style="color: blue;">‘Jack Ryan: Shadow Recruit’ (2014)</span></b></a> no qual se diverte à grande e à francesa a fazer de russo, embora o filme deixe muito a desejar. Não é que tenha perdido o seu toque. Filmes como <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/03/cinderella.html"><span style="color: blue;"><b>‘Cinderella’ (2015)</b></span></a> estão notoriamente bem realizados. Mas a preocupação com a qualidade do material (principalmente ao nível do argumento) já não é a mesma. Não é, definitivamente, a mesma coisa que <b>Shakespeare</b>.</div>
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<br /></div>
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E assim, chegamos a ‘Murder on the Orient Express’ e sentimos que é precisamente o típico produto contemporâneo de <b>Branagh</b>. Percebemos perfeitamente porque o aceitou fazer; alguém como <b>Branagh</b> não iria deixar passar a oportunidade de fazer de Hercule Poirot. E <b>Branagh</b> aproveita-a com o típico exagero a que nos habituou. Com o seu gigantesco bigode (foi criticado mas é dos mais fieis à personagem), <b>Branagh</b> diverte-se à grande e à francesa (perdão, à belga) a interpretar o famoso detective. Sentimos o deleite que tem a mover-se, a saborear cada palavra que pronuncia com sotaque francês, e a extravasar as idiossincrasias desta personagem. É bom para o espectador sentir esse deleite, como é bom sentirmos que há momentos em que <b>Branagh</b> apanha na perfeição a essência de Poirot (como quando se ri a ler <b>Dickens</b>). Infelizmente, enquanto <b>Finney</b> conseguia manobrar a personagem eximiamente no fino limbo entre a caricatura e a necessária intensidade dramática, <b>Branagh</b> não consegue.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Há muito pouca tensão, quer em termos do mistério (fracamente construído), quer em termos da exploração das personagens (apesar do rol de actores famosos, todos eles sub-aproveitados), quer em termos das deduções. (...) Cada vez que Poirot revela um segredo, nunca percebemos muito bem como é que o deduziu (...) Fica a impressão que a história é fraca, porque tudo parece fácil. E isso é uma grande machadada nas costas de Christie"</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4rcZsBij6RogeiATP1L5QgnriLJtZFBUbLMjWzeNLGMAXimOrx3IX4C-4_d6LpDw_rMvw2WminLpI42WvrWTND6qmuWQme8jKlQYQLt-XF96CIcUlyCiyxtEMIsF4uNHWMD956GLCewTm/s1600/murder_on_the_orient_express_DF_07207_rgb.0.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4rcZsBij6RogeiATP1L5QgnriLJtZFBUbLMjWzeNLGMAXimOrx3IX4C-4_d6LpDw_rMvw2WminLpI42WvrWTND6qmuWQme8jKlQYQLt-XF96CIcUlyCiyxtEMIsF4uNHWMD956GLCewTm/s400/murder_on_the_orient_express_DF_07207_rgb.0.jpg" width="400" /></a></div>
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A culpa, contudo, não é inteiramente dele. O argumento simplesmente não tem estofo. O extraordinário xadrez que <b>Christie</b> concebe, e que o filme de 1974 tão bem havia capitalizado, transforma-se aqui numa estrutura argumental fraca, superficial e atabalhoada, com ênfase em todas as notas erradas. <b>Branagh </b>está talvez demasiado preocupado com a sua exibição de Poirot para perceber que há muito pouca tensão nesta história, quer em termos do mistério (fracamente construído), quer em termos da exploração das personagens (apesar do rol de actores famosos, todos eles claramente sub-aproveitados), quer em termos das deduções. É um daqueles argumentos que nunca vê a “<i>big picture</i>”. Não se constrói para a dedução final, visual e argumentalmente. Contenta-se em ir apresentando os factos e as personagens sem grande inventividade, introduzindo elementos por conveniência de cada cena individualmente e não do todo. Por isso, cada vez que Poirot revela um segredo, nunca percebemos muito bem como é que o deduziu, nem ele se dá muito ao trabalho de o explicar. Quem leu o livro ou viu o filme de 1974 percebe. Quem nunca o fez provavelmente não. Pior, ficará com a impressão que a história é fraca, porque tudo parece fácil. E isso é uma grande machadada nas costas de <b>Christie</b>.</div>
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<br /></div>
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Logo na primeira sequência, em Istambul, percebemos três coisas. Primeiro, que o argumentista se acha muito esperto, inventando um primeiro “mistério” introdutório para Poirot resolver que, enfim, <b>Agatha Christie </b>teria escrito com 5 anos de idade. Do mesmo modo, não há uma única alteração posterior à história que seja melhor ou mais eficaz que a obra de base. Portanto, para quê fazê-lo? Segundo, que este não é bem bem o verdadeiro Poirot. Onde é que já se viu Poirot a fazer qualquer tipo de trabalho físico? Outros planos “bonitos”, como Poirot a andar no tejadilho do comboio ou quando está envolvido numa cena de perseguição (introduzida para “apimentar” a trama) são totalmente fora de carácter. Até o desenvolvimento íntimo da personagem (fala algumas vezes com o retrato da sua antiga “amada” – uma fotografia de uma jovem <b>Emma Thompson</b>) é demasiado atabalhoado e superficial para ser convincente.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFGgo8eze4Pc1BJBYIgip1MbWptAwWrFwPf-rD6mXl_6Tcjga9g-uiFQRt1JH9lpm9RmASSx_O_PKte_fQVKZaI7LAjJf30i5jCllT1o8wfNJ6SyK9yI0XrqZRjDwAQmaoLv7XHSC8cHvD/s1600/MV5BMjExODk3NjQ1Nl5BMl5BanBnXkFtZTgwMDgyODg0MjI%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1600" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFGgo8eze4Pc1BJBYIgip1MbWptAwWrFwPf-rD6mXl_6Tcjga9g-uiFQRt1JH9lpm9RmASSx_O_PKte_fQVKZaI7LAjJf30i5jCllT1o8wfNJ6SyK9yI0XrqZRjDwAQmaoLv7XHSC8cHvD/s400/MV5BMjExODk3NjQ1Nl5BMl5BanBnXkFtZTgwMDgyODg0MjI%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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E terceiro, a grande falta que faz a “cor local” no cinema moderno. No filme de 1974, tal como noutras adaptações christinianas, sentimos o ambiente do terceiro mundo; faz parte da história, dá exotismo ao mistério, entranha-se nas personagens. Aqui Istambul é nada mais que um <i>bluescreen</i> sem vida. O mesmo acontece quando Poirot embarca no mítico Expresso do Oriente rumo à Europa. Apesar das filmagens na Suíça, os planos mais ousados do comboio a percorrer as montanhas gélidas são totalmente artificiais, de novo porque são fruto de um computador. A necessidade que o filme tem de continuamente sair do comboio também trabalha contra ele. O filme de 1974 usava o ambiente claustrofóbico das carruagens para enfatizar a tensão. Este filme perde essa oportunidade porque tem claramente medo que o espectador fique maçado se estiver sempre a ver o mesmo cenário.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"</span></b><b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">Não sentimos a batalha de inteligência e de egos quando Poirot mede forças com cada uma das personagens. É um Poirot-show (ou deverei dizer Branagh-show), que deixa muito pouca margem de manobra aos outros actores (...) As relações que constituem a chave do mistério são mencionadas num estilo toca-e-foge, tornando-se difícil para o espectador que está a assistir à história pela primeira vez perceber a verdadeira nuance da trama."</span></b></div>
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<br /></div>
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A contextualização do mistério é incrivelmente simples. <b>Johnny Depp</b> tem uma breve, mas até cativante interpretação como Ratchett, um gangster americano outrora responsável por um brutal assassinato que agora vive escondido sob outro nome. Nessa noite, Ratchett é brutalmente assassinado com doze facadas, precisamente o número de pessoas, excepto Poirot, que passaram a noite no vagão da primeira classe; uma associação que o filme nunca faz. Aliás, tirando um primeiro plano (visto no trailer) em que a câmara percorre o vagão- restaurante e apanha todas as personagens, não as voltamos a ver juntas até ao final. Inúmeras vezes há personagens que desaparecem completamente (o filme esquece-se delas, como se nem estivessem no comboio), só voltando a ser mencionadas (e a aparecer) quando dá jeito.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI-5qiVIPhX86fqm2NMND-wcJXB7L8ZMIKnybPLhuWgIKuA1BRP7bPiLtHYdSnnwjsGJwTymyYF__KLgTZ6boYavLCTzTfQNaYkFj6hC8mMf3Tvtb_z-8H66qWX2AxO7X2Ymg9RVC57SHN/s1600/Murder_on_the_Orient_Express-681967355-large.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI-5qiVIPhX86fqm2NMND-wcJXB7L8ZMIKnybPLhuWgIKuA1BRP7bPiLtHYdSnnwjsGJwTymyYF__KLgTZ6boYavLCTzTfQNaYkFj6hC8mMf3Tvtb_z-8H66qWX2AxO7X2Ymg9RVC57SHN/s400/Murder_on_the_Orient_Express-681967355-large.jpg" width="400" /></a></div>
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Instigado por Bouc (<b>Tom Bateman</b>), o director companhia (tornado mais novo, bem… só porque sim), Poirot investiga o crime. Os suspeitos são a sra. Hubbard (<b>Michelle Pfeiffer</b> que se esforça, mas não consegue ser a força da natureza que foi <b>Lauren Bacall</b> no filme de 1974); Mary Debenham (<b>Daisy Ridley</b> a quem é dado propositadamente mais tempo de antena, embora a personagem seja fracamente construída); a idosa princesa Princess Dragomiroff (<b>Judi Dench</b>) e a sua criada Hildegarde Schmidt (<b>Olivia Colman</b>); Gerhard Hardman (<b>Willem Dafoe</b>); Hector MacQueen (<b>Josh Gad</b> surpreende, embora numa interpretação bem diferente da de <b>Anthony Perkins</b>); o conde e a condessa Andrenyi (<b>Sergei Polunin</b> e <b>Lucy Boynton</b> – que mal se vêem); Edward Masterman (<b>Derek Jacobi</b>); Pierre Michel (<b>Marwan Kenzari</b>); o Dr. Arbuthnot (<b>Leslie Odom Jr.</b>) e Pilar Estravados (<b>Penélope Cruz</b>).</div>
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<br /></div>
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Estes dois últimos sofreram alterações – inúteis diga-se – relativamente ao livro. A personagem do médico grego que auxilia Poirot, ou melhor, que ouve as suas deduções, é eliminada (Poirot neste filme fala muitas vezes sozinho) e Arbuthnot passa de coronel a médico, só para poder numa única cena observar o corpo do morto. E a decisão de o tornar afro-inglês é… bem, inócua, claramente para cumprir uma cota. Já a transformação da sueca Greta Ohlsson na latina Pilar Estravados ocorre obviamente para a adequar a <b>Penélope Cruz</b>. Mas comparar a Greta de <b>Ingrid Bergman</b> (pela qual ganhou o seu terceiro Óscar) com esta Pilar é como comparar o dia e a noite. E de novo, a culpa é do argumento e da realização. No filme de 1974 temos um plano sem cortes de mais de 5 minutos em que Greta dá o seu depoimento. É hipnotizante. Aqui, Pilar dá o seu depoimento numa montagem misturando mais três ou quatro depoimentos de personagens secundárias (Poirot ir um a um seria moroso para o espectador moderno, não?!). O resultado é uma perda completa do efeito da personagem. E este filme faz isso uma e outra vez. É desesperante.</div>
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<br /></div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Branagh experimenta com inventivos planos de câmara (...) mas, tal como a paisagem gélida que contextualiza a acção, tudo soa demasiado artificial. Branagh vai claramente “<i>over the top</i>” não propriamente no seu Poirot, mas na forma como o torna o centro do filme, em detrimento das restantes personagens (muito, muito pobres) e da construção cinematográfica do crime perfeito (que aqui parece tudo menos isso)."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDjmt5_2VzBCoVPyDQ4fsN5cQ9YbA9xg_IR_7hKGMq66Rho0LJqbfO9fd3oL6yfLvoJAUidIjB0PIx7uDjckLmV_J9Bzh57H29Ae5bVYBADxhHDt9w7ILJ26luNvFZs54AAV4R2zxhBbBN/s1600/MV5BMjI2NDc2NTI2OV5BMl5BanBnXkFtZTgwMTkyODg0MjI%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1600" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDjmt5_2VzBCoVPyDQ4fsN5cQ9YbA9xg_IR_7hKGMq66Rho0LJqbfO9fd3oL6yfLvoJAUidIjB0PIx7uDjckLmV_J9Bzh57H29Ae5bVYBADxhHDt9w7ILJ26luNvFZs54AAV4R2zxhBbBN/s400/MV5BMjI2NDc2NTI2OV5BMl5BanBnXkFtZTgwMTkyODg0MjI%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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O problema é que é tudo muito pouco refinado, especialmente se o compararmos com o filme de 1974. Não sentimos a batalha de inteligência e de egos quando Poirot mede forças com cada uma das personagens. É um Poirot-show (ou deverei dizer <b>Branagh</b>-show), que deixa muito pouca margem de manobra aos outros actores. Alguns conseguem brilhar com o seu pouco tempo de antena (<b>Josh Gad</b>, <b>Willem Dafoe</b>), outros limitam-se a dizer as suas frases (<b>Judy Dench</b>, <b>Derek Jacobi</b>, <b>Marwan Kenzari</b>), mas para todos é uma batalha perdida (principalmente <b>Michelle Pfeiffer</b>), visto que não são mais que contrapontos. Os pequenos apontamentos pessoais que vão surgindo (um romance inter-racial, uma dependência de drogas) não são suficientes para que as personagens tenham dimensão e são facilmente esquecidos. As relações de cada um dos suspeitos com o morto, onde reside a chave do mistério, são também mencionadas num estilo toca-e-foge, tornando-se difícil para o espectador que está a assistir à história pela primeira vez perceber a verdadeira <i>nuance</i> da trama. </div>
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<br /></div>
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No final, tudo é revelado num grande discurso de Poirot, onde as peças não se encaixam no seu devido lugar para a surpreendente revelação final. Ao invés, inúmeros pormenores que Poirot havia chamado à atenção são esquecidos, outros surgem pela primeira vez caídos do céu, e o que verdadeiramente aconteceu surge com uma surpreendente falta de convicção (compare-se com o intenso <i>flashback</i> do filme de 1974…). Contudo, depois da revelação acontece exactamente o oposto. No livro, e no filme de 1974, Poirot tem uma decisão atípica (praticamente inédita em toda a sua carreira), que concretiza com uma discreta subtileza. Neste novo filme, <b>Branagh</b> não se podia dar a esse luxo. Por isso quer ele, quer a personagem por detrás do assassinato, têm um espalhafatoso bate-boca durante largos minutos, que mais uma vez é totalmente fora de carácter. De subtil tem pouco, mas assim fica tudo muito bem explícito para o espectador não ter que fazer qualquer esforço mental.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAucSP9Zgx1ZcVVhdMCRp-pAoUkXJxhbHB4HBncaAx7q16wCKbjbF_7wFJlnZyZMcgFi2NGFvgsbHNKtrjcVzllbItgq7_1FiC7zRwZ8xIHHr51xJrA9xFJNAZMXD_HbJPWz9tI0vXggtj/s1600/611300-kenneth-branagh-hercule-poirot-murder-on-the-orient-express.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAucSP9Zgx1ZcVVhdMCRp-pAoUkXJxhbHB4HBncaAx7q16wCKbjbF_7wFJlnZyZMcgFi2NGFvgsbHNKtrjcVzllbItgq7_1FiC7zRwZ8xIHHr51xJrA9xFJNAZMXD_HbJPWz9tI0vXggtj/s400/611300-kenneth-branagh-hercule-poirot-murder-on-the-orient-express.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo somado, subscrevo as palavras do crítico <b>Christopher Orr</b> que escreve que “<i>o filme não é propriamente mau, mas é auto-indulgente e totalmente desnecessário</i>”, acrescentando que “<i>é visualmente sumptuoso mas inerte</i>”. Eu não o escreveria melhor (e talvez por isso não sou um crítico de uma prestigiada revista…). <b>Branagh</b> experimenta com inventivos planos de câmara (veja-se por exemplo a filmagem “de cima” quando o corpo é descoberto, ou a forma como usa os reflexos de uma porta envidraçada) mas, tal como a paisagem gélida que contextualiza a acção, tudo soa demasiado artificial. <b>Branagh</b> vai claramente “<i>over the top</i>” não propriamente no seu Poirot, mas na forma como o torna o centro do filme, em detrimento das restantes personagens (muito, muito pobres) e da construção cinematográfica do crime perfeito (que aqui parece tudo menos isso).</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Esta nova versão é um filme que tem um <i>look</i> satisfatório, um elenco de luxo e nunca é moroso ou desinteressante. Mas não é um grande mistério de Agatha Christie. Está transformado num mistério de série B que faz lembrar alguns mais fracos telefilmes que Peter Ustinov filmou nos anos 1980. Pedia-se mais de Branagh, pelo menos daquele que já filmou ‘Hamlet’. Mas talvez pedir o mesmo ao Branagh que filmou ‘Jack Ryan: Shadow Recruit’ já seja demais."</span></b></div>
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Como fã de <b>Agatha Christie </b>não me posso deixar de sentir algo enganado por esta adaptação. Como fã do filme de 1974 ainda mais. Não é justo dar ao público um filme destes quando o outro, com um Poirot perfeito, personagens que vivem intensamente os seus papéis, e uma deliciosa e engenhosa construção argumental e cinematográfica, existe. Esta nova versão é um filme que tem um <i>look</i> satisfatório, um elenco de luxo e nunca é moroso ou desinteressante. Mas não é um grande mistério de <b>Agatha Christie</b>. Está transformado num mistério de série B que faz lembrar alguns mais fracos telefilmes que <b>Peter Ustinov</b> filmou nos anos 1980. Pedia-se mais de <b>Branagh</b>, pelo menos daquele que já filmou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/05/hamlet.html"><b><span style="color: blue;">‘Hamlet</span></b>’</a>. Mas talvez pedir o mesmo ao <b>Branagh</b> que filmou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2014/07/jack-ryan-shadow-recruit.html"><b><span style="color: blue;">‘Jack Ryan: Shadow Recruit’</span></b></a> já seja demais.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWZQskEWGpD2-piJNwwdfsyUyFJDbJRFpOSjBHdpZoiMbBfhEFYp_0c84aqZsgW347Kuqr872AwW51nGwIfFzWAJJVjmf6MYsf1lT9r8BZbSSWRRaPW4aUMhKXEu74cVNSqY-gDRF7GlF/s1600/Murder+on+the+Orient+Express+costumes-06.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="900" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWZQskEWGpD2-piJNwwdfsyUyFJDbJRFpOSjBHdpZoiMbBfhEFYp_0c84aqZsgW347Kuqr872AwW51nGwIfFzWAJJVjmf6MYsf1lT9r8BZbSSWRRaPW4aUMhKXEu74cVNSqY-gDRF7GlF/s400/Murder+on+the+Orient+Express+costumes-06.jpg" width="400" /></a></div>
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De um magro orçamento de 55 milhões, o filme rendeu 350 na bilheteira mundial. Ou seja, foi para todos os efeitos um sucesso. O que significa que temos sequela a caminho. <b>‘Death on the Nile’ </b>já tem data marcada para 2019. Devemos temer esta escolha, quando o ‘Murder on the Orient Express’ de 1974 foi precisamente seguido por uma sumptuosa adaptação desse livro em 1978? Provavelmente. Principalmente porque <b>Michael Green</b> também irá escrever o argumento. A adaptação de um <i>remake</i> de uma adaptação é algo que tem poucas hipóteses de resultar, como se viu aqui. Mas talvez isso seja bom, se incentivar os jovens a lerem <b>Agatha Christie</b>, porque se o fizerem irão descobrir como os livros são muito melhores. Vamos pensar que assim será. Há males que vêm por bem. Ou pode ser também que <b>Branagh</b> aprenda com as críticas que recebeu e tente ser mais focado na trama, ou pelo menos tão focado como foi no seu Poirot. Isso sim, seria qualquer coisa. Veremos…</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-15261764776367172832018-05-29T16:48:00.000+01:002018-06-07T16:30:11.716+01:00Os livros da minha estante: ‘Animazione’ de Gabriele Lucci<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij894mh8fFzMqRR-QwCqmOXgjbfJRrHNXTVGmvlYKNJgD7e708DGkpgKuo1G6PZlirpPk8QcJoJgh3mmNtcTzD-K6bpwp97hTfhonlaPG_uMa-XqUsUrAs6zux2Rp70KwrInaXxXbSYzw-/s1600/978883703569GRA.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="363" data-original-width="250" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij894mh8fFzMqRR-QwCqmOXgjbfJRrHNXTVGmvlYKNJgD7e708DGkpgKuo1G6PZlirpPk8QcJoJgh3mmNtcTzD-K6bpwp97hTfhonlaPG_uMa-XqUsUrAs6zux2Rp70KwrInaXxXbSYzw-/s400/978883703569GRA.JPG" width="275" /></a></div>
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Há uns meses inaugurei em EU SOU CINEMA um ciclo dedicado aos livros de cinema que orgulhosamente estão pousados na minha estante, com a apresentação de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2017/11/os-livros-da-minha-estante-film-music.html?m=0"><span style="color: blue;"><b>“Film Music: From Violins to Video” de James L. Limbacher</b></span></a>. Contudo acabei, por negligência, por não dar continuidade a esse ciclo (como o leitor pode reparar a produção deste blog infelizmente teve que diminuir nos últimos tempos por motivos laborais e pessoais). Está na altura de reparar esse erro. Se é fã do cinema de animação, certamente vai adorar ler as próximas linhas.</div>
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‘Animazione' é um livro italiano lançado em 2005, o primeiro da série Dizionari del Cinema da editora Electa. O livro foi produzido por <b>Gabriele Lucci</b>, que de acordo com a contracapa do livro havia criado em 1991 a Accademia dell’Imagine, um centro de alta formação de cinema e comunicação audiovisual. O livro conta ainda com a coordenação de <b>Anna Maria Ximenes</b> e a colaboração de mais cinco escritores. A versão que eu possuo, oferecida pelo meu irmão talvez no Natal desse ano ou do ano seguinte, não me lembro ao certo, é em espanhol, com tradução de <b>Maria José Furió</b>.</div>
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Com o Scrat de <b>‘Ice Age’</b> na capa, ‘Animazione’ é uma carta de amor ricamente ilustrada de 350 páginas à história do cinema de animação e aos mais importantes artistas que a ajudaram a moldar. Talvez não seja o melhor livro se procuramos um ensaio crítico sobre a arte e a técnica da animação, mas é um dos melhores, senão o melhor, se procuramos um detalhado e exaustivo compêndio ilustrado. De facto, neste livro encontramos tudo o que precisamos de saber para mergulharmos de corpo e alma na história do cinema de animação, e com tantas imagens, com tanta qualidade de impressão, folheá-lo é um prazer.</div>
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Depois de uma breve introdução em que o autor nos dá uma visão geral sobre o que foi e é a animação cinematográfica, não só na América mas na Europa e no Japão (algo raro de encontrar nos livros americanos sobre animação), o livro divide-se em cinco partes: As Palavras Chave; Os Protagonistas; As Obras Primas; Os Filmes e Apêndices.</div>
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A primeira parte, As Palavras Chave, aborda, com um texto repleto de imagens extensamente legendadas, sete pontos fulcrais associados à arte da animação: <i>Animais Animados</i> (com passagens obrigatórias pelas personagens Disney, os Looney Toons e tantos outros como Mighty Mouse); <i>Homens e Mulheres Desenhados</i> (de Bosko a Popeye a Lupin III aos Flinstones); <i>Maus muito maus?</i> (de Maléfica a Yosemite Sam ao Capitão Gancho); <i>Heróis em 3D</i> (abordando o então relativamente recente universo da animação digital); <i>Missão… Possível</i> (discutindo as inevitáveis tramas aventureiras comuns à maior parte dos filmes de animação); <i>Os Cenários da Animação</i> (abordando os extraordinários universos concebidos neste género de filme); e por fim <i>Silêncio, está-se a gravar</i> (que explora as várias técnicas da animação, do stop-motion ao motion-capture). </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYgxHGI71Jf9ryq7mbnTWD9aAfMaYJJXedxdf3LhswAFKzWSrfG0fWWc42lez5b0PbZ4RzfhJWM96QrSHpWgm7nV-CjsbldIKqq6fqmz-eBks5r0id9SZHx3TJNug2W80Snv0awl5_ZKk3/s1600/new-the-flintstones-movie-warner-bros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1000" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYgxHGI71Jf9ryq7mbnTWD9aAfMaYJJXedxdf3LhswAFKzWSrfG0fWWc42lez5b0PbZ4RzfhJWM96QrSHpWgm7nV-CjsbldIKqq6fqmz-eBks5r0id9SZHx3TJNug2W80Snv0awl5_ZKk3/s640/new-the-flintstones-movie-warner-bros.jpg" width="640" /></a></div>
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A segunda parte, Os Protagonistas, concede uma página a cada uma de 44 personalidades que revolucionaram o mundo da animação. Cada página contém a filmografia total (ou seleccionada no caso de ser muito extensa) de cada uma destas personalidades; um texto que mistura notas bibliográficas com comentários sobre o estilo e a particular importância dessa pessoa na história da animação; e uma imagem representativa da sua obra. Nestes nomes estão incluídos personagens óbvias como <b>Walt Disney</b>, <b>Tex Avery</b>, <b>Don Bluth</b>, <b>Brad Bird</b>, <b>Ralph Bakshi</b> ou <b>Hayo Miyazaki</b>; mas o livro vai mais longe, abordando a importância de pessoas como o compositor <b>Alan Menken</b>, os produtores <b>Steven Spielberg</b> ou <b>George Pal</b>, o animador <b>Ub Iwerks</b> ou outras personalidades europeias como <b>Bruno Bozzetto</b> (sendo italiano, o afecto deste livro por Bozzetto é enorme), <b>Jiri Trnka</b> ou <b>Karel Zeman</b>. Um verdadeiro quem é quem da animação, condensado em cerca de 50 páginas de extremamente fácil leitura.</div>
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Depois entramos na análise dos filmes em si. A terceira parte, As Obras Primas, apresenta de forma mais detalhada as dez obras que, para os autores, são as melhores da história da animação. Estas são <b>‘Snow White and the Seven Dwarfs’ (1937)</b>, <b>‘Fantasia’ (1940)</b>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/06/allegro-non-troppo.html"><b><span style="color: blue;">‘Allegro non troppo’ (1976)</span></b></a>, <b>‘Who Framed Roger Rabbit’ (1988)</b>, <b>‘The Nightmare Before Christmas’ (1993)</b>, <b>‘Toy Story’ (1995)</b>, <b>‘Chicken Run’ (2000)</b>, <b>‘Shrek’ (2001)</b>, <b>‘Sen to Chihiro No Kamihahushi (2001)</b> e <b>‘Finding Nemo’ (2003)</b>. Cada filme é descrito ao longo de seis páginas. As primeiras quatro contêm a ficha técnica, a sinopse comentada e vários pedaços de <i>trivia </i>(como de costume, as imagens abundam). As últimas duas contêm o resumo da película em “24 Fotogramas”, ou seja, 24 imagens seleccionadas pelos autores com legendas que vão descrevendo a história.</div>
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Podemos debater se estas dez escolhas são ou não acertadas (falta muita Disney pós 1940 por exemplo) mas não as podemos realmente criticar de serem más. A inclusão de <b>‘Shrek’</b> e <b>‘Finding Nemo’</b> pode parecer talvez descabida hoje, mas em 2004/2005 fazia todo o sentido; foram os filmes que revolucionaram a animação digital. Resta dizer que quando recebi o livro apenas não tinha visto o filme italiano <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2013/06/allegro-non-troppo.html"><b><span style="color: blue;">‘Allegro non troppo’ (1976)</span></b></a>. Depois de o ter visto, e de o ter criticado neste blog, não me importei nada que tivesse sido incluído. Grisney ou lá como se chama aquele indivíduo americano, não o faria melhor!</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fJyY7Z3KxxKK4nci7C0KxmuVHn94vmctJeeRDIIppoOWz3Df2hVvSi8uyOpuw3nTymRR-1BsinWzp5xgLSO-ndgee4vVsh3L1IeDHg7Ma3-9UJOqhDrL5YtiQ7ZrnvMaTrP56siQHO0x/s1600/waltdisneymickeymo_2703112b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="387" data-original-width="620" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fJyY7Z3KxxKK4nci7C0KxmuVHn94vmctJeeRDIIppoOWz3Df2hVvSi8uyOpuw3nTymRR-1BsinWzp5xgLSO-ndgee4vVsh3L1IeDHg7Ma3-9UJOqhDrL5YtiQ7ZrnvMaTrP56siQHO0x/s640/waltdisneymickeymo_2703112b.jpg" width="640" /></a></div>
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Já a quarta parte apresenta (quase) todos os outros importantes (e menos importantes) filmes de animação que se fizeram ao longo da história do cinema. O filme atribui duas páginas a cada um, seguindo o modelo anterior mas sem a parte dos 24 Fotogramas. Ou seja, apresenta a ficha técnica, uma breve sinopse comentada, <i>trivia </i>e algumas imagens. São 89 filmes, de <b>‘Die Abenteuer des Prinzen Achmed’ (1926)</b> a <b>‘Robots’ (2005)</b>, então acabado de estrear. Pelo meio temos praticamente todos os filmes da Disney; as primeiras obras dos estúdios americanos que surgiram no início do novo milénio (Pixar, Blue Sky, Dreamworks) ou os trabalhos de senhores como <b>Ralph Bakshi</b>, <b>Don Bluth</b> ou <b>Nick Park</b>. Temos uma ênfase especial na animação italiana (ex. <b>‘La Rosa de Bagdad’, 1949</b>; <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.com/2015/10/west-and-soda.html"><span style="color: blue;"><b>‘West and Soda’, 1965</b></span></a>; ou as obras recentes de <b>Enzo D’Alò</b>) sem contudo esquecer outras obras inglesas (ex. <b>‘Animal Farm, 1955</b>; <b>‘Yellow Submarine’, 1965</b>, <b>‘Watership Down’, 1978</b>), francesas (ex. <b>‘Le planete sauvage’ 1973</b>; <b>‘Les Triplettes de Belleville’, 2003</b>), espanholas (ex. <b>‘El Cid’, 2003</b>), e outras à volta do globo mais ou menos fora do <i>mainstream</i>. Visitamos a animação japonesa com obras como <b>‘Akira’ (1989)</b> ou <b>‘Steamboy’ (2004)</b>; e obviamente os filmes do estúdio Ghibli. E visitamos também produtos híbridos de imagem real e animação, do mítico <b>‘Vynáles skázy’ (1958)</b> a <b>‘Space Jam’ (1995)</b>.</div>
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Por fim, os Apêndices dão-nos uma breve cronologia dos grandes marcos da história da animação (basicamente resume as 200 páginas anteriores); a listagem de todos os vencedores do Óscar de Melhor Curta Metragem de Animação (categoria criada em 1931) e de Melhor Filme de Animação (categoria criada em 2002); a listagem dos maiores festivais de cinema de animação existentes (incluindo o Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho); uma listagem de parques temáticos (aka das Disneylândias existentes no globo); os sites da internet mais importantes e uma listagem bibliográfica (bastante extensa aliás).</div>
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Tudo somado, ‘Animazione’ é o melhor livro de animação que possuo. É realmente aquilo que pretende ser, um Dicionário Ilustrado. A parte das Palavras Chave e dos Protagonistas será sempre uma excelente introdução ao meio, eficaz e apelativa, quer para leigos quer para especialistas. Já a parte dos Filmes é um hercúleo compêndio que só não é perfeito porque há algumas falhas quase inexplicáveis. Quem descreve um a um quase 100 filmes, com um bocadinho mais de esforço podia incluir mais 10 ou 15 e assim completar algumas épocas, estilos e áreas geográficas que deixou a meio. Por exemplo só alguns filmes dos Estúdios Ghibli estão incluídos. Não era por mais meia dúzia que o livro iria ficar mais denso. E se o livro tem entradas para <b>‘Who Framed Roger Rabbit’ (1988)</b> ou <b>‘Space Jam’</b> então deveria referir – e não refere – a trilogia pioneira da Disney que misturou imagem real com animação: <b>‘Mary Poppins’ (1964)</b>; <b>'Bedknobs and Broomsticks' (1971)</b> e <b>‘Pete’s Dragon’ (1977)</b>. Se calhar acharam que já tinham Disney em demasia. Mas sem Disney não havia animação, por isso…</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg42qfv1duaPAzW1-SlTTdsFQBdPLndKXNlcvA1YLLehos8v-em68DACPbx7KrvJ_0mtu94u6DUQXRY795SSuC7uXxJP9GCFv5c_f8DXxcRHjWQKmYmmZSrh6jmVFYH9Fw2mwWvsNiOXpp-/s1600/allegrologont-1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1000" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg42qfv1duaPAzW1-SlTTdsFQBdPLndKXNlcvA1YLLehos8v-em68DACPbx7KrvJ_0mtu94u6DUQXRY795SSuC7uXxJP9GCFv5c_f8DXxcRHjWQKmYmmZSrh6jmVFYH9Fw2mwWvsNiOXpp-/s640/allegrologont-1.png" width="640" /></a></div>
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Obviamente, visto que o cinema é um meio em permanente mutação e com uma infindável produção, aconteceu a ‘Animazione’ o mesmo que acontece a inúmeros livros de cinema: já se tornou desactualizado. Mas isso não impede que seja um grande compêndio até 2005, o que implica que é um grande compêndio do século XX. Praticamente não há outro igual respeitante à animação cinematográfica. Não é propriamente um livro que valha pelo seu texto, embora seja agradável percorrer os olhos por ele para nos recordarmos do que cada filme é, o que representa e como foi feito. Mas é um livro que vale a pena, e muito, pela listagem e pelas imagens.</div>
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O seu objectivo é precisamente esse, fazer com que o leitor o folheie e se vá recordando dos filmes e comece a ter vontade de os ver ou rever. Quando me ofereceram o livro, talvez tivesse visto entre metade e dois terços dos filmes descritos. Hoje já vi praticamente todos. Volta e meia tiro-o da estante, começo a folheá-lo e escolho ver um dos filmes que ainda não vi; ou então lembro-me que é boa altura para rever um dos “clássicos”. É também uma óptima listagem para decidir qual o próximo filme de animação para mostrar ao meu filho. Ele também já ganhou o hábito de ir buscar o livro à estante e começar a folheá-lo, porque fica seduzido pela rica colecção de imagens que possui. Também ele já me começou a pedir este ou aquele filme, somente baseado nessas imagens. Há dois tipos de grandes livros de cinema; grandes ensaios teóricos e críticos, ou então livros como este, que nos impelem a (re)descobrir o cinema.</div>
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Com a massiva proliferação de filmes de animação digital na última década, ‘Animazione’ pedia uma actualização, ou então uma sequela dedicada exclusivamente ao século XXI. Mas até isso acontecer, o leitor não perde nada em tentar adquirir esta obra. Tanto quanto consegui apurar, o livro já não está em stock na maior parte dos grandes vendedores. Mas na internet ainda há cópias de boa qualidade, mesmo que em segunda mão, a circular a preços acessíveis. Na minha humilde opinião, vale a pena. A animação é um dos meus géneros preferidos. Se é também o seu, e se se quiser recordar de inúmeros filmes que marcaram a sua infância e a sua vida, ou pretende descobrir um admirável mundo clássico de animação fora de Hollywood, este é o livro ideal para o ajudar. Para folhear e voltar a folhear, sozinho ou em família, e para o inspirar e ajudar a decidir o que ver no próximo serão ou na próxima tarde de sábado, bem enroscadinho no sofá com um balde de pipocas no regaço e os seus entres queridos em redor. É uma bela perspectiva.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-54627032611822595062018-05-24T14:23:00.000+01:002018-06-17T00:43:08.435+01:00Cinco paródias cinematográficas a Cary Grant<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOrpY_72HGkBlFOrEbYHtzGbnQ3GUf4W31YFo-9YqTL_azHM3J_FqW_vNFIpgCTMkbPriKMYEVAC5BMS4_S7Pjl9bB_VRNFb7huLI0kWMTXMCaE8CZxtmGFuFiiod2Hd3BCw0fAdAn3Xx0/s1600/landscape-cary-grant-1038x576.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1038" height="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOrpY_72HGkBlFOrEbYHtzGbnQ3GUf4W31YFo-9YqTL_azHM3J_FqW_vNFIpgCTMkbPriKMYEVAC5BMS4_S7Pjl9bB_VRNFb7huLI0kWMTXMCaE8CZxtmGFuFiiod2Hd3BCw0fAdAn3Xx0/s640/landscape-cary-grant-1038x576.jpg" width="640" /></a></div>
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<b>Cary Grant</b> pode não ter sido um dos melhores actores de Hollywood, mas foi sem dúvida alguma, justificadamente, uma das suas maiores estrelas. Ele era o arquétipo do actor clássico: tinha o <i>look</i>, tinha a pose, tinha o charme, tinha o carisma, tinha <i>timing</i> cómico, tinha uma personalidade cinematográfica irresistível e até, mais tarde na sua carreira, uma ambiguidade que lhe dava profundidade dramática (obrigado <b>Hitchcock</b>!). O documentário sobre a sua vida feito em 2004 tem um título mais que adequado <b>'Cary Grant: A Class Apart'</b>. Ele era mesmo uma classe à parte.<br />
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Em EU SOU CINEMA já demonstrei o meu afecto por <b>Cary Grant</b> muitas vezes, e já critiquei individualmente três dos seus filmes em fases distintas da sua carreira: <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/07/mr-lucky.html"><span style="color: blue;"><b>'Mr Lucky' (1943)</b></span></a>; <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/12/the-bishops-wife.html"><b><span style="color: blue;">'The Bishop's Wife' (1948)</span></b></a> e <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2015/04/charade.html"><span style="color: blue;"><b>'Charade' (1963)</b></span></a>. É sempre um prazer para o cinéfilo dedicado encontrar Cary na sua televisão e vejo recorrentemente muitos dos seus filmes: <b>'Bringing Up Baby' (1938)</b>, <b>'Arsenic and Old Lace' (1944)</b> ou <b>'North By Northwest' (1959)</b>. Curiosamente, esta semana não estava a ver um filme de <b>Cary Grant,</b> mas sim um episódio de <b>'Top Cat'</b> com o meu filho, quando fui recordado da personagem de Fancy-Fancy, uma simpática paródia à <i>persona</i> de <b>Cary Grant</b>. O seu estilo era tão vincado que a paródia sempre surgiu naturalmente. Mas o respeito e a paixão pelo actor sempre foi imutável ao longo das décadas. Assim, as paródias nunca foram ofensivas, antes tentaram partilhar da secreta magia cinematográfica que transformou o jovem de Bristol <b>Archie Leach </b>numa das personalidades mais icónicas da história de Hollywood.<br />
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Acompanhe-me, caro leitor, numa breve visita por algumas das paródias cinematográficas que me recordo de <b>Cary Grant</b>. Se se lembra de outras, não hesite em partilhar. E não se esqueça de descobrir ou redescobrir <b>Cary Grant</b>, continuando a ver os seus filmes. Não há ninguém em Hollywood hoje que se lhe equipare. E provavelmente nunca haverá.<br />
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<b><span style="font-size: x-large;">Jack Rhodes (Burt Reynolds<span style="white-space: pre;">) em '</span>Rough Cut' (1980)</span></b></div>
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Sempre que vejo um filme de <b>Burt Reynolds</b> (felizmente são poucas vezes) pergunto-me como é que foi possível ter havido um momento no tempo em que ele era um dos actores mais populares e mais rentáveis de Hollywood. A resposta é: estávamos nos anos 1970 e 1980. Reynolds nunca foi um grande actor e os seus filmes nunca foram grandes filmes. Mas tinham uma aura <i>kitsch </i>que se ajustava à época, e um misto de paródia auto-consciente e acção leve que apelava a um púbico familiar. <b>'Rough Cut'</b> é mais um filme neste estilo descontraído de aventura e comédia, que anda à volta de um par de ladrões de jóias. Na cena que abre o filme, <b>Reynolds </b>está de <i>tuxedo</i> numa festa glamorosa e vê a personagem interpretada por <b>Lesley-Anne Down</b>. Quando a tenta engatar começa a falar com o sotaque de <b>Cary Grant</b> e é, tentando ser simpático, terrivelmente mau. <b>Lesley-Ann</b> concorda já que lhe pergunta: "<i>Porque é que está a imitar Tony Curtis?"</i> (ver a penúltima entrada deste <i>post</i>). Quando <b>Reynolds </b>responde "<i>Não estou a imitar Tony Curtis, estou a imitar Cary Grant</i>" ela continua "<i>Está a imitar Tony Curtis a imitar Cary Grant. Já nem Cary Grant faz de Cary Grant agora"</i>... Verdade!</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/d16-qxhLWAM" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Howard Bannister (Ryan O'Neal) em 'What's Up, Doc?' (1972)</span></b><br />
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Igualmente, nunca fui grande fã do cinema de <b>Peter Bogdanovich</b>. Ele tentou ser o <b>Truffaut </b>americano, na medida em que era um crítico e documentarista que se tornou realizador de obras inspiradas nos grandes clássicos da era dourada de Hollywood. Mas apesar de ter a reverência e o conhecimento necessário, <b>Bogdanovich </b>não tinha a inspiração para ser um grande realizador. As suas obras são morosas e sem ritmo, exercícios de forma sem chama. Assim é também para mim um dos seus maiores sucessos de bilheteira, <b>'What's Up, Doc?' (1972)</b>, uma tentativa de recriar a aura cómica de <b>'Bringing Up Baby' (1938)</b> com <b>Barbra Streisand</b> como <b>"Katherine Hepburn"</b> e <b>Ryan O'Neal</b> como <b>"Cary Grant"</b>. Nesse sentido, há alguma frescura na paródia, já que este não é o <b>Cary Grant</b> charmoso e ambíguo das décadas de 1940 e 1950 mas o <b>Cary Grant</b> mais cómico, nervoso e <i>nerd </i>do <i>screwball </i>da década de 1930. Contudo, <b>O'Neal</b> está apagado porque imitar o nervosismo cómico não basta. <b>Cary Grant</b> tinha sempre carisma, até em papéis menos dinâmicos. O carisma de <b>Ryan O'Neal</b> não é suficiente para suster a comédia e ele empalidece e comparação com a muito mais dinâmica <b>Babs</b>. Mesmo assim, sustém essa <i>persona</i> todo o filme, tornando esta a mais longa homenagem cinematográfica conhecida a <b>Grant</b>. Fica a cena em que as personagens de <b>Babs</b> e <b>O'Neal</b> se conhecem.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">Fancy-Fancy (voz de John Stephenson) em 'Top Cat' (1961-1962)</span></b><br />
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<b>'Top Cat'</b> sempre foi, e continua a ser, uma das minhas séries de animação preferidas. Feita pelos icónicos estúdios Hanna Barbera durante a sua época dourada, os anos 1960, <b>'Top Cat'</b> é irreverente, engraçado mas acima de tudo tem classe, não tanto na animação (é um típico produto televisivo) mas nos argumentos e nos trabalhos de voz. A série, que teve apenas uma única temporada de 30 episódios, segue as aventuras e desventuras de um grupo de gatos de um beco, liderados pelo sagaz Top Cat, que estão sempre à procura de um esquema para fazer dinheiro fácil contra todas as diligências do agente de autoridade Dibble. O gangue de Top Cat é multifacetado e inclui um gato chamado Fancy-Fancy, o galã do grupo que se parece e fala como <b>Cary Grant</b>. Fancy é um gato relaxado, bem-falante e bem-parecido; enverga sempre um lencinho ao pescoço e é o mais bem aprumado. Na maior parte dos episódios é visto a engatar uma gatinha, somente para a largar quando ouve o chamamento de Top Cat. O actor <b>John Stephenson</b>, um especialista em vozes para <i>shows</i> de animação, não faz propriamente uma grande imitação vocal de <b>Grant</b>. Mas parodia o seu cliché com o mesmo charme urbano com uma ponta de surrealismo com que a série parodia todos os outros clichés. Fica uma cena em que podemos ver Fancy a partir dos 37 segundos.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/vOKOkIJg8jg" width="759"></iframe><br /></div>
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<b><span style="font-size: x-large;">Joe como Shell Oil Junior (Tony Curtis) em 'Some Like It Hot' (1959)</span></b></div>
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A mais famosa de todas as paródias cinematográficas a <b>Cary Grant</b> é aquela que <b>Tony Curtis </b>protagonizou na seminal comédia de <b>Billy Wilder 'Some Like It Hot' (1959)</b>. Nesse mesmo ano, <b>Curtis</b> contracenou com o próprio <b>Grant</b> em <b>'Operation Petticoat'</b> e talvez isso o tenha levado a decidir optar por uma aberta sátira ao cliché do grande actor, quando a sua personagem se mascara de herdeiro de uma enorme fortuna petrolífera para seduzir <b>Marilyn Monroe</b>, aqui no pico absoluto da sua arte e da sua beleza. Por entre uma obra brilhantemente filmada, que mistura comédia com filme de gangsters, este segundo disfarce de <b>Curtis</b> (ele e <b>Lemmon</b> passam metade do tempo mascarados de mulheres), é igualmente hilariante mas algo injusto. Quer <b>Curtis</b> (um inveterado <i>ladies man</i>) quer <b>Lemmon</b> são bastante mesquinhos com as mulheres ao longo do filme, pelo que esta versão de <b>Grant</b> é apenas mais um "esquema". <b>Curtis</b> transforma-se num <i>nerd</i> galã relutantemente sedutor, uma mistura crua das duas grandes personalidades de <b>Grant</b>, mas fá-lo de forma consciente e cirúrgica para conseguir obter que quer. Contudo, a sua interpretação tem também um charme surreal, dinamicamente fluído, e um tragicismo cómico que é raro de ver. Pode ser injusto, mas nunca é ofensivo, e serve sempre o propósito cómico. Fica a cena em que Shell Oil Junior conhece a Sugar Kane de <b>Marilyn</b>.</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">Archibald Leach em toda a sua carreira</span></b><br />
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Mas o maior imitador de sempre de <b>Cary Grant</b> foi o próprio <b>Cary Grant</b>. Numa entrevista disse "<i>Toda a gente gostaria de ser Cary Grant. Incluindo eu próprio</i>". Noutra disse "<i>Sempre tentei interpretar Cary Grant</i>". Nascido <b>Archibald Leach</b> no seio de uma humilde família inglesa, <b>Grant</b> usou o seu carisma e o seu charme natural para subir lentamente até se tornar uma das maiores estrelas da história de Hollywood. É de supor que o seu sotaque original fosse algo mais parecido com o <i>cockney</i>, mas <b>Grant</b> provavelmente trabalhou-o até atingir a particular entoação, semi-erudita, semi-popular, que o caracterizava e que tão parodiada foi ao longo das décadas. E é de supor igualmente que todos os outros aspectos da sua personalidade foram sujeitos a iguais processos de transformação para atingir o ideal que foi <b>Cary Grant</b>. Mas o facto de no íntimo ser sempre <b>Archie Leach</b> era uma mais valia. O facto de <b>Leach</b> ter sido acrobata na sua juventude auxiliou as movimentações de <b>Grant</b> nas comédias <i>screwball</i>. O facto de <b>Leach</b> ter tido um começo difícil e ter chegado onde chegou pela beleza da sua presença e a perseverança do seu talento, ajudou <b>Grant</b> a criar uma imagem marcante e imutável. Daí ter-se sentido desadequado quando o cinema mudou na década de 1960. Daí ter decidido retirar-se em 1966, porque envelhecer à frente das câmaras significaria ter que aceitar outro tipo de papéis e ter que alterar a sua imagem. Assim recordamo-lo sempre com a imagem que <b>Leach</b> concebeu, recordamo-lo sempre como <b>Cary Grant</b>. E é assim que deve ser. Fica o tributo do canal TCM ao único, ao incomparável, ao glorioso <b>Cary Grant</b>, narrado pelo seu amigo próximo, <b>Michael Caine</b>.</div>
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<br />Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-77164432713931928852018-05-17T01:10:00.001+01:002018-05-24T14:23:42.976+01:00Hot Fuzz<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1Orb2fZayPQnadjfGRTmsn-Ug72IAUpCZ2bsCF1MDh4xES3_iGhTkPjVCGFfM6VB0Tgj0EVlAE2oYarrdAfmB0CPZJTQn8aCkZ80kOeabmmgHRGfAXbQLGqoSFVeCQ_FIml3RQLpvFXGy/s1600/51KEzDS8fdL._SY355_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="355" data-original-width="239" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1Orb2fZayPQnadjfGRTmsn-Ug72IAUpCZ2bsCF1MDh4xES3_iGhTkPjVCGFfM6VB0Tgj0EVlAE2oYarrdAfmB0CPZJTQn8aCkZ80kOeabmmgHRGfAXbQLGqoSFVeCQ_FIml3RQLpvFXGy/s400/51KEzDS8fdL._SY355_.jpg" width="268" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2007<br />
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<b>Realizador:</b> Edgar Wright<br />
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<b>Actores principais:</b> Simon Pegg, Nick Frost, Martin Freeman<br />
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<b>Duração:</b> 121 min<br />
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<b>Crítica:</b> Não é fácil criar um fenómeno cinematográfico de culto. Muitos tentam fazê-lo, pensando em todos os pormenores exaustivamente – da roupa, à maquilhagem, às frases icónicas de diálogo, aos cenários estilizados – e não conseguem. Porque não é o próprio filme em si que dita as regras; é o público e a forma como o aceita. Em 2004 o público aceitou que o agora “clássico” <b>‘Shaun of the Dead’ </b>(acho que já o podemos chamar assim) se tornasse um desses filmes. Por conseguinte, o realizador <b>Edgar Wright </b>e a dupla de actores cómicos <b>Simon Pegg </b>e <b>Nick Frost</b>, então apenas relativamente conhecidos no Reino Unido através do meio televisivo, foram subitamente catapultados para o palco mediático.</div>
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Sinceramente, não creio que <b>‘Shaun of the Dead’</b> seja o genial filme de culto que os fãs fizeram dele. Contudo, é também verdade que é muito mais do que uma paródia aos filmes de zombies. O facto de nunca se assumir completamente como uma comédia (recordemos que o filme tem momentos de <i>gore </i>intensos), e focar-se muito mais nas personagens do que na acção propriamente dita, tornam-no muito mais fascinante e acutilante. Claro que funciona como um bem conseguido pedaço de entretenimento, que homenageia este género particular com um seguríssimo conhecimento de causa, e onde humor é fluído e natural (nunca joga baixo), embora nunca seja realmente hilariante. Mas o segredo do sucesso do filme está principalmente no facto de ser uma excelente sátira social, nomeadamente da classe média inglesa. É esse o centro da obra e tudo o resto; o estilo de montagem, a paródia e a acção advêm daí, dando-lhe uma grande consistência.<br />
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Hot Fuzz’ é um digno sucessor de ‘Shaun of the Dead’ porque existe no mesmo universo temático. Mas é mais do que isso. É um filme mais maduro e mais bem trabalhado (...) tendo mais tempo para saborear as personagens, os diálogos e as múltiplas homenagens cinematográficas que faz. (...). Se algum filme misturou Miss Marple com League of Gentleman com <i>blockbusters</i> como ‘Point Break’ (1991) ou ‘Bad Boys II’ (2003), então é este."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQBs23L437n2GQhUuTGW8H8_AkTw1DMftKqYRQ6JRTMONdWLCebE9QH0XjXPIosSl0k6wCjHoCW2DvNgYPrSxiUa2wBrwoB4TvDZglY7Ox9sxLtFUt4BO_4vJ2mgP0L8P7Hu0nUVfPf1yQ/s1600/fuzz.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="640" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQBs23L437n2GQhUuTGW8H8_AkTw1DMftKqYRQ6JRTMONdWLCebE9QH0XjXPIosSl0k6wCjHoCW2DvNgYPrSxiUa2wBrwoB4TvDZglY7Ox9sxLtFUt4BO_4vJ2mgP0L8P7Hu0nUVfPf1yQ/s400/fuzz.png" width="400" /></a></div>
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Deste modo, seria difícil de imaginar que alguma vez <b>Edgar Wright</b> e <b>Simon Pegg</b> (que escreveram os argumentos em co-autoria) pudessem tirar algo melhor da cartola. Inúmeros realizadores não conseguem repetir a irreverência dos seus primeiros sucessos, porque a fama torna-os mais conscientes e tentativa de repetição de estilo vem associada a uma inevitável artificialidade. A pureza virgem perde-se, bem como a excitação da experiência cinematográfica. Mas quando ‘Hot Fuzz’ (<u>em português 'Hot Fuzz - Esquadrão de Província'</u>) foi lançado três anos depois, o espectador descobriu que <b>Wright </b>e <b>Pegg </b>estavam apenas a aquecer. ‘Hot Fuzz’ é um digno sucessor de <b>‘Shaun of the Dead’</b> porque existe no mesmo universo temático. Mas é mais do que isso. É um filme mais maduro e mais bem trabalhado. Achei isso quando o vi na altura do seu lançamento e acho isso agora que o revi quase uma década depois.</div>
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‘Hot Fuzz’ é o segundo daquela a que <b>Wright </b>chamaria a trilogia do Cornetto (completada com <b>‘World’s End’, 2013</b>; embora <b>‘Paul’, 2011</b> seja a quarta roda desta odisseia). E, como filme do meio, mais do que cumpre o seu papel. É o <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2017/01/star-wars-episode-v-empire-strikes-back.html"><b><span style="color: blue;">‘The Empire Strikes Back’</span></b> </a>da comédia de costumes inglesa. Não precisa de repetir todas as <i>nuances </i>do filme original (por exemplo o estilo de montagem de <b>Wright </b>está mais contido, sendo exagerado apenas em cenas estratégicas), porque sabe que tem uma bagagem suficientemente sólida. Nomeadamente, o realizador está mais confiante e <b>Pegg </b>e <b>Frost </b>estão no cumprimento de onda ideal para que a sua comédia e o seu <i>bromance </i>funcionem em pleno. Assim, ‘Hot Fuzz’ consegue ser muito mais focado, tendo mais tempo para saborear as personagens, os diálogos e as múltiplas homenagens cinematográficas que faz. Se <b>‘Shaun of the Dead’</b> era a definitiva sátira “inglesa” aos filmes de zombies, ‘Hot Fuzz’ é a definitiva sátira do humor inglês aos filmes de investigação criminal e aos <i>blockbusters</i> de acção, com um elemento que o torna ainda mais comicamente apelativo. Passa-se numa pequena vila da Inglaterra rural, o cenário ideal para a conspiração e o mistério desde as obras de <b>Agatha Christie</b> ou Father Brown. Se algum filme misturou Miss Marple com League of Gentleman com <i>blockbusters</i> como <b>‘Point Break’ (1991) </b>ou <b>‘Bad Boys II’ (2003)</b> (particularmente estes dois são sobejamente referenciados), então é este. É possível fazer esta mistura e ter sucesso? Como ‘Hot Fuzz’ prova, é.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2qRD1WUdToGTCXEiWFdOonxD4UZvWPL12eH4SSKC7vpg9auRrXfTcgeFOsXzwThFAOyULAw8xeBsPuUqXwAGfFqwivetoMPe2_3PC7FcTKYeHCJ0f__RtQwq3HgavDaF8X0wHmHSrYAIi/s1600/34.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="1024" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2qRD1WUdToGTCXEiWFdOonxD4UZvWPL12eH4SSKC7vpg9auRrXfTcgeFOsXzwThFAOyULAw8xeBsPuUqXwAGfFqwivetoMPe2_3PC7FcTKYeHCJ0f__RtQwq3HgavDaF8X0wHmHSrYAIi/s400/34.jpg" width="400" /></a></div>
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<b>Simon Pegg</b> é mais uma vez a personagem principal do filme. Desta vez interpreta Nicholas Angel, inicialmente quase o oposto da sua personagem em <b>‘Shaun of the Dead’</b>. Angel é um jovem polícia londrino extremamente dedicado ao seu trabalho e cuja eficiência o torna num dos mais bem-sucedidos agentes da cidade. Contudo essa eficiência, apesar de louvada pelos múltiplos prémios que recebe, prejudica-o a nível pessoal. A sua namorada Janine (nunca lhe vemos a cara mas é <b>Cate Blanchett</b>!) deixa-o porque o acusa de ser casado com o trabalho, e torna-se também alvo de inveja dos seus companheiros e superiores, onde se incluem pequenos <i>cameos</i> de <b>Bill Nighy</b>, <b>Martin Freeman</b> e <b>Steve Coogan</b>. Assim, estes três conspiram para transferir Angel para o local mais remoto que conseguem encontrar. Nomeadamente a pequena vila de Sandford, reputada como a vila mais segura de Inglaterra, que há mais de duas décadas não tem um crime grave e que ganha recorrentemente o prémio de vila do ano. Sem escolha, Angel é obrigado a relocalizar-se. Mas como o espectador já está à espera, e Angel rapidamente irá descobrir, nem tudo o que parece é…<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Pegg e Frost estão no cumprimento de onda ideal para que a sua comédia e o seu <i>bromance</i> funcionem em pleno. (...) Danny é muito como a personagem de Frost em ‘Shaun of the Dead’ (...) mas se no primeiro filme não passava disso (era mero escape cómico), aqui evolui. (...) Não estamos a falar de algo muito profundo, obviamente (não é esse tipo de filme), mas é bom vermos isto a acontecer no ecrã. Adiciona camadas ao filme."</span></b></div>
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Em retrospectiva é curioso notar que o massivo sucesso de bilheteira <b>‘Bienvenue chez les Ch'tis’ (2008)</b> de <b>Danny Boon</b>, onde um carteiro convencido da grande cidade é forçado a ir trabalhar para uma aldeia do norte de França, tenha sido lançado um ano depois de ‘Hot Fuzz’. A premissa dos filmes é semelhante, mas se o francês se contenta em ser uma comédia de costumes, o inglês é muito mais multifacetado. Há um óbvio choque cultural quando Angel chega à pequena aldeia e se tem de adaptar aos seus ritmos. Mas há também coisas que não soam bem e demasiadas personagens peculiares, até para aquilo que é a convenção estereotipada da ruralidade inglesa.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb7thr-5IP475bpqzUvIWgxY90FFD47gFEPeD8_XJJ8kishsjS5pF55OEcbT49EhmoBHUO7zm9yDZTrm5orUepFUAj6rLjuREd5kLFijRrS1GLQ2PGJwUpBYvtlde0kpfIsPWTlGIm8zVc/s1600/hotfuzz20.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="570" data-original-width="1337" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb7thr-5IP475bpqzUvIWgxY90FFD47gFEPeD8_XJJ8kishsjS5pF55OEcbT49EhmoBHUO7zm9yDZTrm5orUepFUAj6rLjuREd5kLFijRrS1GLQ2PGJwUpBYvtlde0kpfIsPWTlGIm8zVc/s400/hotfuzz20.png" width="400" /></a></div>
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Neste sentido, a cadência do filme é inteligente. Inicialmente, Angel nota apenas pequenos pormenores “desculpáveis”, seja a excentricidade da sua nova senhoria, menores a beberem num bar local, ou a excessiva placidez dos polícias locais, pouco habituados à acção, comandados pelo Inspector Butterman (<b>Jim Broadbent</b>). As atitudes de rigidez ética e policial de Angel (não quebra as regras por ninguém) fazem com que seja um pouco admoestado pelos populares e pelos convencidos detectives locais. Assim é forçado a fazer trabalhos menores como procurar gansos desaparecidos.</div>
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Mas nesta vila perfeita ninguém guarda rancores por muito tempo. Principalmente, Angel vai criar uma relação com o polícia Danny (<b>Nick Frost</b>), o filho do Inspector. Inicialmente, Danny é muito como a personagem de <b>Frost</b> em <b>‘Shaun of the Dead’</b>; preguiçoso, infantil, embora com uma boa alma. Mas se no primeiro filme não passava disso (era mero escape cómico), aqui a sua personagem evolui. Para fazer a coisa acertada, para satisfazer o seu sonho de ser parte de um icónico duo de polícias à imagem de <b>‘Lethal Weapon’</b> ou <b>‘Bad Boys’</b> (um universo que dá a conhecer a Angel), tem de ganhar consciência das suas falhas e usar esse conhecimento para crescer. E graças a essa amizade inesperada Angel também cresce, também evolui, e começa a perceber que há mais na vida do que ser o polícia perfeito. Não estamos a falar de algo muito profundo, obviamente (não é esse tipo de filme), mas é bom vermos isto a acontecer no ecrã. Adiciona camadas ao filme.<br />
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Um dos melhores elementos de ‘Hot Fuzz’, para lá da sátira cómica e do ambiente fílmico, é que o mistério tem interesse por si. (...) Talvez o excessivo <i>gore</i> seja desnecessário (...) mas o ritmo do filme é sempre cativante. Não tanto pelo estilo de montagem, mas pela mistura eficaz de humor e ironia, comédia de situação e subtis referências (...), usadas inteligentemente para servir os propósitos desta história. E é assim que deve ser."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_i7Wt9QvG9vqxv32OWeU4gM2hLs_3_43WzkBbMgL0rZV42553jG14AjvWNLoV8j33Crq4u4YNFvmLVKxTBKzPycYwvZP7nVYSQBiBvqk2wBjaRIS3-UjTDFywwkUTCKsdXPq1h17S2MoQ/s1600/ep257-hotfuzz.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="748" height="255" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_i7Wt9QvG9vqxv32OWeU4gM2hLs_3_43WzkBbMgL0rZV42553jG14AjvWNLoV8j33Crq4u4YNFvmLVKxTBKzPycYwvZP7nVYSQBiBvqk2wBjaRIS3-UjTDFywwkUTCKsdXPq1h17S2MoQ/s400/ep257-hotfuzz.jpg" width="400" /></a></div>
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Aos poucos, o filme vai dando pequenas pistas de que a idílica imagem da vila não é o que parece. Há acidentes a mais, demasiado convenientes, e Angel começa a suspeitar. Um actor de teatro sofre um acidente de viação. Um jornalista é morto quando uma estátua cai em cima dele. A dona da loja de flores é morta com umas tesouras de podar. E porque é que o charmoso dono do hipermercado local, Simon Skinner (o ex-James Bond <b>Timothy Dalton</b> num papel fácil – para ele – mas eficaz) aparece sempre no local dos acidentes, como que por acaso? É dele que Angel suspeita e aos poucos começa a deslindar o mistério que a vila esconde, embora ninguém, incluindo todos os seus colegas da polícia, acreditem nele. </div>
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Um dos melhores elementos de ‘Hot Fuzz’, para lá da sátira cómica e do ambiente fílmico, é que o mistério tem interesse por si. Geralmente neste género de filme o “segredo” é algo simplório, um mero contexto para as cenas de acção cómica. Mas aqui tem mérito próprio já que este mesmo tipo de trama podia estar num filme com ambições muito mais dramáticas. Talvez o excessivo <i>gore</i> seja desnecessário (como em <b>‘Shaun of the Dead’</b>) mas o ritmo do filme é sempre cativante. Não tanto pelo estilo de montagem típico de <b>Wright</b>, mas pela mistura eficaz de humor e ironia, comédia de situação e subtis referências aos dois géneros que aborda – “mistério em aldeia inglesa” e “<i>buddy-cop</i>” – que os fãs imediatamente identificarão. Não é mera cópia (outro ponto a favor) mas um uso inteligente de referências para servir os propósitos desta história em particular. E é assim que deve ser.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhR9LA8zpDYx2t55F0Uq30zFSIllJfzavm_g_8Qhqax0KAtZDkpSnHXfeyJf7Q-iGoxfL16YHdu8IYu8XhVXF2bxpIjBuBYVWPS6CTMH-VPgqliPl-ykaImF_onNUWLhT2Bb00YbAtCtXZ7/s1600/hot_fuzz.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="530" data-original-width="800" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhR9LA8zpDYx2t55F0Uq30zFSIllJfzavm_g_8Qhqax0KAtZDkpSnHXfeyJf7Q-iGoxfL16YHdu8IYu8XhVXF2bxpIjBuBYVWPS6CTMH-VPgqliPl-ykaImF_onNUWLhT2Bb00YbAtCtXZ7/s400/hot_fuzz.jpg" width="400" /></a></div>
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Contra a passividade e a incredulidade de toda a aldeia Angel, com a ajuda de Danny, irá descobrir o bem guardado segredo e quem são os vilões desta história. Não é propriamente um choque (aos poucos já tínhamos adivinhado), mas abre o caminho para o último acto do filme, esse sim surpreendente. Quando tudo parece já em vias de estar terminado, o filme oferece-nos praticamente mais meia hora, tornando-se um fantástico <i>send-off</i> aos <i>blockbustes</i> de acção dos anos 1990. Armados até aos dentes, Angel e Danny têm um <i>showdown</i> no centro da vila contra os vilões. E aqui sim <i>all hell breaks loose </i>[perdoem-me todos os estrangeirismos, mas é esse tipo de filme...].<br />
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<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Creio sinceramente que nunca houve uma homenagem cómica tão bem conseguida ao universo de (...) tantas obras icónicas dos anos 1980 e 1990. É delicioso. A acção é dinâmica, os <i>one-liners</i> hilariantes (...) Pegg e Frost tornam-se Smith, Lawrence, Gibson, Willis, Stallone ou Reeves perante os nossos olhos, encarnam essas personalidades não apenas como uma paródia de costumes, mas como se realmente tivessem sido heróis de acção nessa era."</span></b></div>
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Creio sinceramente que nunca houve uma homenagem cómica tão bem conseguida como estes largos minutos ao universo de <b>‘Point Break’</b>, <b>‘Die Hard’</b>, <b>‘Lethal Weapon’</b>, <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2018/01/speed.html"><b><span style="color: blue;">‘Speed’</span></b></a>, <b>‘Bad Boys’</b> e tantas outras obras icónicas dos anos 1980 e 1990. É delicioso. A acção é dinâmica, os <i>one-liners</i> hilariantes. Que mais se pode querer? <b>Pegg</b> e <b>Frost</b> tornam-se <b>Smith</b>, <b>Lawrence</b>, <b>Gibson</b>, <b>Willis</b>, <b>Stallone</b> ou <b>Reeves</b> perante os nossos olhos, encarnam essas personalidades não apenas como uma paródia de costumes, mas como se realmente tivessem sido heróis de acção nessa era. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGEpYTlIlV8nHgGs0Rzsh-59hb7ydfUF0q2Jyl_jomDykeE2jKXg-Q17dBcDhZUg43vTFMx_GZXz432SjHNyh2yqkNN6xrbEaFNI1uaQBgdNc3lZoPNzApjT5l8ZW6C9lXZ22iUEnFMd8o/s1600/man_in_motion.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="556" data-original-width="1024" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGEpYTlIlV8nHgGs0Rzsh-59hb7ydfUF0q2Jyl_jomDykeE2jKXg-Q17dBcDhZUg43vTFMx_GZXz432SjHNyh2yqkNN6xrbEaFNI1uaQBgdNc3lZoPNzApjT5l8ZW6C9lXZ22iUEnFMd8o/s400/man_in_motion.jpg" width="400" /></a></div>
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É isso que distingue ‘Hot Fuzz’ de outras supostas épicas homenagens como <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2017/09/the-expendables.html"><span style="color: blue;"><b>‘The Expendables’</b></span></a>. Esse filme era entretenimento acéfalo, superficial, que confiava nos nomes do seu elenco mas esquecia-se de compensar com personagens apelativas cenas de acção dinâmicas. Porque oferece ambas estas coisas, ‘Hot Fuzz’ é muito mais vibrante. É uma homenagem com substância que se consegue erguer a um patamar completamente diferente, a um universo próprio de comicidade surreal, onde o que é “normal” é transformado numa ilusão estereotipada que aceitamos porque, como espectadores, estamos completamente habituados a este tipo de realidades cinematográficas. E essa ilusão torna-se a realidade também para as personagens. <b>Pegg</b> e <b>Frost</b> estão completamente cientes deles próprios e dos lugares comuns que representam (veja-se como de repente <b>Pegg</b> começa a falar com voz grossa) mas nunca quebram o tom. Vivem cada momento com seriedade, o que mais enfatiza a componente humorística e de surrealismo desta obra. Eles não são heróis de acção “de Hollywood”. Não é uma pré-condição. Tornam-se heróis de acção “de Hollywood” graças ao arco argumental que o filme percorre. E aqui reside o elemento chave da homenagem.</div>
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Tudo somado, ‘Hot Fuzz’ não é propriamente uma obra prima da comédia porque não faz rir a bandeiras despregadas, cena a cena. O seu humor é subtil e inteligente (é, digamos, britânico) e portanto não cairá nas graças de todos os espectadores. Nem é uma obra prima do cinema de acção como essas obras dos anos 1990 que homenageia, porque não é um pedaço de entretenimento somente movido por testosterona explosiva. Mas é um filme inteiramente convincente que se move entre estes meios com uma enorme destreza e um enorme foco. Não quer tanto ser engraçado (embora acabe por o ser), como contar uma boa história, que por sua vez vale não pela história em si mas pelas memórias que ela instiga no espectador. As memórias de grandes policiais “rurais” ingleses. As memórias de grandes blockbusters de Hollywood. Em ‘Hot Fuzz’ temos uma carta de amor a ambos.<br />
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<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"</b><span style="text-align: justify;"><b>‘Hot Fuzz’ não é propriamente uma obra prima da comédia (...) nem do cinema de acção (...) mas é um filme que se move entre estes meios com uma enorme destreza</b></span><b>. Não quer tanto ser engraçado (embora acabe por o ser), como contar uma boa história, (...) que vale pelas memórias que instiga no espectador. As memórias de grandes policiais “rurais” ingleses e de grandes <i>blockbusters</i> de Hollywood. Em ‘Hot Fuzz’ temos uma carta de amor a ambos."</b></span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0VfUlfJgD_NKexoCzyVZtCsetOfO9dviSmtTcAHKoBKGWkUkN_bFlptUMUrX3Sa720d5O6dFDIZeZRimtNa2mYFx56O_Ic3cydH06Ad1hoM82-HqX0DsAhjs3ctjT0uVLed7AhFgebawt/s1600/hotfuzz21.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="570" data-original-width="1342" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0VfUlfJgD_NKexoCzyVZtCsetOfO9dviSmtTcAHKoBKGWkUkN_bFlptUMUrX3Sa720d5O6dFDIZeZRimtNa2mYFx56O_Ic3cydH06Ad1hoM82-HqX0DsAhjs3ctjT0uVLed7AhFgebawt/s400/hotfuzz21.png" width="400" /></a></div>
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Por isso, para o espectador que sempre amou este género de películas, não importa muito que o filme salte entre estilos, nem que acabe por ter um desenlace algo previsível, nem que a maior parte das personagens secundárias não sejam mais do que a sua mera superfície (pedia-se mais <b>Timothy Dalton</b>, por exemplo). Porque o universo fílmico de ‘Hot Fuzz’ permite que isso faça sentido, pois mistura as regras de um filme de mistério, com as regras da comédia inglesa, com as regras que importa dos <i>blockbusters</i> de acção, somente para depois as quebrar. O filme existe no seu próprio género de humor-homenagem e ao mesmo tempo tem a contenção e a consciência suficiente (ao contrário de <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2017/09/the-expendables.html"><span style="color: blue;"><b>‘The Expendables’</b></span></a>) para saber que não pode almejar ser mais do que isso. E por isso mesmo, não há nada em ‘Hot Fuzz’ que destoe, que esteja a mais, que seja demasiado ambicioso para o simples material que o filme apresenta, apesar dos óbvios exageros fantasiosos e <i>gore</i> que o filme contém.</div>
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Desta forma, é-nos oferecida uma fantasia apelativa e desfrutável, que seduz cena a cena. Volta e meia notamos que estamos a abanar a cabeça imperceptivelmente para o ecrã em sinal de cumplicidade e reconhecimento, como se tivéssemos uma ligação directa a <b>Pegg</b> e <b>Frost</b>. Volta e meia apercebemo-nos que estamos a sorrir. Volta e meia temos vontade de reler um livro de Miss Marple ou de pôr <b>‘Bad Boys II’ </b>no leitor de DVD (como eles o fazem) e desfrutar de um pouco de explosividade de Hollywood. É assim que percebemos que o filme funciona. Pois é precisamente esse o seu objectivo. Partilhar connosco a paixão por este universo. E se desfrutamos de ‘Hot Fuzz’ é porque somos apaixonados por ele. O filme traz-nos esse prazer de volta à memória. Talvez seja por isso que o aprecie mais que <b>‘Shaun of the Dead’</b>, pois é uma temática cinematográfica que mais me apela (não sou grande fã ou conhecedor dos filmes de zombies). Mas isso significa que o filme é uma bem-sucedida homenagem e um triunfo para o seu público-alvo.<br />
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>"Não importa muito que o filme tenha um desenlace algo previsível ou personagens secundárias superfíciais (...) Porque o universo fílmico de ‘Hot Fuzz’ permite que isso faça sentido, pois mistura todas as regras cinematográficas somente para depois as quebrar (...) Volta e meia temos vontade de reler um livro de Miss Marple ou ver ‘Bad Boys II’ (...). É assim que percebemos que o filme funciona. Pois é precisamente esse o seu objectivo."</b></span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFT-76y5wUqc6BX-S4UCJgLhUUsF01EiigbkdvssK6zIL_M8n8AO9PUwoBSZ2Lm0zxrfQb6SCtAZ0infIAEvtJ7p0-mJyo44randgY6hFmLAa_kOav0UqblUpTGxjg4ZM7rWBtxXcfw58F/s1600/hotfuzz_3040120b.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="387" data-original-width="620" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFT-76y5wUqc6BX-S4UCJgLhUUsF01EiigbkdvssK6zIL_M8n8AO9PUwoBSZ2Lm0zxrfQb6SCtAZ0infIAEvtJ7p0-mJyo44randgY6hFmLAa_kOav0UqblUpTGxjg4ZM7rWBtxXcfw58F/s400/hotfuzz_3040120b.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
‘Hot Fuzz’ não é propriamente um filme para a posteridade, e obviamente há melhores comédias rurais inglesas e até melhores comédias de acção. Mas isto é se considerarmos os géneros separadamente. Se os juntarmos, ‘Hot Fuzz’ torna-se um filme único e sem rival; uma irreverente mas respeitosa homenagem que é também uma resposta assertiva, no momento em que foi lançado, à queda abrupta do estilo de acção de Hollywood dos anos 1980 e 1990 na década de 2000, em favor dos filmes de fantasia ricos em efeitos especiais. Isso torna-o talvez um produto do seu tempo em termos conceptuais, mas a sua capacidade para entreter não é datada. Resultará sempre numa tarde de sábado para ver e desfrutar, acomodado no sofá. Pessoalmente, não me importo nada com isso. <i>Here come the fuzz</i>.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-36245062388010557992018-05-05T01:20:00.000+01:002018-05-17T01:11:54.815+01:00Rio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLValosKt-W1HB757DvFPIWx5xX1UHEw6JjzvyJyrY8cwsD7MNfTzNwXFJu7NnC956VsVXQB8KS5mlUGQTyxjY_NoCoJh4GYcM_x6HHlWA3I02oacnDSOSxiJdKk_bwYZ1-2FL3keEjrw0/s1600/Rio-2011-Poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1013" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLValosKt-W1HB757DvFPIWx5xX1UHEw6JjzvyJyrY8cwsD7MNfTzNwXFJu7NnC956VsVXQB8KS5mlUGQTyxjY_NoCoJh4GYcM_x6HHlWA3I02oacnDSOSxiJdKk_bwYZ1-2FL3keEjrw0/s400/Rio-2011-Poster.jpg" width="270" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2011<br />
<br />
<b>Realizador:</b> Carlos Saldanha<br />
<br />
<b>Actores principais:</b> Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, George Lopez<br />
<br />
<b>Duração:</b> 96 min<br />
<br />
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<b>Crítica: </b>‘Rio’, lançado em Abril de 2011, foi o sexto filme do Blue Sky Studios; o estúdio liderado por <b>Chris Wedge </b>que durante os anos 1990 fez efeitos visuais para inúmeros blockbusters e que começou a dedicar-se exclusivamente ao cinema de animação em 2002 com o lançamento de <b>‘Ice Age’</b>. O sucesso de <b>‘Ice Age’</b> foi tanto que o estúdio ficou condicionado por ele em termos de criatividade, e dependente dele financeiramente para ter longevidade. Nos nove anos até chegarmos a ‘Rio’, foram lançados três <b>Ice Age (2002, 2006, 2009)</b> e depois de ‘Rio’ saiu logo o quarto:<b> ‘Ice Age: Continental Drift’ (2012)</b>. Cada um dos quatro rendeu centenas de milhões de dólares (<b>Ice Age 4</b> é até hoje o filme mais rentável do estúdio, com quase 900 milhões), o que justificou sempre a criação de mais sequelas.</div>
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<br /></div>
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E a verdade é que os dois únicos filmes até então que não do universo Ice Age, <b>‘Robots’ (2005) </b>e <b>‘Dr. Seuss' Horton Hears a Who!’ (2008)</b>, tinham sido apenas sucessos moderados, apesar de serem, como seria de esperar, mais inventivos que as sequelas de Ice Age que se foram tornando repetitivas à medida que o tempo foi passando. Nesse sentido, ‘Rio’ constitui um marco na história do Blue Sky. Foi o primeiro filme do estúdio que não da saga Ice Age a ser um estrondoso sucesso de bilheteira (arrecadou quase 600 milhões) e é o único até agora a ter tido uma sequela, igualmente bem-sucedida: <b>‘Rio 2’ (2014)</b>.</div>
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<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"É o filme mais colorido e quente da história do estúdio, e é certamente um dos melhores animados. Os planos do Rio de Janeiro são fantásticos (a começar pelo belíssimo plano inicial), e os marcos da cidade são constante presença no <i>background </i>das cenas, com um intenso realismo digital (...) E o filme apanha a cidade, convenientemente, em plena semana de Carnaval, o que ajuda a promover o ambiente festivo e a própria cidade."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSnpcZiiWKZ_NJP-ooyKjoI8wGt2i5-LbE_4Ny7ZQY_m0GTUe6SnskBxAiWw_7ECdy2WVPtxMvK4MJVeIr2iqQlvdGQTj7FTFUJim-yFD6QtH7gyOIbXmgKMKNX2jTaP1NSBqLAmcrypgy/s1600/2011_rio_005.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="500" height="255" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSnpcZiiWKZ_NJP-ooyKjoI8wGt2i5-LbE_4Ny7ZQY_m0GTUe6SnskBxAiWw_7ECdy2WVPtxMvK4MJVeIr2iqQlvdGQTj7FTFUJim-yFD6QtH7gyOIbXmgKMKNX2jTaP1NSBqLAmcrypgy/s400/2011_rio_005.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O filme foi concebido como um trabalho de amor, um projecto muito pessoal de um dos animadores chave do Blue Sky, o brasileiro <b>Carlos Saldanha</b>. <b>Saldanha </b>foi orientando de <b>Chris Wedge</b> na Escola de Artes Visuais de Nova Iorque, e este acabou por o contratar quando o seu novo estúdio começou a crescer. <b>Saldanha </b>começou por fazer anúncios televisivos e trabalhou como animador na primeira curta metragem de grande sucesso do estúdio, o oscarizado <b>‘Bunny’ (1998)</b>, realizada por <b>Wedge</b>. Mas a cumplicidade entre os dois homens era tanta que <b>Wedge </b>promoveu <b>Saldanha </b>à cadeira de co-realizador nos dois primeiros filmes do estúdio: <b>‘Ice Age’</b> e <b>‘Robots’</b>. E quando <b>Wedge </b>se tornou mais um produtor (à semelhança de <b>Lasseter </b>na Pixar) foi <b>Saldanha </b>que assumiu a realização das obras mais importantes do estúdio, nomeadamente os <b>Ice Age 2 e 3</b>.</div>
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<br /></div>
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Assim, para o Verão de 2011, Saldanha sentiu-se confiante para usar os recursos do estúdio de forma a satisfazer um desejo de longa data: produzir um filme de animação passado na sua terra Natal, cuja essência, de acordo com o próprio, nenhum filme havia realmente captado. Ora isto é uma declaração um pouco polémica, tendo em conta que o cinema brasileiro teve uma grande projecção na década de 2000 com os trabalhos de <b>Fernando Meireles</b> ou <b>José Padilha</b>, e que filmes como <b>‘Cidade de Deus’ (2002)</b> ou <b>‘Tropa de Elite’ (2007)</b> mostraram uma realidade chocante e acutilante do Rio de Janeiro. Mas percebe-se o que Saldanha queria dizer. Estava-se a referir ao cinema de animação e à visão idílica do Rio de Janeiro como uma cidade glamorosa de festa e samba e praia e boa disposição.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLO5mHbuvp2efI6-6US7F5k9ShFM9vKy167NokAlNKbw7I-T5aXmgiPeE6El1WMob8WRAX429m2wVl2cmmIZieKvuNmFnAP_yHj5hyJbptIYu4MBLu_UuyzGCUPVPpoQvVbaSomgUY_p3y/s1600/Rio-Movie-2011-Stills.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="337" data-original-width="600" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLO5mHbuvp2efI6-6US7F5k9ShFM9vKy167NokAlNKbw7I-T5aXmgiPeE6El1WMob8WRAX429m2wVl2cmmIZieKvuNmFnAP_yHj5hyJbptIYu4MBLu_UuyzGCUPVPpoQvVbaSomgUY_p3y/s400/Rio-Movie-2011-Stills.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Claro que isto é completamente válido, porque o principal público alvo dos filmes de animação são as crianças e por definição este género sempre criou visões simplificadas e moralistas, quiçá idílicas, da realidade. Contudo, não me parece, mesmo com essa atenuante, que as coisas sejam assim tão simples. A visão de Saldanha do Rio de Janeiro é a visão das telenovelas, a visão da classe alta, à qual <b>Saldanha </b>provavelmente pertence (afinal, que brasileiro tem dinheiro para ir estudar animação a Nova Iorque?!), o que tira algum apelo ao filme ao espectador adulto e consciente. Curiosamente, em Portugal o filme estreou poucas semanas depois de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2015/10/tropa-de-elite-2-o-inimigo-agora-e-outro.html"><b><span style="color: blue;">‘Tropa de Elite 2’ (2010)</span></b></a> e eu vi os filmes no cinema em semanas seguidas. Lembro-me de que tive a distinta sensação de estar a ver duas cidades diferentes e arrepiei-me de cada vez que as personagens humanas sobem e descem favelas a seu bel-prazer e com um presenteiro à vontade. Todos sabemos o que lhes podia acontecer na vida real, mas esse Rio não tem lugar aqui. E, de certa forma, ainda bem. Não queríamos que as criancinhas ficassem traumatizadas. </div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Contudo, a visão de Saldanha do Rio de Janeiro é a visão das telenovelas, a visão da classe alta, (...) uma visão embelezada, extremamente selectiva (...). Mas conseguíamos perdoar isto (...) se o divertimento e a moral aventureira compensassem. Mas para além do visual, ‘Rio’ é um filme algo rotineiro que oferece pouco de novo ou especial em termos de entretenimento."</span></b></div>
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É precisamente esse ambiente colorido e animado que constitui a maior valência deste filme. É o filme mais colorido e quente da história do estúdio (a neve de <b>Ice Age</b> inevitavelmente condiciona a palete de cores), e é certamente um dos melhores animados. Os planos do Rio de Janeiro são fantásticos (a começar pelo belíssimo plano inicial), e os marcos da cidade são constante presença no <i>background </i>das cenas, com um intenso realismo digital, do Pão de Açúcar, ao Cristo Redentor à praia de Copacabana. E o filme apanha a cidade, convenientemente, em plena semana de Carnaval, o que ajuda a promover o ambiente festivo e a própria cidade. Mas lá está, é só uma visão parcial da sua existência.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzYmkWN6C3Jhu2ZcyB2Iz2dTYeqJF3e1-W9kGIMPlj0_zP9bg19PJphUtnu3je-X2GCe21KM0mH9KQlctj_jeQg3B7u9umOCUX3fI-I_ooRTDBs6JmAXE-ToAyXV6K8m8lGF9cKypP9zo8/s1600/rio+linda+and+blu.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="528" data-original-width="866" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzYmkWN6C3Jhu2ZcyB2Iz2dTYeqJF3e1-W9kGIMPlj0_zP9bg19PJphUtnu3je-X2GCe21KM0mH9KQlctj_jeQg3B7u9umOCUX3fI-I_ooRTDBs6JmAXE-ToAyXV6K8m8lGF9cKypP9zo8/s400/rio+linda+and+blu.jpg" width="400" /></a></div>
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O fantástico panorama inicial da cidade que abre o filme, antes de um conjunto de pássaros cantar e dançar um animado samba (excelente em 3D quando vi no cinema), consegue não mostrar uma única favela. E mesmo quando eventualmente lá vamos é-nos mostrada uma visão embelezada, extremamente selectiva, ao estilo ‘conto de fadas Disney’ (pensemos na “pobreza” de <b>'Aladino'</b> por exemplo). Mas mais uma vez conseguíamos perdoar isto, tal como conseguiríamos perdoar a incongruência de toda a gente, incluindo o miúdo pobre da favela, saber falar inglês perfeitamente, se o divertimento e a moral aventureira compensassem. Mas para além do visual, ‘Rio’ é um filme algo rotineiro que oferece pouco de novo ou especial em termos de entretenimento.</div>
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<br /></div>
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Na primeira cena vemos a pequena arara Blu a ser capturada nas florestas brasileiras e a ser levada para os Estados Unidos. O pássaro acaba no gelado Minnesota, adoptado por uma pequena rapariga chamada Linda que se torna uma tímida dona de uma livraria (voz de <b>Leslie Mann</b>). Assim, Blu cresce como um tímido e nervoso intelectual, tal como a sua dona, habituado aos confortos do lar e sem vontade de explorar o exterior ou a sua condição de pássaro. Tanto que nunca aprendeu a voar. É assim adequado que a sua voz em adulto seja de <b>Jesse Eisenberg</b>, então no pico da popularidade logo após <b>‘The Social Network’ (2010)</b>. Adequado porque <b>Eisenberg </b>dá exactamente o mesmo tipo de interpretação; verborreia nervosa ao estilo de <b>Woody Allen</b>, sem grandes surpresas ou capacidade de surpreender o espectador. </div>
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<br /></div>
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<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Inúmeras cenas parecem existir apenas para mostrar as valências do Rio (...), como se isto fosse um postal promocional. E nesses momentos, a história e as personagens passam para segundo plano, à semelhança do que aconteceu alguns anos depois em ‘Rio, Eu te Amo’ (2014). E de facto, não há muita história a desenvolver ou personagens a construir uma vez chegados à cidade."</span></b></div>
</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG803wqRQ8xXYzvrs2Ux0vtrHm4vDkJnAZHlH6BmtWgkHVs-6qYxMa3GLuG62JDK3JUhwUVqZQJf8J9YG1UUewTtVg71azpH4kfEoIhbVD_L3r-FIpiMZWXFnSyAnyV8C5J2oJikk8VEVQ/s1600/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="844" data-original-width="1600" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG803wqRQ8xXYzvrs2Ux0vtrHm4vDkJnAZHlH6BmtWgkHVs-6qYxMa3GLuG62JDK3JUhwUVqZQJf8J9YG1UUewTtVg71azpH4kfEoIhbVD_L3r-FIpiMZWXFnSyAnyV8C5J2oJikk8VEVQ/s400/maxresdefault.jpg" width="400" /></a></div>
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Mas a vida destas duas simpáticas e tímidas personagens muda quando um dia surge na livraria Tulio (<b>Rodrigo Santoro</b>) do Instituto de Ornitologia do Rio de Janeiro. Também ele é um simpático <i>nerd</i>, obcecado por pássaros, e vê-se perfeitamente desde a primeira cena que é o par ideal para Linda. Tulio explica que Blu é o último macho da sua espécie e que quer que Linda o leve ao Rio de Janeiro para acasalar com a última fêmea, Jewel (um trabalho vocal bem mais interessante de <b>Anne Hathaway</b>). Só não explica como é que descobriu que Blu estava ali naquele remoto local. Mas tudo bem. É apenas uma desculpa para, após alguma hesitação, Linda e Blu deixarem a sua existência sem riscos e sem excitação e fazerem-se à aventura, rumando à cidade do samba.</div>
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E assim voltamos ao Rio de Janeiro; o Rio de Janeiro onde tudo é uma festa e alegria e dança e sol e futebol e Carnaval. Inúmeras cenas parecem existir apenas para mostrar as valências do Rio, quer culinárias (quando Tulio leva Linda a jantar), quer paisagísticas (o voo dos pássaros em cima de um parapente), quer culturais (o clímax do filme ocorre em pleno sambódromo na noite de Carnaval), como se isto fosse um postal promocional da cidade. E nesses momentos, a história e as personagens passam claramente para segundo plano, à semelhança do que aconteceu alguns anos depois em <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/11/rio-eu-te-amo.html"><b><span style="color: blue;">‘Rio, Eu te Amo’ (2014)</span></b></a>. E de facto, não há muita história a desenvolver ou personagens a construir uma vez chegados à cidade.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_znZ1pEQnHkDu_uoVyQrpb9E2hNpZNACuIr5raZxD7F_f1CDWGBF_9JC-Dahv2r2ob8gjzZZwTgEH_wNrqHemD-Cdfmi5y1DaQkQsMl7HetrBnHyl4q4y76pPzZTfjmzWXa2gQmMyZryc/s1600/101044_ba.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="975" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_znZ1pEQnHkDu_uoVyQrpb9E2hNpZNACuIr5raZxD7F_f1CDWGBF_9JC-Dahv2r2ob8gjzZZwTgEH_wNrqHemD-Cdfmi5y1DaQkQsMl7HetrBnHyl4q4y76pPzZTfjmzWXa2gQmMyZryc/s400/101044_ba.jpg" width="400" /></a></div>
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Inicialmente, assistimos ao difícil emparelhamento de Blu com Jewel, completos opostos já que ela é atrevida, emancipada e anseia ver-se livre da jaula onde está para voltar à natureza. Isto permite alguma comédia de situação e que o previsível vai-não-vai entre ambos sustenha o desenvolvimento emocional das personagens. Só é pena que a evolução de Jewel estagne a meio do filme. Ela é apenas trabalhada como contraponto e objecto de afecto de Blu, nada mais, sendo pouco credível como no decorrer da aventura acabe por retribuir esse afecto. OK, presumivelmente nunca tinha encontrado um macho da sua própria espécie até agora. Mas parece forçado já que Blu nunca faz nada para a conquistar a não ser, previsivelmente, vencer os seus próprios medos e inibições à medida que a aventura se complica.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O filme usa inteligentemente as batidas de samba e rap para conceber cenas musicais (...), algo que representa bem o ambiente da cidade e o tom deste argumento juvenil. Mas o mesmo já não se pode dizer das três canções, (...) nenhuma delas cantada pelas personagens principais. (...) A exibição das vozes famosas é mais relevante que a construção das personagens às quais as vozes pertencem, e isso é um dos motivos para a falta de profundidade."</span></b></div>
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E que aventura é essa? Bem, Blu e Jewel são raptados por Marcel (voz de <b>Carlos Ponce</b>), um contrabandista que pretende vendê-los, juntamente com outros pássaros raros, a um comprador que nunca acabamos por ver. Isto faz com que Marcel, juntamente com o seu pássaro maléfico Nigel (voz fantástica, como de costume, do grande <b>Jemaine Clement</b>, embora o sotaque inglês fosse dispensável), e o seu caricato bando de macacos ladrões, sejam as únicas personagens más de todo o filme e de toda a cidade. Assim nunca há realmente a sensação do perigo e os maus nunca são ameaçadores. Os dois capangas de Marcel são duas almas acéfalas que funcionam como escape cómico, e Fernando (<b>Jake T. Austin</b>), o pobre miúdo órfão que inicialmente rouba os pássaros a mando de Marcel, apenas o faz porque precisa do dinheiro e logo mudará de casaca para o lado dos bons.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2HQtKJ07gXLg0G5TAgperSaIaw-NF5ihYg3RBSmgdfVrSP3KRhwvgK5SRMuoPK2tOx5qbNMXLqTtvgSeLT6XR8_snL8OetCUAmNEmnFiVijKQc7BKDyx_BX8VCSHdpZdKk1-1kUIU5XnF/s1600/rio+2011+stills.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="678" data-original-width="1600" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2HQtKJ07gXLg0G5TAgperSaIaw-NF5ihYg3RBSmgdfVrSP3KRhwvgK5SRMuoPK2tOx5qbNMXLqTtvgSeLT6XR8_snL8OetCUAmNEmnFiVijKQc7BKDyx_BX8VCSHdpZdKk1-1kUIU5XnF/s400/rio+2011+stills.jpg" width="400" /></a></div>
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Esta personagem de Fernando até tem interesse já que é a única que nos permite ter vislumbres do outro lado do Rio. Contudo, <b>Saldanha </b>cobre isso com pressa e pouca ponderação (um brevíssimo plano mostra a sua casa improvisada no topo da favela) perdendo assim a oportunidade de fazer qualquer tipo de comentário social. ‘Rio’ não é esse tipo de filme. Idem para os macacos ladrões que obviamente representam os inúmeros bandos de jovens do Rio. Animando-os comicamente ao som de batidas rap, <b>Saldanha </b>minimiza e desvaloriza completamente a suas atitudes, que como todos sabemos são um autêntico cancro na cidade.</div>
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Enquanto Linda e Tulio vão fazendo esforços para encontrar Blu e Jewel, estes passarão o resto do filme a fugir e a voltar a ser apanhados por Marcel e o seu bando. Ambos os casais, Linda-Tulio e Blu-Jewel vão inevitavelmente aproximar-se ao longo da aventura, sendo que cada perseonagem vence os seus medos e aprende a aceitar a sua verdadeira natureza. Obviamente também, é no arco de Blu que o filme se focará maioritariamente. Na altura certa, sabemos perfeitamente, irá perder o medo e começar a voar. Pelo caminho, ele e Jewel são auxiliados por várias personagens do reino animal, como o engraçado bulldog Luiz (voz de <b>Tracy Morgan</b>), o pássaro Rafael (<b>George Lopez</b>) e dois pássaros <i>rappers </i>com as vozes de <b>Will.i.am</b> e <b>Jamie Foxx</b>. Não me perguntem porque é que pássaros brasileiros têm a voz de afro-americanos, fazem raps constantes e usam exageradamente expressões como "y'all" ou "bro". Cor local? Mas de que local? Do Brasil é que não é certamente. </div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"As cores são quentes e apelativas, as piadas fáceis, o ritmo acelerado e nunca há nada de perigoso ou ameaçador numa história relaxada onde se sente o final feliz quase na primeira cena. Os miúdos adorarão a animação animal e sairão da sala a cantar não as esquecíveis canções, mas o eterno samba do Rio de Janeiro. E até pode ser que os pais se sintam tentados a fazer uma visita"</span></b></div>
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Em vários momentos, o filme usa inteligentemente as batidas de samba e rap para conceber cenas musicais com pássaros a voar e dançar, algo que representa bem o ambiente da cidade e o tom deste argumento juvenil. Mas o mesmo já não se pode dizer dos três momentos em que a acção para para ouvirmos três canções, que parecem sempre desajustadas porque i) isto não é um filme musical e ii) nenhuma delas é cantada pelas personagens principais. Mas não é preciso pensar muito para perceber o motivo desta decisão. Cada canção é interpretada por um dos cantores que pertencem ao elenco: <b>Will.i.am</b>, <b>Jamie Foxx</b> e J<b>emaine Clement</b>. Quando o pássaro vilão tem direito a uma canção mas os pássaros heróis não (a não ser uns breves acordes no genérico final) é estranho, não é? Em ‘Rio’ a exibição das vozes famosas é mais relevante que a construção das personagens às quais as vozes pertencem, e isso é um dos motivos para a sua falta de profundidade.</div>
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Na realidade, o filme tem dificuldade em criar uma aventura que seduza para lá da superfície, para lá do seu colorido ambiente digital. As tentativas de humor são muitas, mas cenas genuinamente engraçadas são poucas. Aliás, o filme tem mais piada com subtis apartes externos à trama, capitalizando nalgum gozo do lugar comum dos brasileiros relativamente ao samba ou à obsessão por futebol, do que o humor que circunda as personagens. O constante nervosismo de Blu cansa e o facto de ele passar metade do filme acorrentado a Jewel apenas proporciona as mesmas <i>gags </i>batidas que todos os espectadores já estão à espera. A sucessão de perseguições e de personagens animais “exóticas” que tentam mimicar o estilo de <b>‘Madagascar’</b> é morosa, apesar do ritmo acelerado do filme (praticamente não há cenas introspectivas). E não, eu não acho piada nenhuma a <b>Will.i.am</b> a fazer um “rap de pássaro”. Mas volta e meia o filme regressa a isso, tentando desesperadamente ter piada, tentando desesperadamente ser <i>cool</i>. Já basta o que basta.</div>
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Depois de um clímax visualmente apelativo no Sambódromo (a par da sequência inicial, a melhor cena do filme), as personagens completam previsivelmente os seus arcos para um final onde tudo está bem quando acaba bem. Tudo somado, ‘Rio’ é um filme suficientemente interessante para entreter, principalmente o público mais jovem. As cores são quentes e apelativas, as piadas fáceis, o ritmo acelerado e nunca há nada de perigoso ou ameaçador numa história relaxada onde se sente o final feliz quase na primeira cena. Os miúdos adorarão a animação animal e sairão da sala a cantar não as esquecíveis canções originais, mas o eterno samba do Rio de Janeiro. E até pode ser que os pais se sintam tentados a fazer uma visita, já que o mito do Rio como uma cidade festiva é perpetuado. Afinal, perpetuar essa aura parece ser precisamente o objectivo do filme.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"No outro lado da moeda, o filme tem dificuldade em criar uma aventura que seduza para lá da superfície. As tentativas de humor são muitas, mas cenas genuinamente engraçadas são poucas. (...) A sucessão de perseguições e de personagens animais “exóticas” (...) é morosa. (...) O argumento é simplista, carregado de lugares comuns (...) Nada é distintivo a não ser o palco onde o filme ocorre. Vale um filme pelo seu cenário?"</span></b></div>
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Agora há o outro lado da moeda. ‘Rio’ está longe de ser um marco na história da animação moderna. Se pensarmos em termos de tecnologia de animação até poderá ser. Mas não em termos de história, de êxtase da aventura, da universalidade da sua moral. O argumento do filme é simplista, carregado de lugares comuns e onde pouca ou nenhuma personagem está desenvolvida, seguindo fórmulas certas e seguras mas tendo ao mesmo tempo bastante dificuldade em focar-se. Elementos que pareciam fáceis de inserir neste contexto como mensagens moralistas para as crianças sobre a pobreza ou a preservação de espécies em extinção, estão surpreendentemente ausentes. Em vez disso, o filme distrai-se com o que é secundário, ou melhor dizendo, constitui-se a partir de elementos secundários que nunca satisfazem completamente como um todo. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWugRl9HORmTtzFWWeq811-fSkwgXWG4WxNqDKTFFFNZncsctziTNL4TOJf3xbtyTjcloRVJBWpQvAa5gpnYsIgiNBzTC2OAeKG5sFIixa78b-NMfv47pKDMwFsOkXS-SJXjd9o3gzE-If/s1600/Images_%252816%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWugRl9HORmTtzFWWeq811-fSkwgXWG4WxNqDKTFFFNZncsctziTNL4TOJf3xbtyTjcloRVJBWpQvAa5gpnYsIgiNBzTC2OAeKG5sFIixa78b-NMfv47pKDMwFsOkXS-SJXjd9o3gzE-If/s400/Images_%252816%2529.jpg" width="400" /></a></div>
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‘Rio’ foi um filme extremamente popular, inclusivamente em Portugal, mas ainda hoje, sete anos depois, continuo sem estar convencido. É apenas mais um filme de animação com animais, com nada de muito distintivo a não ser o palco onde o filme ocorre. Vale um filme pelo seu cenário? Os restantes elementos estão todos lá, mas não há verdadeira imaginação ou ambição para os interligar de forma mais exímia. É verdade que a sua simplicidade colorida é uma valência para o público infantil. Mas o público adulto já viu muitos filmes como este. Nunca vi <b>‘Rio 2’</b>, que leva Blu, Jewel e os seus filhos à selva Amazónica. Não sei, talvez seja desta, mas não estou à espera de nada de especial. </div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-39405454699260562382018-04-28T09:34:00.001+01:002018-05-05T01:21:20.115+01:00Clint Eastwood... o músico<div style="text-align: justify;">
Clint. <b>Clint Eastwood</b>. Sem dúvida alguma, um dos maiores cineastas americanos ainda vivos, um dos maiores cineastas ainda em actividade. Que <b>Clint</b> é um grande realizador todos sabemos. Já nos anos 1980 os franceses lhe faziam homenagens, muito embora Hollywood só o tenha realmente considerado um <i>autor</i> nos anos 1990, porque um cowboy e um polícia durão não o poderiam ser, certo? Mas já no início da sua carreira de realizador, com obras como<b><span style="color: blue;"> <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/11/play-misty-for-me.html"><span style="color: blue;">'Play Misty for Me' (1971)</span></a></span></b> ou o magnífico<b> 'Breezy' (1973)</b>, <b>Clint</b> havia-se mostrado muito mais maduro que outros aclamados realizadores.</div>
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Agora que <b>Clint</b> é um grande actor é uma discussão um pouco mais polémica. Foi famosamente acusado durante a primeira metade da sua carreira (recordemos as duras críticas da acutilante crítica <b>Pauline Kael</b> durante a década de 1970) por ter pouca expressividade e pouco <i>range</i> emocional. Mas tal como com a sua veia de realizador, <b>Clint</b> manteve-se fiel à sua personalidade, à sua <i>persona</i>, e aos poucos foi-se entranhando no espectador, demonstrando a sua virilidade na saga Dirty Harry e outros policiais; a sua aura como o sucessor de <b>John Wayne</b> e <b>James Stewart</b> como o Espírito do Oeste em inúmeros <i>westerns</i>; o seu dom para a comédia em <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2013/03/every-which-way-but-loose.html"><b><span style="color: blue;">'Every Which Way But Loose' (1978)</span></b></a> e a sua sequela; a sua ambiguidade em obras como <b>'Tightrope' (1984)</b>; até chegarmos às suas grandes interpretações dramáticas: <b>'Unforgiven' (1992)</b>; <b>'The Bridges of Madison County' (1995)</b>; <b>'Million Dollar Baby' (2004)</b> e o magnífico <b>'Gran Torino' (2008</b>; para mim o filme mais <i>underapreciated</i> da sua carreira).<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG_hajBUA2G40EWAC4b_6fhTXgs47Tm98JTdn7Fix4SZtvMJJFBtBz9aVrLVeiYYOIErWS0rkG3QJ1WfLps8Y0JSdToWd6uf9lOwVVbO7CFEgr60Fu5VRh1S8uucHk7abT_V77CzS3b3d4/s1600/20081202_singingeastwood_560x375.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="375" data-original-width="560" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG_hajBUA2G40EWAC4b_6fhTXgs47Tm98JTdn7Fix4SZtvMJJFBtBz9aVrLVeiYYOIErWS0rkG3QJ1WfLps8Y0JSdToWd6uf9lOwVVbO7CFEgr60Fu5VRh1S8uucHk7abT_V77CzS3b3d4/s640/20081202_singingeastwood_560x375.jpg" width="640" /></a></div>
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Mas há uma terceira veia no artista que é <b>Clint Eastwood</b>. É um grande produtor/realizador, tornou-se com o passar dos anos um grande actor, mas é também (e isto é algo que muitos desconhecem), um grande músico. A paixão de <b>Clint Eastwood</b> pela música, particularmente pelo country e o jazz, sempre foi evidente. É só recordar a sua filmografia para perceber que assim é. Por entre os policiais, por entre os <i>westerns</i> e por entre os dramas mais recentes, surgem filmes com uma grande sensibilidade musical, onde a música tem um lugar preponderante e onde é tratada menos como um adereço fílmico e mais como uma personagem, que pertence a um mundo próprio que <b>Clint</b> explora com a devoção de um fã mas a segurança de um mestre.</div>
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Recordemos aquela que eu chamo a sua trilogia da música americana: <b>'Honkytonk Man’ (1982)</b>, passado na década de 1930;<b> 'Bird' (1988) </b>passado nos anos 1940 e 1950 e uma carta de amor ao jazz; e <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/09/jersey-boys.html"><span style="color: blue;"><b>'Jersey Boys' (2014)</b></span></a> (outra obra-prima injustamente pouco apreciada), passado nos anos 1960 e 1970. Recordemos que <b>Clint</b>, subtilmente e sem chamar a atenção para si próprio, passou a compor os temas principais de inúmeros dos seus filmes, principalmente depois de ter deixado de actuar. E recordemos os breves momentos em que <b>Clint</b> nos brindou com a sua voz de canto (alguns mais bem sucedidos que outros), desde o musical <b>'Paint Your Wagon' (1969)</b> - sim, é verdade, <b>Clint</b> chegou a entrar num musical - até aos acordes de uma voz agastada pelo tempo em <b>'Gran Torino'</b>, onde <b>Clint</b> canta no genérico final depois da sua personagem, que genialmente representa todas a sua <i>persona</i> cinematográfica, ter falecido. São momentos de ouro.</div>
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E depois há aqueles segredos muito bem guardados que só os mais estudiosos saberão. Sabia, caro leitor, que <b>Clint</b> já compôs a banda sonora para um filme no qual nem actuou nem realizou? E sabia que nos longínquos anos 1960 <b>Clint</b> até chegou a lançar um álbum? Para descobrir estas e outras pérolas acompanhe-me numa viagem pela carreira de <b>Clint Eastwood</b>, não através das interpretações ou das obras que realizou, mas através da música; a sua música, a música que partilhou com os espectadores mas principalmente consigo mesmo, na sua longa longa carreira. <b>Clint</b> é um verdadeiro artista, um homem da renascença, e sempre irá continuar a ser. Pode não ser conhecido pelos seus contributos musicais à sétima arte, mas eles estão lá, prontos para ser descobertos ou re-descobertos. E a maior parte deles valem a pena o esforço. Vamos a isso? Prepare as colunas ou os auscultadores:</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">'Rawhide' (1959-1965) - intérprete</span></b><br />
O primeiro grande sucesso de <b>Clint</b> como actor foi como o cowboy Rowdy Yates na série televisiva <b>'Rawhide'</b>. Ao longo das suas aventuras, <b>Clint</b> foi o perfeito cowboy clássico, misturando charme e masculinidade, rebeldia e humor, e também, nalguns episódios, dando um passinho de canto, como neste:</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/HhJlag0Ji7c" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Cowboy Favorites (1962) - intérprete</span></b></div>
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Enquanto vivia os seus primeiros anos de popularidade com <b>'Rawhide'</b>, <b>Clint</b> lançou um álbum em que canta baladas tranquilas ao estilo do velho Oeste. Anos mais tarde lançaria outros álbuns da sua autoria, mas sempre associados às bandas sonoras que compôs para os seus filmes. Isto torna este 'Cowboy Favorites' uma raridade incrível, que agradecemos à internet por nos dar a oportunidade de o ouvir a nosso bel-prazer. Delicie-se com este <b>Clint</b> de 32 anos, pré trilogia dos dólares, o galã cantor romântico do velho Oeste...<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/8USTtlkSIm4" width="759"></iframe>
</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">Paint Your Wagon (1969) - intérprete</span></b><br />
<b>'Paint Your Wagon'</b> foi um dos últimos épicos musicais dos anos 1960. E o que se faz num musical? Lá está, canta-se. <b>Clint</b> interpreta, ao estilo de 'Cowboy Favorites', quatro canções: "I Still See Elisa", "I Talk To The Trees", "Best Things" e "Gold Fever". Incrível se pensarmos que dois anos depois seria Dirty Harry. O filme foi um épico fiasco de bilheteira mas temos de ser sinceros, a culpa não é inteiramente de <b>Clint</b> (é um filme fora de tempo em estilo, mas à frente do seu tempo em história). Uma pérola que muitos fãs de <b>Clint</b> nem sabem que existe, e que demonstra a sua versatilidade que por motivos de imagem cinematográfica infelizmente se perderia por demasiadas décadas...<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/nn8YubD01sk" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Bronco Billy (1980) - intérprete</span></b><br />
Durante a década de 1970, <b>Clint</b> consolidou a sua capacidade interpretativa e deu os seus primeiros grandes passos como realizador. A música ficou, momentaneamente, para segundo plano, provavelmente porque não se adequava à "seriedade" que queria atingir. Mas talvez o estrondoso sucesso de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2013/03/every-which-way-but-loose.html"><b><span style="color: blue;">'Every Which Way But Loose' (1978)</span></b></a> o tenha convencido de que o público o aceitava numa veia, digamos, mais ligeira. Assim, em <b>'Bronco Billy'</b>, <b>Clint</b> regressa às canções, fazendo um dueto divertido com uma das lendas do country, <b>Merle Haggard</b>.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/7l0luZHf_yg" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Any Which Way You Can (1980) - intérprete</span></b><br />
Na mesma onda do tema anterior, "Beers to You" abre a sequela de <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2013/03/every-which-way-but-loose.html"><b><span style="color: blue;">'Every Which Way But Loose' (1978)</span></b></a>. Desta vez <b>Clint</b> faz um dueto com um dos seus ídolos: <b>Ray Charles</b>. Outros tempos em que se podia ser assim, relaxado, divertido e mesmo assim fazer arte musical ao bom velho estilo americano. <i>Beers to you, old amigo</i>.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/d9ZLqkDCfBA" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Honkytonk Man (1982) - a história da música americana, parte 1</span></b><br />
O primeiro filme realizado por <b>Clint</b> a ter a música como uma autêntica personagem é uma odisseia pelo mundo do interior da América nos longínquos anos 1930. Como um dedicado cantor de honkytonk, Clint <b>surge</b> várias vezes a cantar, nomeadamente as canções "No Sweeter Cheater Than You", When I Sing About You" e a canção principal "Honkytonk Man". <b>Clint</b> convence como cantor? Completamente. E é a sua melhor interpretação deste género.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/ez2kofNHuBU" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">City Heat (1984) - compositor</span></b><br />
Sinceramente, acho que <b>'City Heat'</b>, realizado por <b>Richard Benjamin</b>, é o pior filme da carreira de <b>Clint</b>. A ideia era boa, juntar os na altura dois actores mais rentáveis de Hollywood, <b>Clint </b>e <b>Burt Reynolds</b>, no mesmo filme. Mas a comédia de <i>gangsters </i>é morna e não tem tanta piada como acha. Aliás, não tem nenhuma... <b>Clint </b>compôs uma música para a banda sonora, "Montage Blues", que infelizmente não encontrei no youtube. Fica o trailer para o caro leitor saber o que está a perder (ou não).<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/9OU8-2fBWjA" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Tightrope (1984) - compositor</span></b><br />
<b>'Tightrope' </b>é um dos policiais mais interessantes e mais negros da carreira de <b>Clint</b>, no sentido em que a sua típica personagem de polícia se vai tornando cada vez mais ambígua e complexa à medida que a trama avança. Os suados ambientes <i>noir </i>são perfeitos para o jazz e <b>Clint</b>, naturalmente, compôs "Amanda's Theme" para o filme. Anos mais tarde, no seu concerto Eastwood After Hours, tocaria o tema do filme com uma grande orquestra.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/gJAKioe3Djs" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Heartbreak Ridge (1986) - compositor</span></b></div>
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"How Much I Care", co-escrita por <b>Clint </b>e <b>Sammy Cahn</b> e interpretada por <b>Jill Hollier</b>, é uma das primeiras canções ao estilo <i>smooth jazz</i> que <b>Clint </b>comporia para os seus filmes. Neste caso, a música não se adequa propriamente ao leve drama militar <b>'Heartbreak Ridge'</b>, a não ser para ser ouvida na rádio ou no genérico final e simbolizar algo rebuscadamente a humanidade despreocupada e a fé nostálgica dos soldados. Mas nos anos 1980 muitas músicas eram produtos (quase) totalmente à partes dos filmes em que estavam, por isso...<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/6vJ9r912HJM" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Bird (1988) </span></b><b><span style="font-size: x-large;">- a história da música americana, parte 2</span></b><br />
Em <b>'Bird' Clint</b> nem canta nem compõe canções, mas continua a odisseia musical que havia começado com <b>'Honkytonk Man'</b>, ao mesmo tempo que faz finalmente um filme sobre a sua grande paixão: o jazz. A vida de <b>Charlie Parker</b> durante as décadas de 1940 e 1950 deu a <b>Clint</b> o Globo de Ouro de Melhor Realizador, e o filme ganhou também um Óscar (Melhor Som) e esteve nomeado para a Palma de Ouro, com <b>Whitaker</b> a vencer Melhor Actor em Cannes.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/2qaSYknbapk" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Unforgiven (1992) - compositor</span></b></div>
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Com <b>'Unforgiven'</b>, o seu último <i>western</i>, <b>Clint</b> não só se despediu do género com um filme extraordinário vencedor de 4 Óscares (incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador), como atingiu a sua maioridade como compositor de bandas sonoras instrumentais. O grande tema de filme, "Claudia's Theme", é da sua autoria, com o resto da banda sonora creditada a <b>Lennie Niehaus</b>, o seu frequente colaborador desde os anos 1970. Seria um padrão que se repetiria ao longo desta década, mas não há dúvidas nenhumas que "Claudia's Theme" é o melhor tema que <b>Clint</b> já escreveu.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/Fa8Q4cJGMKg" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">A Perfect World (1993) - compositor</span></b></div>
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Para<b> 'A Perfect World'</b>, o seu acutilante <i>road-movie</i> em que um criminoso forma uma relação de amizade com um rapaz que rapta, <b>Clint</b> escreve mais um tema ao estilo <i>country</i>: "Big Fran's Baby". O resto da banda sonora está creditada a <b>Lennie Niehaus</b>.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/aSjMxY1aG78" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">The Bridges of Madison County (1995) - compositor </span></b><br />
Mais um grande filme de <b>Clint</b>. Mais uma grande interpretação de <b>Meryl Streep</b> (a sua única colaboração). Mais uma banda sonora de <b>Lennie Niehaus</b> com o tema principal, "Doe Eyes (Love Theme from 'The Bridges Of Madison County')", a ser composto por <b>Clint</b>. É um tema, tal como "Claudia's Theme" que demonstra o lirismo da sua arte, a sensibilidade do seu cinema, e a essência do seu génio.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/hRIo1YrXX_Q" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Absolute Power (1997) - compositor</span></b><br />
Musicalmente, a fórmula repete-se. Uma banda sonora de <b>Lennie Niehaus</b> com <b>Clint</b> a ser responsável por duas composições, "Power Waltz" e o emocional "Kate's Theme" (a personagem de<b> Laura Linney</b>). É um tema sinfónico bem ao estilo dos anos 1990, mas é tão interessante como os melhores.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/gKk2-zxb3VI" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">True Crime (1999) - compositor </span></b><br />
Para <b>'True Crime'</b>, <b>Clint</b> compôs a música "Why Should I Care", que ganhou vida com uma letra de <b>Carole Bayer-Sager</b> e <b>Linda Thompson</b>, e a voz de <b>Diana Krall</b>. Depois de ter trabalhado com as grandes vozes do passado, <b>Clint</b> colabora com as grandes vozes do presente. E estas não se importam nada de se associar aos seus projectos.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/mcTWPATbMXI" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Space Cowboys (2000) - compositor</span></b><br />
O engraçado e dinâmico <b>'Space Cowboys'</b> é também um filme que encontra alguma sensibilidade pelo caminho, sensibilidade essa que é enfatizada pelo tema "Espacio" da autoria de <b>Clint</b>, no mesmo comprimento de onda das suas composições sinfónicas anteriores. O resto da banda sonora ficou a cargo de <b>Niehaus</b>.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/e89A9tM0TYk" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Mystic River (2003) - compositor </span></b><br />
<b>'Mystic River'</b> assinala um marco na carreira musical de <b>Clint</b>. É o primeiro filme em que surge creditado isoladamente como o compositor, uma prática que manteria em quase todos os seus filmes da década de 2000. Já com 73 anos é incrível que <b>Clint</b> tenha dado este ousado passo, mas o facto de ter deixado maioritariamente de actuar (só esteve até hoje mais três vezes à frente das câmaras) pode tê-lo deixado mais livre para perseguir as suas ambições musicais. O soberbo <b>'Mystic River'</b> foi o seu primeiro teste de fogo. A banda sonora não é tão boa como o filme, mas sustêm-no adequadamente.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/j36e1dTrYsg" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Million Dollar Baby (2004) - compositor</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Por <b>'Million Dollar Baby' Clint</b> voltou a ganhar o Óscar de Melhor Filme e o de Melhor Realizador. Mas tal como em 1992, perdeu o Óscar de Melhor Actor e nem sequer foi nomeado para o Óscar de Melhor Banda Sonora, que compôs sozinho. Parece-me preconceito. Os seus temas acompanham com descrição e subtileza a cadência emocional do filme. Já muitos foram nomeados (e até ganharam) que não conseguiram fazer o mesmo.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/1ybDkUOb_3I" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Flags of Our Fathers (2006) - compositor</span></b><br />
Se em <b>'Letters from Iwo Jima'</b> <b>Clint</b> deu as rédeas da composição ao seu filho <b>Kyle</b> (um músico de jazz - <i>what else?</i>), compôs ele próprio a banda sonora para o filme irmão - <b>'Flags of Our Fathers'</b>. É uma partitura com uma maior ousadia orquestral relativamente às anteriores, para incluir sonoridades de heroísmo militar, embora mantenha a circularidade jazzística do seu estilo.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/Co3fXqYIgp8" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Grace Is Gone (2007) - compositor</span></b><br />
<b>'Grace is Gone'</b> constitui um marco até hoje não repetido na carreira de <b>Clint</b>. Não produziu, não realizou, não actuou. Compôs, simplesmente, a banda sonora. Não sei bem como é que o realizador estreante <b>Jim Strouse</b> o conseguiu, logo no seu filme de estreia. Mas conseguiu-o e portanto fica um pequeno pedaço de história...<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/6Rw6TFdqDqM" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Changeling (2008) - compositor</span></b><br />
Em <b>'Changeling'</b> <b>Clint</b> assumiu mais uma vez a composição da banda sonora, parecendo ser, neste caso em particular, um pouco mais focado melodicamente. Nunca achei este filme nada de especial, pelo que sempre me indignei que tenha sido este o filme de <b>Clint</b> de 2008 a ir aos Óscares e a receber atenção mediática, quando no mesmo ano o senhor fez o filme que irei falar já em seguida...<br />
<div style="color: black; font-family: "times new roman"; font-size: medium; font-style: normal; letter-spacing: normal; text-align: justify; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<div style="font-weight: 400; margin: 0px;">
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<div style="font-weight: 400; text-align: center;">
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/cofRV9DnLIA" width="759"></iframe></div>
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<b><span style="font-size: x-large;">Gran Torino (2008) - compositor e intérprete</span></b><br />
<b>'Gran Torino'</b>. O genial <b>'Gran Torino'</b>. Um dos melhores filmes da carreira de <b>Clint</b> que por qualquer motivo paradoxal foi lançado em Janeiro na América e alguns meses depois na Europa - a época morta dos filmes que tentam ter nomeações para os Óscares e não conseguem (teve zero!). Inacreditável sendo esta uma fantástica despedida de <b>Clint</b> da sua própria <i>persona</i> cinematográfica. E desse modo, faz todo o sentido que no genérico final <b>Clint</b> cante com a sua voz agora grossa e arranhada como se cantasse a partir do além, antes de <b>Jamie Cullum</b> prosseguir. "<i>So tenderly, your story is nothing more than what you see or what you've done or will become</i>". A despedida perfeita. Por isso nunca iremos realmente perdoar a <b>Clint</b> ter entrado em <b>'Trouble with the Curve' (2012)</b>, o seu último trabalho com actor até hoje. De certa forma arruína a aura de <b>'Gran Torino'</b> e desta música...<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/MItMDkc343M" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Invictus (2009) - compositor</span></b><br />
A partir de <b>'Invictus' Clint </b>só fez um filme que não retrata a odisseia de uma personagem real (<a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2013/04/hereafter.html"><span style="color: blue;"><b>'Hereafter'</b></span></a>). Neste filme inspiracional sobre <b>Nelson Mandela</b> e o Campeonato do Mundo de Rugby de 1995, <b>Clint </b>co-compõe com <b>Michael Stevens</b> a canção "9,000 Days" (o número de dias em que <b>Mandela </b>esteve preso) que é interpretada por <b>Overtone </b>e <b>Yollandi Nortjie</b>. O resto da banda sonora ficou a cargo do seu filho <b>Kyle </b>e de <b>Michael Stevens</b>.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/UjCW9ktWB88" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Hereafter (2010) - compositor</span></b><br />
Um filme diferente de <b>Clint</b>, que chega a ter os seus momentos de interesse mas que nunca consegue realmente desabrochar em pleno, <span style="color: blue;"><a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2013/04/hereafter.html" style="color: blue; font-weight: bold;"><span style="color: blue;">'Hereafter'</span></a><b style="color: blue;"> </b>possui</span> mais uma banda sonora assinada pelo velho mestre. Pausada e lírica, como o filme. Visto que o youtube não tem as músicas, fica o trailer.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/xDnHfQtH0zU" width="759"></iframe>
</div>
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<b><span style="font-size: x-large;">J. Edgar (2011) - compositor</span></b><br />
Talvez o meu menos favorito filme de <b>Clint </b>das últimas décadas. <b>'J. Edgar'</b> possui mais uma banda sonora assinada por ele. O piano inicial soa vagamente familiar e a verdade é que, tal como o filme, já vimos <b>Clint </b>fazer melhor, embora isso não signifique que ambos (filme e banda sonora) não tenham o seu típico selo de classe.</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/GRs1TVDx2Xs" width="759"></iframe>
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<b><span style="font-size: x-large;">Jersey Boys (2014) </span></b><b><span style="font-size: x-large;">- a história da música americana, parte 3</span></b><br />
Depois de <b>'Honlytonk Man'</b> e <b>'Bird'</b>, este é o terceiro filme de <b>Clint </b>sobre a essência da música e os homens que a criam. <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/09/jersey-boys.html"><span style="color: blue;"><b>'Jersey Boys'</b></span></a>, baseado no massivo sucesso da Broadway, é uma fantástica e sentida homenagem aos Four Seasons, um musical como já não se via em Hollywood há muitos, muitos anos. <b>Clint</b> sabe realizar musicais? Claro que sabe. É o único da sua carreira de realizador, mas valeu a pena a espera. É mais um dos seus filmes que merecia muito mais atenção do que aquela que obteve. Por amor de Deus, <b>'Chicago'</b> ganhou o Óscar de Melhor Filme...</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/tL2iILHUsG0" width="759"></iframe>
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<br /></div>
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<b><span style="font-size: x-large;">American Sniper (2014) - compositor</span></b><br />
Para <a href="http://eusoucinemapt.blogspot.pt/2015/01/american-sniper.html"><span style="color: blue;"><b>'American Sniper'</b></span></a>, <b>Clint </b>compõs o tema de Taya, a esposa do sniper Americano interpretada por <b>Sienna Miller.</b> Um tema simples e doce, mas ao mesmo tempo nostálgico e pungente. Há muitos, muitos anos que <b>Clint </b>nos habituou a esse charme discreto.<br />
<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/otfj9VcZjSw" width="759"></iframe>
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<br /></div>
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<b><span style="font-size: x-large;">Sully (2016) - compositor</span></b><br />
Por fim, recentemente <b>Clint </b>deixou a banda sonora de <b>'Sully'</b> a cargo de <b>Christian Jacob</b><span style="white-space: pre;"> </span>e da <b>Tierney Sutton Band</b>. Mas não podia não intervir musicalmente no filme. Daí ter ajudado <b>Tierney Sutton</b> a compor o tema "Flying Home", cantado em ritmo <i>smooth </i>jazz pela própria. E temos a certeza que ainda não se ficará por aqui... Se <b>Clint </b>continuar a fazer filmes (e continuará), irá continuar a fazer música. E nós continuaremos a ouvir...<br />
<br /></div>
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<div style="text-align: center;">
<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/b9zYhVDzm_M" width="759"></iframe>
</div>
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Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-57531756919552066792018-04-19T00:03:00.000+01:002018-04-28T09:36:45.574+01:00King of the Underworld<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHjgSbw_57TqMT2tv7JN44-GPtBdAtkaWyR2Sw-kAO7XaJCrqUNBActqE9ZTBLhsflSlLxKTpSaih-kPI-24_f4RtKV8RsiIzovOKLiG9KyB06ga6MXf4mTOtUWHFd8bkyjbNxoSm4QoTd/s1600/king_of_the_underworld.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="501" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHjgSbw_57TqMT2tv7JN44-GPtBdAtkaWyR2Sw-kAO7XaJCrqUNBActqE9ZTBLhsflSlLxKTpSaih-kPI-24_f4RtKV8RsiIzovOKLiG9KyB06ga6MXf4mTOtUWHFd8bkyjbNxoSm4QoTd/s400/king_of_the_underworld.jpg" width="265" /></a></div>
<b>Ano: </b>1939<br />
<br />
<b>Realizador:</b> Lewis Seiler<br />
<br />
<b>Actores principais:</b> Humphrey Bogart, Kay Francis, James Stephenson<br />
<br />
<b>Duração:</b> 67 min<br />
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<b>Crítica:</b> Toda a gente (ou pelo menos os adeptos do cinema clássico – e infelizmente há cada vez menos) conhecem <b>Humphrey Bogart</b>. O grande Boggie não foi o actor mais versátil da história do cinema, mas foi certamente um dos mais carismáticos que alguma vez existiu. <b>‘Casablanca’ (1942)</b> não seria o mesmo sem ele, nem outros clássicos como <b>‘The Maltese Falcon’ (1941)</b>, <b>‘The Big Sleep’ (1946)</b> ou <b>‘The Treasure of the Sierra Madre’ (1948)</b>. E nos últimos anos da sua carreira, antes da sua morte prematura em 1957 causada pelo excesso de cigarros e bebida, <b>Bogart </b>demonstrou que o seu estilo não era tudo; era também um intenso e hipnotizante intérprete. Recordemos a mestria das suas interpretações em <b>‘In a Lonely Place’ (1950)</b>, <b>‘The African Queen’ (1951</b>, pelo qual ganhou o seu único Óscar), <b>‘The Caine Mutiny’ (1954</b> – a mítica cena dos morangos!), <b>‘The Barefoot Contessa’ (1954)</b>, ou <b>‘The Harder They Fall’ (1956)</b>, a sua última obra. Seguramente, nunca haverá outro como <b>Bogart</b>.</div>
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Contudo, como muitos actores clássicos, <b>Bogart </b>teve de subir a custo até atingir o estrelato. Sem o <i>look </i>de um galã, <b>Bogart </b>passou toda a década de 1930, desde o seu primeiro filme <b>‘Up de River’ (1930)</b>, até aos seus primeiros sucessos como actor principal em <b>‘High Sierra’</b> e <b>‘Maltese Falcon’</b> (ambos 1941), a viver a vida do actor secundário, inúmeras vezes em filmes de série B. O seu estilo tornava-o mais do que adequado para os filmes de gangsters, e o estúdio como qual tinha contrato, a Warner Brothers, era o rei desse género. Assim, e depois da sua impactante <i>performance </i>como o gangster em <b>‘The Petrified Forest’ (1936)</b>, Bogart tornou-se um vilão <i>par excelence</i>, e assumiria esse papel (morrendo constantemente no final dos filmes às mãos dos heróis) numa dúzia de obras famosas como <b>‘Angels with Dirty Faces’ (1938)</b> ou <b>‘The Roaring Twenties’ (1939)</b>.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"É um filme esquecido mas importante na carreira de Bogart. É o primeiro em que o seu nome surge creditado em primeiro lugar (...) De facto, como o gangster Joe Gurney, Bogart está absolutamente hipnotizante desde o primeiro segundo em que surge no ecrã, e não é nada de espantar que dois anos depois teria uma ascensão meteórica para o topo de Hollywood"</span></b></div>
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Nesse sentido, o pequeno ‘King of the Underworld’ (1939) (<u>em português ‘Contra a Lei’</u>) realizado por <b>Lewis Seiler</b>, um especialista destes dramas de gangster de série B, é um filme esquecido mas importante na carreira de <b>Bogart</b>. É o primeiro em que o seu nome surge creditado em primeiro lugar, antes do nome do filme (o famoso <i>top billing</i>). Ou seja, é o primeiro em que, para todos os efeitos, é o actor principal. Reza a lenda que só conseguiu isso porque o estúdio estava a tentar penalizar e humilhar <b>Kay Francis</b>, com quem contracena. Outrora uma actriz de grande popularidade, tendo entrado por exemplo em <b>‘Trouble in Paradise’ (1932)</b> ou em <b>‘Another Dawn’ (1937)</b> com <b>Errol Flynn</b>, <b>Francis </b>estava em declínio (os seus últimos filmes haviam sido um fiasco) mas contratualmente ainda auferia um grande salário. Assim, <b>Jack Warner</b>, o presidente da Warner Brothers, estava a tentar obrigá-la a entrar em filmes menores para ver se conseguia que ela rescindisse o seu contrato. </div>
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Reza a lenda também que <b>Bogart </b>não estava nada satisfeito por ter obtido o primeiro top billing da sua carreira desta forma, mas nem ele nem <b>Francis </b>(que estava longe de querer quebrar um contrato tão vantajoso), se fizeram rogados. Ambos aproveitaram esta oportunidade e tentaram tornar ‘King of the Underworld’, um drama de gangsters de série B com apenas 64 minutos e um período de filmagens de apenas duas semanas, no melhor filme possível. Ninguém no estúdio estavam a prestar muita atenção ao filme, apenas mais um de uma bem oleada linha de montagem. Mas estes dois actores, juntamente com o argumentista <b>Louis Bromfield</b> tinham outras ideias e juntos fizeram um extenso trabalho não creditado de reescrita do argumento.</div>
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O resultado está à vista. O filme não ficou para a posteridade, principalmente porque foi lançado pela porta pequena. Mas apesar do seu baixo orçamento e de um argumento relativamente directo, ‘King of the Underworld’ é um filme que extravasa muito facilmente a sua condição de <i>first feature</i> de série B para ser, não uma memorável entrada no género gangster, mas pelo menos um deveras interessante estudo de carácter. De facto, como o gangster Joe Gurney, <b>Bogart </b>está absolutamente hipnotizante desde o primeiro segundo em que surge no ecrã, e não é nada de espantar que dois anos depois teria uma ascensão meteórica para o topo de Hollywood, mesmo apesar (ou talvez por causa) da sua dicção e do seu ar rugoso.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Extravasa muito facilmente a sua condição de <i>first feature</i> de série B para ser, não uma memorável entrada no género gangster, mas pelo menos um deveras interessante estudo de carácter (...) Bogart usa na perfeição todas as armas da sua linguagem interpretativa, ou seja, envolve o ecrã com a aura que o tornou famoso (...) Tem um impacto imediato, no espectador e no filme"</span></b></div>
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Logo na primeira cena em que surge, <b>Bogart </b>usa na perfeição todas as armas da sua linguagem interpretativa, ou seja, envolve o ecrã com a aura que o tornou famoso como gangster e que anos mais tarde lhe daria a força para ser um grande anti-herói e por fim um herói. Gurney tem um impacto imediato, no espectador e no filme. Não é que seja muito mais esperto ou musculado que o séquito de capangas que o rodeia. Mas tem uma implacável ambição. Mata pelas costas um homem que o traiu e é essa falta de escrúpulos que mantém os seus homens na linha. Igualmente, a sua obsessão pela figura de Napoleão torna-o uma personagem ainda mais complexa. A ignorância que demonstra ao longo do filme (o seu conhecimento do verdadeiro Napoleão é bastante superficial) não é de todo caricata; é ameaçadora. Isto porque o pretensiosismo, que esconde medo e ignorância, tornam-no ainda mais duro, mais maléfico e mais arrogante, principalmente quando alguém o desdiz ou ousa saber mais do que ele. Contra homens como Gurney que sempre disparam primeiro e fazem perguntas depois, o conhecimento é perigoso.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdmOxfuPGEJJGqiUoswfAw-wLLZ6Y__JqzwkeeKU3xvlgqvQyqsD5UU9ebSW1jdJVpvktkExp3CVRBJvEpWmvg-LmKqIsMtv_Hhj-F_rY2ZJcbR1ortepx7sLZHfnRByI0J56Z98ttfncG/s1600/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdmOxfuPGEJJGqiUoswfAw-wLLZ6Y__JqzwkeeKU3xvlgqvQyqsD5UU9ebSW1jdJVpvktkExp3CVRBJvEpWmvg-LmKqIsMtv_Hhj-F_rY2ZJcbR1ortepx7sLZHfnRByI0J56Z98ttfncG/s400/hqdefault.jpg" width="400" /></a></div>
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A história despoleta quando um dos homens de Gurney é alvejado e levado para o hospital. Lá é operado pelo médico Niles Nelson (<b>John Eldredge</b>) e a sua assistente, a sua esposa Carol (excelente interpretação de <b>Kay Francis</b>) que o salvam miraculosamente. Como forma de agradecimento, Gurney contacta Niles e oferece-lhe uma grande recompensa financeira e uma proposta irrecusável. Quer que ele passe a ser o médico do seu gangue. Inicialmente Niles parece relutante, mas para alimentar o seu vício de apostar nas corridas de cavalos e também para subir na vida, acaba por aceitar. Na cena a seguir, algum tempo mais tarde, já Niles vive num apartamento muito mais luxuoso e tem uma prática médica de renome, embora ninguém, nem mesmo Carol, saibam a verdadeira origem da sua fortuna. </div>
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Contudo, Carol sente o marido a afastar-se cada vez mais e a negligenciar os pacientes da sua clínica. Supõe que isso se deve ao vício do jogo e numa cena forte (<b>Kay Francis</b> demostra a sua força e a sua emancipação) tenta convencê-lo a enfrentar os seus problemas. A verdade é que Niles está a ficar com remorsos e a tentar cortar os seus laços com os gangsters. Mas o destino está contra ele. Nessa noite, quando trata mais um membro do gangue de Gurney e lhe diz que é o último trabalho que fará para ele, a polícia invade o covil e na escaramuça Niles é morto. Gurney foge e Carol, que havia seguido o marido nessa noite, é presa. Pouco depois é libertada embora não consiga provar completamente perante a justiça, os tablóides e a sociedade que não sabia a vida dupla que o marido levava.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"A interacção entre Carol e Gurney (ou melhor dizendo entre Bogart e Francis) é fascinante. São duas personagens muito bem escritas e dois actores no pico da forma que se olham olhos nos olhos (...) Da mesma forma, é fascinante a interacção entre Gurney e Bill (James Stephenson). ‘King of the Underworld’ tem menos a tensão de um filme de gangsters (...) e assenta mais na disputa de personalidades que se gera entre as três personagens principais."</span></b></div>
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Depois deste preâmbulo, a “aventura” do filme realmente começa quando Carol decide tentar começar uma nova vida como médica numa pequena terriola. Há aqui alguma consciente crítica social, na forma como Carol é ostracizada por alguns membros desta pequena comunidade que não acreditam na sua inocência. Nesse sentido, Carol tem também duas semanas para conseguir provar a sua inocência antes de ser expulsa da Ordem dos Médicos. Mas desta vez o destino dá-lhe uma ajuda, quando o próprio Gurney vai parar à mesma terriola, foragido depois de mais um encontro com a polícia. É nesse momento que Carol decide aproveitar a sua oportunidade, não só para se vingar como para limpar o seu nome.</div>
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Demonstrando toda a força da sua personalidade, Carol cuida de Gurney quando este é ferido e tenta convencê-lo que pode substituir o marido como médica do seu gangue, de forma a ganhar a sua confiança e descobrir a melhor maneira de o apanhar. É aqui que o filme atinge os seus melhores momentos porque a interacção entre Carol e Gurney (ou melhor dizendo entre <b>Bogart </b>e <b>Francis</b>) é fascinante. São duas personagens muito bem escritas e dois actores no pico da forma que se olham olhos nos olhos (embora um estivesse em declínio e outro em ascensão). Da mesma forma, é fascinante a interacção entre Gurney e Bill (<b>James Stephenson</b>, embora o actor não esteja no calibre dos outros dois). Bill é um escritor em maré de azar que Gurney encontra na rua a pedir boleia e decide “adoptar” quando descobre que aquele já escreveu um livro sobre Napoleão. Não só o força a viver com o seu gangue, como o força a começar a escrever a sua autobiografia. Obviamente, Bill e Carol vão encontrar pontos comuns e juntos têm de encontrar uma maneira de trazer Gurney perante a justiça.</div>
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‘King of the Underworld’ tem menos a tensão de um filme de gangsters, embora haja um climático final que envolve os malfeitores e a polícia, e assenta mais na disputa de personalidades que se gera entre as três personagens principais. Joe tem a força, mas não tem a classe de Bill nem a inteligência de Carol. O facto de Joe querer adquirir essa classe e essa inteligência é o que mantém Bill e Carol vivos, e é também aquilo que, no final, vai levar à sua queda. É raro ver um filme de gangsters deste período em que o criminoso principal não se move apenas por malvadez, o dinheiro ou uma necessidade de aceitação. Aqui, move-o também essa sede de ser refinado como as grandes figuras históricas, de atingir algo que não consegue obter através da força, da ameaça ou do poder das armas. Obter dinheiro é fácil. Quando Gurney precisa dele, rouba-o. Mas não pode fazer o mesmo com a classe.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Na natural contenção da sua condição, o filme tem ramificações emocionais suficientes para conseguir ser convincente, e cria tensão suficiente para conseguir ser excitante (...) Não é um filme para a eternidade mas é um filme que envelheceu de forma saudável (...) Mas acima de tudo ‘King of the Underworld’ vale pelo seu rei do submundo. Vale por Humphrey Bogart"</span></b></div>
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Na sequência final, Carol vai usar a sua inteligência para conceber uma simples armadilha que apanha Gurney de vez. Apesar de ter o seu quê de fascinante e demonstrar a coragem desta personagem, na realidade não é mais do que um truque ingénuo (embora engenhoso) que talvez seja demasiado desadequado para um filme desta natureza. Afinal, o mesmo método podia estar presente numa comédia de gangsters e ser usado para fazer rir o espectador. Contudo, não levamos muito a mal, como não levamos a mal a linearidade da história e a sua rotineira produção, realização e fotografia. No contexto deste filme, e daquilo que ele pretende e pode ser, resulta. Na natural contenção da sua condição, o filme tem ramificações emocionais suficientes para conseguir ser convincente, e cria tensão suficiente para conseguir ser excitante.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5jIQ2k6__ZW3qHeC-rNZJFbI0MQQwKFgE5KDQZTJH9wCUPSyQFWz917_mBA45wtPkCmehjgPp30IIgRVEIesH_5BwBbOq-7NrLEYpXdXOkpJ1qDl1mNC9rZWJbzICwzzul2e1GcayWn2-/s1600/king-of-the-underworld-1939-film-d2842c8c-d5ed-42ff-80d7-c153813af3f-resize-750.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="930" data-original-width="750" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5jIQ2k6__ZW3qHeC-rNZJFbI0MQQwKFgE5KDQZTJH9wCUPSyQFWz917_mBA45wtPkCmehjgPp30IIgRVEIesH_5BwBbOq-7NrLEYpXdXOkpJ1qDl1mNC9rZWJbzICwzzul2e1GcayWn2-/s400/king-of-the-underworld-1939-film-d2842c8c-d5ed-42ff-80d7-c153813af3f-resize-750.jpg" width="322" /></a></div>
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O filme funciona exactamente da mesma forma que um episódio de um drama criminal televisivo, num período em que não havia televisão. É um mini-estudo de uma fascinante personagem criminosa entrecruzado com uma mini-aventura em que a heroína, depois de perder o marido nas primeiras cenas, consegue o seu pedaço de justiça para conseguir obter, no final, o seu pedaço de felicidade. Nada de novo. Mas o que distingue ‘King of the Underworld’, e que o coloca a par daqueles que são os grandes dramas <i>noir </i>de série B da história do cinema clássico como por exemplo <b>‘Out of the Fog’ (1941)</b>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/09/detour.html"><span style="color: blue;"><b>‘Detour’ (1945)</b></span></a>, <b>‘Follow Me Quietly’ (1949)</b> ou <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/06/the-narrow-margin.html"><b><span style="color: blue;">‘The Narrow Margin’ (1952)</span></b></a> é que as duas personagens principais têm dimensão, profundidade e arcos credíveis, e o seu jogo interpretativo constitui a maior riqueza da obra. <b>Bogart </b>está em excelente forma e não apenas no piloto automático da sua <i>persona</i> gangster da década de 1930. É já aqui a estrela que seria dentro em breve. E <b>Francis</b>, com a sua força intrínseca, dá um inesperado (e raro por esta altura) toque de emancipação feminina ao papel, nunca perdendo a sua integridade para conseguir fazer justiça.</div>
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Tudo somado, ‘King of the Underworld’ não é um filme para a eternidade mas é um filme que envelheceu de forma saudável (como um bom episódio de uma série, é 1h que passa a voar) e é um bom ponto de paragem para os estudiosos e amantes do cinema clássico. Não só convence como um bom drama de gangsters de série B, como é um surpreendente estudo de carácter, antecedendo outros filmes mais famosos que a Warner Brothers faria como por exemplo <b>‘White Heat’ (1949)</b> com <b>James Cagney</b>, que por acaso até partilha semelhanças estruturais com este filme.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguMYWe3fu-S0rHh7xnhBPCY9fOeTXpBsxg4vMd1MereqSG0usQ2GeVRR0_Z_qnaeKDBRGRZNURwRa7YgedTTqrQbKrHO2M0ZR134QkW6wk4Uh7gmV0tH1jdwsroLpN1Vc_BqfeY4wi4mMk/s1600/kingoftheunderworld_imamoronictype_FC_470x264_081920160418.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="264" data-original-width="470" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguMYWe3fu-S0rHh7xnhBPCY9fOeTXpBsxg4vMd1MereqSG0usQ2GeVRR0_Z_qnaeKDBRGRZNURwRa7YgedTTqrQbKrHO2M0ZR134QkW6wk4Uh7gmV0tH1jdwsroLpN1Vc_BqfeY4wi4mMk/s400/kingoftheunderworld_imamoronictype_FC_470x264_081920160418.jpg" width="400" /></a></div>
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Mas acima de tudo ‘King of the Underworld’ vale pelo seu rei do submundo. Vale por <b>Humphrey Bogart</b>. Se <b>Francis </b>hoje já foi esquecida, <b>Bogart </b>é ainda uma das personagens mais icónicas da história da sétima arte. E aqui, nesta pequena obra de 64 minutos, uns meros dois anos antes de se tornar uma super-estrela, <b>Bogart </b>prova como o conseguiu. Se o caro leitor é fã de <b>Humphrey Bogart</b> então esta pequenina pérola é algo que não pode perder. Se não o conhece, porque não começar por aqui antes de passar para <b>‘Casablanca’</b> ou <b>‘The African Queen’</b>? Comprei recentemente o DVD de ‘King of the Underworld’ numa loja portuguesa por 2 euros. Nunca o tinha visto. Agora já o vi duas vezes. É o que eu chamo um bom investimento.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-69613188993815040622018-04-12T21:28:00.000+01:002018-04-19T00:05:33.452+01:00Histoire(s) du Cinema: Trois Couleurs (1993-1994); ou a como comprar bons filmes originais a preços de saldo em Portugal<div style="text-align: justify;">
Longe vão os tempos em que, na folia da juventude, com poucos filmes que podia apelidar de meus e com dinheiro de mesadas para gastar, me dignava a comprar DVDs pelas quantias exorbitantes a que estão à venda no mercado. E por quantias exorbitantes quero dizer tudo acima dos 15 euros. Comprar um único filme numa edição restaurada, de coleccionador, com um ou dois discos de extras e um livrete grossinho por 10 ou 15 euros; ou dar 30 ou 40 euros por uma caixa com uma dezena de filmes eu aceito. Agora pagar 25 euros por um único DVD de um único filme só porque é recente é um pouco escandaloso. Pagar quase 40 euros por um blu-ray 3D de um único filme roça o obsceno. E nem me atrevo a falar dos 4K… (<i>seriously</i>, a definição do blu-ray não chega?).</div>
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Quando os DVDs começaram a ser lançados no início deste milénio custavam cerca de 2.500 escudos (cerca de 12,5 euros). É normal, eram uma novidade, e após décadas de VHS com má qualidade de imagem e principalmente com a mutilação do pan-scan, ver finalmente cinema em casa num rácio alargado e com restauros digitais foi uma verdadeira bênção. Da mesma forma, quando começaram a ser lançados os blu-rays, era preciso distingui-los, em termos de preço, dos DVDs e portanto ascenderam a valores entre os 20 e os 30 euros por filme. Não vou dizer que nunca comprei DVDs e blu-rays a esse preço. Claro que já o fiz, ocasionalmente. Mas já não o faço há muitos, muitos anos. Já não o faço desde que assentei numa vida de trabalho, numa vida de casado, numa vida de pai. O prazer subliminar de gastar uma pipa de massa num hobby que se preza é sempre satisfatório, e ainda mais na juventude. Dá a sensação de que somos alguém. Mas quando já somos alguém e podemos fazer exactamente a mesma coisa por metade (ou menos) do preço, é ainda melhor.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRxPo7TYAQc9RRQJz9wdnMLfr8ffMH2Q77IietFO6UaVbMM_e62NvleSrWPTVzB__h9rfIMN6f4UVSYetTfx4wyKrG8YDUJXpGshJgG2VQ49E3kuDEpcaJQtjLwWeO9R5VUNCLdLBOe1Ho/s1600/2c737a78bdfd11d7b9ea802de92556b0.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="800" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRxPo7TYAQc9RRQJz9wdnMLfr8ffMH2Q77IietFO6UaVbMM_e62NvleSrWPTVzB__h9rfIMN6f4UVSYetTfx4wyKrG8YDUJXpGshJgG2VQ49E3kuDEpcaJQtjLwWeO9R5VUNCLdLBOe1Ho/s640/2c737a78bdfd11d7b9ea802de92556b0.jpg" width="640" /></a></div>
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Não. Nunca mais voltei a comprar DVDs e blu-rays a esses preços exorbitantes, mas a minha estante não ficou mais pobre, nem deixei de ter as melhores obras nem as mais recentes. Primeiro é tudo uma questão de paciência. Para quê gastar 25 euros num DVD de um filme que daqui a dois anos pode estar a 5 euros? Segundo, para quem não se importa de ver filmes sem legendas em português, há uma coisa chamada compras online. Toda a gente sabe que aqui em Portugal há preços estranhamente altos em muitas coisas; gasolina, portagens, mas também DVDs. Já comprei muitos filmes em muitas lojas por essa Europa fora; quer fisicamente quer online; lojas essas que existem também cá, mas onde os DVDs não têm o mesmo preço. Curioso, tendo nós uma qualidade de vida mais baixa do que a grande parte dos países da Europa Central. É para ver se gastamos menos em cultura e mais em bens de primeira necessidade?</div>
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Terceiro, é tudo uma questão de atenção, muita atenção e sensibilidade. Mesmo cá em Portugal é possível manter o vício de forma saudável e económica. Não passo um mês sem comprar um ou outro DVD, mas na maior parte das vezes nem 10 euros por mês gasto. Coisa pouca. Duas semanas de cafés. Mas eu não tomo café, nunca tomei, portanto não estou a gastar mais dinheiro que o caro leitor. Cada um tem as suas prioridades. Ainda o mês passado comprei os blu-rays de <b>‘Dances with Wolves’</b>, ‘<b>When Harry Met Sally’</b>, <b>‘Moon’</b> e <b>‘The King of Comedy’</b> a um/dois euros cada. Novos. Selados. Numa loja portuguesa. Em Portugal.</div>
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Qual é o segredo? Bem, o segredo é um misto de tudo o que disse em cima: paciência, atenção, sensibilidade e também alguma flexibilidade. Todas as principais lojas que vendem filmes em Portugal, seja a FNAC, a Worten, a Media Market ou o Jumbo (compro em todas regularmente, não descrimino) têm os seus caixotes de descontos e promoções, quer na loja física quer online. São filmes que já não são “do momento”; são edições económicas (inúmeras de editoras espanholas, muitas vezes sem qualquer extra mas muitas com legendas em português); são finais de stock (nacionais ou internacionais, que neste caso podem não ter legendas em português); e são filmes em campanha, ou da loja, ou da editora, ou da própria produtora do filme (a Disney, por exemplo, faz o seu 2 por 1 duas vezes ao ano). Se um fiel comprador como eu visitar as lojas com relativa regularidade (uma vez por mês, se tanto, chega-me), se estiver atento aos sites e às promoções relâmpago, e se tiver a sensibilidade da experiência para não se apressar e esperar pelo momento certo, pode fazer compras extraordinárias a preços ridículos. É uma questão de sorte. Mas também é uma questão de prática.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO8_ROy7xhTmyflPnIsIeebZWxpuk_xVtzyA2T2k7J7SarBjZ4gQ1Klx6bOCmgmYbmLQ_TTC83w4V_pJpBNrZVDaoRFUMyRWOGEYzSn3rCxD9agtd6kLKm_aZMxmi2x1HjNXhUrH_NTQT4/s1600/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="592" data-original-width="1380" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO8_ROy7xhTmyflPnIsIeebZWxpuk_xVtzyA2T2k7J7SarBjZ4gQ1Klx6bOCmgmYbmLQ_TTC83w4V_pJpBNrZVDaoRFUMyRWOGEYzSn3rCxD9agtd6kLKm_aZMxmi2x1HjNXhUrH_NTQT4/s640/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" width="640" /></a></div>
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Posso dar inúmeros exemplos. Ainda recentemente comprei uma edição rara de 3 discos do clássico de <b>Louis Feuillade</b>, <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2014/05/les-vampires.html"><span style="color: blue;"><b>‘Les Vampires’ (1915, 1916)</b></span></a>. Preço final: 3 euros (era um final de stock). Todos os anos, por alturas da festa do cinema francês, há um hipermercado em Portugal que se enche de inúmeros filmes franceses, clássico e recentes. Preço da unidade: 1 euro. É aí, ano após ano, que actualizo a minha colecção de cinema francês. Há uns meses comprei o blu-ray de <b>‘The Great Gatsby’ (1974)</b> por 3 euros quando a mesma loja na semana seguinte já o tinha a 20. E há cerca de um ano até consegui comprar um filme por 30 cêntimos. Novo e selado de fábrica. Mas também era uma comédia dos anos 1980 com <b>Burt Reynolds</b>, por isso até se percebe. Não valia mais do que isso. Porém a compra que mais me orgulho de ter feito foi a da caixa da editora mk2 da trilogia das cores de <b>Krzysztof Kieslowski</b>. Preço final da caixa: 1 euro. Exactamente. 1 euro. Novo. Selado. Numa loja portuguesa. Em Portugal.</div>
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Tudo ocorreu algures no início de 2010, se a memória não me falha. Nessa noite saí com uma amiga e fomos ao centro comercial. Mais tarde iríamos jogar bowling com uns amigos mas tínhamos algum tempo para matar. Assim, andamos pelas lojas e eu decidi ir a uma das quatro lojas que em cima mencionei (não quero estar aqui a fazer publicidade…). Enquanto percorria o olhar pela estante dos DVDs com o meu olho treinado, vi a caixa em questão e instintivamente fiz o passo de dança típico dos cinéfilos. Estiquei a mão, tirei-a da estante e rodei-a, para ver o preço. Mas o que vi quando baixei o olhar deixou-me extremamente abananado. Tanto que até o mostrei à minha amiga para ver se, cegueta como sou, não estava a ser vítima de uma ilusão de óptica. Aparentemente não estava. O preço na etiqueta dizia claramente “1 euro”.</div>
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Ora não sei se já aconteceu ao leitor, mas a mim já me calhou na sina (mais que uma vez até) chegar à caixa e aperceber-me que houve algum engraçadinho que andou a trocar as etiquetas aos produtos. Odeio quando isso acontece porque os senhores honestos da caixa ficam sempre a achar que somos nós que lhes estamos a tentar passar a perna e olham para nós de soslaio quando nos tentamos defender. Assim sendo, sempre que vejo um preço escandaloso como este, olho mais atentamente para o resto da etiqueta para saber se a cara bate com a careta. Neste caso, parecia bater. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXO__5NKbxfXBYSGfFKEyxo67JvIulddJ62WV4eKBUhEGaIX5nQBxggIbGfcA_u31HP8RPVCNhXv64A6Jn0Meen8FcLStRWq8yWfhTIJo_ygZM9Pa5x_uXMBkM7VXPx36FBFQ3If4A3Yb_/s1600/Sem+T%25C3%25ADtulo2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="689" data-original-width="1001" height="440" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXO__5NKbxfXBYSGfFKEyxo67JvIulddJ62WV4eKBUhEGaIX5nQBxggIbGfcA_u31HP8RPVCNhXv64A6Jn0Meen8FcLStRWq8yWfhTIJo_ygZM9Pa5x_uXMBkM7VXPx36FBFQ3If4A3Yb_/s640/Sem+T%25C3%25ADtulo2.png" width="640" /></a></div>
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Mas para tirar todas as teimas antes da embaraçosa ida à caixa, chamei um empregado e pus-lhe a pertinente questão. Não estou a exagerar quando digo que o homem fez uma cara completamente incrédula quando olhou para a etiqueta. Abanou ligeiramente a cabeça e olhou outra vez. Depois olhou para mim e disse “Se é o preço que está marcado na caixa, então está correcto”. Porreiro, pá. Não precisei de ouvir mais nada. Nem queria. Agarrei-me bem à caixa (não fosse alguém faná-la das minhas mãos) e dirigi-me para a saída, ainda a achar que quando fosse pagar me iriam dizer que afinal tinha havido um grande mal-entendido. Mas por incrível que possa parecer, não disseram. Não disseram nada. Por um mísero euro, a trilogia das cores encontrou um novo lar, na minha estante. E está bem aconchegadinha na secção de cinema europeu.</div>
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Uma ou duas semanas depois, quando voltei ao mesmo centro comercial, fui à loja ver se o preço se mantinha. Afinal, estava ali uma excelente e económica prenda de aniversario para outro cinéfilo. Qual não foi o meu espanto quando vi a mesma caixa a cerca de 20 euros! Um escândalo. Bem, é um preço mais justo para o produto em questão, mas é um escândalo para quem a adquiriu 19 euros mais barata… E de dizer que uns meses mais tarde vi uma caixa de importação da mesma trilogia, sem legendas em português, numa outra loja portuguesa a… 70 euros!!!!! Ok, provavelmente tinha uns extras e livrete, mas mesmo assim… Já agora, uma pesquisa rápida na internet diz-me que a dita caixa agora anda à volta dos 20 euros. Bem, podia almoçar fora com os lucros se vendesse a minha...</div>
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Portanto, porque é que naquela semana, naquele dia em particular, a caixa estava a um euro? Manobras de marketing? Gestão de stock? Erro? Não sei nem quero saber. Sou um cinéfilo que gosta de comprar, e comprar bem. Não prescindo da qualidade (vá, a não ser quando o preço é MESMO barato, como no tal filme do <b>Burt Reynolds</b>). Mas prescindo completamente de gastar dezenas e dezenas de euros nisto. Tendo em conta o número de itens da minha estante, já teria ido à falência se não comprasse com olho para o negócio. E visto que a maior parte dos filmes que compro hoje em dia me custam menos de 5 euros, de vez em quando posso dar-me ao luxo de gastar mais para ter um filme mais raro, uma edição especial ou uma caixa de coleccionador com uma carrada de discos. E claro, sabe sempre bem. É o sabor do vício.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXAqE726r7SH0nVvb5Sk70otH29wBbkBCJgHbdhV0rHOIpzqdt3_IGK6uaPXb_vksUnEvyHTWdxGGkRca1UYQxw9ZTActw92XYKXTIqcM7Fzbk2BL6nPNTCvdvhAh6Rz3aMLrN-i0M6EX6/s1600/50a7a43ac42439c189b663a74349550b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="673" data-original-width="1000" height="430" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXAqE726r7SH0nVvb5Sk70otH29wBbkBCJgHbdhV0rHOIpzqdt3_IGK6uaPXb_vksUnEvyHTWdxGGkRca1UYQxw9ZTActw92XYKXTIqcM7Fzbk2BL6nPNTCvdvhAh6Rz3aMLrN-i0M6EX6/s640/50a7a43ac42439c189b663a74349550b.jpg" width="640" /></a></div>
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Portanto, caro leitor, agora é consigo. Claro que se quer comprar o <b>‘Justice League’</b> em 4K mal chegue às lojas, não tem hipótese, tem de pagar o elevado valor do mercado. Mas se o seu objectivo é ir construindo uma biblioteca neste mundo que cada vez mais se vira para o digital e o online, então faça como eu e aproveite. Aproveite que haja a noção de que as pessoas já não querem comprar filmes porque os podem ver no computador, e por isso os preços baixam. Aproveite que há aí muita editora que simplesmente os quer despachar. Aproveite para comprar filmes clássicos que são impossíveis de encontrar online. Aproveite para ter aquela edição de <b>‘The Godfather’</b>, <b>‘Back to the Future’</b> ou <b>‘Lord of the Rings’</b> que sempre quis ter (tenho as três trilogias em edições de coleccionador e gastei nem 40 euros no total). </div>
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Esteja atento. Circunde os caixotes das promoções de quando em quando. Dê uma olhadela aos quiosques e aos filmes que são lançados com os jornais. Veja os sites das lojas durante as promoções e ordene as suas pesquisas por ‘preço mais baixo’. Mas sobretudo tenha paciência. Vai sempre haver mais uma promoção. Vai sempre haver uma edição com uma nova capa que faz com que a edição anterior baixe exponencialmente de preço. E lembre-se, que o bom cinema esteja consigo. Se se guiar por isso, o resto surge naturalmente. </div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-606086995628430165.post-71692663037155465132018-04-02T23:02:00.000+01:002018-04-12T21:29:34.842+01:00Tomb Raider<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrVUEZMuGDSNYqjcgIAIXtKqP7OoEPriXhhzlo3CiyhpCVQib0MmYVfv9Sq_HxLpFamaElbsaA4Xq1W8mTfgCXo9flSDr8omZKxQmT181UinIwUeTlTl5KxnSf4dws-k9AlgpNxOzwPNY4/s1600/MV5BOTY4NDcyZGQtYmVlNy00ODgwLTljYTMtYzQ2OTE3NDhjODMwXkEyXkFqcGdeQXVyNzYzODM3Mzg%2540._V1_SY1000_CR0%252C0%252C674%252C1000_AL_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="674" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrVUEZMuGDSNYqjcgIAIXtKqP7OoEPriXhhzlo3CiyhpCVQib0MmYVfv9Sq_HxLpFamaElbsaA4Xq1W8mTfgCXo9flSDr8omZKxQmT181UinIwUeTlTl5KxnSf4dws-k9AlgpNxOzwPNY4/s400/MV5BOTY4NDcyZGQtYmVlNy00ODgwLTljYTMtYzQ2OTE3NDhjODMwXkEyXkFqcGdeQXVyNzYzODM3Mzg%2540._V1_SY1000_CR0%252C0%252C674%252C1000_AL_.jpg" width="268" /></a></div>
<b>Ano:</b> 2018<br />
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<b>Realizador: </b>Roar Uthaug<br />
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<b>Actores principais: </b>Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins<br />
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<b>Duração: </b>118 min<br />
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<b>Crítica:</b> Em 1997, no dia em que fiz 13 anos de idade, um grupo de amigos ofereceu-me um jogo de computador chamado ‘Tomb Raider II’. Nunca tinha ouvido falar dele, muito menos da sua heroína Lara Croft, mas cortesia dos meus amigos passei o resto da tarde a descobrir. Fã de literatura e de cinema, nunca fui, nem na adolescência nem agora, muito viciado em jogos. Por isso só jogo ocasionalmente, quando o jogo me apela. Geralmente são simuladores desportivos, mas desde essa tarde distante que a saga Tomb Raider se tornou uma boa excepção à regra. Fiquei indubitavelmente cativado pela sua criatividade, destreza e inteligência, e portanto fui acompanhando a sua evolução ao longo dos anos. </div>
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Quatro anos mais tarde, em 2001, não podia faltar à muito aguardada e muito publicitada estreia de <b>‘Lara Croft: Tomb Raider’ </b>com <b>Angelina Jolie</b>. E dois anos depois vi em Las Vegas a sequela, <b>‘Lara Croft Tomb Raider: The Cradle of Life’</b> (como já narrei numa <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2017/09/histoires-du-cinema-lara-croft-tomb.html"><span style="color: blue;"><b>histoire du cinema</b></span></a>). É óbvio que nenhum destes filmes, cujos DVDs adornam a minha estante, é uma grande obra-prima do cinema de acção. Mas cada um deles tem, à sua maneira, suficientes motivos de interesse se lidos como puros produtos de entretenimento. O primeiro é mais estilizado (ou seja, possui mais referências ao jogo) com um agora datado toque de modernidade, enquanto o segundo é mais livre, divertindo-se naquele estilo de acção leve tão típico da viragem do milénio. Mas ambos ganham imenso com o charme intrínseco e o apelo voluptuoso de <b>Angelina Jolie</b> e, em retrospectiva, a sua veia aventureira é ingénua, mas sincera e familiar; características que tanta falta fazem nos modernos filmes de super-heróis.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Pode não ser um grande filme de acção (não é), mas é o filme, dos três que já foram feitos, mais fiel à essência desta personagem e à jogabilidade dos jogos, passe a redundância. Por esse motivo, apesar de demorar algum tempo a arrancar e ter um argumento bastante batido (...), tem um imenso apelo para os fãs, aqueles que já passaram horas e horas da sua vida a comandar Lara de plataforma em plataforma, de nível em nível."</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhijJSxY5bpA6_ar1Ku2XYftN9pB-WtawfeUwJpZFiSgpH-YTudJnvAjKXaQrfJB0-o29mK_z_9gknqj5BSFSrg9ZYfwWVScTabgB2amBZ1acWVxpUNbgLgu2sD7RVFm3qX40RDLFpSBssb/s1600/MV5BZjcwMDRjN2MtMDA0NS00YzZlLTk0NjMtNjljNmFiZjhmMWFjXkEyXkFqcGdeQXVyNjczOTE0MzM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="903" data-original-width="1600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhijJSxY5bpA6_ar1Ku2XYftN9pB-WtawfeUwJpZFiSgpH-YTudJnvAjKXaQrfJB0-o29mK_z_9gknqj5BSFSrg9ZYfwWVScTabgB2amBZ1acWVxpUNbgLgu2sD7RVFm3qX40RDLFpSBssb/s400/MV5BZjcwMDRjN2MtMDA0NS00YzZlLTk0NjMtNjljNmFiZjhmMWFjXkEyXkFqcGdeQXVyNjczOTE0MzM%2540._V1_.jpg" width="400" /></a></div>
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E eis que, quinze anos depois, Lara Croft regressa ao grande ecrã. Este regresso era inevitável, tendo em conta que hoje em dia Hollywood não consegue deixar nenhuma <i>franchise </i>sossegada, mas também porque há uma grande preocupação em encontrar mais heroínas femininas. Assim sendo, a grande questão não era tanto quando Lara iria regressar, mas de que forma. Seria o novo filme apenas uma desculpa esfarrapada para atrair o público às salas e promover futuras sequelas? Ou seria algo mais duradoiro, que conseguiria relançar realmente a <i>franchise </i>e honrar a sua origem digital? Era uma resposta que, como fã da saga, estava desejoso de saber.</div>
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<br /></div>
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Há uns dias, sabendo que iria ver o filme no cinema aproveitando as mini-férias da Páscoa, passei os olhos pela crítica de um “prestigiado” crítico (as aspas são minhas) de um eminente jornal português. A crítica são uns três curtíssimos parágrafos, que o senhor terá escrito em menos de cinco minutos, totalmente desconsiderando o filme, que apelida de “inútil” e ao qual dá uma mísera estrela. Opiniões são opiniões e o senhor tem direito à sua, tanto como eu tenho direito à minha, muito embora eu ache escandaloso alguém estar a ser pago para escrever uma crítica e dedicar apenas cinco minutos a fazê-lo, não dizendo absolutamente nada. As minhas críticas podem ser demasiado grandes, admito, mas pelo menos não são algo que poderia ter escrito exclusivamente baseado no <i>trailer </i>e numa preconcepção.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7Lgtu3olvCBiW2OHm-Vxp9ZgQJgSOIuP2b_i1kNxIPEL_ecLITphLlbSR8I7PxU2fGv2IQT7CCwUhAF1rmzKdDf92xuQZyUEGQJAbphJpDySTZHvl8qv0pdnd2TzMYSARp9eqQRmpX0v7/s1600/dominic-west-in-tomb-raider-2018.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="547" data-original-width="820" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7Lgtu3olvCBiW2OHm-Vxp9ZgQJgSOIuP2b_i1kNxIPEL_ecLITphLlbSR8I7PxU2fGv2IQT7CCwUhAF1rmzKdDf92xuQZyUEGQJAbphJpDySTZHvl8qv0pdnd2TzMYSARp9eqQRmpX0v7/s400/dominic-west-in-tomb-raider-2018.jpg" width="400" /></a></div>
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Independentemente disto, uma coisa é clara; o senhor provavelmente nunca jogou um jogo desta saga, e principalmente nunca jogou o Tomb Raider de 2013, a história de origens no qual este filme é fortemente baseado. Se tivesse feito uma coisa ou outra, este “prestigiado” crítico saberia perfeitamente a resposta à pergunta que eu fiz em cima. A grande verdade sobre este <i>reboot </i>de ‘Tomb Raider’ é que pode não ser um grande filme de acção (não é), mas é o filme, dos três que já foram feitos, mais fiel à essência desta personagem e à jogabilidade dos jogos, passe a redundância. Por esse motivo, apesar de demorar algum tempo a arrancar e ter um argumento bastante batido (fortemente ripado de <b>‘Indiana Jones and the Last Crusade’</b> – não de <b>‘Raiders of the Lost Ark’</b> como afirma o “prestigiado” crítico), tem um imenso apelo para os fãs, aqueles que já passaram horas e horas da sua vida a comandar Lara de plataforma em plataforma, de nível em nível.</div>
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<br /></div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Alicia Vikander (...) não tem a voluptuosidade ou o charme carismático que Angelina Jolie partilha com a heroína dos jogos. Mas de repente, quando a necessidade e o perigo fazem com que acenda dentro de si a chama da aventura (...) ocorre uma grande transformação. Vikander não tem o charme, mas tem a energia, a perseverança, a força, a elasticidade e até a vulnerabilidade de Lara. E isso é fantástico."</span></b></div>
</div>
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<br /></div>
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Do mesmo modo, confesso que <b>Alicia Vikander</b>, a jovem sueca que é uma das actuais meninas queridas de Hollywood (entrou em <b>‘Ex Machina’, 2014</b>; <a href="https://eusoucinemapt.blogspot.pt/2015/09/the-man-from-uncle.html"><b><span style="color: blue;">‘The Man from U.N.C.L.E.’, 2015</span></b></a>; até já venceu um Óscar por <b>‘The Danish Girl’, 2015</b>), nunca me pareceu uma Lara Croft convincente nos trailers e continuou sem me parecer na primeira metade do filme. Não tem a voluptuosidade ou o charme carismático que <b>Angelina Jolie</b> partilha com a heroína dos jogos. Mas de repente, quando a necessidade e o perigo fazem com que acenda dentro de si a chama da aventura, quando finalmente entra em modo-Lara e precisa de saltar de plataforma em plataforma e resolver enigmas para conseguir sobreviver e impedir o mal de vencer, ocorre uma grande transformação, quer em <b>Vikander </b>quer na personagem que interpreta. <b>Vikander </b>não tem o charme, mas tem a energia, a perseverança, a força, a elasticidade e até a vulnerabilidade (essa que os jogos mais recentes introduziram) de Lara. E isso é fantástico.</div>
<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf0Ui04BkbpV-967k2ewL6U6zGAMpnBbDgf55pHIWcP3-LVt92GvRnzdDh4X6V0E8p83gamkCbntsGbYCUyDjxgprLhJNL-DhA3l19EMnu-f9D6RsRP2pMWIOrpvRBpgbkD3aaRUPqCcIG/s1600/20180123-00010004-esquire-001-2-view.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="614" data-original-width="900" height="272" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf0Ui04BkbpV-967k2ewL6U6zGAMpnBbDgf55pHIWcP3-LVt92GvRnzdDh4X6V0E8p83gamkCbntsGbYCUyDjxgprLhJNL-DhA3l19EMnu-f9D6RsRP2pMWIOrpvRBpgbkD3aaRUPqCcIG/s400/20180123-00010004-esquire-001-2-view.jpg" width="400" /></a></div>
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Realizado pelo norueguês <b>Roar Uthaug</b> na sua primeira experiência na meca do cinema (a sua obra anterior, o filme-desastre norueguês <b>‘Bølgen’, 2015</b>, foi um estrondoso sucesso no norte da Europa), este novo ‘Tomb Raider’ segue de perto o modelo do jogo de computador de 2013. A história base é praticamente a mesma e o arco emocional de Lara também segue um percurso relativamente semelhante, para além de ter cenas de acção tiradas a papel químico. É na parte inicial, na contextualização de Lara, que mais se afasta dessa fonte de inspiração. E, como seria de esperar, é precisamente nessa parte que o filme tem os seus piores momentos. Começar pela pior parte nunca é bom, mas seria bem pior se fosse ao contrário. Ao menos vamos tendo agradáveis surpresas à medida que o filme avança.</div>
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Lara não é tão ingénua como a jovem inexperiente do jogo de computador. Pelo contrário, desde que o pai misteriosamente desapareceu há sete anos, Lara recusou-se sempre a admitir a sua morte e voltou as costas à sua herança e ao gigantesco império empresarial que o pai criou. Assim, quando a encontramos ela esta a viver uma vida <i>low profile</i> como estafeta em Londres. O que se segue é um corrido de cenas típicas e batidas para a contextualizar. Temos a cena para estabelecer que Lara é forte mas não assim tão forte ainda, quando perde um combate de boxe no ginásio. Temos a cena para estabelecer que ela tem destreza e inteligência; a excitante corrida de bicicletas pelas ruas de Londres (radical mas inútil). Temos os <i>flashbacks </i>para a sua infância para percebermos o quanto sente a falta do pai (quando é que Hollywood vai perceber que este tipo de cena nunca funciona num <i>blockbuster</i>?). E até temos uma cena que insinua ao de leve as suas tendências lésbicas (ao contrário dos filmes de <b>Angelina Jolie</b> – com <b>Daniel Craig</b> e <b>Gerard Butler</b> respectivamente – não há neste filme qualquer <i>love interest</i> masculino, e Lara apenas sorrirá perante o avanço tímido de Lu Ren…).</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Há uma incrível semelhança com o terceiro filme da saga Indiana Jones (...) mas aqui o trabalho argumental é muito, muito pobre. (...) A ideia é exactamente a mesma, mas esquecem-se sempre de a justificar. Quer o pai quer mais tarde Lara “descobrem” segredos e combinações secretas sem que nunca seja dito como o conseguem. Simplesmente sabem-no. Como? É um mistério. Deve ser por serem muito inteligentes."</span></b></div>
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Depois, a sua antiga tutora, Ana Miller (<b>Kristin Scott Thomas</b>) surge para a tentar convencer a assinar os papéis que permitirão oficializar a morte do pai e levá-la a receber a herança. Não se percebe porque é que nunca fez este discurso convincente (<i>olha que se não assinares vamos ter que vender tudo</i>) ao longo dos sete anos de permeio, mas tudo bem. Porque quando o advogado do pai (uma pequena aparição de <b>Derek Jacobi</b>) lhe dá um puzzle chinês – a primeira pista deixada pelo pai como testamento – é aí que a aventura, e o interesse do filme, realmente começam. </div>
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Isto tem vantagens e desvantagens. A desvantagem principal é a incrível semelhança com o terceiro filme da saga Indiana Jones. Tal como Indiana, Lara descobre o diário do pai que contém toda a sua detalhada pesquisa sobre a sua grande obsessão. No caso do Sr. Jones era a localização do Santo Graal. No caso do Sr. Croft é a localização de um túmulo da antiga Imperatriz Himiko do Japão, reputada por ser possuidora de um misterioso poder maligno. Mas ao contrário do que acontece no filme de <b>Spielberg</b>, aqui o trabalho argumental é muito, muito pobre. Quem não se lembra de <b>Sean Connery</b> a dizer, com um ar infantil e extasiado, que descobriu as pistas sobre como ultrapassar as armadilhas do templo numa passagem obscura das crónicas de Santo Anselmo. Estavam lá escritas há séculos, à vista de todos; tinham era de ser interpretadas da maneira correcta. Neste ‘Tomb Raider’ a ideia é exactamente a mesma, mas esquecem-se sempre de a justificar. Quer o pai quer mais tarde Lara “descobrem” segredos e combinações secretas sem que nunca seja dito como o conseguem. Simplesmente sabem-no. Como? É um mistério. Deve ser por serem muito inteligentes.</div>
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Da mesma forma, tal como em <b>‘The Last Crusade’</b>, Lara usa o diário para tentar descobrir o paradeiro do pai desaparecido na remota ilha ao largo do Japão onde, todas as pistas apontam, Himiko está enterrada. Quando o descobre (não é <i>spoiler</i>, qualquer espectador minimamente inteligente sabe que isso eventualmente irá acontecer) o pai diz-lhe algo como “<i>Ainda bem que te enviei o diário e ainda bem que tu o queimaste. Senão já tinha caído nas mãos erradas… Queimaste, não queimaste?</i>”. <b>Sean Connery</b> diz uma frase igualzinha em <b>‘The Last Crusade’</b>. E chateia-se com o filho exactamente da mesma maneira que o Sr. Croft (<b>Dominic West</b>) se chateia com a filha por ter trazido o diário com ela porque, obviamente, irá também cair nas mãos erradas. Neste caso nas de Vogel (<b>Walton Goggins</b>) em representação de uma poderosa organização secreta que anseia obter o poder de Himiko para governar o mundo. O <i>muahahahahah </i>do costume.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Superada a forçada parte de enquadramento da personagem, superada a ainda mais forçada parte emocional, o filme fica livre para desfrutar com prazer da sua parte de acção (...) E se as típicas lutas entre os “bons” e os “maus” são mais do mesmo (acaba por ser tudo imensamente previsível numa história desprovida de interesse), esta parte ganha um inesperado dinamismo (...) pois as cenas estão carregadas do estilo inconfundível de Lara Croft."</span></b></div>
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Mas também há vantagens neste enquadramento. A principal é que Lara consegue chegar, com a ajuda de Lu Ren (<b>Daniel Wu</b>) cujo pai também desapareceu pela mesma altura, à tal ilha. E aí, finalmente, o filme encontra a atmosfera do jogo de 2013. Mas é mais do que isso, porque uma atmosfera pode sempre ser replicada. Superada a forçada parte de enquadramento da personagem, superada a ainda mais forçada parte emocional, o filme fica livre para desfrutar com prazer da sua parte de acção. E com acção quero dizer o estilo Lara Croft, o estilo dos jogos, como nunca antes se tinha visto nesta <i>franchise </i>cinematográfica.</div>
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As cenas de amadurecimento de Lara, sozinha na floresta, estão muito bem conseguidas, pelo menos em termos de intensidade. Eu detesto o estilo de realização dos filmes de acção modernos, pois é-me difícil desfrutar de uma cena cheia de cortes e planos apertados. Por exemplo, na cena em que Lara tenta atravessar um rio empoleirada num tronco (retirada do jogo) vemos a metade de cima do seu corpo, um pé, um braço, a cara, um pedaço de tronco, e depois ela a cair à água. Na realidade, nunca vimos um plano de corpo inteiro de <b>Alicia Vikander</b> a andar em cima do tronco, nem a lutar para manter o equilíbrio. O que vimos foi apenas a ilusão de que isso estava a acontecer através de um truque de montagem, o que retira intensidade e credibilidade à cena na minha modesta opinião. Mas exceptuando estas <i>nuances </i>técnicas que a modernidade forçou ao cinema mais comercial e às quais <b>Roar Uthaug</b> adere sem questionar, o conteúdo das cenas em si é muito mais interessante. Lá está, porque não surgiu da imaginação dos guionistas de Hollywood, mas sim dos guionistas do videojogo.</div>
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Veja-se a cena, intensamente realista, em que Lara tem de retirar um pedaço de metal que lhe atravessou a barriga (inspirada igualmente no jogo). Fantástica. E veja-se a cena em que Lara tem de matar um homem pela primeira vez na sua vida. É uma cópia clara de <b>‘Casino Royale’</b>, mas não deixa de ser muito mais credível do que é habitual neste tipo de extravagâncias cinematográficas. E se as típicas lutas entre os “bons” e os “maus” (<b>Vogel </b>e o seu infindável séquito de capangas broncos), são mais do mesmo (acaba por ser tudo imensamente previsível numa história desprovida de grande interesse), esta parte ganha um inesperado dinamismo pela coreografia da sua acção. Quer vejamos Lara a manejar as suas armas, a evitar a morte certa em várias <i>set pieces</i> na floresta ou a explorar os recantos escuros do túmulo de Himiko no clímax do filme, as cenas estão carregadas do estilo inconfundível de Lara Croft.</div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"O maior elogia que se pode dar a Vikander é que ela se transforma lentamente em Lara perante os nossos olhos. (...) Vikander move-se como Jolie nunca se moveu, e é essa presença que nos estimula e faz com que cena após cena os espectadores aceitem “jogar” com ela e, por conseguinte, jogar com o filme (...); que poderá ser a melhor história de origens de uma icónica personagem da cultura popular moderna desde o primeiro ‘Iron Man’ (2008)."</span></b></div>
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O maior elogia que se pode dar a <b>Vikander</b> – aliás o maior elogio que se pode dar a este filme – é que ela se transforma lentamente em Lara perante os nossos olhos. Ao longo do filme ela torna-se Lara Croft, a Lara Croft que conhecemos, a Lara Croft dos jogos. E isso tem o seu mérito indiscutível. Dos saltos, às escaladas, ao manejo das armas, <b>Vikander </b>move-se como Jolie nunca se moveu, e é essa presença que nos estimula e faz com que cena após cena os espectadores aceitem “jogar” com ela e, por conseguinte, jogar com o filme. Se por mais nada (e como se viu há pouco a destacar a nível emocional e argumental) o filme vale por isso. Não é precisamente esse todo o objectivo de uma história de origens? As grandes aventuras podem vir depois. Aqui cria-se a personagem. E não há dúvidas nenhumas que se criou. Por isso quando o “prestigiado” crítico desconsidera o filme como profundamente inútil, por não haver necessidade de uma nova versão, não posso concordar. Não posso concordar de todo.</div>
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É verdade que todas as tentativas que o filme tem de ter mais substância são algo falhadas, seja dar uma história de base ao seu vilão (<b>Goggins </b>faz o que pode); ter os habituais sacrifícios inúteis de personagens secundárias que são filmados com um inusitado heroísmo; ou ter um pequeno grande <i>twist </i>no final, que sinceramente não apreciei porque retira grande parte do cunho de fantasia que contextualiza os jogos. E é verdade que no final não se fecha a história, abrindo um inevitável caminho para uma sequela, o que não deixa de ser um logro para o espectador pagante (Indiana Jones, por exemplo, nunca teve necessidade disso). Tudo isto faz com que este ‘Tomb Raider’ caia na esparrela da maior parte dos <i>blockbusters </i>em estilo <i>franchise</i>, que têm um lugar eterno mas totalmente anónimo nas televisões num sábado à tarde.</div>
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Mas também é verdade que há aqui elementos suficientemente diferentes, ou pelo menos pouco usuais neste tipo de extravagâncias cinematográficas. Para um filme tão “leve”, digamos assim (ou seja, onde não é a violência que domina), há muito poucas cenas de humor (<b>Nick Frost</b> faz um bocadinho essas despesas num pequeno <i>cameo</i>) e Lara não diz um único <i>one-liner</i>, o que é deveras surpreendente, pela positiva. Apesar da realização não ser tão íntima quanto era suposto e da intensidade dramática não ser tanta como o filme faz querer, há sem dúvida uma inesperada sobriedade no tom desta película. Na inevitabilidade de se continuar a <i>franchise</i>, na inevitabilidade de se fazer uma história de origens, ao menos que seja assim. Não estamos ao nível da história de origens de <b>‘Casino Royale’</b>, por exemplo, mas esta bem que poderá ser a melhor história de origens de uma icónica personagem da cultura popular moderna desde o primeiro <b>‘Iron Man’ (2008)</b>. </div>
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<b><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">"Não estava à espera de uma grande história e não a tive. Não estava à espera de grande profundidade emocional e não a tive. Mas não estava à espera de tanta fidelidade ao jogo, nem que fosse isso a comandar o rumo dos acontecimentos. Isto foi o que vendeu este filme para mim. Não a história, não a acção, mas sim Vikander e a carta de amor ao jogo de computador e às aventuras que ele proporciona desde 1996."</span></b></div>
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No fundo, não nos podemos esquecer que esta é uma obra que se baseia e homenageia um jogo de computador, pelo que algum grau de artificialidade é mais do que esperado. ‘Tomb Raider’ foi para mim uma muito agradável surpresa. Não estava à espera de uma grande história e não a tive. Não estava à espera de grande profundidade emocional e não a tive. Não estava à espera de uma grande realização e não a tive. Mas não estava à espera de tanta fidelidade ao jogo, nem que fosse isso a comandar o rumo dos acontecimentos. Isto foi o que vendeu este filme para mim. Não a história, não a acção, mas sim <b>Vikander </b>e a carta de amor ao jogo de computador e às aventuras que ele proporciona desde 1996.</div>
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Foi a primeira vez em muito, muito tempo, que pensei ao sair da sala de cinema: “<i>eh pá, quero ver a sequela</i>”. Porquê? Porque as partes piores desta obra (toda a contextualização da personagem, toda a lamechice com o pai) já não precisam de aparecer no segundo filme, que ficará com todo o espaço para repetir e superar a jogabilidade que esta primeira obra apresenta. Veremos se assim é. Mas quero acreditar que sim. Num ano que nos trará <b>‘Avengers Infinity War’</b>, <b>‘Solo’</b>, <b>‘Deadpool 2’</b>, <b>‘Ant Man 2’</b>, <b>‘Mission Impossile 6’</b> ou <b>‘Jurassic World 2’</b>, bem que poderá estar aqui, com toda a simplicidade e até pouco mediatismo – talvez porque não é explosivo nem está carregado de efeitos especiais (tem uma classificação de apenas 6.8 no imbd!) – um dos melhores <i>blockbusters </i>do ano. Isto é, pelo menos para quem é fã do jogo. Mas também foi para esses que o filme foi feito.</div>
Eu Sou Cinemahttp://www.blogger.com/profile/10225016188761425774noreply@blogger.com0